13 de junho de 2023

Frances Ha (2013)

O filme é assinado pelo diretor do presente filme da Barbie (2023), Noah Baumbach. Escolhi assistir sem essa importante referência, mas fui guiado pelos ares condutores da sinopse. Frances é uma jovem já não tão jovem, ou, como diria meu amigo Damasceno, jovem há mais tempo. Aos 27 anos ela ainda sonha em ser bailarina em Nova York. Pelo que se capta de uma rápida conversa e aparição telefônica de seus pais, eles moram no interior e, obviamente, se preocupam com as peripécias a que se aventura a jovem na maior cidade dos Estados Unidos.

Frances vive com sua amiga judaica Sophie em um apartamento. A protagonista nega viver com o namorado porque acredita que continuará ao lado de Sophie. Mas, ao largo da trama, é surpreendida com muitas quebras de expectativa. As pessoas que ela considera serem... contínuas em sua vida sempre tomam outros rumos. Sophie se muda com uma amiga que ambas falam mal, mas que, ao viver com ela, passa a morar na rua que mais desejava, dando um salto positivo. Além do mais, saindo da amizade tão próxima de Frances, Sophie acaba se envolvendo em um relacionamento mais longo, com Patch (ou algo assim que o chamam).

Frances experimenta várias sensações de incertezas, desilusões e solidões em meio a uma das maiores cidades do mundo. A carreira que não decola, a dificuldade para pagar o aluguel, a vida sujeita a morar e dividi-la com antes estranhos e que, mesmo na sintonia do mesmo apartamento, nunca deixam por completo de serem estranhos. Exercitamos a empatia para entender como é o universo confuso e de desfeitas dessa jovem sonhadora, que pretendia adentrar uma grande companhia de ballet, viajar a turnês como artista pela Europa e nos próprios Estados Unidos. Frances vai cambiando de horizontes de perspectiva, de sonhos que mudam de cores nesse filme todo gravado em preto e branco. O ar cult nos dá a sensação de que estamos diante de uma obra europeia antiga, de um filme norteado pelos restaurantes fumegantes, regados a conversas embaraçosas nos cafés ou nos jantares improvisados diante dos amigos. Convites para cinema, passeios solitários pelas ruas abarrotadas de estranhos. Uma Nova York que se transforma e também, como de praxe, é cenário-personagem, ora de fundo, ora escalandosa aos nossos olhos. Talvez a questão do cenário poderia ser mais explorada. A cena de Frances correndo em busca de um caixa-eletrônico na noite usa esses elementos.

O mundo de desilusões também é feito de aparências. Assim que Frances desconversa muitas vezes sobre seu desconexo futuro, realinhado sempre em tempo real na mente iludida da (nem tão) jovem. A passagem do tempo, os amores que partem, o mais importante pela sua eterna amiga Sophie, que viaja ao longe com o namorado que evolui a noivo.

As referências à França estão desde o nome da protagonista, a atmosfera que se alinha a características francesas, a viagem intermediária como medida de urgência por uma tomada de decisão, em que Frances resolve no impulso ir a Paris, porque precisava, ora precisava fazer alguma coisa.

Todos necessitamos mover-nos. O que buscamos na vida? Para onde vamos? Quem nos acompanha? Somos nós por nós mesmos? A família que está distante, os amigos que partem  os amores que não ficam. O queísmo que me persegue em prosa. As rosas que não abrem ou abrem e logo desabrocham. Frances convive com o remanejar de seu sonho na grande maçã, mordida, mastigada e cuspida dos Estados Unidos, cada vez mais maçã roída pelos rincões de sua ideia (venda de ideia) de nação. A vida comum será tão ruim? Será que não era o que nossos avós queriam? E nossos pais, superá-los ou não? Ou apenas sermos? Se as décadas, as gerações, as cartas, os sonhos e as regras mudam, para viver ou para sonhar. A vida corre, nossa própria peça de ballet onde, em algum determinado ato, talvez já substituídos os atores de nossa vasta e acumulada idade, cerram-se as cortinas.

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