27 de setembro de 2016

Menos grades, mais agrados

Minha terra não tem morro
Morro de saudade
Pensa em mim
Faz um foro
Faz do sim tua felicidade

Minha saga como um cachorro
Por um soro na cidade
Pensa em mim
Peço socorro
Costura na minha vida o sim
Como um alfaiate

Minha terra não tem morro
Morro de saudade
Faz assim:
Não responde
Fico na curiosidade

Velhas fardas que já foram
Voltam costuradas
Faz assim:
Faz mais nada
Se o beijo não te agrade

Faz assim:
Sem mais grades
Se o beijo não te agrade

Faz assim
Menos fardos
Mais afagos
Menos grades
Mais agrados

18 de setembro de 2016

Inabitável

Inabitável mundo
Da informação tão ágil
Da informação tão frágil
De um rio tão raso
Onde quem o atravessa
Pode sair com mais ódio
Sem interpretar o episódio
Sem a jangada do contexto
Sem o galho que o salva
Do naufrágio
Da opinião equivocada

13 de setembro de 2016

De livre turista a prisioneiro da gelatina de limão

[CONTINUAÇÃO do texto anterior]

Na sequência deste quase apocalíptico sonho, descubro nossos dormitórios e me chama atenção que, na porta cinza dos quartos, há nomes para identificação. O nosso curiosamente chama-se Inês.

Pois bem, lembro de conversar com crianças e, em seguida, sumir, apagar. Algumas imagens como se gravadas de câmeras escondidas mostram situações internas, como um maluco gritando VAI CORINTHIANS, outros brigando e problemas como um exército nada organizado, em que terminar a noite vivo parece um grande feito e ter uma noite de sono para estudar no dia seguinte parece impossível. Realidades de um Brasil.

Na falta de uma noção de tempo, penso que a próxima passagem é no dia seguinte, quando consigo deixar o alojamento todo, o internato e passear pelas ruas do Rio de Janeiro, bem distintas de minhas lembranças, mas com elementos que me identificam a pensar que se trata de lá.

Consigo ir até a praia, em uma avenida que mais lembra praias catarinenses ou a que conheci somente por imagens da Barra da Tijuca, na qual nos estendemos por um corredor de asfalto, com carros estacionados ao lado, muita areia clara e, do outro, já a confusão do urbano. Chegamos a planejar melhores visitas a pontos turísticos do Rio, porque, ao mesmo tempo, sou morador do internato, mas um turista em liberdade (condicional?) pela cidade.

Neste trajeto pela avenida, lembro da única passagem de meu pai, único familiar meu pelo sonho. Ele dirige o carro e, sem esboçar reação para desviar, atropela uma criança ciclista. Incrédulo com o acontecimento acidental causado por ele sobre a vermelha ciclofaixa, em seguida, deixo o carro e não o vejo mais. Adiante, há um quiosque no que parecia mesmo o fim dessa avenida beira-mar.

É um quiosque organizado, com ares rudimentares, mas que esboça luxo. É um dos momentos que enxergo garotas/mulheres no sonho, oportunidade oposta ao inferno do alojamento antes descrito. Ao meu lado, surge um rapaz que pareço considerar amigo e da mesma convivência. Creio que seguimos juntos por uma avenida larga que nos levará de volta ao internato para o cair da noite. Assim aqui recordo o fato de o internato ser afastado dos centros do Rio de Janeiro e talvez pertencente a uma cidade próxima, dentro do estado, cercada por áreas mais rurais, como realmente uma penitenciária.

Ao perceber, com a chegada da noite, o passar de mais um dia, necessito me alimentar e a janta está controlada pelo grupo ditatorial da porra toda. Incrível que os guardas que cercam o local parecem estar completamente subornados, não ligam para a situação dos demais, sujeitos a passar fome ou ser mortos, massacrados pela milícia com o poder.

Consigo me alimentar de uma pequena porção de algo salgado e, na sequência, um amigo meu, uma criança gordinha chama a atenção de que há sobremesa livre. Como um irônico restaurante. Mas a sobremesa é apenas gelatina, presente sobre um bazar, onde uma senhora serve os que se aproximam. São minúsculas porções junto a ela, mas, adiante, há mais gelatina de várias cores espalhada e consigo acessar uma das travessas e me servir de uma tigela maior do que minha mão. Já que quase não jantei, encho a tigela de gelatina de limão na esperança de naquela noite não passar fome.

Vale ressaltar que a higiene do local é duvidável, o caráter dos e das funcionários(as) é duvidável e não confio muito na qualidade da comida. Talvez, também por isso, chega uma hora que repudio a gelatina, que, também ressalto, me servi em imensa quantidade jamais conferida (em gelatina de limão). Ofereço aos jovens amigos próximos.

Logo depois, é como um chamado terrível, uma conferência. O desenho de Pokémon da noite anterior volta a ser pauta. Há sirenes, há tumulto e correria e preciso voltar ao meu dormitório, no quarto sinalizado com o nome de Inês. Recordo da maldita caneta preta em meu bolso, igual a que me livrei naquele dia, que eles até encontraram, mas pela minha sinceridade e diálogo com o líder maluco, não desconfiaram diretamente de mim. Ou desconfiaram e apenas me prorrogaram as chances e este desmiolado sonho.

Contorno pelos fundos do dormitório, busco um local onde ninguém me veja, mas parece que há sempre algum mal intencionado passando, correndo, fugindo, me seguindo ou algum guarda à espreita. Parece que já não querem ajudar a gente, mas, se virem algo para avisar a milícia com o poder, não hesitarão em nos denunciar. Com isso, um guarda me pergunta o que faço ali sozinho e se não estou ouvindo o chamado urgente. Não tenho reação que não seja aceitar suas ordens e voltar em frente à casinha onde uma das portas cinzas dos quartos tem a inscrição Inês.

Sinto que, com a nova conferência, com a nova revista, estarei encrencado de vez, serei fuzilado e, pensando agora, parece um dos reais efeitos de uma ditadura, onde tenho ninguém a recorrer. Somente assimilando se tratar de um sonho e aproveitando a peculiaridade da vivência toda nele, me esforço para ali não ser morto, controlar a situação e sobreviver mais um dia. Eles não me descobriram. E Gustavo, onde será que está? Não apareceu mais.



A prisão e as evidências

Estive eu preso a um internato no Rio de Janeiro. Me senti com minha própria idade, que é de DESCUBRA. Mas a maioria dos demais garotos era mais jovem, alguns como criança mesmo. Me senti como Daniel Radcliffe em Um Verão Para Toda Vida. Mentira, só pensei nisto agora na escrita.

A grande diferença do internato, apesar do policiamento em volta em alguns momentos, é que um grupo radical e ditatorial tomou conta da situação. Ameaçavam e queriam, de toda forma, organizar os viventes. Pois bem, logo em uma das primeiras cenas do sonho, mandaram-nos formar uma fila. Haviam recém tomado as rédeas da situação no que parecia uma prisão de segurança mediana.

Como era um dos mais velhos, me desloquei para entre os últimos da fila, mesmo notando umas pessoas de 2 metros e tanto. Estes sim, ocupantes das últimas posições das fileiras iniciadas por crianças.

No que percebo, à minha frente, está Gustavo L., conhecido dos últimos anos, exímio jogador de camisas vermelhas, de finalização impecável e armação de jogo esperto. Não muito rápido nos movimentos, mas todavia inteligente. Ele saca um pedaço de papel preenchido com outras coisas e começa a desenhar e logo me mostra um logo de Pokémon, uma Pokebola, algo assim. Acho interessante sua habilidade de desenhar tão rápido e com tamanha precisão.

Mas os de arma em punho não querem saber e desaprovam desenhos, sabe-se lá o porquê. Me livro dele, mas a menos de dois metros de mim. À esta altura, Gustavo já deu no pé e nunca mais foi visto (no sonho). Nosso artista contra o movimento ditatorial.

A caneta com a qual ele fez o desenho é preta, descubro que me pertence e ele devolveu-a. Mas é um risco tê-la no bolso quando pode ser identificada como a de autoria do desenho. Jogo a caneta para trás e ela para junto a uma parede, também a menos de dois metros de mim. Na situação, estava eu parado, o desenho um metro à frente, a caneta jogada, solitária, um metro atrás, junto à parede do fundo, onde estavam os últimos da fila.

Então, já havia alguns jovens dispersos, mas eu não consigo me dispersar por um certo pânico que me paralisa. Eles catam o desenho, estão furiosos e procuram o responsável. Ninguém assume, ninguém viu Gustavo, ninguém me viu? Ninguém dedura. O chefe, um magro, de cabelos mal cuidados, com raiva e que associo ao tráfico, até troca palavras comigo. Respondo com cautela, mas não me amedronto em responder.

Ele então pede para todos os permanecentes nas filas para pegarem seus lápis e canetas e, para minha surpresa, todos tiram os objetos de escrita dos bolsos, como se estivessem prontos para um vestibular. Eu descubro outra caneta em meu bolso e me sinto mais seguro. Porém, há também outra caneta preta assim como a que tentei me livrar. A primeira pode ser associada a esta e fico preocupado.

O chefe do grupo pensa que o desenho havia sido feito na hora, mas eu discordo dele e o induzo a pensar que um desenho tão bem elaborado deve ter sido feito anteriormente. Não daria tempo de caprichar tanto naquele momento. Ele considera minha opinião e, por hora, me livro dessa situação complicada.
Caneta Bic preta utilizada no crime do internato