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04/12/2024

Talvez tenham percebido que seguidamente escrevo meus textos em tom de pedido de desculpas. E não é por acaso ou falsa intenção: roubar tempo das pessoas é das piores coisas; coisa essa que pode ser o que fazemos ao escrevermos para alguém se dedicar à leitura. Roubar tempo.

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Pretendo roubar tempo de ninguém. Sempre gostaria de somar na vida das pessoas, nem que seja com esses textos pequenos ou com conversas de cinco minutos na rua. Se errei anteriormente, roubando tempo de quem se sinta lesada, gostaria que se aceitasse a permanente intenção de que procuro melhorar para os próximos tempos.

Melhorar com o tempo, e não roubá-lo.

28/12/2022

Reinado

Há vários tipos de escritores. Os que relatam dramas. Os que rebuscam prosas. Os que abrem caminhos pela poesia. Os que relatam cientificamente, biologicamente, astronomicamente e outros termos acompanhados do mente. Os que constroem ficção bem ficcional. Os que constroem ficção bem apoiada no mundo existente. Os que panfletam politicamente. Os que se inserem. Os que se autodiagnosticam. Os que observam as lamúrias e chagas nos outros. Escritores por uma causa. Escritores por uma valsa. Por um sonho de. Escritores que descrevem seus sonhos, acordados ou dormidos. Escritores que inventam mundos por ação. Escritores eróticos. Escritores debochados. Escritores paisagistas. Escritores de criações estritamente psicológicas.

E quem sou eu no meio de tantos tipos? Espero me apresentar com um pouco de cada. Não bato na porta com apenas uma proposta. Recuse meu verso e tento uma prosa. Um outro verso. Um inverso. Uma contradição. Um contrargumento. Contra ti ou contra mim mesmo. Com o perdão do trocadilho, um novo universo. Une versos. Verídicos desconexos. Vereditos anexos. Créditos e débitos no cartão da vida. Curativos e feridas. Chegadas e despedidas.

Espero ser um pouco de cada. Cercado pelas paredes e pelo nada. Pelas batidas extasiadas que meu coração por vezes abdica. Espero ser um pouco de cada e seguir as dicas. As pistas e iscas de meus professores antecedentes, antepassados, diante do ausente e do presente, militante combatente, guerrilheiro entorpecente, pássaro e serpente, ente dos mais queridos, por vezes na cova dos inimigos. Sou e estou contigo. Meu bravo ou mesmo breve amigo. Te, ti, contigo. Não sei se consigo, mas tento. Atento aos mais breves movimentos, brisas e ventos, verões laranjas e invernos cinzentos, cinzeiro das pontas que se apagam, do mar das águas que alagam, das páginas que alargam meus sentimentos.

Espero ser mais do que parecer. Posso parecer ser de cimento. Mas sou o mais frágil pré-sentimento que em flor se abre e às vezes não cabe, ou às vezes só se vê em lente de aumento. Aumento o rebento de meus rebentos, minha rebentação mar a dentro de ondas, de sondas espaciais e especiais, zonas urbanas e rurais de meu testamento.

Espero. Mas enquanto espero ergo. Ermo. Com o cedro na mão de meu triste reinado. De minhas terras e pedaços arrasados, de sentimentos irados, pensamentos pirados e trabalhos a serem arados. Gado. Não peço que sejam, nem sereias nem aqueles que rastejam, talvez com que eu beba uma cerveja, talvez nem isso seja o combinado. O comboio armado, o combo formado pelo que fui e pelo que serei. Se rei for, ser rei do quê? Do quê serei? Espero por algo que ainda não sei.

02/05/2022

O que farei?

O que farei da minha vida?

Agora estou à deriva 

Não sei mais o que sirva 

Mas sei o que não vai caber


Escrever mais umas linhas

Enquanto houver-me tinta

No pincel disposição

Páginas, telas em branco

Nos convidam um tanto

Para uma opinião


O que farei da minha vida?

A ferida tão aberta

Faz perder outras metas

Que não sejam fechar

As malas e as maletas

Pra de novo viajar

Entre a ida e a vinda

Se vai ou se fica

E mesmo parado

Poder tropeçar


Pra onde irem os passos?

O que faço da minha vida?

Não se resolve com laços

Na berlinda, o fracasso

Um talagaço

Para cada noite vinda


Para cada noite finda

O dia vem no cansaço

O que faço da minha vida?

Pra onde irem os passos?

Moscas em Círculos

Agora não quero escrever

Sobre todas as coisas

Como uma mosca

Só uma a me perturbar


Agora me vicia a caneta

A careta na face

Como se não importasse

O resto do planeta


Não quero escrever

Mesmo que eu esteja a ver

Sobre o que quer que seja

Só maneja a caneta

Uma faceta de assunto


Eu escrevo o assunto

O assunto me escreve

Um breve despejo

Leva a lejos y lejos

De qualquer lugar


Uma mosca em círculos

O voo no cubículo

A ideia e o instinto

E o sentimento faminto


A mosca na janela fechada

Sem saída, sem escadas

A fome nada sacia

Sem ser fatias desse assunto

O decisivo presunto

No papel que aceita tudo

Até o inaceitável

17/02/2022

Melhor por escrito

Acho que gosto de escrever também porque, oralmente, nunca gostei de ser interrompido. Pavor de começar a falar e ter de repetir ou começar de novo por interrupções ou porque os outros julgam ter coisas mais importantes para fazer. Assim também sempre detestei terminar algum causo, alguma história e notar o semblante decepcionado ou pouco animado (ou pouco atormentado, dependendo o efeito desejado), indiferente, semblante de pouca relevância ao recém ouvido por meus interlocutores. Dessa maneira, a escrita me parece uma forma mais indireta para tratar com as coisas, mesmo as do cotidiano. Você que está lendo essa divulgação que em seguida irei publicar, não sei se você está interessado ou desinteressado. Não sei se está gostando ou não está. A escrita, em cartas, em blogs, em textos publicados fica assim, mais impessoal. Não sei a reação de quem está do outro lado do texto. Não sei a reação de vocês.

Outra questão muito mais abordada por nós tímidos, por nós antigos ou nós desconfiados, é o poder seletivo, na escolha de palavras para compor um texto escrito, diferente do discurso falado. Também aproveito para confessar que muitas vezes apenas cuspo meus textos, sem um planejamento prévio, sem uma organização anteposta das ideias. É tudo mais interposto. Sendo construído, literalmente, ao gerúndio.

E muitas vezes não gosto de planejar minhas caminhadas, ou ao menos gosto de mudá-las a gosto, à escolha da hora. Várias são as situações da vida que encaro e procuro resolver dessa forma. Acredito na força dos improvisos, creio na variedade, na fuga das mesmices e engessamentos que todos enfrentamos. Me senti a própria Martha Medeiros ao percorrer essas últimas linhas. No disparo improvisado, obviamente. É que também confesso ter lido materiais, livro dela. São coisas da vida, como o nome da obra sugere.

De minha parte, a escolha das palavras certas quase sempre não é problema. Procuro formular essa teia elaborada com precisão. Agora o efeito que causará no interlocutor, se causará indiferença, decepção ou até irritabilidade, prefiro deixar para o trabalho escrito, porque frente a frente, ao vivo, sobre um palco onde ouvem-se vaias, ou até a internet, palco de feedbacks muitas vezes maldosos, prefiro evitar de absorver. No cotidiano, no trabalho, em atendimentos feitos ou recebidos, onde a possibilidade de nos atrapalharmos e ouvirmos queixas é grande, a crítica negativa faz-me mal. Pelos meus escritos também, e é por isso que prefiro manter certa cautela, certa distância, certa ponderação e preocupação. Seleciono melhor meu público leitor e para quem conto um conto, como pergunta uma canção da banda uruguaia La Vela Puerca.

Ainda não cheguei à (agradável?) idade de não me importar com as críticas e me desligar mais do que pensem. Enquanto isso, procuro interligar e agradar. Espero um dia chegar mais no que vendem ser a arte sutil ou não de arremessar o dane-se. Mas não pretendo ler o livro esse. Enquanto isso, permaneço seletivo.

10/01/2022

Peço desculpas

Às vezes escrevo ébrio em minhas próprias tristezas. É urgente mas pode ser irrelevante ou, no mínimo, mal canalizado.

11/03/2021

Esperanças Recônditas

Não, saí para respirar um pouco e estava a pensar que nem tudo que penso ou escrevo será aproveitado. Não, não na questão se vão ler e utilizar de alguma forma intelectual ou mais prática na vida. Questão de que nem tudo vai prestar. Deve ser comum para várias profissões, inclusive, como cozinheiros ou cabeleireiros. Não se acerta sempre. Talvez ainda sirva de aprendizado. Talvez.

Obviamente, o tempo útil de um texto também pode ser duramente afetado. A efemeridade. De repente, o que pensei ou teci por agora, de nada vai valer daqui a uns anos, daqui a uns dias, ou mesmo daqui a umas horas. O jornalismo impresso, gravado na pedra, está com o tempo como inimigo nos últimos tempos. As opções digitais podem ser facilmente alteradas. Marca-se (ou não) a data e horário da alteração e segue-se o baile. No impresso não, estará lá computado para registros póstumos.

Muitas vezes escrevemos por impulso ou por desabafo momentâneo. É geralmente nesses indutos que acabo escrevendo muita coisa. Será que minha racionalidade irracional ou irracionalidade racional terá fins positivos futuramente? Me importa que no momento em que foram escritas me valeram. Às vezes penso onde elas podem chegar. Velha metáfora da cartinha enrolada em garrafa em alto mar. Que os piratas possam surrupiar.

Erro muitas previsões, naturalmente, mas esses dias constatei que acertei sobre Flamengo e Palmeiras alternarem títulos de 2018 em diante. Realmente foram os únicos campeões de Campeonato Brasileiro até 2020. Flamengo ainda faturou Libertadores em 2019 e o Palmeiras a seguinte, em 2020. Monopólio do futebol nacional. Mas errei previsão, sim, pois acrescentei a esses dois clubes, o triunvirato do Corinthians, que tem ficado fora das disputas desde o seu título brasileiro de 2017. Tem contraído dívidas e não tem encontrado o seu melhor futebol em desempenho nas últimas temporadas. Devolvam o Luan ao Sul. Devolver o Luan seria um erro que eu estaria disposto a correr.

Vi uma dessas mensagens reduzidas em microblog - Twitter - garantindo a importância do amor e que deve-se apostar nele. Concordo, deve-se valer o risco. Mas fui ver quem havia curtido essa mensagem. Somente pessoas com namoro ou casamento adiantado. Talvez uma dessas pessoas não, mas na esperança. Pensei: assim fica fácil. As pessoas utilizam as suas vivências e experiências práticas como verdades absolutas. Não é bem dessa forma que a banda toca. Mas ok, admirável otimismo de vocês. All you need, etc.

E realmente é muito importante isso do amor. Do se sentir amado. Desperdicei algumas formas dele, reconheço. Talvez não tenham sido poucas vezes. Mas também imagino e reconheço que não o aproveitaria da melhor forma. Tenho meus impropérios (sentido 2º: censura injuriosa; repreensão) e minhas dificuldades para lidar com isso. Certa vez escrevi meio poema, meio aproveitamento aqui em prosa: saber lidar é o bastante. Como lidar é a questão.

Minha real preocupação antes de vir aqui são os cenários políticos. A polarização novamente está formada, Grêmio, eu te dou a vida, por esta jornada. Não, os cenários políticos. O otimismo total da liberação eleitoral para Luiz Inácio e seus discursos iniciais preponderantes. É uma luz, como foi classificado. O atual desgoverno inclusive passou a, vejam só, usar máscara na pandemia. Altamente radical. Lula é efusivo. Falou em ser radical para atacar as raízes dos problemas nacionais. Frase de persuasão e impacto. O Brasil era muito melhor no tempo do Partido dos Trabalhadores. Nas oportunidades, na renda, no controle da economia, que chegou a uma das melhores do mundo. Nas vagas universitárias e de ensino profissionalizante, nos auxílios desde a profissão de serviços domésticos até a quem estudava e procurava primeira oportunidade no mercado de trabalho. Auxílios para moradias, financiamentos, respeito internacional, comitivas bem recebidas e recebendo bem. Política participativa. Tanta coisa era melhor e foi sendo desmanchada desde o golpe de 2016. É completamente injusto comparar o governo anterior ao atual desgoverno. Não são duas faces da mesma moeda. Não são farinhas do mesmo saco. Não é uma escolha difícil, como pode sugerir o editorial de grandes jornais. Será que um dia esqueceremos esse editorial criminoso, que empurra o Brasil para uma das piores, se não a pior, gestão de pandemia no planeta? De um "líder" que não utilizava máscaras até Luiz Inácio ser liberado com seus direitos políticos a, quem sabe, se as coisas derem certo, concorrer. De um ignorante das questões sanitárias e de saúde. De um verdadeiro genocídio, pois que outro nome dar às vésperas das 300 mil mortes no país? Qual outro nome, vos pergunto?

Não é meu campo, não tenho formações em ciência política, então procuro absorver de outros especialistas, mas, irrequieto, também arrisco meus pitacos. É facilmente para registros póstumos que podemos afirmar que Lula é muito superior a Bolsonaro. Talvez sejam, inclusive, as extremas, as oposições, os que se diferem demasiadamente. O Brasil do PT da melhor economia, do Bolsa Família, do Fome Zero, dos programas sociais elogiados mundo afora, por ONU e outras entidades, pelos ensinos técnicos, profissionalizantes e universitários, pelas vagas ofertadas, pelos ataques que a grande mídia descarregava furiosamente, criminosamente com capas de revistas, com editoriais de jornais. E o Brasil atual de nenhuma responsabilidade social - já dizia o companheiro Marroni para outros - do colapso da saúde, porque as soluções anteriores ofertadas não foram procuradas. Porque as vacinas não vieram, demoraram a vir, passou-se todo o 2020 e precisou-se organizar mórbidos containers para arrecadar os corpos já sem vida. Vidas que não voltam mais. A economia ainda poderá voltar - mas digo, não com eles. O combustível vai seguir subindo, o gás de cozinha vai seguir subindo, os alimentos nas bancadas e estantes continuarão a subir em preço, ao menos enquanto o mesmo ministro da economia permanecer. Ele não sabe gerir, não sabe gerir para o povo, não sabe controlar a alta dos preços, vai desvalorizar a moeda real até os seus confins, vergonha internacional, mais uma a ser sentida, para as mais diversas críticas da imprensa de outros países.

Nem tudo que eu escrever ou pensar será aproveitado, mas novamente me encontro ao tentar alinhar os desabafos. Na certeza que o pior ainda não passou, mas pode passar. Na certeza que a saúde e a economia ainda descambarão suas tragédias em um tango longe de seu findar. Não há piloto, há cortinas de fumaça, mas o antigo piloto deu as caras. Pode retornar. Ou não. É o país das surpresas, das reviravoltas, da Justiça com suas injustiças. Ficou claro que ele poderia concorrer em 2018. Que sua sucessora foi deposta em golpe em 2016. Disso não há dúvida. Disso já sabíamos. Já deveríamos saber, embora muitos ignorem. E, na minha concepção, erre ou acerte, acredito na vontade popular de que ainda há possibilidade dele voltar a vencer. Mas são muitos fatores na tortuosa estrada. Se estará elegível ou não, na reabertura de processos judiciais e novo resultado de absolvição ou condenação. A depender de como será a futura campanha políticas. As futuras alianças a serem desbravadas. Sozinho, no campo de esquerda? Não há como. Mas seu vice anterior era José Alencar e houve o episódio mais do que conhecido com Michel Temer, além de José Sarney, Renan Calheiros e outros. Não há como acreditar na pureza, somente da boca para fora. Mas como serão as campanhas políticas em um país movido nas últimas temporadas a ódio? Altamente arriscado. A proximidade física, o aproximar com o povo, o corpo a corpo, ou manter-se a cautela para evitar uma catástrofe, uma tragédia, como já houve ataques violentos a tiro na fronteira do Rio Grande do Sul e como houve (ou não) o incidente que afastou candidato de debates em 2018. E pensar que hoje em dia quase tudo é no modo digital, nas câmeras, nos aplicativos zoom, nas aulas online, nos ambientes virtuais e na época ninguém obrigou a ocorrência de debate, mesmo à distância. Frouxidão e desgoverno, lado a lado.

Encerro por aqui sem a certeza dos acertos, mas com a consciência em alinhamento com o dever cumprido novamente, pelos meus impulsos para a presente época. Espero que os mais otimistas estejam certos com essa volta, pelo menos na semana, triunfal e rejuvenescedora. Mas entendo o processo como um caminho muito longo a ser caminhado. Tudo está distante do rompimento com as nebulosidades que ascenderam nos últimos tempos. Eles ainda têm o controle, o poder, as tentativas de veto, as tentativas de censura, as intimações, as armas na mão - como abordou Luis Fernando Verissimo. Eles ainda têm a gestão desregulada e imprópria da saúde e do combate à pandemia, tudo muito lento, muito devagar para haver a devida massa popular às ruas pelos direitos a serem mantidos, conquistados ou reconquistados. É necessário caminhar com os passos que nos forem possíveis. Sem a esperança intacta - pois já foi muito apedrejada e afetada - sem a ideia de pureza política e ideológica, sem pensar que o livramento das sombras será fácil, mas que ainda ali, em canto recôndito, ainda é possível arrumar boa parte da casa.

01/11/2020

Até lá

Não sei o que escrevo. Minha obra - ah, que chique - era composta somente das músicas que eu compunha desde os 12 para 13 anos. Hoje são centenas. Depois parei de musicar algumas e dava ênfase à poesia. Tenho trabalhos da faculdade para fazer enquanto aqui estou. Eles me enfadam. O academicismo me enfada. A obrigação de produzir o que já produziram, de fazer o que os demais já fizeram. Não quero. Priorizo o inédito de quase todas as maneiras. Às vezes, por convenção social, seria melhor imitar os outros, seja pelas maneiras como esperam que você aja, seja pela repetição do que efetivamente dá certo. Mas mesmo assim me complico. Me sinto farsante em quase qualquer obra que colho como ideia alheia. Gosto como particularmente enxergo as coisas ao redor.

Após as diversas músicas, nos variados gêneros musicais, do pop rock ao rap, após as poesias de versos mais para curtos do que compridos, tive contato com as crônicas para relatar episódios da minha vida. Creio que já vinha desenvolvendo isso desde a adolescência, mas a experiência, a releitura inspiram. Para não me contradizer do primeiro parágrafo, são inspirações, não cópias, como o academicismo muitas vezes sugere. As mais diversas críticas à universidade nesse sentido são válidas. Queremos trabalhos inovadores, mas devemos nos basear inteiramente nos antigos. Para muitos é assim. O que é necessário é caminhar. Claro, sempre em vista a comprovação e a aplicação. A expansão efetiva do conhecimento.

Avancei para o gênero das crônicas com aquilo que me entalaria a garganta, com o que me machucaria aos percalços do dia a dia, com as inquietações mundanas, com as observações dos mais heterogêneos personagens que nos cruzam o caminho. A facilidade de seu formato incerto, em que posso escrever ao gosto que aparece e, ao terminar, poder chamar de crônica, sem que critiquem com isto é ou não é uma crônica. É um reduto, uma fortaleza poderosa. A sua suavidade que cabe em página ou duas, não mais do que três. O formato da crônica instiga, flui, me carrega às entranhas das ideias, às distâncias do mundo, ao contato dos outros, mesmo quando me fecho ao mundo externo.

Finalmente, o formato dos contos serviram imediatamente para o espaço do imaginário, as narrativas mesmo curtas, mas com potenciais de expansão. Quantas delas serviriam para livros, para filmes? Algumas, sim, não tenho dúvida quanto a isso, bastaria a boa vontade de expandi-las, mencionando aqui como se fácil fosse. Não é fácil, existe uma atenção mais minuciosa, um cuidado tanto maior com a escrita, porque apontar os erros alheios sempre é fácil. Na verdade, na minha autocrítica encontro muitos erros, mas a preguiça de corrigi-los me impede um resultado, digamos, mais satisfatório. Portanto, me atento aos modelos reduzidos dessas linguagens referidas, me atenho, me confino aos poemas, às músicas que um dia serão ou não gravadas, às crônicas e aos contos.

Um romance de maior fôlego exigiria tempo, que hoje não desfruto, enquanto estudante de letras - dos academicismos que por tantas vezes me enfadam - e escritor diário do jornal Diário da Manhã, e narrador de todos os santos jogos do Brasil (de Pelotas) na Série B do Campeonato Nacional. Ademais, mantenho uma rotina de leituras e visualizações de filmes para colher algumas rosas ou ao menos pétalas e sépalas nas variantes das histórias.

Não sei o que escrevo, mas permaneço atento, descritivo, trazendo detalhes, parâmetros de comparações quase sempre desnecessárias, situações geopolíticas e atuais, comparações e espelhamentos de obras produzidas com nada a ver uma e outra. Acredito que os laços entre obras distintas seja mais válido do que as obviedades dos que claramente foram inspirados uns pelos outros. Ou seja, mais me interessa juntar algo muito distante no tempo ou nos fatores culturais, observando suas semelhanças e comportamentos diferentes, do que comparar obras próximas, em que qualquer sujeito teria a capacidade de enxergar tamanha nitidez. Embora, a nitidez nem sempre esteja nítida a tantos olhares turvos, mas aí...

Não sei o que escrevo, mas escrevo aqui durante um domingo ensolarado que antecede ao feriado de finados, o mais grave da história brasileira pela imensa pandemia de covid-19. Quantos disso se foram? e, na minha vida, tantos outros se foram em 2020 por outras causas e motivos. Circunstâncias. Não sei o que escrevo, mas escrevo aqui ao som do vizinho, apelidado por nós de Dênis, o Pimentinha, um berrão de não sei qual idade, às vezes meu pensamento avança para que ele já tenha mais de 10 anos e tome rédeas ou tomem rédeas de seu próprio incerto comportamento. Outras vezes o acho tão infantil e pequeno que parece não ter mais do que cinco ou seis anos. Está em algo intermediário entre essas impressões. Dênis está saltando na piscina, embora não esteja tão calor ainda. Quando estiver estará apimentado o bastante para que eu deseje meu próximo endereço o quanto antes, embora durante a longa temporada de inverno me senti plenamente acostumado e ambientado nessa troca de casa.

Escrevo enquanto poderia fazer outras coisas, quase nada preocupado com o alcance do público - agora. Futuramente, talvez. Talvez por questões de renda. Talvez por limitações empregatícias. Talvez. Talvez um dia eu também melhor saiba o que, para quem e com qual objetivo escreva. Até lá...

23/08/2020

Reflexões acerca do trabalho universal do escritor

Fragmentos aqui intitulados reflexões acerca do trabalho universal do escritor.

O escritor traduzia histórias, sentimentos, reflexões, publicações oficializadas, políticas, o que estava vigente para ser escrito e carimbado para a História. No importante papel de tradutor de épocas para conhecimentos futuros. Uma oficialização a mais em relação aos causos repassados de boca em boca, dos contadores orais, dos velhos sábios para seus novos aprendizes, através das gerações. Ali coube ao escritor deixar registradas versões oficiais, fontes, se não inesgotáveis, mais próximas disso. Trabalhava o escritor para reduzir o pesado consumo da efemeridade, que torna nossos pensamentos, os acontecimentos, os atrevimentos, as coragens, os sonhos, as filosofias tão breves. Contra a brevidade de ausente piedade atuava e atua o escritor.

O escritor traduz desde as versões oficiais para a História, em encadernações cada vez mais vastas e acessadas, até suas subjetividades mais íntimas. Vangloria sonhos, ideias, filosofias vãs ou mais disseminadas e relevantes. Transpõe ao papel de hoje suas glórias e fracassos, histórias suas ou de outrem. Valoriza seu bairro, sua cidade, seu país, ou se arrisca sobre culturas diversas por onde obtém contatos. Se inspira no que vem de fora, em fontes que percebem suas determinantes participações ou mesmo são usadas sem se darem por conta.

O escritor, me peguei a pensar anteriormente, vencia muitos obstáculos nas remotas épocas. Era necessário ter a criação com o aprendizado da língua, depois da escrita e depois ter fontes e métodos para transpor suas escritas. Nem todos tinham papel. Nem todos tinham penas, nem todos tinham tintas. Seu povo era em sumo analfabeto, então era muito reduzido o alcance de suas escrituras. O trabalho era árduo em molhar a pena, passar ao papel, desenhar as letras, esperar secar, molhar a pena, passar ao papel na gravura das letras e esperando secar, acabava o papel, acabava a tinta, não acabavam as letras, passava-se o tempo. Duro o trabalho do antigo herói escriba.

Antes das grandes enciclopédias e dos acessos mais universalizados, como era limitado o alcance cognitivo para o desejoso escritor. Talvez, exatamente pela ausência das referidas ferramentas, ele nem soubesse o alcance que poderia sobrepor suas obras. Não saberia onde pode chegar. Hoje temos acessos seculares, História, Física, Astronomia, Astrologia, Química, Matemáticas, Geografia, Geologia, Linguagens, os mais diversos idiomas catalogados, Esporte, Política, os variados assuntos. Alguns trabalhos dessas épocas praticamente esquecidas são recuperados e atualizados e alavancam prestígios não antes almejados. Outros infelizmente perdem-se pelos distintos e incertos caminhos.

Os escritores tinham maior dificuldade de dominarem mais idiomas pela globalização ainda distante, pelo ensino não universalizado, mas é também de se lembrar e repensar quem tem acesso a essas chamadas globalizações e universalizações. Lados que incluem e lados que excluem. Colchas puxadas para tapar a cabeça e destapar os pés. É de se refletir. Mas, enfim, avançam os cargos poliglotas, os viajantes incessantes, os ensaciados em dividir experiências elevadas ou das mais mundanas.

A leitura também está presente na maioria das pessoas pelos países, a taxa de alfabetização se eleva, os conhecimentos estão mais prontos, embalados, postulados a serem disseminados. Há estantes com livros rotos e totalmente paralisados a acumularem pó, bibliotecas pouco acessadas e outros sedentos em beber cálices de leitura com seus pratos vazios para esta ceia. A circulação do conhecimento encontra várias barreiras, algumas propositais, outras não, não pensadas. Estradas ainda não pavimentadas ou fornecedores que não escoam suas mercadorias.

Aumenta o número de escritores, de jornalistas, de blogueiros, de fazedores de vídeos para passar conteúdo. Aumentam os leitores e sobretudo os visualizadores com seus cansados olhos e cérebros, que dispensam a leitura textual escrita. A democratização, o controle, a orientação pessoal, a orientação política, a vontade ou a inação, o incentivo ou o empate dos governos e desgovernos. Tudo isso pondo a prova o que vai ou não vai ser lido. Ou o quanto vai ser lido. Ou quem vai ser lido.

Os barrados, os censurados, os carimbados de loucos, os financiados, os financiadores, as editoras, os mecenas, os "o que eu ganho com isso??", todos envolvidos nesse complexo processo atual. Aumenta a gama de leitores pelo mundo, mas como está a divisão de conteúdos, a variedade, a pluralidade do que podem ou não acessar? Quantos escritores conhecemos da África, esta já produtora em idiomas que teríamos maior acesso, do português angolano ou moçambicano, aos ingleses e franceses, quantos escritores e escritoras latino-americanos? Quantos de nossa cidade? Quantos produtores, do cordel, do rap, dos repentistas? Poetas, bloggers, usuários de medium? Quanto valem seus trabalhos? Informativos, subjetivos, sufocantes, inebriantes, desconcertantes, verdadeiros, ilusórios?

E pensar que tudo isso que aqui agora escrevo foi por pensar que os escritores de antigamente escreviam sobre outros lugares porque por lá passavam e conheciam de fato, in loco, como se diz. E pensei quem tenha acesso a viajar, quem tenha acesso à escolaridade, quem tenha incentivo a escrever, quem tenha leitores para começar, 5, 10, 20, 50, 100, daqui a pouco lançar algo e 500 cópias e quem vai comprar, e quem vai revender, e quem vai nos ajudar? E quem vai nos salvar de estarmos provando sempre a mesma água salgada neste mar que nunca nos mata a sede? É isto.

14/11/2017

siempre lo mismo

eu escrevo
preso às amarras
às falas do jornalismo
preso às taras
do consumismo
preso ao emprego
que quiere
siempre lo mismo

04/11/2017

Coincividas

Concordar com meus escritores sem tê-los lido - ou ao ler - me traz uma paz e uma saciabilidade momentâneas.

13/07/2017

Adega Adequada

Escrevo apenas
Escrevo atenas
Cenas que ninguém vê
Tão distantes do horizonte
Dos números da TV
Escrevo como quem procura
O trevo de quatro folhas
Escrevo como quem pudesse
Ter na vida mais escolhas
Escrevo como quem procura
A cura dessas chagas
Como quem procura
A chave dessa adega
A poção mágica de um só gole
Em que se escolhe dizer: Chega!

16/06/2015

Escravo Escriba

Escrevo e não enlouqueço
Já enlouqueci
Escrevo pra ver se cresço
Não sei o quanto cresci
Não quantifico, não meço
Não tem como medir

Escrevo universos
Eles vão se expandir
Escrevo e me apresso
Não há como fugir (do tempo)
Escrevo sem preço
Não tem como medir

Escrevo o expresso
Que vai me conduzir
O progresso ou regresso
Do ponto de partir

Não quantifico, não meço
Não tem, como medir