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22/06/2022

Abril - de meus sonhos juvenil

Abril passou

Passou senil se não me lembro

Abriu um montão de presentes

Que já são passado 

Papelão reciclado 

Jornais forrados 

Abril que acabou 

Feito água de cantil

Abril que fechou com silêncio 

Fica a agulha, vai-se o vinil

Vai de novo espetar o rodopio

Gira o disco e é isto 

É abril que se fechou

Acabou, não insistiu 

Nem brinca com isso, amor juvenil

Que sem ti fico deitado sem cio 

Em contrapartida ao nosso estado

Algemado ao teu corpo, pernas e quadril

Ao roçar os vidros em rocío

Desviou os rumos de abril

Que eram planejados só uns versos bem vadios

Bem tardios meses depois

De um abril que já se pôs 

Que fez pose e despediu

Alertando maio que dele vem frio

Vai que vai, que vai abril

Folha de calendário fora do páreo 

O mês quatro que se foi

O mês claro que se foi

Como há de ser, foi tantas vezes

Até o dois mil e vinte e dois

Mais de dois mil abril

Até o abrir de nós dois



27/04/2022

Março

Chegaram

As águas de março

E o que eu faço?

Fumar um março

Um março 

Para uma fêmea 

Ou um março 

Para um macho

Um março

Na nossa história

Março as pessoas

Se for preciso


Março

Fugir para o março

Longe das pessoas

Perto dos bichos

Há março

E jogo no lixo

Março em frente

Caminho distante


Há março

E jogo fora

Já não esquento 

Já não dou bola

Março ainda esquenta

Águas de março

Antes de abrir

Abril

27/04/2019

"todo dia um novo homem"

caralho, já é quase o meio do ano
e nós o que mudamos?
hoje foi minha caneta que me deixou
falhou até isso ser tudo
seu estado natural
e absoluto
imutável ao meu luto
"todo dia um novo homem"
trazia em sua lateral
para vergonha ou orgulhar
o usuário
depende qual

15/04/2019

ame versários

vacilo que cometi
não lembrar seu aniversário
nesta rede social
que foi ponto de partida
e talvez seja o final

agora parado aqui
pensando se mando algo
pra me redimir, afinal
com o saldo atrasado
mas a intenção enorme igual

vacilo que percebi
somente passada a meia-noite
no relógio digital
açoite como um azeite
que cobre meu corpo criminal

crime e castigo
ter esquecido
o seu dia do ciclo anual
para tantos nenhum encanto
para ti sem outro igual

perdoa-me o esquecimento
que eu tento processar
inflamando algum talento
nessa arte de desculpar-me
que produzo em tal lamento
implorando aceitares
como um bom ar em lançamento
por cima de meu cadáver
cadáver de esquecimento
aos vermes de minha carne

esqueci teu aniversário
neste meio de abril
nem tão quente, nem tão frio
mangas curtas e casacos
a dividir o armário
entre suor e arrepios
no corpo dos proletários
e o patrão isso não viu
sob o ar condicionado

mas que pena o olvido
essa cena tão hostil
dos barcos enfim partidos
de um porto tão férril
dos metais que estalam
na estalagem que dormiu
daquele ali sonhando
por outro alguém que partiu

28/04/2018

re(in)trospectivo

Juntam-se muitos eventos neste meu sábado que inicia na madrugada. Do aniversário do meu pai ao de um grande amigo que fiz. Jogos do Grêmio contra o Botafogo de meu pai e jogo do Brasil de Pelotas, que eu vou transmitir simultaneamente ao horário do Porto Alegrense. Além disso, duas formaturas, as que tenho reservadas ao mês de abril que vai se encerrando. Coisas que acontecem e se sucedem em minha vida, as formaturas aguardadas no mesmo dia, na mesma noite. Revezar entre elas, aproveitar ao máximo nenhuma, mas procurar aproveitar ao máximo a estada em cada uma. Assim é a vida, suas escolhas, renúncias e disparates do tempo.

Explanação demais sobre a minha vida. Vim tecer linhas de teimoso que sou eu, lata vazia à minha direita, coração esvaziado ao centro, com a ponta para a esquerda, é isso que dizem? Que seja. Durante a semana, dois dias antes foi o aniversário do Farroupilha da cidade de Pelotas, clube que muito bem adotei aos meus gostos e reivindicações. Tenho e prezo um carinho imenso por tal. Trajei minha camisa para percorrer as ruas do centro, sob olhares curiosos e saudosos para um jovem com a vestimenta de um dos clubes de seu miocárdio. Algum problema comigo? Creio eu que cruzei com o comentarista Caldenei Gomes, mas quando percebi que seria ele já havíamos nos despistado da calçada.

Não há rosto mais antigo impassível à camisa do Farroupilha. Recordam que já torceram por ele, ou recordam gente que torceu ou ainda torce. Recordam um pai, um tio, um amigo, um tempo remoto no estádio Nicolau Fico. Recordam um jogo que passou e abrem o baú dos fundos do raciocínio. Assim é a reação quando vista a camisa do Farroupilha nos dias atuais. Quase todos desconhecedores de ser um dia de mais um aniversário da agremiação quase centenária. 92 anos fazia, o campeão gaúcho de 1935, o maior torneio gaúcho da história, o maior estadual, o de centenário da revolução farroupilha.

Tempos difíceis ao futebol do interior. Outros apontamentos dos tempos? Oh, como de sempre faço isso. Dos cuidadores de comércios de esquinas, voluntariosos na função de cuidarem o movimento, encararem uns, cumprimentarem outros. Seguranças e porteiros. De um, de dois, de três comércios, dependendo. Juntando uns pilas no mundo atual. Uns ao celular, quase que bem distraídos.

O calor do centro foi enorme em pleno abril. Comprei uns livros, dos quais apareceu uma confusão sobre tudo que já aconteceu em Londres, um sobre o caçador dos mitológicos nórdicos Trolls e, para mim, a iniciação no universo kafkiano e mais umas ideias do tal argentino Julio Cortázar, ao que tudo indica, um dos maiores do país cisplatino.

Na compra da livraria em formato sebo, a descoberta que a outra pessoa fora o gordinho tatuado que eu nunca vi além de atrás do balcão, é a esposa ou namorada dele. Fiz o possível para evitar um contato mais próximo, embora ela insistisse a arrumar livros próximos a mim. Até a maldita da pequena escada fez questão de pegar para dificultar minhas leituras de orelhas e contracapas. Mas consegui fazer as devidas escolhas. A outra mulher que entrou na livraria parecia-me mais nova pela visão periférica e voz doce e gentil com a qual se comunicava, mas logo notei, ao me dirigir ao caixa do gordinho do balcão, que ela tinha idade mais avançada que os funcionários do local.

Assim foi a aventura de compras em uma livraria retrô utilizando uma camisa relativamente nova de um clube essencialmente retrô. Assim seguia o verão improvisado mesmo ao fim de abril, completamente fora de época. E fazia minha dedicação e preparação rumo ao sábado de acontecimentos. Sábado estando a acontecer. Com tecer. Conte ser.