São tempos atuais de discordância elevada em grau político, quando debatem-se as crenças do que seria melhor em âmbitos sociais e econômicos. A eleição presidencial parelha e antagônica separou visões diferentes. A corrida de campanha foi conduzida como uma corrida entre duas bigas, de certa forma em retrocesso semelhante às barbáries comuns aos romanos da época.
30 de outubro de 2014
Espelhos e Espinhos
As diferenças são como pequenos espinhos. Espinhos imersos em uma superfície onde APARENTA haver civilidade. Mas quando cutucados, os espinhos inflamam e não são retirados sem punir quem ousou encostá-los. Aí debates acabam em brigas, baixaria e preconceitos em erupção.
27 de outubro de 2014
Domingo D+4
E saí de casa solito, na esperança de encontrá-la. Não sei se ela ou a vitória. Eram duas belas meninas, de todo o modo. Concreta, visível em pele, ou abstrata, no sentimento de cada um envolvido. De todo o modo, era para terminar saboreando o fim de tarde de um domingo de um calor infernal sobre os concretos da cidade quase grande.
Longe demais das capitais eu estive caminhando, quase em linha reta. A geografia das ruas permitia tal traçado em direção à ela (a vitória). Ouvia minhas escassas opções de rádio FM, após já ter escolhido facilmente as escassas opções de candidatos na eleição. Era o segundo turno para governador e presidente. O candidato estadual de minha preferência já havia perdido quando deixei minha casa com os fones de ouvido. Diferentemente do conformismo da primeira "derrota", a segunda apuração era uma decisão mais antagônica, importante. Minha candidata precisava vencer. Obrigação na cartilha para curtir as próximas horas. E os próximos anos.
Caminhei e andei e andei ainda mais um pouco e o horário da divulgação da apuração, 20 horas, não chegava. O sol obedecia ao ciclo e quedava aos poucos para seu esconderijo. Não sabia mais se os óculos escuros eram necessários.
Já dobrava para a rua decisiva, enquanto na calçada oposta um trio de jovens, um deles com o violão em mãos, cantava Jota Quest: "e se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou". De longe, avistei duas camisas de cor muito semelhante à minha. Ao descobrir o bigode conhecido de um colega universitário, rumamos juntos pelo centro. Agora três camisas de tons quase idênticos e com o mesmo voto no coração por baixo delas. Altos papos de política até o apartamento do amigo daquela noite.
De lá, aguardamos a apuração. O colega de ap. dele, reclamando de pressão desregulada, estava com um notebook para conferir o resultado do clímax dominical. Ele, também eleitor de mesma escolha, aborrecia por sua falta de emoção/expressão enquanto anunciava algo de importância comparável a um teste de DNA. E deu ela. Deu ela, sim. 95% das urnas brasileiras apuradas. E 96%. E 97, 98%. É TETRA!!!!! - infinitas exclama ações.
Papeamos mais um pouco sobre futebol interiorano gaúcho e política de parâmetro local e nacional antes de sair às ruas. O comitê, antes ocupado por somente meia dúzia de gatos pingados com o sol ainda a martelar, agora estava tomado. A quadra destinada aos satisfeitos e contentos com o resultado recém saído do forno (literalmente, pelo calor do cão).
A cuia passeou ainda mais algumas vezes por nossas mãos e a erva caliente por nossos bicos antes de acabar o conteúdo da mateira. Um papo ali e outro acolá, do outro lado do mar de bandeiras vermelhas para contextualizar o significado vitorioso. Trocar mais ideias com gente que, na ampla questão, concordava em maior grau conosco. Em meio a isso, procurei-a com olhar inquieto. Achei outras vistas apreciáveis, mas não ela. Somente os olhos e sorrisos da outra menina apareciam: a menina vitória.
Um papo com um paulista que hace artes visuais no pampa gaúcho e está terminando o curso. O estado de São Paulo vive a seca da água e a seca da ausência de um governador de esquerda no estado. A primeira seca recente, pega todos de calças curtas como informação bombástica. A segunda se arrasta por anos e permanece mais quatro. Mas para presidente, apesar da pequena votação lá em SP, a situação segue diferente ao Brasil. Para melhor.
Ele me conta que chegou à nossa Universidade local pelo ENEM. Foi um dos primeiros contemplados, lá em 2011, sendo a Federal da cidade uma das primeiras a aderir integralmente os ingressos pelo Exame Nacional. Agora, próximo do fim da jornada nestas terras, o jovem diz que já consegue financiar apartamento em São Paulo com o programa de assistência à moradias. Vir para cá e estudar com o dinheiro dos impostos foi possível. Voltar formado e com auxílio no custo do imóvel também é.
Entre outros olhares de quem imagino boas histórias e motivos de estarem lá em comemoração, temos negros e negras, bandeira LGBT, bandeira com as cores que simbolizam as lutas femininas. Temos crianças influenciadas pelos pais. Crianças que tomara tenham um futuro melhor para seus futuros filhos. Temos motoristas de ônibus ilhados provisoriamente pelas olas embandeiradas. Uns buzinam. A maioria deles se manifesta, na verdade. Adesivos em carros do ano (?) e em bicicletas.
A cerveja de marca gaúcha desce rápido. Rápido, antes que esquente. Vejo mais crianças, mais gente alegre. Quem não pula é comparado com uma ave da fauna brasileira. A multidão começa a dispersar e me disperso em um turbilhão de assuntos e pensamentos, colecionando algumas certezas como adesivos de candidato. Assim, também volto para casa.
Os ônibus não vem, mas acerto as teclas do celular e consigo carona. Eu tenho carona, nem todos têm. Concluo, dessa campanha encerrada, que meu voto não é só por mim. É pelo estudante com o sonho das artes, é pelas empregadas e empregados que saíram a comemorar no domingo à noite, pelos LGBTs com suas bandeiras e direitos, pelo boné que vi dos sem-terra, pelas minorias sociais em geral. É por melhor condição de serviço e salário dos motoristas e passageiros de ônibus. Não é só por 20 centavos. É pela maior humanização ao meu redor.
Longe demais das capitais eu estive caminhando, quase em linha reta. A geografia das ruas permitia tal traçado em direção à ela (a vitória). Ouvia minhas escassas opções de rádio FM, após já ter escolhido facilmente as escassas opções de candidatos na eleição. Era o segundo turno para governador e presidente. O candidato estadual de minha preferência já havia perdido quando deixei minha casa com os fones de ouvido. Diferentemente do conformismo da primeira "derrota", a segunda apuração era uma decisão mais antagônica, importante. Minha candidata precisava vencer. Obrigação na cartilha para curtir as próximas horas. E os próximos anos.
Caminhei e andei e andei ainda mais um pouco e o horário da divulgação da apuração, 20 horas, não chegava. O sol obedecia ao ciclo e quedava aos poucos para seu esconderijo. Não sabia mais se os óculos escuros eram necessários.
Já dobrava para a rua decisiva, enquanto na calçada oposta um trio de jovens, um deles com o violão em mãos, cantava Jota Quest: "e se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou". De longe, avistei duas camisas de cor muito semelhante à minha. Ao descobrir o bigode conhecido de um colega universitário, rumamos juntos pelo centro. Agora três camisas de tons quase idênticos e com o mesmo voto no coração por baixo delas. Altos papos de política até o apartamento do amigo daquela noite.
De lá, aguardamos a apuração. O colega de ap. dele, reclamando de pressão desregulada, estava com um notebook para conferir o resultado do clímax dominical. Ele, também eleitor de mesma escolha, aborrecia por sua falta de emoção/expressão enquanto anunciava algo de importância comparável a um teste de DNA. E deu ela. Deu ela, sim. 95% das urnas brasileiras apuradas. E 96%. E 97, 98%. É TETRA!!!!! - infinitas exclama ações.
Papeamos mais um pouco sobre futebol interiorano gaúcho e política de parâmetro local e nacional antes de sair às ruas. O comitê, antes ocupado por somente meia dúzia de gatos pingados com o sol ainda a martelar, agora estava tomado. A quadra destinada aos satisfeitos e contentos com o resultado recém saído do forno (literalmente, pelo calor do cão).
A cuia passeou ainda mais algumas vezes por nossas mãos e a erva caliente por nossos bicos antes de acabar o conteúdo da mateira. Um papo ali e outro acolá, do outro lado do mar de bandeiras vermelhas para contextualizar o significado vitorioso. Trocar mais ideias com gente que, na ampla questão, concordava em maior grau conosco. Em meio a isso, procurei-a com olhar inquieto. Achei outras vistas apreciáveis, mas não ela. Somente os olhos e sorrisos da outra menina apareciam: a menina vitória.
Um papo com um paulista que hace artes visuais no pampa gaúcho e está terminando o curso. O estado de São Paulo vive a seca da água e a seca da ausência de um governador de esquerda no estado. A primeira seca recente, pega todos de calças curtas como informação bombástica. A segunda se arrasta por anos e permanece mais quatro. Mas para presidente, apesar da pequena votação lá em SP, a situação segue diferente ao Brasil. Para melhor.
Ele me conta que chegou à nossa Universidade local pelo ENEM. Foi um dos primeiros contemplados, lá em 2011, sendo a Federal da cidade uma das primeiras a aderir integralmente os ingressos pelo Exame Nacional. Agora, próximo do fim da jornada nestas terras, o jovem diz que já consegue financiar apartamento em São Paulo com o programa de assistência à moradias. Vir para cá e estudar com o dinheiro dos impostos foi possível. Voltar formado e com auxílio no custo do imóvel também é.
Entre outros olhares de quem imagino boas histórias e motivos de estarem lá em comemoração, temos negros e negras, bandeira LGBT, bandeira com as cores que simbolizam as lutas femininas. Temos crianças influenciadas pelos pais. Crianças que tomara tenham um futuro melhor para seus futuros filhos. Temos motoristas de ônibus ilhados provisoriamente pelas olas embandeiradas. Uns buzinam. A maioria deles se manifesta, na verdade. Adesivos em carros do ano (?) e em bicicletas.
A cerveja de marca gaúcha desce rápido. Rápido, antes que esquente. Vejo mais crianças, mais gente alegre. Quem não pula é comparado com uma ave da fauna brasileira. A multidão começa a dispersar e me disperso em um turbilhão de assuntos e pensamentos, colecionando algumas certezas como adesivos de candidato. Assim, também volto para casa.
Os ônibus não vem, mas acerto as teclas do celular e consigo carona. Eu tenho carona, nem todos têm. Concluo, dessa campanha encerrada, que meu voto não é só por mim. É pelo estudante com o sonho das artes, é pelas empregadas e empregados que saíram a comemorar no domingo à noite, pelos LGBTs com suas bandeiras e direitos, pelo boné que vi dos sem-terra, pelas minorias sociais em geral. É por melhor condição de serviço e salário dos motoristas e passageiros de ônibus. Não é só por 20 centavos. É pela maior humanização ao meu redor.
Divulgação do site Catraca Livre |
23 de outubro de 2014
Respiração Gota a Gota
"Nascemos para quê? Para sermos mais uma gota no meio do oceano?", ela disse em meio ao diálogo. Importante despertar de ideia, naquela incessante inquietude pelo "quem somos?". Existe uma legião bem grande de gotas espalhadas por aí. Podem parecer e se assemelham em muitos aspectos, mas não são iguais.
Há gotas que gostas mais. Há gotas que gostas menos. Há gotas que parecem vir ao mundo somente para secar outras gotas. Há gotas que escorrem lindamente juntas, se entrecruzam e persistem lado a lado.
14 de outubro de 2014
Feira cultural pela negritude
Realizada no
Mercado Central de Pelotas,
a Feira da Cara
Preta reúne expositores
com cultura afro
da região sul do estado
A Feira da Cara Preta
chegou, em setembro de 2014, à sua 3ª edição. A realização é uma oportunidade
de manifestação cultural para artistas e expositores da zona sul do Rio Grande
do Sul. Em Pelotas, a cultura de raízes afro é bastante presente e faz parte do
desenvolvimento do município desde seus princípios. Porém, segundo um dos organizadores,
Jonas Fernando, “os negros ainda não conseguem se ver como
parte do modelo de sociedade em que vivem”.
A ideia do evento é
exatamente o que Jonas propõe: inserção. Buscar espaço em um mundo onde a arte
e o lazer caminham de maneira segmentada. Por isso, a Feira da Cara Preta, que
ocorreu entre 19 e 22 de setembro no Mercado Central de Pelotas, reuniu cerca
de 40 trabalhadores, entre artistas, organizadores e vendedores de
artigos de moda e gastronomia. A tradição surgia de diversas formas aos
visitantes. Culinária e vestimentas típicas, pinturas, esculturas, literatura e
dança, além de rodas para debater a história e o espaço do negro na sociedade.
12 de outubro de 2014
Voltam Vultos
Não detive o que vem de ti
Não detenho o teu desenho
Que surge à minha frente
Formado em minha mente
Informante incessante
Dos problemas da gente
9 de outubro de 2014
Pequeñas cosas pequeñas
Uma vogal a mais na digitação. Um pingo sobre a letra I mais desenhado na caligrafia a ti endereçada. Uma entonação mais aproximativa no telefone. As pequenas mudanças comunicacionais que nos fazem sentir bem. A simplicidade como o aroma do café sobre a tranquilidade da mesa. Ou sobre o caos ao redor, mas com a bebida dotada de cafeína como oásis no deserto de quem busca paz, sossego ou inspiração.
A grama na sua tonalidade mais verde possível, sob os disparos do regador das nuvens. Biosfera de tantas minúsculas espécies, biosfera do nosso imaginário na procura por algo certo em meio às sarjetas e calçadas imundas. The Kooks no fone de ouvido, enquanto a fofoca é menina livre nos arredores. O violão de algum MTV unplugged dos anos 90, do formato mp3 ao aparelho auditivo, enquanto o ônibus sinaliza no letreiro seu bairro, mas parece o caminho mais curto ao inferno.
A camiseta daquela banda ou daquele time, perdida nas multidões, com um corpo desconhecido a ser cobrido por ela. Um rosto passageiro. Um sorriso certeiro em alguma vitrine, esquina ou faixa de pedestre. A voz macia de atendente de telemarketing, quando o serviço tinham tudo para ser os piores minutos no conjunto de 24 horas.
O mergulho do sol no horizonte como despedida diária de seu ciclo. A caminhada sobre folhas mortas, o olhar acima aos chaveiros dotados de clorofila nas árvores. A flor solitária em local inusitado. A flor comunitária com suas familiares.
Pequeñas cosas, pequenos versos pelos segmentos do universo.
Comboio Sonha+Dor
Tanta gente a esperar o expediente acabar
A batucar no balcão e na mesa
Com a cara virada em tédio
A mirar os ponteiros do relógio
Com o assédio de esperar a sobremesa
Tanta gente assassina, serial killer do tempo
Faz chacina e fascina quem corre a todo momento
No turbilhão do dia a dia, no corredor das correrias
Roleta por roleta, transportes para casa
O tempo diminuto, de minuto em minuto
Não sobra um puto espaço
O tempo diminuto, de minuto em minuto
Não sobra um puto espaço
No escasso tempo em brasa
A fogueira das vaidades, vai idade e vai idade
Vai cidade que só cresce no sentido vertical
Verte e verte, mas inverte o sentido principal
Vai cidade a incendiar, a vaiar os teus sonhos
Como um rolo que atropela o comboio sonha+dor
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