27 de agosto de 2017

21 de agosto de 2017

Em uma Imagem

Vasculho a cidade e observo muitas coisas. São tantas que quero colocá-las no papel, atravessadas pelo meu ponto de vista. São tantas que encontro o problema de não saber como iniciar ou como terminar, mesmo sabendo que as situações observadas servirão como o corpo do texto.

Recentemente, concluiu-se um concurso chamado de Pelotas em uma Imagem. Didático. Qual a melhor imagem para ilustrar a cidade? Não vi os participantes, até pensei em participar, mas prazos e, quando vê, já foi. Vi os postais dos três primeiros colocados. Gostei muito das três escolhas, fotos distintas, a cidade presente em ambas.

O terceiro lugar com uma imagem do trapiche da praia do Laranjal em uma coloração tão rara que jamais vi de tal forma em minhas visitas à praia. O segundo lugar de meu amigo de imprensa, Leandro Lopes, com a estátua de João Simões Lopes Neto (coincidência nos Lopes?) com o nevoeiro característico do inverno, em prédios antigos e tombados ao fundo. (Não gosto da expressão 'tombado', parece que derrubaram esses prédios que, na verdade, tornam-se, a princípio, inderrubáveis pela ordem da lei.)

O primeiro lugar foi uma foto mais humanística (é esse o termo a ser empregado? Bom, errar é...). Uma criança paralisada com a música vinda da vassoura do músico Serginho. Para quem é de fora, isso mesmo, o cara se apresenta em um banco da praça com uma vassoura personalizada em cordas para tirar acordes e passar algumas mensagens no microfone igualmente reciclado, reaproveitado, reinventado. Criatividade na aparelhagem e nas músicas compostas.

O menino branco e o Serginho negro. Uma cidade que convive com essa realidade, muitas vezes mal reparada (de conserto e de observar!). A foto acabou ficando mais fraca talvez tecnicamente, mas é um grande registro. Passo por Serginho seguidamente. Procuro captar algo de suas mensagens. Certa vez ironizava o fato do museu da Baronesa abrigar coisas tão rotineiras e supérfluas, mas tratadas com uma aura especial pela comunidade por terem pertencido à aristocracia local, a mesma que escravizava ou detinha privilégios nada encontrados pelo restante da pequena população local à época.

Pelotas em uma imagem. Tchê, Pelotas em uma imagem, diz aí o que se passa?
► É o fim de tarde na confusão da Marechal Floriano, entre lojas e pessoas procurando os ônibus que seguirão ao Fragata. Sol que desce e cortinas de ferro que se baixam.
► É a confusão na General Osório de madrugada. Asfalto e iluminações novas e as velhas boates, cada vez mais perigosas, onde nunca sabemos se é brincadeira ou briga séria.
► É a multiplicação dos catadores de lixo. Alguns levam até a reciclagem. Outros querem é tentar uma refeição ou terminar a dos outros.
► É o emaranhado de luzes, a frenética má combinação de bebidas e drogas em frente à universidade particular, onde seguidamente ocorre abordagens policiais para coibir a perturbação do silêncio feita pelos carros de som ou apreender irregularidades por consumo ou documentos vencidos nos veículos.
► É o paralelepípedo no chão e as cores do grafite nas paredes do Porto.
► É rave em charqueada.
► É a saída em frente à escola estadual Assis Brasil, com seus estudantes de distintas origens em uma área nobre da cidade.
► É cocô de cachorro na General Argolo.
Não conheço todos os bairros. Tampouco a zona rural.

15 de agosto de 2017

Praça contra Pressa

Gosto de variar os caminhos por onde ando pela cidade. Claro, dependo da disponibilidade de tempo e se estou caminhando a esmo ou com objetivos mais concretos, mas sempre que consigo, faço minhas rotas. Passar por pontos turísticos interessantes, por paredes com inscrições que me chamaram atenção, por locais onde vi alguma coisa legal em outra data, ou simplesmente descobrir novas possibilidades.

Por temporadas, por estações defino algumas rotas mais padrões, onde eu me sinta mais à vontade. Por exemplo, do meu bairro até a Avenida Bento Gonçalves, tenho escolhido a arborizada e movimentada com comércio, Gonçalves Chaves. Passei a gostar mais da rua e a maior movimentação de pequenos estabelecimentos dificulta os roubos a pedestres, então passa uma ligeira sensação de mais segurança em relação à paralela Padre Anchieta. Da Avenida Bento mais em direção ao Centro, ao coração da cidade, opto pela 15 de Novembro, passando pela minha antiga escola, o apartamento de um amigo, o local de trabalho da minha tia e alguns estabelecimentos que me conferem um ar comum, como barbearia, estúdio de dança, papelaria, estacionamentos, etc. Até desembocar na principal praça da cidade, com suas árvores centenárias, prédios antigos e pessoas das mais variadas, no encontro entre a periferia e o empresariado.

Contorno a praça e ouço um rapaz com o microfone recém ligado à frente de uma loja. Anuncia que se trata não de uma loja qualquer. Se trata da maior loja de créditos de Pelotas (exclamações)! Se trata de uma das maiores lojas de créditos do Rio Grande do Sul (mais exclamações)! Aposto que nem ele acredita nisso e provavelmente nem os donos, a não ser que tenham um ego desmedido e sem noção. Porém, creio que a extensão da importância da loja também seja uma estratégia para ele ganhar tempo e organizar a papelada das ofertas e chamativos que pretende anunciar a seguir. Mas como segui caminhando, não o ouvi anunciar mais.

Quem pode ter ainda ouvido ou não era um morador de rua, na soleira do fechado Teatro Sete de Abril, cerrado há vários sete de abris que se passaram nos calendários. Sem atrações internas, sua fachada fica decorada pela crueldade das ruas daqueles sem oportunidades ou definitivamente desmotivados a tentar qualquer emprego que seja, como ser locutor da suposta maior loja de créditos da cidade. Ele estava completamente coberto por um cobertor dos mais sujos que já presenciei. Imóvel, se estivesse morto, não descobririam nos próximos minutos, nem horas e provavelmente demoraria uns dias.

Na praça, contornei a funerária que apresenta cães vivos nos seus degraus de entrada. Definitivamente vivos. Se morrem, será um escândalo dali a instantes com o desespero dos antigos donos. Porém, se morrem, já estão em uma funerária e aposto que não teriam que pagar pelo funeral, pois fazem parte da herança do comércio dependente do findar de vidas. Não seria problema aos caninos. Não, definitivamente não seria.

Passo por um senhor apoiado a uma máquina dos parquímetros, provavelmente esperando o aparecer de um sinal celestial divino para fazer alguma, tomar um rumo ou ao menos cambiar de posição. Passei por ele, segui meus passos e o homem seguia apoiado ao parquímetro como quem se apoia nas laterais de uma cabine telefônica enquanto efetua uma ligação.

Encontrei um bom local na praça para ler. É um corredor que gosto bastante, onde poucas vezes fui interrompido. Uma ou outra vez, um velho senhor de rua sentou-se de frente ao banco que costumo escolher, demonstrando uma espécie de hábito ou demarcação de território. Respeitei-o, obviamente. Outras vezes como nesta que estou narrando, a proximidade com os brinquedos da praça aproximam as mais variadas crianças, que se divertem e fazem algazarra enquanto os pais sentam-se nos bancos próximos, que formam uma espécie de meia lua em formato.

Enquanto as crianças sobem e descem nos escorregadores e nos outros brinquedos que não sei precisar, mas saberia se eu fosse uns 13 anos mais jovem, os pais, geralmente mães, apenas observam e raramente chamam atenção. Seria bom que chamassem mais vezes, pois um nesta tarde me convocou a notar sua presença, pois emitia gritos guturais elevados. Fazia-me crer que tem potencial para ser um novo Chester Bennington se bem treinado. E aqui falamos em treinamento, pois tudo que conseguia por vezes era me irritar e quase fazer-me desistir da leitura. Fui fiel às linhas tecidas por Humberto Gessinger na finaleira do livro Mapas do Acaso. Nem pretendia fazer paralelo entre o título da obra e os acontecimentos banais e sequencias da cidade em que narro. Mas aparentemente se conectam, não? Mapas do Acaso e as experiências vistas por mim, por acaso ou por eu mesmo querer.

Li até ele começar a terminar o livro, com as letras das músicas que em suma maioria eu conheço. Uma ou outra exceção fez com que eu lesse com mais atenção para atentar a detalhes ou como se fosse a primeira vez. Fechei o livro nas páginas finais e segui viagem. Calcei novamente os fones de ouvido. Se por vezes penso que meus textos possam ser repetitivos, tenho a breve certeza de que as músicas tocadas nas rádios mais ouvidas são mais repetitivas.

Mas logo as músicas vão entrar em desuso e precisaremos baixar ou procurar por aplicativos como Spotify para termos acesso a elas. De certa maneira, as rotas que traço entre a Gonçalves Chaves e a Quinze de Novembro hoje podem me parecer repetitivas. Fica-me a pulga atrás na orelha, essa necessária pulga que, não obstante, intromete-se ao chamado pé do ouvido. Ela me questiona: "Até quando?"

9 de agosto de 2017

Não esquece de buscar a verdade
Na tua versão
Não esquece de catar a mentira
Na tua aversão

8 de agosto de 2017

Julho em Imagens


Henrique König

Foto: Henrique König



Foto: Henrique König

Foto: Henrique König

Dois Passos

Creio que a maioria das situações da vida devem ser melhor avaliadas quando saímos da situação. Há planejamentos que fazemos (no mínimo) dois passos antes. Há avaliações sobre passado que fazemos (no mínimo) dois passos depois. É como avaliar as condições de uma estrada. Sempre ele com as metáforas de estradas. Ora, são das melhores! Avalie as condições da estrada antes de encarar os possíveis buracos no asfalto (dois passos antes). Avalie o estrago no veículo após a passagem (dois passos depois).

Não há limitações exatamente para efeitos negativos. Se avaliam melhor os efeitos positivos também dessa forma. Tanto antes quanto depois. Penso que o importante é manter em mente que havia vida antes de chegar a tal ponto da estrada e há vida após passar tal ponto da estrada. Nada que se classifique assim de forma tão essencial. Ok, sei que há pessoas que estão conosco na estrada desde que a nossa estrada é estrada. Talvez os pais, irmãos, ou talvez amigos tão de infância que não tenhamos recordações antes deles. Antes dos quatro, cinco ou oito anos. Todo o resto de experiências veio depois. Para contribuir a mais, deixar sua marca de certa forma, mas nunca definitiva, pois acredito que fiz entender que há mais estrada adiante.

Se somos modificados pelos acontecimentos, percalços, experiências pelo caminho? Por suposto que sim. Esse é o objetivo. Em relação ao que plantamos ou colhemos nos caminhos.

Um dos grandes lances é o aprendizado. Aprendermos o que fizemos de errado e corrigir para o prosseguimento da Highway. Para não repetir os mesmos erros. Linguagem de simples acesso e prática mais exaustiva. Mas há superação. Super ação.

Não se atinge o tudo e o algo que se atinge jamais será o todo. Ok, essa foi mais difícil. Mas é isso. Nada de avaliações precipitadas. Notas zero nem dez. Nada de velocímetro parado ou no 320.

Luan de saída do Grêmio? Criticamos muito seu começo, mas progrediu. Desde 2014 foi evoluindo e jogando muita bola. Merece ganhar a Europa pelo que evoluiu.

4 de agosto de 2017

Hi, Way

São mais de três horas da madrugada, escrevo como que por um estalo. Escrever é uma das atividades que mais se parecem com o fluir do fogo. Estalo, fagulha, atrito e a queima que se segue. Que segue estalando e se desenvolvendo, que molda labaredas, calor e alívio para quem foge do frio. Ou do vazio.

Acabo de ler um texto alicerçado por Ronaldo Nazário, justo ele que costumou escrever suas melhores histórias enquanto conduzia e tratava com carinho da bola, ao driblar defensores, dificuldades, obstáculos e marcar gols. Não faço ideia quem colocou devidamente o texto no papel ou, no caso, na internet, mas foi uma bela construção. A vida dele e o resumo, no qual ele menciona sua arte de construir e buscar a realização de sonhos. Um sonhador que fez sua parte desde a infância: a de sonhar e acreditar.

Em meios tempos, creio que eu tenha feito a minha parte de sonhar a acreditar, desde a infância. Foram ótimos tempos em atividades semelhantes, como a de jogar bola. A de sonhar escrever as minhas histórias e outras histórias. O jornalismo. Fiz minha trajetória pelas portas que entrei e gostei de ter entrado.

Concluí o curso de Jornalismo como um dos mais jovens de minha classe. Sempre em um sentimento de que preciso aprender mais do que a maioria das pessoas em volta. No sentimento de que meu tempo não é o mesmo das pessoas que me cercam. Ciente de minhas necessidades e de algumas barreiras que enfrento. Mas fui superando.

A bem da verdade, preciso fazer muito mais. Creio que preciso fazer mais por mim mesmo. E mais um pouco para agradar às pessoas em volta, sobretudo o suporte de minha família.

O aprendizado em viver e sobreviver. Quanto aos sonhos, gostei da perseguição de alguns, gostei das etapas concluídas de outros. A linha de chegada é só uma linha que alguém botou lá, então sinto a estrada como um eterno meio. Sempre deixamos algo para trás, mas o meio está em nosso pleno movimento. É o agora. Gosto de pensar assim.

Busquei momentos que demoraram a acontecer, mas aconteceram. Eeeeentre eles, o título do Grêmio, sim. Encontrei mais do que eu podia esperar em qualquer altura da vida a cidades ao norte. Me pergunto sobre sonhos, buscas e vivência. Quando a gente sabe que encontra? Ou por que encontra? Ou, quem sabe, por que a gente queria encontrar?

Gosto das atividades de vaguear, vivências, experiências, coletas, tempo só, antropologia, perfis, esconderijo, convívio, tempo só, registros, escritas, tempo só, natureza, instinto, debate, tempo só, filosofia, tantas perguntas, tanta gente sofrida que as quero ajudar. Me sinto muito mais como um comunicador de poucas pessoas sintonizadas do que um médico que atende caso a caso.

Por mais que volitem, esvoacem e adejam essas experiências, tampouco penso que eu exercite o verbo saber. Jogamos para ampliar nosso leque de perguntas. Saber o que perguntar muitas vezes é mais importante do que as respostas.

Das poucas situações que eu saiba, sei que posso dar uma boa parada sobre determinadas buscas. Inclusive creio que isso me ampliaria muito as atividades em determinados aspectos, a pensar em um futuro até mesmo breve. Há bastante o que se discutir na concepção de sonhos. Quem dera apetecer-me de forma tão certeira quanto Ronaldo, o Fenômeno. Abrem-se estradas. Escolhas. Renúncias. Esperas. Gols de Pedro Rocha. High. Highway.