28 de agosto de 2022

Nossos fins de semana

Cada fim de semana com a Larissa é como se o Grêmio houvesse ganho um campeonato. Claro que o tempo da sensação não é longo nem marco histórico como um título a mais nas estatísticas dos clubes. Mas o êxtase é assim para mais. Mesmo que repitamos nossos assuntos, interações e atividades. É deveras prazeroso estar ao lado dela nesses finais de semana.

Fomos ao show de Duca Leindecker, antigo líder da banda Cidadão Quem. Reunimos meus fiéis escudeiros do curso de Espanhol e fomos. Voltei a consumir álcool após muitos meses. Me saí bem quanto a isso. Também foi um final de semana para exercitar minhas tentativas de ser um bom anfitrião. Tenho muito a aprender, mas tenho comigo a intenção e a paciência dela para lidar comigo e minhas limitações.

O período desses dois dias foi repleto de nostalgia, pois além de relembrar os sucessos da banda Cidadão Quem, como o Amanhã Colorido, Pinhal, Ao Fim de Tudo, que lacrimejaram nossos úmidos olhos, também mostrei para Larissa o final do filme Tese sobre um Homicídio. Creio que após a saída dela do banho da madrugada antes de deitar, o filme estava tão para o fim que não fará diferença se um dia o revermos. Nesta madrugada estava passando no festival de filmes estrangeiros do Canal Brasil. Tese sobre um Homicídio na verdade se trata do que se convencionou chamar de Feminicídio e, estrelado pelo conhecido Ricardo Darín, trata de um professor de Direito que confronta ou é confrontado por seu aluno mais brilhante em um curso superior que o professor ministrava. Uma trama cheia de nuances, aproximações e atos de repelir. Afinal, o aluno Gonzalo matou ou não matou a mulher que apareceu caída no estacionamento em frente à faculdade? Que outro assassino poderia ter sido? Um jogo de gato e rato repleto de insinuações, planos quase infalíveis e irresistíveis ou simplesmente uma gama de coincidências?

Fiquei tempo demais atido ao filme Tese sobre um Homicídio, o qual nem assisti completo dessa vez, muito menos ela. A nostalgia do que assistimos na verdade foi em relação à série Todo Mundo Odeia o Chris, a qual assistimos alguns episódios na quase totalmente esquecida tv Record. Nos divertimos com cada um, ou com quase todos, os personagens dessas divertidas histórias evocadas pelas memórias do narrador nos anos 1980, no Brooklyn, em Nova York.

Enfim, mas cada minuto que podemos aproveitar juntos me remete aos belos sentimentos, alguns dos quais eu nem sabia que eram possíveis sentir. Nossa relação por ora está melhor do que minha encomendas e rezas passadas. Pensava eu que concluiria a vida sem viver um amor da forma que temos. Ainda mais com ela, que admiro de muitas formas, pela inteligência, pela beleza e pelas atitudes  É muito bom alimentar o verbo amar e também se sentir aceito. Não há precificação qualquer para isso. Sinto alegrias e momentos felizes que há muito não tinha ou nem sabia possíveis. Confesso retomando uma vez mais essas alegrias. Estamos escrevendo memórias e é muito bom saber que o livro ainda está em aberto esperando um capítulo a mais. O escritor aqui não tem a mínima pressa.

27 de agosto de 2022

Será que eu sei como contar um conto?

Aprendi nas aulas de Literaturas em Espanhol que eu entendia nada do formato de um conto. Mas já escrevi vários contos. O que faço com eles? Readapto? Deixo como provas fósseis de outros tempos em que eu desconhecia essa tecnicidade? Adaptarei os contos que futuramente escreverei ao que estou aprendendo? Os encaixotarei para bom gosto dos clientes? Me podarei para que o formato clássico floresça? Me debruçarei sobre e pela liberdade do formato crônica? São questões.

Tentarei beber das melhores fontes. Edgar Alan Poe, que, como ainda não havia basquete na época, é nome de contista mesmo. Júlio Cortázar que algo já vem me ensinando sobre latinicidades e humanidade em geral. Alguns russos perdidos que me encontram e despejam conhecimento.

Para além das aulas com as quais tento aprender algo, estou tentando me virar ao morar sozinho. Escrevo ao cabo da terceira semana. É o maior tempo que já completei sem meus pais. Me recuso a comemorar, porque sempre há a verdadeira esperança, que consiste em imaginar que o pior está por vir. Não nego que quando esse pior não ocorre, o custo da ansiedade já está feito. Está pregado. E muitas vezes me sinto mal pela minha imaginação ter criado pratos piores do que a realidade. Mas assim convivo com meus monstros e fantasmas.

Trafego pelas ruas portuárias a bordo de um ônibus. Geralmente consigo solitariamente sentar em uma duplicata de bancos e assim me acomodo à janela com minha mochila no assento ao lado. Reparo em apartamentos para alugar, grafites e pichações. Noto as repetidas na esperança de encontrar algo novo. Os dias assim se repetem. O ônibus que desafia a física ao dobrar esquinas evitando ao máximo contatar com algum veículo estacionado por demais ao canto. Comemoro a ação certeira do motorista na certeza de que na próxima esquina ficarei tenso novamente. E assim é a vida.

Próximo ao campus há um matagal com lixo e o cheiro ruim de algum esgoto com saneamento mal resolvido. Passo por escolas caindo aos pedaços. Assustado com o exterior e provavelmente mais assustado ainda caso visse seus interiores. Pelas entranhas de uma estarei a partir da próxima semana em meu estágio de observação. Já estou ansioso o suficiente tendo somente que assistir aos desafios de uma professora de nome Gisele. Imagino e fico ainda mais nervoso ao pensar que em algum semestre vindouro serei eu a vítima em dar aula para as mais diversas pestes distribuídas uma para cada pupitre- palavra em espanhol que gosto, simpatizo, e na verdade significa classe para cada aluno assim distribuídas.

Na faculdade bebo da fonte de que carrego esperança de mudar a vida de alguns estudantes através de meus ensinamentos. Não me sinto seguro o suficiente para ministrar os conteúdos fundamentais. Me sinto confiante o suficiente para doutrinar estudantes com ensinamentos críticos e políticos. Por vezes lamento minha falta de entusiasmo na hora de decidir o curso e ter chutado as possibilidades de avançar pela história ou pela geografia. Tenho pelo menos dois grandes amigos. Minto, já me recordo um terceiro, todos eles que avançaram sobre essas assinaturas. Eu fui para o campo das linguagens. Destrincho e combato as modalidades linguísticas na certeza de que minha paixão e o que me mantém matriculado é o campo da literatura. São nas literaturas que mais comparto ideias com os professores. Neste semestre as professoras. É na literatura que pretendo exercer participação em um projeto de pesquisa. Pois se obriga a pesquisa para complementar as horas de nossas formações.

É a literatura sobretudo que me faz sonhar, alçar voos mais altos que as rasteiras e ausentes de recursos significativos salas de aula. É a literatura que me permite pegar carona em um tapete voador de futuros inebriantes. É a literatura que escorre pelos cantos de minha boca porque dela bebo sedento em busca de mais e mais. Ela que empolga e me fascina. E por ela, a reboque das mudanças de mundo, me traslado adiante. Embarquemo-nos, seja qual for o formato desse delirante veículo.

20 de agosto de 2022

As calçadas

As calçadas 

Tão sempre cagadas 

As calçadas 

Tão sempre cagadas


Todo dia

As pessoas cagam 

Não é sempre

Que a chuva lava


As calçadas

Tão sempre cagadas

As calçadas 

Tão sempre cagadas 


Os cachorros no passeio

Parece

Que miram bem no meio

Das calçadas 

Do meu caminho 

Desvio para o lado

Escapo por pouquinho 


Os cachorros 

A culpa é dos donos

O ônus 

Se caminho com sono


As calçadas

Tão sempre cagadas

As calçadas 

Eles limpam nada 


Os japoneses

Sem sapatos em casa

Os iranianos

Entendem dessa pauta


Porque as calçadas 

Sempre tão cagadas

Os cachorros no passeio

Andarilhos madrugada

17 de agosto de 2022

Preguiça

PREGUIÇA


Eu tenho uma preguiça absurda

Quero fazer coisa nenhuma

Às vezes era melhor que eu suma

Que assuma no meio dessa bruma


Fragilidade

FRAGILIDADE


Eu preciso das minhas chaves, de ti, do meu celular e das minhas funções celulares