Cá estou no meio de mais uma madrugada, completamente desinteressado pela vida. Acúmulo de derrotas disfarçadas nos últimos tempos. São tumores alojados na alma esperando pela ação benéfica do relógio. Receita minha, na ausência de remédios. Fisicamente, somam-se algumas picadas de mosquito nas pernas, referentes ao bar em frente ao campus pelo voltar das aulas.
A primeira semana de março começa pouco agradável, na tentativa em eufemismo de explicar o momento. Preciso realmente de espaço e já não o tenho, rodeado pelas cercas pontiagudas da rotina. A instabilidade me percorre os passos, envolvidos de muitas incertezas e a nada posso confiar de maneira estável. Já pensei a respeito de coisas que parecem naturais no cotidiano de outras pessoas parecerem alguma prática de tortura para mim. Realmente são pesares carregados em forma de uma densa e imensa cruz no dia a dia.
O peso da existência. A angústia na pesarosa passagem. Dias longos cortados por noites mal dormidas. Noites mal dormidas alimentadoras de mau humor, preguiça, falta de memória e péssimo desempenho no que me obrigo a desempenhar. Não sei mais onde vou parar. A incerteza poderia ser uma benção por ser surpreendido, mas são trevas onde assustadoramente desconhecemos o degrau do próximo passo.
A curto prazo, a semana passa da metade e se encaminha a um final. Um final pouco desejado e de poucas expectativas. Final que, na verdade, é ligado a outro início: cíclico. Nem o carpe diem e nem grandes planejamentos me atraem momentaneamente. Pode ser, e espero ser, passageira a tal náusea formadora do sentimento atual. Após este breve desabafo, espero encontrar-me com o sono, mas sem ainda definir minha última atividade antes do repouso de mais um ciclo diário completo. Me sinto bastante incompleto.
Tá faltando peça no quebra-cabeça. Não sei se são pedras de bingo que não vão ser cantadas novamente. Não sei se são horizontes inalcançáveis. E, nesta improvisada reflexão, é bem possível que sejam inalcançáveis. Tudo bem, mais um dia. Ou menos um dia.
Queria atravessar as madrugadas como o povo gado. Povo marcado, mas povo feliz. Poeta Zé Ramalho, pessoas.