O futebol são os pés desgastados e descalços que ignoram a
irregularidade do piso por onde serpenteiam e emprestam os chinelos para servir
de traves ao passatempo. O futebol é o passo vagaroso, mas ansioso de um ancião
em busca de mais uma jornada de seu time, sobre os frios degraus do concreto
úmido da arquibancada, ou sob o castigante sol dos veraneios.
O futebol é o funcionário atarefado, que cuida, com
poucos recursos, da manutenção de gramado, tribunas e vestiário para o melhor
do evento. O futebol é a oração uníssona nas escadarias à beira do campo,
pedindo o que as federações organizadoras ignoram. É o atleta que suja o
fardamento para evitar um arremesso lateral contrário ao seu time. É o clube de
finanças esfarrapadas que se desdobra em logísticas de longínquas e
desgastantes viagens.
O que diferencia o esporte futebol dos demais, e muito me
cativa, são as vitórias de menores sobre maiores. Até constantes. Não menores
em esforço, tampouco em determinação. Às vezes menores por não terem parcerias
milionárias com empresários e empresas, direitos de imagem e aparições em
grandes transmissões televisivas. Nem possuem equipes completas de medicina e
administração. Clubes que contam com academias sucateadas e fornecedores
esportivos a nível municipal, talvez regional.
Aos grandes contratos, marcas propagandísticas de longo
alcance, sempre me parecem mais fiéis à existência de outros esportes. Talvez
badalados esportes como pôquer, golfe e tênis. Já ao futebol, não, isso não me
parece combinativo ao futebol, aos exemplos dos primeiros parágrafos.
E quanto aos menores e menos favorecidos vencerem, por vezes,
os maiores e mais favorecidos, não digo injustiça. Chamo de oportunidade.
Machucar já machucaram, mas não matem o verdadeiro futebol.