3 de junho de 2014

O jogo de verdade






















O futebol são os pés desgastados e descalços que ignoram a irregularidade do piso por onde serpenteiam e emprestam os chinelos para servir de traves ao passatempo. O futebol é o passo vagaroso, mas ansioso de um ancião em busca de mais uma jornada de seu time, sobre os frios degraus do concreto úmido da arquibancada, ou sob o castigante sol dos veraneios.

O futebol é o funcionário atarefado, que cuida, com poucos recursos, da manutenção de gramado, tribunas e vestiário para o melhor do evento. O futebol é a oração uníssona nas escadarias à beira do campo, pedindo o que as federações organizadoras ignoram. É o atleta que suja o fardamento para evitar um arremesso lateral contrário ao seu time. É o clube de finanças esfarrapadas que se desdobra em logísticas de longínquas e desgastantes viagens.

O que diferencia o esporte futebol dos demais, e muito me cativa, são as vitórias de menores sobre maiores. Até constantes. Não menores em esforço, tampouco em determinação. Às vezes menores por não terem parcerias milionárias com empresários e empresas, direitos de imagem e aparições em grandes transmissões televisivas. Nem possuem equipes completas de medicina e administração. Clubes que contam com academias sucateadas e fornecedores esportivos a nível municipal, talvez regional.

Aos grandes contratos, marcas propagandísticas de longo alcance, sempre me parecem mais fiéis à existência de outros esportes. Talvez badalados esportes como pôquer, golfe e tênis. Já ao futebol, não, isso não me parece combinativo ao futebol, aos exemplos dos primeiros parágrafos.

E quanto aos menores e menos favorecidos vencerem, por vezes, os maiores e mais favorecidos, não digo injustiça. Chamo de oportunidade. Machucar já machucaram, mas não matem o verdadeiro futebol.