27 de junho de 2023

O Inverno / L'hiver (1969)

"Havia um tempo em que eu não sabia se era feliz ou infeliz. Sinto falta dele."

"... disfarçava suas falhas por trás das pretensões artísticas"

Paisagens belgas bem representadas em L'hiver (1969)

O filme L'hiver (1969) do diretor nascido na Tunísia e com considerada curta carreira em França, Marcel Hanoun, retrata um casal, uma atriz desistente e um diretor frustrado. Eles estão na Bélgica na tentativa da gravação de um documentário. Além das conversas mais ou menos vagas, mais ou menos filosóficas, mais oh menos nostálgicas dos protagonistas, Sophie também troca ideias com o amigo do casal, o cinegrafista, que completa o enxuto elenco da trama experimental, que mescla imagens de Bruxelas, suas pontes, seus prédios, suas águas e um pouco de seu povo, com as incursões frustradas dos profissionais na corda bamba do fracasso.

A película mostra um pouco do cinema francês da época, com cortes de imagens reflexivas, colocações mais ou menos sutis para maiores significados. Interpreto algumas passagens, como por exemplo a adição de uma música despretensiosa, desconexa, como trilha para ambientar a falta de entrosamento do casal. Ela que decidiu seguir passos da carreira do diretor, ele que a nem escala para seus projetos de difíceis conclusões. Ela que caminha em busca de respostas, gastando sapatos sobre as seculares pedras calçadas da capital belga. Ela italiana, de Veneza, que revela nem ao menos conhecer Florença, possível destino prosseguinte deles.

O diretor insatisfeito com as realizações de seu trabalho, infeliz também no casamento mantido a persistências de uma época em que ainda havia a manutenção maior de matrimônios (em relação a hoje) enquanto já se aumentavam as hipóteses/possibilidades de divórcio.

O filme demora a engrenar, não transmite tantos elementos para uma narrativa de sequência de cenas, então pode ser proveitoso para observação de quadros, cenas, escolhas sentimentais, mescla com a arte que aparece em quadros de pinturas, exploração do espaço urbano, preenchimento de vazios, elementos cinematográficos- como o diretor pensando em sua obra-, além de questões comuns a casais de quaisquer épocas, em diálogos nos quais tentam novamente nortearem-se, seja dentro da relação ou em suas vidas, em geral. Para onde irão depois disso?

Minha avaliação foi constituída em quatro estrelas das cinco possíveis

⭐⭐⭐⭐

Casal distanciado é protagonista na trama do tunisiano Hanoun

Marcel Hanoun foi autor de poucos filmes, mas produziu na cinematografia com as estações do ano, das quais já assisti o filme sobre o Verão, em que uma jovem vai para uma casa de campo e reflete sobre seu tempo na cidade, seu relacionamento e a política através das manifestações de maio de 1968 na França. Pretendo assistir ainda às estações faltantes, Outono e Primavera.



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