29 de setembro de 2014

27 de setembro de 2014

Cinzeiros que não apagam

Vadio que sou, adio os compromissos e as responsabilidades que a princípio doem, mas me fariam bem. Adio o processo de remoção da letra I que inicia a palavra imaturidade, que muitos me cobram, numa transição a prazo, mas que eles querem o quanto antes, à vista.

Vadio e vaidoso que sou, adio conversas e tira-teimas. Não vou direto ao ponto, porque como diz a canção: "se eu tentar ser mais direto, vou me perder, melhor deixar quieto." E quieto, na inquietude do silêncio, transbordo e deságuo aqui as influências e afluentes de mais um dia, pouco antes de nascer o próximo com o sol.

E nublado da mente prossigo. Inválido para o que interessa para a maioria. Insuficiente nas carências dos outros que procuram soluções. Carente na busca das minhas próprias respostas. Analisador dos arredores, com poucos credos a crer. Tenho credores de favores que não posso cumprir. Há credores em minha família, que faz, reconheço, sua parte. E de minha pessoa, já os disse: não esperem de mim mais do que este aviso. Não mais do que estas linhas.

Caminhar posso e pelos meus percursos tenho ideias. Abstratas e incompletas, na incessante procura por respostas. Por repostas, que reponham minha mente no âmbito da sanidade. Não me sinto são, nem de saúde e nem de santo. Faz algum tempo. Os lamentos se acumulam em uma imensa fogueira que clareia minhas retinas. Me cega. Me encerra em suas labaredas. Me cerca e não me deixa avançar.

O extintor está extinto. Mais uma mão de tinta recobre o muro das lamentações. O visual é berrante, o cheiro da tinta enjoa. As quatro paredes parecem reduzir o espaço. Os metros quadrados se estreitam. Os centímetros cúbicos de água sobem e, por mais que eu saiba nadar, nada me protege se a quantidade chegar até o teto.

Mais um texto. Mais um dia.



23 de setembro de 2014

Quando o sol nasce, logo o procuro

Ao meio-dia, só quero uma sombrinha


O calor como a bipolaridade dos dias


Que por meu corpo caminha

22 de setembro de 2014

Não deixe a capa castrar o livro

As voltas voláteis do volante, timão que move o mundo, são conhecidas de nossas humildes cabeças. A roda gigante de estar embaixo agora e estar em cima mais tarde, ou vice-versa, acompanha nossa passagem em andança. Bem verdade que as mudanças estão longe de serem no comodismo de uma cabine (chamam cabine?) de uma roda gigante, onde vomitar é uma opção que passa longe, se comparar com outras atrações dos parques de diversões. As mudanças instáveis se assemelham mais a trens-fantasma, montanhas-russas e aqueles crazy fucking dance e sei lá o quê mais.

As primeiras impressões a respeito de uma pessoa surgem quase involuntárias. Nossa capacidade de julgar o livro pela capa se excita e lançamos, mesmo que para nós mesmo, pareceres, ideias, subestimando ou enaltecendo a nova forma de vida a se conhecer. "Ilusão de ótima" é uma de minhas postagens nesse blog. Mas além de, primeiramente, termos impressões melhores do que as que descobriremos a seguir, no velho jogo de "expectativa x realidade", muitas vezes nos colocamos numa defensiva e procuramos defeitos logo de cara. Velha prática também do bullying, de buscar, através de deficiências / limitações problemas no próximo.


Os julgamentos que prestamos como que selecionando o próximo livro de cabeceira em uma disputada livraria, muitas vezes não se confirmam. Tendem a cair. Analisamos obras, trabalhos, atitudes sem nem ao menos conhecer a pessoa e sua larga e vasta vivência (que jamais entenderemos por completo). Se nem a mim mesmo posso direcionar e justificar o que faço e farei, por que caberia julgar o próximo pelo que fez ou faz? E o fará, que ainda não nos pertence sequer TENTAR medir!

Nessas voltas prestadas pelo mundo, em vantagens e desvantagens, em alegrias e tristezas, em saúdes e doenças, o que construímos de julgamentos sobre pessoas, seus trabalhos, empresas, suas dimensões, caem e se perdem. Quantas vezes julgamos situações olhando por fora, sem conhecer os reais fatores envolventes na causa? Clubes de futebol que não apresentam resultados satisfatórios, por exemplo, podem ter problemas de elenco, rendimento de atletas, contratações erradas, problemas com preparação física, com logística... Enfim, há de se levar em consideração todos esses itens e mais alguns, como finanças, investimentos, marketing...

Uma pessoa que comete um crime pode ter uma criação e uma convivência que incentivaram a chegar a tal ponto. Exemplos de familiares, de amigos que fizeram o mesmo e saíram impunes. Exemplos copiados de uma sociedade competitiva e violenta. Os exemplos rondam e caçam nossas mentes de formas brutais e cruéis. Como se não bastasse o próprio diabinho suplicando sobre meu ombro com maldades intrínsecas.

Cabe então, ao terminar o tecimento de mais estas linhas (mania desses vícios de linguagem que formalizam e padronizam minhas baboseiras) nos confrontarmos com nós mesmos com o objetivo de domar as abusivas castrações de análise. Para de falar difícil! Tá, ok. Cabe a nós diminuir os julgamentos e darmos mais oportunidade aos outros mostrarem o que são e o que querem. Cabe ficarmos atentos, observarmos antes de emitir nossas percepções. O julgado e taxado de hoje pode te ajudar em um futuro próximo. Estejamos cientes. Por hoje é isso. Boa semana.


20 de setembro de 2014

O Cinzeiro das Poesias

A poesia é de poucos
É de porcos, é de pérolas
É o diabo de auréola
A poesia é de loucos
É o que não se compra com cédula
E o que não se enxerga com células

O tempo real dói
O planejamento vai pro pau
O planejado se corrói
O futuro lamenta
O muro que não se constrói
 
Mais um pouco, mais um copo
Mais um pouco de faxina
Mais um louco, mais um louco
Exorciza!

18 de setembro de 2014

Agradar a todos? Nem AC, nem durante e nem DC

Linhas de apoio:
Me apoiem, me alentem, calientenme linhas! O texto é sobre a impossível missão de agradar a todos. E sobre a nobre missão de abrir mão de nosso agrado para agradar alguns. Boa leitura.

Como diz o velho ditado: nem o cabeludo (será que era mesmo como os atores de propaganda de shampoo?) crucificado agradou a todos ao seu redor. E o ser humano é aquele bicho complicado, como já chegamos à conclusão em outras filosogadas da madrufia. A reflexão, a bola da vez nesse jogo de sinuca em que todos caímos, mas voltamos à mesa, veio através de uma manhã de correria.

Para mim, a correria acontecia por compromisso em pleno período matinal de domingo. Para outros, porém, a correria parecia ter começado mais cedo e por motivo totalmente oposto. Maratonistas, leigos e afins se reuniam em avenida próxima de minha casa para esticar as pernas em atividade esportiva. O acesso por onde meu carro passaria estava obstruído por imóveis cavaletes. Bah, vou me atrasar! Bah, extinto de violência! Essa não, é furada!

O motorista da frente queimou o pavio mais rapidamente e desafiou o agente de trânsito que monitorava a situação. Deu um cavalinho de pau e fez o retorno por onde veio, agora em contramão, correndo o risco de atropelar alguém. Complicando o serviço da manhã tranquila do agente vestido de azul. Primeiramente atordoado com a manobra ousada do motora revoltado, o responsável pelo tráfego logo apitou, ao não ser obedecido, em seguida ligou motor e foi atrás do infrator com sua moto. Onde já se viu? Foi peitar a lei e certamente deve ter levado um canetaço na sequência. Valeu a pena essa irritação, esse gesto rude e arrogante? O bolso provavelmente confirma que não.

Em meio ao estresse de quem tava com outros planos na tirada do carro da garagem, os maratonistas e corredores davam exemplo de esforço físico, de superação a cada passo em distâncias que não devem estar acostumados a percorrer. Davam exemplo de união, talvez iniciando amizades, ou quem sabe conservando outras pela prática do esporte. Parabéns a eles. O dia a dia reserva correrias e banalidades de olhar pros lados ao sacar e guardar o carro com medo de roubo, de catar vaga loucamente no movimentado centro urbano, de procurar arduamente o caminho mais curto no GPS ou a gasosa mais barata pra colocar no tanque. Mas aqueles homens e mulheres só queriam cumprir o cooper, vencer obstáculos, suar para liberar prazer.

Tão melhor correr ao ar livre (quando o livre também significa fugir um pouco dos combustíveis dos veículos) do que corretear pelas esteiras monótonas de academias claustrofóbicas. Realmente um belo exemplo dos corredores esforçados pela avenida Dom Joaquim. O agrado deles, infelizmente, não era meu agrado na hora. Somente minutos depois em pensamento, no cair da ficha do que realmente são as coisas. Perdi uns minutos que quase me custaram um atraso constrangedor, mas vi muitos ganharem o dia a cada passada com o olhar compenetrado que os fazia seguir em frente.

E esse exercício - o pensar nos outros beneficiados mesmo com meu parcial prejuízo - deve ser feito diariamente. Mais do que atividade física. Pense bem em quem escalar nos poderes legislativo e executivo nas eleições. Faz a balança com menos interesse próprio e mais altruísmo. Mais altruísmo na busca por vaga para estacionar. Mais altruísmo para não atrapalhar os demais com som alto. Para não largar o lixo em qualquer lugar. Parece simples, mas a praticidade do altruísmo é um gasto grandioso. Mas é recompensador, sem dúvidas.

O agrado a todos tem um carimbo de impossível reservado a ele. Mas por que não abrir mão de um pouco de nossas sensações egoístas e dar oportunidade aos demais de conseguir a alegria momentânea? Uma multa a menos na carteira dos pontos da vida.

9 de setembro de 2014

O Racismo é Expandido, mas o Debate Não


Se o ano de 2013 do futebol brasileiro foi marcado por muitas confusões entre torcidas em confrontos físicos, o 2014 colocou em pauta outro problema social. O racismo até pode parecer caso isolado, mas é exatamente nessa linha de pensamento que perdemos a chance de fazer o verdadeiro debate pela sociedade.

A maior repercussão de racismo nos estádios do país ocorreu na Arena do Grêmio. O goleiro Aranha parou o jogo entre o tricolor gaúcho e o Santos por conta das agressões verbais que sofreu de alguns torcedores. Aos gritos e imitações de macaco, a injúria racial contra ele foi nítida. A punição veio em 3 de setembro, com multa e exclusão do Grêmio da Copa do Brasil.

Logo após o crime, grande parte da mídia apontou o dedo e fez a nuvem dos julgamentos chover sobre alguns indivíduos identificados por cometer os atos de preconceito, além de alguns veículos fazerem a crítica contra o clube Grêmio como um todo. Parcela considerável dos críticos ao clube gaúcho passou a questionar cânticos da torcida Geral do Grêmio, em que aparece o termo "macaco" para citar o Internacional. Existe o debate sobre a origem confusa do termo usado pelos torcedores. No caso se a palavra, adotada há mais de década em músicas, é cantada com caráter racista. A Geral defende não ter essa intenção ao cantar, mas a abertura para várias interpretações, por se tratar de um termo mundialmente usado em atos de racismo, dá margem para condenação dessa torcida por terceiros.

Partiu da própria direção gremista punir a Geral após repetirem os cantos no jogo seguinte ao ocorrido com Aranha. A torcida está proibida de entrar na Arena com instrumentos musicais. Engana-se quem pensa que as polêmicas cessariam com a punição do STJD ao Grêmio. Conforme pesquisa de torcedores, o passado de auditor do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva veio à tona. Nas redes sociais, Ricardo Graiche, membro do tribunal, havia publicado mensagens de conteúdo racista. Um choque contraditório que chega a invocar a ironia na causa.

Assim, o Grêmio tenta anular o julgamento e alega falhas no STJD. Já Ricardo Graiche, de auditor, passa a ser réu e não deve sair ileso.

Não posso esquecer da exposição da primeira gremista acusada de injúria racial. A jovem Patrícia Moreira, mostrada em filmagem insultando o Aranha, foi hostilizada de várias formas, seja nas redes sociais, ou até com a casa apedrejada em Porto Alegre. Saliento que a moça não é a única culpada e nem merece tal represália de quem busca justiça com as próprias mãos.

Exemplo de vingança teve a torcida do Flamengo no domingo (07/09). Com seus torcedores contrários ao racismo, xingaram gremistas no Maracanã os generalizando como racistas. Além disso, entoaram os comuns cânticos homofóbicos e xenófobos contra o Rio Grande do Sul. Em resumo, o episódio traz algumas lições. É preciso apontar menos o dedo ao próximo e ter consciência de uma maior autocrítica. Portanto, não se deve combater um tipo de preconceito com mais preconceito. Agrega em nada no combate ao racismo o uso de machismo (evidente contra Patrícia), homofobia ou xenofobia (vistos no Maracanã).
 
O debate maior não é sobre Patrícia, sobre o Grêmio, nem sobre os estádios. Racismo e as demais formas de preconceito são um problema social do dia a dia de um Brasil hipócrita, onde não se costuma mirar o próprio umbigo. São muitas as pedras arremessadas por quem tem teto de vidro.

5 de setembro de 2014

Histórias e Estórias

E já pouco me importa aprender a História com a oficialização da inicial maiúscula dos que conquistaram a versão mais aceita, muitas vezes repressora. Quero mais das histórias tímidas, abafadas e pouco levadas adiante. Histórias dos barbeiros, faxineiras, ruralistas, roupeiros, cozinheiras e artistas das maneiras mais alternativas possíveis. Com a dificuldade de quem sobrevive e com o poder de contar sobre a vida, com os olhos de quem observa de perto ou de longe os detentores dos holofotes. E interessado estou por suas visões, versinhos e versões, pelo bem e o mal que se camuflam, se misturam, se avizinham e visitam. Mesmo com seus devaneios e exageros que em nós se reflitam.