18 de dezembro de 2023

Imagens aéreas

Se eu for assistir, de um helicóptero ou pequeno avião, por exemplo, a imagens desde a altura que nos encontramos, acredito que o medo seja um elemento fundamental para fixação das mesmas belezas na memória. Está no medo uma capacidade de lembrança. Ignorar o inédito, a força do risco de uma queda vertiginosa desde acima, ignorar esses elementos, na coragem, na falta do risco que não resulta em medo, também resultará em apagamento mais ligeiro da beleza das imagens aéreas. Mundo de ganhos e perdas, de ônus e bônus.

13 de dezembro de 2023

Crises

Identificar as crises é fácil. Difícil é identificar o quanto as crises realmente nos afetam.

Crises geram crises.

Identificar as crises é fácil. Difícil é encontrar as glórias que aparecem nos filmes.

12 de dezembro de 2023

Pelotas

Cada vez que vou embora de Pelotas, e tem sido muitas, morre um pouco dela em mim, mas, assim como as sementes ocultas sob a terra, sei que algo dela ainda renasce em mim.

4 de dezembro de 2023

Creio que é muito triste ter ideais suicidas, mas, por saldo deixado, parece mais triste ainda praticá-lo.

"Há nada pior do que aquele que usurpa a arte sem deixar um pedaço de sua alma. A arte é troca. Eu lhe dou todo o meu sangue e volto com um pouco de seu coração"

C.Tugren

Paz sob a terra

O ruim de ter desistido de tudo é que você tem de encontrar um motivo para seguir mais um pouco. Um falso pretexto. Uma medida provisória, nada mais. Nem que seja ler os textos de Garcia Lorca que eu deveria ter visto para as aulas de amanhã. Queria que você estivesse correta e eu tivesse mais o que fazer. Se eu tivesse traído ou tenha com quem trair e construir algo. A solidão mediada de tantas disfunções não é apenas um sentimento, mas uma ameaça constante, perigosa e destrutiva.

Sinto sua falta para desabafos, relatos e algumas piadas, mas não consigo encontrar chamas de sobrevivência da convivência. Me sentia em um barril de pressão e compromisso, da mesma forma que não irei conseguir enfrentar quando se tratar de trabalho, sei bem e aproveitava meu pseudo-emprego para manter-me ocupado e mentindo alguma utilidade. Após sair desse barril de pólvora, é o meu silêncio que me aprisiona.

Tenho agora um senhor como vizinho dos fundos, no apartamento contíguo. Não o conheço bem e ele é naturalmente estranho, como só estranhos poderiam parar aqui. Nesta segunda-feira será instalada a internet dele, por dentro de meu apartamento, por suposto, porque preciso de incomodações maiores do que as minhas. Tenho aula toda tarde depois e precisava ler as peças de García Lorca. Tentarei isso ao ponto final daqui.

Gostaria de perdoá-la de tudo, do que me magoou e não foi pouco, mas sei que algumas questões irão voltar à tona sempre, fantasmas entusiasmados em lençóis manchados. Para além disso, também não me sinto perdoado quando episódios passados sempre voltam. Não sou o monstro que nunca aparentava ser e agora naturalmente aparento. Minha vontade de machucar quando me sinto machucado é imediata, infalível e, até o momento, incurável, embora concordo que seja possível remediá-la. Acho que faltou cuidado e cautela. De ambas as partes, obviamente.

Há pessoas que dessa trajetória de campeonato jamais irão se recuperar e outras tantas que nem a oportunidade de redenção terão. Se pensas cômico, tenho nenhuma empatia com o que daí saia. Além do mais, muita coisa se planta e daí se colhe. Ainda em termos do campeonato, creio que faltou planejamento e mesmo seriedade para encarar o processo, é a liga mais difícil e competitiva do mundo. Nenhuma apresenta, ou apresentava, tantos candidatos. Venceram os mesmos. Dos últimos 9 anos, creio que só Atlético Mineiro, que permanece bem, e Corinthians (oi, sumido) romperam o fardo de que os mesmos vencessem. Parabéns aos que assim se contentam.

Bem saliento que o Botafogo fez algo diferente, do quinto lugar no carioca, passeou um voo alto pela liderança de 30 rodadas, para estacionar também em 5⁰, mas no brasileiro. Caso ficasse entre os quatro, igualaria o número de ficadas entre os quatro do Vasco. Nem isso se permitiu o pobre coitado, incorrigível. Como um fardo permanente, um doente em leito de UTI ad eternum, esse grupo de coitados volta a se apresentar para algum domingo de calor em um estado que tem como outros esportes a praia, a subida de morro, a corrupção e a milícia, uma falsa bossa nova e o mais legítimo dos funks. E lá estarão eles, para tortura de mais uns 10 ou 15 mil coitados que não desistem, peregrinam já em busca de nem sabem mais o quê. Mas prometem eles que o espetáculo da tortura um dia, logo mais em janeiro até muitos janeiros continue. Quanto será que custa se vender para o fim como a Portuguesa de Desportos fez-se e desfez-se a partir de 2013? Ela vice-campeã de 1996, que ameaçou ao máximo o bi do Grêmio. Bragantino ameaçou fazer este ano e assim outros coadjuvantes de pouca torcida, como foi o São Caetano, ameaçam esse terreno movediço entre médios e grandes onde paira e cada vez mais enterra-se o Botafogo.

Eu, na falta de onde ir ou cair adiante, caio junto. Pás de terra não faltam, postas por quem entenda isso ou não entenda. Te desejo paz. A paz que um dia, se algo do que promete o coro das vozes seja cumprido, eu encontrarei. Paz.

2 de dezembro de 2023