28 de julho de 2014

Ojos de perro

A mescla de sentimentos que envolvem a simples tentativa de comunicação e amizade dos cães na rua. Sem muito aviso prévio ou cerimônia, ele se coloca à disposição para uma breve jornada. Dedicado, é seu mais novo braço direito, fiel escudeiro, dentre outras definições. Quando em grupo já estamos, é mais um a fazer parte da turma, com o carismático rabo a abanar em aceitação. Nas caminhadas de solidão, então, assume rapidamente o posto de melhor amigo presente, a quem se pode confiar a cada passo.

21 de julho de 2014

Opino

Raramente eu opino

Na falta do que fazer

Venho aqui somente de teimosia, no luxo raro do tempo a perder. Depois de um dia ensolarado atrás das próprias grades de proteção, ouvindo composições mais antigas que meus primeiros sintomas da doença chamada existência.

Venho apenas para marcar ponto e dizer que vim, assim como me sinto em diversos encontros por N motivos, razões e circunstâncias. Assim como sinto que muitas vezes ouvimos pra dizer que ouvimos, lemos pra somente dizer que lemos e aprendemos para o mero acréscimo de nota no currículo do lugar algum. Ah, devo estar de saco cheio e com a lista de hobbys bem inferior em itens quando comparada às necessidades de supermercado.

Mas é uma das lógicas de unificação social prestada pelos jornais. Notícias nada relevantes, mas que revelam assuntos inquietantes no cotidiano. Às vezes mais pela venda da imagem do sujeito que praticou a ação do que pela real consequência da mesma. Hoje mesmo surgiu uma da ZH que era sobre um dos guardas da rainha da Inglaterra ter tocado o instrumental de alguma música tema de seriado. Que diabos quero saber? Que diabos vocês querem saber? Que raios importa o gosto musical do filósofo moderno Neymar Jr.?

No táxi do texto até aqui, a conclusão de nenhuma razão alcançada custou ERRE CIFRÃO 11,75.  Mas aproveitando eu ter tocado no tema de manchetes, um jornal local destacou o alto índice de suicídios no município aqui ao lado, o 13º com maior incidência percentual em todo o Brasil. O que levaria as pessoas a cometer a fatalidade? A repetição de mortes no tal modelo causaria uma cultura de suicidas na microrregião? A desistência da vida estaria relacionada às dificuldades de atingir metas? Ou seria a falta de metas estabelecidas, no sentido de: tô fazendo o quê aqui?

Com a sua licença, vou ali no banheiro que o dever (ufa, algo pra fazer) me chama. Não voltarei com reflexões expostas aqui, mas regressarei com coisa a menos no corpo. Reflitam o tema (ou a ausência dele) de hoje. Até a próxima.

8 de julho de 2014

O ouro ao redor

Ao redor ainda brilham. São luzes de faróis, enfileirados. É a sinaleira imóvel em seu ciclo de verde-amarelo-vermelho. Os postes vão acender quando necessário for. Os faróis não vão parar na faixa de pedestre e, por trás deles, a buzina será acionada se o condutor achar conveniente. Sem se preocupar com a fragilidade auditiva/emocional próxima. A escuridão nada mais é do que interna, é o luto tomando posse. Lá fora, do outro lado, todos seguem apressados e, mesmo que olhem rapidamente, não adivinharão.

Passei na frente de um aglomerado de pessoas na caminhada deste 7 de julho, aniversário de 202 anos da cidade em questão. Não que um ano a mais ou um a menos mude o diagnóstico da situação. Os trajes formais e de predominância em tons mórbidos não me fugiram da percepção. O fato da assembleia ocorrer ao lado do maior cemitério municipal também facilitou a associação a uma partida. - Mais um - comum pensamento talvez a quem habite a área do bairro, distante do meu. Para quem toma o tal caminho pela calçada em frente ao velório, é mais provável que ignore. Não se trata de algum ente querido, nada que o sujeito tenha sido convidado.

E assim se vai, o que se passa por ali, em apenas um instante é teu passado e nada de retornar àquele ponto, àquela imagem. Já passou. Para quem ali fica, estático, num turbilhão de emoções doloridas, em maior ou menor grau, não passa. Ainda vai demorar.

E na aldeia ao redor, ninguém parece ligar. Somente, é claro, os reunidos por alguma filiação ao desconhecido (por mim) que se foi. Isso me faz pensar que os povoados de hominídeos e das civilizações mais antigas reuniam-se e nutriam uma determinada aproximação. Se algum viesse a falecer, a comunidade provavelmente pararia, faria um ritual e entrariam TODOS em sinal de respeito aos que buscam domar o momento angustiante.


Em nossas repartições atuais de bairro/cidade, pouco temos em comum. Talvez a maior coisa em comum com teu vizinho seja a rede elétrica, que na casa dele pode faltar ao mesmo tempo em que na tua (nem sempre). Muitas vezes, principalmente no acelerado vai e vem das metrópoles, pouco se sabe sobre quem se esconde na parede ao lado do apartamento. Ou no andar de cima. Ou no andar de baixo.

E assim se vai, dia após dia na tua rotina despreocupada. Ignorando até as maiores aglomerações em luto. Seguindo um fluxo que TU julgas NORMAL.