A mescla de sentimentos que envolvem a simples tentativa de comunicação e amizade dos cães na rua. Sem muito aviso prévio ou cerimônia, ele se coloca à disposição para uma breve jornada. Dedicado, é seu mais novo braço direito, fiel escudeiro, dentre outras definições. Quando em grupo já estamos, é mais um a fazer parte da turma, com o carismático rabo a abanar em aceitação. Nas caminhadas de solidão, então, assume rapidamente o posto de melhor amigo presente, a quem se pode confiar a cada passo.
Infelizmente, por mais sem rumo que às vezes são as bandeadas, existe a hora da despedida. Esta machuca mutuamente. Procuro uma palavra que console o atento amigo anônimo, ou de nome sortido durante o trajeto. Para esclarecer que não posso levá-lo e não se pode levar adiante o que tem inevitável fim. Distraí-lo é complicado, somente virar as costas não é opção para um coração contagiado e cativado. Já possuímos um vínculo. O adeus é quase certo e um "até mais" frente àqueles olhos sinceros soaria em dolorosa inverdade. Nunca mais nos veremos, amigo. A coletânea de momentos, por dobras em esquinas e por calçadas desniveladas aqui e acolá estará na memória.
A ti dediquei a companhia de meu tempo e tu, compreendedor, me forneceu sua aliada resposta em mesmo ato. Foi muito bom podermos passar esse espaço-tempo lado a lado, em harmonia amistosa. Te concedi parte guardada de minha refeição e te ofereceria outras vezes se assim pudesse ser. O carinho em sua região dorsal e na cabeça também me fizeram bem, pois sua pelagem causa um efeito animador entre os dedos. Lhe desejo novos camaradas, meu caro viajante. Sei que a sua vida após esse momento não deve ser fácil. Talvez tenhas percebido que a minha, sem suas pegadas próximas, também não é.
Cruzarei por outros andarilhos e procurarei lembrá-lo. Sua memória em faro talvez recorde o cheiro de meus cadarços, ou o tato de minha palma entre suas orelhas. Te desejo muita solidariedade dos demais em proporcionar futuros desjejuns. Uns companheiros legais pra bandear, assim como às vezes tenho. Ô, cara legal, não me olhe assim, com uma pupila de cada cor e amor ilustrado nas duas. Que sigamos, meu generoso cúmplice, a forma andarilha de nossas trilhas.
BRINDE: Ojos de Perro
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