23 de novembro de 2022

Às vezes penso se terei memórias por muito tempo. Não pelo medo de esquecê-las, mas sim pela incerteza de se viverei mais muito tempo.

Não quero falar sobre

Voltava de ônibus e prestava atenção ao assunto que me era inevitável ouvir. Um rapaz e uma moça falavam sobre concursos a serem feitos. Depois mais alguém se juntou à conversa, piorando minha realidade enquanto ouvinte. Detestei a forma como abordavam os planos de carreira. Eram centrados unicamente no salário. Praticamente só falavam em números, em cifras. Quanto se conseguiria tirar, quanto poderiam evoluir salarialmente. Números e mais números. Algoritmos retirados sabe-se lá de qual embasamento, algoritmos que surgiam com a imprecisão que os algoritmos não sugerem.

Certa vez li que na França é falta de senso comentar sobre (seu ou outros) salário com outras pessoas. Não sei se é verdade essa forma, essa cortesia francesa para repelir esse chateador assunto. Mas concordo com quem pensa assim. Hoje sofro com a realidade de não possuir um salário digno para minha existência. Meu padrão de vida em nada se encaixa no dinheiro que recebo, de forma que recebo o auxílio de meus idosos pais. Caso eu tivesse um salário mais elevado, não falaria sobre, sob a fiscalização e a aplicação de minha própria pena ao constranger os demais. Ou simplesmente pelo assunto não tomar contornos de meu exigente interesse. Já no fato de eu não ter o tal salário, eu, pobre diabo, quem saio constrangido. Apenas escutava a conversa animada dos futuros concurseiros esperando ansiosamente para a parada de algum deles ser nosso próximo destino, para cessar aquele falatório conflitante com minhas ideias.

Pouco me interessam desses cargos que não vou me candidatar. Aliás, os concursos eliminam a quase todos, com exceção da exceção. O vencedor garante a estabilidade. Todos os demais seguem zumbis a vaguear em busca do próximo concurso em alguma desconhecida no mapa cidade interiorana. Ademais, ms irritava a forma como tratavam empregos burocráticos que por si só já se demonstram maçantes. Mas para piorar o debate era apenas centrado no plano salarial. Nem sequer debatiam os benefícios ou as agruras de determinadas profissões a respeito das reais aplicações e implicações delas.

Falavam de tirar 5 mil limpos. Falavam do custo de vida inviável com 1.500. Calculei com o que posso fazer. Continuei apenas ouvindo e com o olhar direcionado para o lado de fora da janela do ônibus. Queria estar distante na rotineira observação urbana que faço a partir das laterais do coletivo, mas fiquei malogrado minutos pelas matracas.

Depois falaram mal da docência. E pensaram a carreira de professor também a partir do salário. Reduziram uma profissão tão complexa, tão edificante, tão desafiadora, tão enriquecedora a partir da troca de conhecimentos e experiências para uma pobre questão salarial. A profissão de professor que deve sim ser debatida e mais valorizada e não rechaçada de forma rasteira, unicamente a rejeitando porque de fato não paga bem ou não atinge o que pensam por custo benefício. Depois investiram para possibilidade de um emprego na política - "onde poderia mandar". Tá bom. Mandar, criar leis e ter assessores. Agora que me cai a ficha do desejo, da sede de poder que move os humanos. O poder está no dinheiro. O poder financeiro e as portas que se abrem a partir dele. Tudo pelo poder, não pelo prazer, não pela jornada, não por outras coisas, o lúdico que poderia guiar nosso cotidiano. Apenas o dinheiro como farol. Ou o poder de subestimar, subordinar e outros sub a outros humanos. Ser chefe e ter funcionário. Ter dinheiro e de alguma forma escravizar o conseguinte dependente. O sonho do opressor, andando de ônibus bancos atrás do meu, oprimir.

Felizmente em algum momento a conversa acabou. Ou até eu tomei a iniciativa de saltar uma parada antes. O sol ainda brilhava lá fora e minhas ideias buscaram novos bosques para se sustentarem. Quando não podemos vencer o assunto, a possibilidade de puxar a cordinha. Do ônibus, para descer antes.

20 de novembro de 2022

Caminhada rápida por novembro

Caminhada rápida para buscar itens básicos de sobrevivência (frutas) no calor de novembro. Fui pelas quadras que agora tão bem conheço, deslizando a cada bloco até a fruteira que eu esperava encontrar aberta. Mas não encontrei. Tive que fazer o retorno disfarçadamente para meu diminuto público como se ali não fosse meu destino inicial. Não me permito essas pequenas vergonhas, embora sofra hoje com as maiores. Ou o nervo de minha maior catástrofe não se chamaria pudendo.

Enfim, contornei por outras quadras, arriscando trajeto que ainda pouco tenho conhecimento, desviando pela Rua Três de Maio. Ela apresentou calçadas irregulares como as outras, com uma subida pouco íngreme e o calor cobrindo a rua fortemente, como uma capa aprisionadora. Pelo caminho, aos fins de semana, é normal topar pelas ruas com catadores de papelões ou plásticos. Procuro tentar identificar o que cada um carrega em seus carrinhos de ferro ou charretes. Observo que alguns carregam apenas o saco, em quantidade bem menor que seus companheiros. Outros batalham em carregamentos cheios, sol a sol, chuva a chuva. Lixeira a lixeira. Já os vi conversando sobre se o trajeto em questão valia a pena ou seria perda de tempo. Interessante a comunicação. Um ajuda o outro. Não adianta passar por onde outros vários passaram. Mas lixos e luxos se misturam também.

Medi meus passos na hora de passar por outra venda. Calculei que infelizmente chegaria quase emparelhando ao cidadão de carrinho quase cheio (ou seja lá a qual limite ele se submeta na árdua luta diária). Entrei finalmente na venda e perguntei em voz baixa sobre as frutas, que me foram apontadas uma a uma até completar minha pequena missão. Enquanto aguardava que o senhor de cabelos grisalhos me servisse mais um copo de salada de frutas, o trabalhador que passava simultaneamente à rua havia desaparecido de minha vista. Não voltaria a encontrá-lo nesta ocasião, mas possivelmente em outra, pelo bairro revisitado.

Em posse das frutas, dei o dinheiro, recebi o troco e segui minha breve caminhada com o destino de volta. O calor estava de rachar e eu certamente não aguentaria grandes distâncias, com o menor que fosse o carregamento a suprir. Ao cruzar pela esquina da Almirante Tamandaré, onde foi oriundo o importante movimento Sofá na Rua, avistei lá para baixo da quadra um par de pessoas, sem conseguir identificar de quem se tratava. Poderiam ser crianças brincando, poderiam ser usuários de droga à luz do dia, ou somente adultos desiludidos, cabisbaixos, sentados ao meio fio a refletir. Todas as possibilidades, embora antonímias, me evocam uma tristeza, uma espécie de nostalgia.

Caso sejam crianças, lembro que minha infância não foi nas ruas do centro ou em rua alguma. Muito mais tempo eu passei em casa, com saídas ou na companhia de meu pai para jogar bola, ou na praia, mas nunca muito distante da casa de meus tios no Balneário dos Prazeres, vulgo Barro Duro. Esse distanciamento das ruas causa-me essa nostalgia. Não tenho mais esse tempo que passou, jamais o teremos de volta. As crianças ainda terão, sabe-se lá a qual custo futuro nesse mundo incerto. Mas meu tempo foi esmigalhado, sobra-se nada entre os dedos das mãos. Tudo que pode ser evocado desse tempo está no campo do imaginativo.

Outra possibilidade levantada de quem seriam aquelas pessoas ao longe no semi-abrigo do sol foi de que se tratavam de usuários de droga. Proposta oposta ao povoamento da solitária e desértica rua com crianças. Os usuários de droga tem-se falado - não tenho visto - andam por espaços na rua Benjamin Constant. Mas não só por ela. Recordo que na própria Três de Maio, em direção ao bairro ferroviário Simões Lopes também estão. Procuram lugares isolados para seus cultivos e usos. Podem procurar vítimas, para saciar seus vícios. Não seria bom dividirem o espaço com as crianças que também especulei. Apostas diferentes.

O terceiro grupo eu mais me identificaria, entre os adultos simplesmente cansados ou desolados, apenas tirando um tempo para organizarem os afazeres, as ideias ou a vida como um todo. Sentados à beira da calçada, mirando os próprios sapatos gastos. Mirando os gastos em contas de cabeça ou de acordo com o que lhe sobra dos bolsos. A vida adulta talvez não seja tão mais difícil do que a imaginada quando se tem a idade dos de primeira hipótese. Mas é um acúmulo de situações com as quais lidar. Ainda estou estudando, preciso comprar o que me alimenta, o que visto, o que uso como produto de limpeza, corporal ou do apartamento. Mesmo os mais pobres, ninguém se imagina apenas catando papéis ou plásticos pelas ruas desertas de um fim de semana no centro da cidade, mas esta é a realidade de milhares, talvez milhões de brasileiros. Eles aumentaram pelas vias urbanas nos últimos anos, pessoas que perderam casas ou tiveram que ir à caça de como se virar no cotidiano, atrás de trocados que já não servem e precisam notas de dinheiro. O que se compra hoje em dia com 50 centavos? O que se compra hoje com dois reais? A nota de dois reais anda tão surrada quanto as desaparecidas de um real, as verdinhas substituídas pelas generosas moedas.

Hoje crianças brincam, amanhã também serão adultos desolados. Alguns perderão bondes pelo caminho e serão os usuários das ruas desertas em busca de vítimas, em busca de como saciar os vícios criados. Mas mesmo os não viciados precisam dar um jeito nesse estranho vício que o corpo possui em se alimentar, nessa mente viciada em tentar ser alguém, em traçar e conquistar objetivos nesse mundo complicado, de sonhos que se diluem, de perguntas que mudam e nos deixam com respostas insatisfatórias em nossas mãos suadas, marcadas e a cada dia um pouco mais calejadas com as agruras enfrentadas. A distância entre o que se sonhou e o que se viveu, as folhas que caem, as flores que murcham, os cães e as pessoas sob a terra. Os olhos baixos, o vento que assovia, o andarilho que passa distante, pessoas que fingimos não ver. Pessoas que também não nos veem, pessoas que nos ignoram, pessoas que fingem não nos ver. Pessoas que cruzam por nós em tardes de calor em novembro.

Pessoas que descascam frutas, pessoas que também são as mesmas que servem o troco do dinheiro que circula de mão em mão. Crianças que brincaram de ser polícia ou ser ladrão e mais tarde algumas delas prestarão concurso para serem policiais, mas outras serão ladras mesmo. Alunos que viram professores, pessoas que jogam o lixo fora e talvez no futuro tenham de catá-lo. Pessoas que separam o lixo e pessoas que não separam. Pessoas que jogam coisas proveitosas fora e pessoas que esgotam as possibilidades de consumo dos recursos, de reutilização. Pessoas que nos chamam atenção, mas jamais lembraremos ou jamais saberemos se realmente já a vimos ou se é a primeira vez, porque certamente as cartas se repetem entre as ruas atravessadas em sinais de pare, em carros freados e sinais vermelhos. Rostos marcados e rapidamente desmarcados. Rostos com marcas que somente a própria pessoa saberia explicar, entre a violência, o sol, o tempo, o trabalho, as rugas, as lembranças, as fantasias e as desilusões. Rostos voltados para baixo e que me impedem de vê-los enquanto passo pela Rua Almirante Tamandaré seguindo pela 15 de Novembro, me brotando dúvidas insaciáveis e pouco relevantes. Quando o sol está muito forte, tendo a sair sem óculos e ficar na penumbra de respostas que a quase todos pouco importam. 

Rua Almirante Tamandaré, local de nascimento do Sofá na Rua e deste singelo texto
Foto: Divulgação / Sofá na Rua




O poeta morto aos 27

Cheguei diante daqueles portões. Perguntaram meu nome por formalidade. Acho que eles sabem tudo. Conferiram meu registro geral na lista deles. Deixaram-me passar. Do outro lado daquelas elevadas portas estava pronto para reencontrar os poucos que conheci bem e também haviam partido. A maioria de mais velhos, bem mais velhos.

Já tinha ideia de algumas reações, que se confirmaram ou não. Tia Hildegart havia sofrido muito para partir aos 80 que eu chuto terem sido sete. Ela foi se apagando lentamente. A mente e o corpo lhe escapando dos domínios. Mas restituiu sua boa forma. Estava saudável e mais jovem até do que quando a conheci na mais tenra idade. Quase não a reconheci. Mas ela obviamente me viu, um pouco modificado pela barba de crescimento falhado e os óculos que eu mantinha a dúvida entre usar ou não.

- O que está fazendo aqui? - Ela me inquiriu. 

Certamente não estava pronta para me ver naquela ocasião. "Pois é", apenas lhe disse.

- Mas é tão cedo para ti. Que absurdo!

- Foram 27 anos. Eu já não estava bem.

- Vivi mais do que seu triplo.

- Também tenho feito muitas contas.

E realmente meus cálculos indicavam que eu havia pelo menos vivido por dois cachorros. São as situações da vida. Ela me abraçou e nos olhamos nos olhos. Um primeiro reencontro familiar.

O irmão de titia era muito mais indiferente. Gastou o dinheiro de minha bisavó na promessa de cursos e formações. Curtiu boa parte da vida em um clima de descompromisso. Acabou a vida muito mais rejeitado. Usou finanças que poderiam ter melhorado a vida de tia Hildegart e minha avó, irmã deles dois.

- Deveria ter aproveitado muito mais - disse ele, com a voz recuperada de uma forma que eu jamais havia escutado. Ele passou por cirurgias de garganta e sistema respiratório que fizeram com que sua voz sumisse, respigando somente filetes de suas intenções de fala. Agora eu o escutava.

E balbuciou mais algumas prepotências que eu quase desejei que perdesse a voz mais uma vez. Estava de bom tamanho aquele reencontro. Lembro que sofri um pouco sua morte, mesmo distante e em uma situação precária a que se encontrava. Faleceu na região metropolitana da Porto Alegre eleita por ele como cidade de sua maior vivência após o nascimento em Pelotas. Aos cuidados de uma pessoa paga para tal função, coube às filhas prepararem o conseguinte velório. Minha mãe e minha tia foram a Porto Alegre em uma ocasião em que minha mãe conheceu o então Olímpico Monumental de outro ângulo, do alto da funerária, casas comuns no saudoso bairro da Azenha e arredores. Estranhou aquele estádio azulado um pouco distante, diante de si pelo vidro como se fosse uma singela maquete de brinquedo.

Tio também era gremista, contrário à minha tia-avó e minha avó, coloradas de olhos castanhos. Ele tinha muito o hábito da leitura e, sapiente de meu apreço também pelos escritores, me encaminhou para sua biblioteca pessoal paradisíaca, a qual revelou que para mim sempre estaria em portas dispostas.

Da minha família, bem recente foi o reencontro com minha madrinha, vítima de um câncer que se alastrou e a comprometeu para eternidade. Passados os 70 e nas condições precárias de seu corpo, ela também havia retomado sua desejada juventude, tão saudosa para ela. Minha madrinha costumava mentir a idade ou ao menos escondê-la. Escamoteá-la também poderia aqui ser o termo empregado. Viveu para fora e sempre cuidou dos pais dela. Teve uma vida até então reservada, apesar das saídas e do apreço pelo álcool, algo que nunca escondeu. Socialmente, como se emprega nas lábias populares.

Me recebeu entre a euforia de rever-me e o lamento da precocidade. Diferente deles, todos finados na terceira idade, eu ainda não tinha década de vida adulta.

- ó, meu afilhado - lhe cabia exclamar a dinda. Queria saber logo o que passou e não passou. Eu, sem graça e esquivo, tinha o que lhe confidenciar e o que esconder. E queria mesmo era sair desse ambiente familiar um pouco asfixiante, ambiente o qual logo eu poderia retornar, já que estávamos todos ali transpassados os portões. Queria descobrir sobre as demais pessoas que conheci.

Mas logo também perceberia minha volta aos entornos familiares, pois das demais pessoas quase nenhum contato tive nem pretendia ter. Voltaria eu para o melhor humor de minha tia-avó Hildegart após ter visto os dois lados dela, em que predominava o humor mais azedado com os convivas. Retornaria com gosto para o convite da biblioteca de tio Hildebrant.

De Santa Catarina também tive tios que partiram. Os bem-humorados gostavam do álcool. Um deles bastante saudoso de minha parte, justamente o mais jovem de nascença daquela fileira de tios. Ele até recuperou um cabelo desconhecido de quem só o viu na idade adulta. As entradas preenchidas. O sorriso no rosto era o mesmo. As piadas e os deboches também. Era bom revê-lo dessa maneira.

Uma dessas tias, a que morava em Laguna e daquela cidade havia nos deixado um tremendo vazio ao passarmos pelo ou cerca do bairro em que morava, essa havia reencontrado seu marido, amor de sua vida. Eles tagarelavam bastante. Era o esporte de ambos. Falavam de deixar o interlocutor torto de tamanha verborragia. Agora novamente juntos poderiam exercitar o falatório na revista a amigos do casal e também conhecendo novos ocupantes daqueles nimbos esvoaçantes.

Um sentimento me acossava tristeza, o fato de ter sido o mais jovem pelas famílias de pai e mãe a morrer. O lanterninha. O Xavante na Série B 2021. O Juventude na Série A 2022. Nem passar dos 30 - no caso, para eles, pontos - era a piada que eu utilizava na época. Nos pontos corridos realmente acumulei muito pouco de vivência, embora tenha ido a uns shows, namorado ao fim da vida e presenciado alguns eventos esportivos, mais vistos do que jogados.

Para mim, era inútil comparar minha curta vivência com as de meus antepassados, com as pessoas de gerações anteriores, as primeiras que encontrei ao cruzar os enigmáticos portões. Queria eu interagir de alguma forma com os que presenciei em escola e vivências juvenis, mas poucos eram, na verdade, os que conheci e haviam partido.

Vitor era um dos que incomodavam na escola. Nome comum na boca dos professores e até de conhecimento de coordenação e provavelmente direção - embora a idade avançada das diretoras impedisse que se dedicassem a finco às questões de cada insubornidado aluno. Vitor era um menino negro, como haviam outros meninos negros na escola, principalmente naqueles últimos anos em que estudei. Não chamaria tanta atenção em uma lista de destaques entre os estudantes, pois, embora matreiro e provocativo, haviam outros mais matreiros e provocativos, creio. Ou me equivoco. Pois melhor lembrando é possível que ele encabeçasse uma lista semelhante à dessa hipótese. Fato é que não se pensa um sujeito desses morrer tão cedo. Mas as estatísticas estão aí e suas escolhas contribuíram ao fatal desfecho. O envolvimento com drogas posicionou Vitor nesse ranking de um dos primeiros a nos deixar. Eu já não sabia mais sobre seus paradouros, mas confesso que também não foi a maior emoção que experimentei, saber que esse havia partido e por conta do motivo descrito. Envolvido com o tráfico, foi baleado pelos infratores que estavam dentro de um veículo. Cena de filme. Vidros baixados, cano devidamente posicionado enquanto o vidro desaparecia no pequeno vão que lhe cabe. Onomatopeias, talvez algun escândalo na vizinhança. Aquelas escadas pintadas em meios fio de verde, e com a calçada propriamente cinza do concreto, foram tingidas do vermelho-sangue. Vitor partiu muito cedo. O vi de relance. Estava de boné pra trás, sorriso não mais metálico, olhos arregalados como bem me lembro. Era novamente o Vitor dos tempos de escola. Não sei se me reconheceu, pois não éramos de mesmos convívios.

Outro Vitor, de primeiro nome João, também havia morrido durante o período da escola. Este nos pegou de surpresa. Eram férias e o garoto branquelo de topete e poucas palavras, estava nos campos com sua família. Acabou dizimado em um episódio o tanto quanto estranho. Ao manobrar um trator, acabou tombando roda em um buraco e não conseguiu manobrar o veículo de volta. A capotagem o feriu gravemente e dizem que a própria expressão facial não serviu para o enterro. Uma tragédia que mobilizou a comunidade, mesmo que ele talvez não estudasse mais em nosso espaço para o ano seguinte. Era tido como um bom jovem. Repito que de poucas palavras e, para aqueles mais arteiros, servia de obediente para planos mais ousados. João tinha alguns amigos que ainda devem lembrá-lo mesmo década depois.

Outro caso que aqui recupero é mais recente. Um ex-namorado de irmã de amigo. Foi encontrado assassinado em uma estrada da cidade. Foi encontrado dias depois de seu desaparacimento. Sempre aquela história. Alguém passava pelo local, sentiu o cheiro que se alastrava por metros que já deviam ultrapassar dezena. Um pouco de investigação e eis o corpo. O reconhecimento. A notícia que paira nas páginas policiais de nossos jornais impressos locais. Este jogava futebol muito bem, pelo menos para época. Mas também recordo que jogava conosco, que éramos mais jovens. Portanto, ele se sobressaía. Demorei a associar o nome quando o vi em notícia pela internet. A foto bateu um pouco com minhas lembranças e eu já não tinha mais dúvidas. Lamentei o ocorrido, ele que eu nunca mais havia visto. Sempre chocante redescobrir pessoas em ocasiões caracterizadas por um ar tão denso e pesado. Ao mesmo tempo, não cometerei a hipocrisia de ocultar que também é uma excitação, uma adrenalina se sentir parte de um ocorrido dessa magnitude. Também é um momento em que as pessoas abraçam os seus, agradecendo pela atrocidade não ter passado com nenhum deles. Poderia ter preservado o nome de todos, mas pelo menos deste preservarei. Mas, ao que me consta, ele havia passado, sim, a casa dos 30 anos, diferente da minha pessoa.

Obviamente vamos passando pelos metros que nos separam do portão dos vivos e vamos relembrando. Outro cujo nome iniciava com P era também muito bom jogador e posso afirmar que de atuações contra pessoas de sua mesma faixa etária. P ainda é relembrando por amigo(s) em comum nas redes sociais, talvez passado seu aniversário de nascimento ou de morte. Joguei bola com eles em algumas oportunidades. Eram mais velhos, mas confiavam em meu trabalho de guarda-redes. Jogávamos muito no Ginásio do Spieker, finado complexo esportivo - sendo bondoso - na baixada da escola estadual Assis Brasil, com entrada pela Avenida Juscelino Kubitschek. E que saudade das boas peleias que não voltam mais e do tio, de aspecto boliviano, que cuidava a quadra, recebia os trocados e também fazia ligeiros e protocolares trabalhos de limpeza no espaço.

P era um de nossos melhores jogadores. Agora misturo completamente a memória com os acontecidos. Não gostaria de ser injusto. Mas pode ter sido uma internação por drogas ou pode ter sido apenas de sintomas psiquiátricos bastante agressivos. Pode ter sido também separação familiar, problemas com envolvimento, como com padrastro, por exemplo. Posso misturar todas essas sentenças até a derradeira ocasião que o vitimou com um tiro policial na cabeça. Ele estava atendido em um hospital e foi agressivo com enfermeiro. O caso voltaria para ações policiais e eles não tiveram dúvida, na hora H, em disparar. Com a bala na cabeça, perdíamos P definitivamente para partidas que nem cogitávamos jogar, mas hoje sentimos falta. Seus amigos mais próximos, sem dúvida, choraram essa perda. Eu novamente fiquei em choque, novamente atormentado pela estranha excitação que exponencia essa sensação de conhecer e fazer parte, de alguma forma, da notícia. Ter algo a acrescentar, ter algo a relatar, a compartilhar com outros que ficaram sabendo ou que só ficaram sabendo justamente porque, em algum momento, colocamos esse assunto à tona.

Mais do que dele, de minha parte, relembrava nostalgicamente esses bons momentos. Quando me sentia útil na função de guarda-metas. Quando era requisitado, às vezes insistiam, pela minha presença. Mas eu sempre me sentia meio deslocado, independente do grupo, na hora das conversas, tanto pré como principalmente pós-jogo. Não fazia parte de nenhum grupo de forma mais fechada ou definitiva. Mas gostava de me sentir útil, de imaginar as partidas como grandes decisões, de ficar relembrando meus lances. Rememorando quando a adrenalina baixava e voltava para casa. Colecionava roxos nas pernas, dores e boas sensações provindas delas. Colecionava defesas, atacantes que saíam decepcionados, às vezes surpresos por eu conseguir ter agilidade ou inteligência para buscar onde jogariam a bola. Era sempre um prazer. A vibração da bola colidir contra seu corpo, contra sua perna, contra seu braço, até defesa de cabeça que eu já havia feito e, comum que era por vezes, sofrer uma bolada no rosto, justamente posicionado onde seria dado o arremate a ser bloqueado. Faço voltas assim relembrando de minha passagem, para chegar ao ponto que a turma de P havia inovado um apelido para mim: Van der Sar. Um goleiro que gosto em um clube que detesto, o Manchester United. O holandês realmente possuía história, embora tenha também bloqueado o caminho vencedor do meu Grêmio em 1995.

Outros nomes eu havia recebido anteriormente, entre Victor, do Grêmio, futuramente do Galo, Lehmann, o próprio Van der Sar e até De Gea, outro do United, até pendurar as luvas. Passei os últimos anos de minha vida saudoso desses jogos e das defesas que praticava, e de como eu conseguia me movimentar de forma satisfatória. Ali, naquele céu, ninguém me conhecia o suficiente para ressuscitar tais momentos e eu teria de esperar mais anos por isso. Tampouco sabiam de minhas habilidades descritivas e inventivas de analogias, tais quais as que aqui presto em carta de minha chegada ao outro lado dos portais gloriosos - que tanto nos prometem. Assim foi minha chegada ou assim será, ou ao menos assim espero que seja, pois minhas malas parecem cada vez mais arrumadas para o inevitável destino.


15 de novembro de 2022

Lua de Pel

Nós dois juntos num ap da Cohabpel

A avaliação desse mundo é uma lua de mel

Me apresento, não represento nenhum papel

Lugar no mundo não encontrei melhor 

Daqui ao céu

Encontrei minha cura é nos braços seus

Muito além daquilo do que se procura

A redenção em atos em uma só figura

A proteção como uma bolha dessa vida dura

A diagramação ideal, a arquitetura

O remédio, o remar contra as agruras


Nós dois juntos num ap da Cohabpel

Com você, o sabor, o melhor do mel

As estrelas você vê, me ensina o melhor do céu

A constelação na visão pelo quarto andar

As gatas no jardim, grama pra cortar

Eu procê, cê por mim, é melhor assim

Noite tem, quando vem e não tem mais fim

Posição, procissão, profusão 

Proeficiência é a questão em rimar ou não

As estrelas iluminam a escuridão 

É você que me anima, mia arrecadação

Felicidade que encontro em cima do colchão

Num almoço, num jantar ou fora de hora

A prisão do teu olhar vai que me devora

Ao meu lado seu casaco és minha senhora

Nós dois juntos num ap na Cohabpel


Nós dois juntos num ap na Cohabpel

Trago a pasta, tiro a máscara, tiro meu chapéu

O mundo inteiro se afasta desse aluguel

Barulho lá na praça, moto se perdeu

Mundo existe assim distante como é o céu

Pudesse alcançaria ao alcance meu

Comparar pra provar que é nada ao seu

Seu olhar, seu luar, tão melhor que o céu

Ao redor, o sabor, a lua de mel

Nós dois juntos num ap na Cohabpel

Oito bilhões de pessoas

Hoje a Terra passou de 8 bilhões de pessoas

E nosso ser e nossa voz ressoa de forma única

Ou não calça a mesma ou não veste a mesma ou não mede a mesma túnica

Não tenho mais muito tempo

O resto da humanidade ainda tem

Mas não sou o resto da humanidade

Sou um resto de mim mesmo

E nada além

10 de novembro de 2022

Exposição: Dia de Copa no Interior

Fotos de Pelotas 1x1 Monsoon

E Pelotas 3x0 Três Passos

Pela Copa Tarciso Flecha Negra

No estádio da Boca do Lobo

Fotos de Henrique König












Canto de Torcida

Do nada passou a semana

E do nada já te venho a ver

Pro nada eu vou sem você

Te venho a ver, te venho a ver


Juntos somos mais fortes

Juntos vamos a ganhar

E vamos pro Sul e pro Norte

Contigo é o meu lugar


Torcida do Pelotas na Boca do Lobo
Foto: Henrique König / Diário da Manhã


5 de novembro de 2022

Roma, Cidade Aberta (1945)

Roma, Cidade Aberta. Filme de 1945. Parece muito propício para o que vivenciamos em 2022. Para o que ainda vivenciaremos. O filme se aventura pelas ruas de uma Roma ocupada pelos alemães na Segunda Guerra. Eles investigam opositores em busca de prisões e confissões. A história nos leva até um prédio e uma relação conturbada de Giorgi Manfredi, que vivia naquela construção, mas também vivia ausente. Que iria se casar com Pina, mas também andava com a dançarina de cabaré, Marina.

O personagem que parece tomar o protagonismo para si é o pároco Dom Pietro. Ele coloca os valores cristãos sempre em primazia. Quando questionado de como proceder em determinada situação, encontra uma saída com os ensinamentos de Cristo. É assim em palavras com a conhecida comunitária Pina. É assim até as sentenças finais, para Manfredi e para o padre.

O pároco tem restrições a métodos empregados, tanto da violência dos opressores, quanto dos métodos de resistência (como roubos a padarias) por parte dos acuados oprimidos. Mas Dom Pietro sempre deixa claro que tem lado e talvez os mandamentos se adaptem conforme as ocorrências. O mundo é mais complexo do que escritos absolutos sobre uma tábua.

As crianças também atuam, no melhor estilo de grandes filmes europeus posteriores, como o italiano Vítimas da Tormenta (1946) e o francês Os Incompreendidos (1959). Ou de grandes sucessos internacionais do cinema iraniano. A trama se desenvolve confusa em seu início, mas logo as peças não são difíceis de juntar. Conseguimos identificar denunciados e denunciantes, na atuação mordiscante da polícia alemã, Gestapo.

Além da exaltação de um cristianismo minucioso e portentoso nas decisões e dedicações de Dom Pietro, também habita o questionamento dentro da própria Gestapo e dos nazistas, por parte de um velho comandante beberrão, que justifica que justamente por estar bêbado recorda o que queria esquecer e acaba por dizer a verdade. Relembra missões anteriores e que a Europa tapou-se de cadáveres a troco de uma crença que nem ele consegue concordar mais. Obviamente a fala abala os militares em exercício, mas o procedimento, a máquina, o método não pode parar.

Entre as tensões do filme estão as prévias das investigações, as visitas até a ocupação do prédio, cenário maior da trama. As tentativas de fuga. Os diálogos. As traições entre romance, crenças e patriotismo. Resistência em busca da liberdade.

Para o final, Dom Pietro novamente reluz de protagonismo ao não se preocupar com a forma como pode morrer. "Não é difícil morrer bem. Difícil é viver bem." - Postula o padre, após observar tanta dificuldade de quem batalhou contra a fome, de quem tenta resistir a um regime autotitário e reconhecido até por seus atores como facínora e mortífero. Frases para história do cinema e filosofias para vida de todos nós.

Filme é do diretor Roberto Rossellini, mas tem também as assinaturas de Federico Fellini e Sergio Amidei

Dom Pietro Pellegrini, interpretado por Aldo Fabrizi

Anna Magnani tem atuação magnânima


4 de novembro de 2022

Personagens e suas falas

Podem perguntar porque meus personagens não têm muitas falas. Porque não uso muito travessão ou aspas. É que gosto das falas fidedignas, como exatamente foram. Se não lembro bem, prefiro não arriscar quais palavras foram utilizadas.

Ah, mas e os personagens que invento? Aí também os respeito muito. Não sei se eles diriam com a precisão que preciso decidir no papel. Complicado inventar por eles. Eles são tão independentes...

1 de novembro de 2022

Estrada no norte de SC

Voltava pela estrada no norte de Santa Catarina. Vinha no banco de trás de uma condução. Algo que se assemelhasse a uma carruagem em que as pessoas são transportadas em um compartimento, algumas sentadas lateralmente em relação ao cocheiro. Mas vinha eu acompanhado de outros passageiros quando nosso veículo foi obrigado a reduzir. E não só reduzir, mas obrigado a parar. A fila se formava. A vista não alcançava mais o início para frente. Logo não se enxergaria o final, mesmo que a poucos instantes ali percorressem. A inspeção era rigorosa. Ou fingia ser. Os homens abordavam direto ao banco do motorista. Pediam documentos. Trocavam palavras. Às vezes trocavam olhares entre eles e devolviam os documentos. Às vezes trocavam palavras sussurradas entre eles. E talvez não devolvessem o documento. Me acompanhe, por favor.

E assim percorreram alguns carros, mas aparentemente liberavam a passagem de todos. Mas logo eu descobriria que eles retinham pessoas. Por sorte, nenhuma era motorista solitária e a fila de carros assim continuava em prosseguimento, avante. Mas então chegou nossa vez de vasculharem. Fomos interrogados. Meus pares apresentavam a documentação para o policial que insistiu em entrar em nosso compartimento. Naquela invasão de privacidade ele observava os documentos sem maior interesse. Então deteve-se à minha pessoa. Pela simples declaração de meu nome houve um estalo de interesse. Talvez ele tenha mesmo estalado a língua entre lábios, entre dentes. Ali estava algo que procuravam. E eu era este algo.

Tive que ouvir um daqueles corteses me acompanhe por favor. E acompanhei somente pelo favor que me pediam, porque de meu corpo não dispunha vontade alguma de ser encaminhado a mais perguntas. Anotaram o número do qual pertenço de forma escrava desde que criado meu registro geral. Respondi que era gaúcho apenas de passagem breve pelo estado vizinho. Mas eles sabiam um pouco mais sobre mim e sabiam que isso não era bem a verdade. Eu já constituía parte da população, votava ali e saberiam eles que já era parte do censo demográfico, retomado com atraso na região. Em 2020 eu não seria deles. Agora era.

E estava nas garras desses oficializados. Um deles, cabeça baixa de escrivão, boné posicionado praticamente lhe ocultando os olhos, me perguntou mais algumas bomba-relógio, sobre minha orientação em voto e preferências políticas. Não engoliram novamente as respostas ou, se fingiam engolir, logo regurgitariam. Eles sabiam mais do que aparentavam.

Pois logo vi que no trancamento da rodovia os oficializados não estavam sozinhos. Camisas verdes e não obstante amarelas os acompanhavam. Estes fazendo o favor por livre e espontânea vontade de estarem ali em pleno dia de semana, dia útil e mesmo assim paralisando a bendita cuja da economia. Pessoas alegres de sorrisos estampados, de faceirice tentando ser meiga, praticamente com máscaras costuradas à base de botox por sobre o colarinho verde de suas estampas amareladas. Mulheres loiras, homens com alguma rotina de academia, idosos que ignoravam alertas anteriores para permanecerem em casa. Esses rebelados em avalanche bicolor pretendiam atazanar com nossas vidas e cumpriam com o objetivo. Retrasados na estrada, talvez meu comboio prosseguisse com a naturalidade que eles gostariam supor, mas eu estava represado naquele conluio de lunáticos - mais uma vez com todo o devido respeito à lua.

Eles me pediram a identidade novamente e logo percebi que eles se adonariam mais dela do que eu. Esvaziei os bolsos e percebi que nem os últimos halls seriam de minha posse. Uma das abrasileiradas com mentalidade entreguista ao estrangeiro apareceu sorridente, farsante com uma lista de sites. Pediu para que eu identificasse endereços virtuais, dos quais eu desconhecia quase todos. Certamente não era o meu histórico. Mas talvez um suposto histórico em comum. Mas então na página 2 daquele conjunto grampeado me deparei com uma senhora surpresa. Cá estava o nome de meu blog em algum texto provavelmente com críticas nada amigáveis aos marcianos - com o devido respeito à Marte.

Por impulso exclamei e logo percebi que minha identidade estava mais entregue que o gol do título ao Palmeiras na final da Libertadores 2021. Mas tão logo exclamei tentei fechar minha impulsiva matraca e desviar o foco, que eu fiz crescer através de meu dedo, que roçava o papel com o bico do indicador sobre o nome de meu blog. Então tentei disfarçar que na verdade eu teria acessado barra visto o nome do site abaixo. Daquele bloguezinho mixuruca eu nada sabia, nem ideia de quem fosse.

Mas engoli em seco e fiquei torcendo para que os patrulheiros e demais enxeridos engolissem essa. Engoli sonoramente em seco implorando por uma água ou um veneno que me acalmasse ou resolvesse uma saída àquele aprisionamento. Eis que na reza que eu teria silenciosa, a moça morena de camisa amarela havia chegado a um veredito. Risonha como uma assistente de palco na televisão dominical, ela veio conferir o que eu havia mostrado. Com a caneta a sublinhar ela havia revelado que eu era muito bobo mesmo e nem havia precisado de tortura (conclusão minha) para indicar os temíveis segredos.

Qual não foi meu alívio quando ela repassava o papel ainda ao alcance dos patrulheiros mostrando que eu havia participado era do site abaixo de meu verdadeiro blog. Eu na verdade naquela gama de impulsos não sabia se a troca de meu incriminatório blog por outra página desconhecida era uma boa escolha.

Lembrei de meu nome e onde apareciam (em fotos) em meu blog. E lembrei de meu microblog. E lembrei de minha família. E lembrei dela. E recordei o quanto era possível e viável recordar em passagens como um filme diante de meu atônito e embaçado par de olhos. Acho que eu não veria mais eles.

Me acompanhe, por favor.