21 de agosto de 2015

Pranto

Não tenho escrito
Tanto
Não tenho deixado
O Pranto
Me consumir
Meu carma e meu encanto
Me encarna pelos cantos

Me veste
Como um manto
Transcende
Como um santo
Acende
Pirilampo
Me atende
Quando eu chamo

O pranto é prato
Que eu janto
O pranto é farto
Veem-me tanto
Foto: Henrique König

3 de agosto de 2015

Mar de Revisões

Praia do Hermenegildo - Santa Vitória do Palmar - 2014 (Foto; Henrique König)
Há poucas cenas mais amplas, literalmente, do que estar de frente ao mar. Há um padrão, com sons repetitivos a acompanhar. O vai e vem das ondas, muito semelhantes, mas nenhuma exatamente igual e a espuma a baldear nossos membros inferiores. A mente, entretanto, encontra um universo tão extenso quanto o mundaréu de água do oceano.

Em meio ao inverno já não tão rigoroso do início de agosto, me apossa o sentimento de saudade ao velho mar. Da areia, nunca gostei, mas para encontrar tal companhia marítima nos veraneios, podia atravessar essa barreira sem ter do que reclamar.

E no mar, banhava-me. Mergulho e esqueço o mundo do lado oposto da superfície. Regresso e tudo está igual, mas mergulho e as diferentes sensações me apoderam: o movimentar incessante e ensurdecedor das bolhas, a coloração em novos tons não antes percebidos.

O sal é forte e torna-se personagem principal nas papilas gustativas e no que sobra sobre o tato após os encontros. O cabelo endurece e se rebela, como se não quisesse mais abandonar o mar. Permanece assim até o próximo banho, desa vez sob um chuveiro.

Os dias na praia são os mais extensos e intensos do ano. Acordo mais cedo, como com mais disposição, estabeleço e rompo paixões pelas orlas, vou ao mar, volto à areia. Vou ao mar, volto à areia. Volto pra casa, mas desço novamente ao mar, quando está ou depois do anoitecer.

Ele me confessa mais alguns segredos que só quem presta muita atenção consegue captar. Confesso, por ecossistema, entendê-lo pouco, bem menos do que minha irmã, por exemplo, que é bióloga. Porém, entendo-me mais em sua presença, como se o ir e vir na costa fosse a força eletromotriz para acionar pensamentos de aparições não antes vistas em minha mente.

Às vezes, há revisões presentes, flashbacks e a organização proposta de passar ideias a limpo. Liberdade que só encerra a sessão quando, mais tarde, enxugo os ouvidos.

A despedida nos fins de janeiro machuca e as peles antes despidas voltam à cidade para cobrirem-se de mais roupas e mais problemas. Escrevo esta carta de desabafo mais ao mar do que a qualquer especificidade. O mar, que é fascinante por seu conjunto completo como ecossistema. O mar, que abriga das mais diversas espécies e sonhos. Por sua ausência só daqui a, talvez, um mês saciada, procuro e ilustro o texto com sua simplicidade através de uma foto de veraneios passados.

(Foto está lá em cima. Preguiça de descê-la para cá)

1 de agosto de 2015

M'equilibro

Entre nós, quero encontrar
O ponto de equilíbrio
Entre a segurança de te conhecer
A cada centímetro
E o prazer de me surpreender
Com o desconhecido