A humanidade. A repressão e a dominação contra classes e sobre povos. Sobre gente como a gente, do outro lado do muro ou da grade. Somos tachados com CH, somos taxados com X. O X da questão é ver além da máscara que eles querem sobrepor sobre as pessoas. O ódio impõe a generalização que nos faz incapazes de ver o brilho nos olhares. Nos faz incapazes de ver o lado humano e a inocência individual de quem está no meio da guerra, no meio da fila, no meio frio, no meio do caos.
Estamos à véspera do Gre-Nal 404, mais um na história do Rio Grande do Sul. Iniciativa inédita dos últimos tempos é o setor para torcida mista, com colorados e gremistas no mesmo espaço durante o clássico. A ideia é propagar uma campanha de paz entre os torcedores gaúchos. Ela ocorre partindo de setores mais elitizados, de quem pode pagar pela locação confortável no estádio moderno em um jogo de tamanha importância. Não é exatamente a realidade de civilização do cotidiano. Mas, com a campanha em andamento, pelo poder da mídia interessada, ela talvez possa ser expandida a outros estádios, estados, agremiações... e sociedade. Ok.
Na mesma semana da pilha feita por esta campanha, a Brigada Militar dá o mau exemplo. No jogo do meio de semana, válido pela Copa Libertadores, torcedores do Inter pintavam as ruas de vermelho para apoiar a chegada do clube ao estádio Beira-Rio. Acabaram pintados de vermelho por exageros, ações descabidas da Brigada. Cenas fortes circulam pelas redes sociais. Torcedores baleados por balas de borracha, feridos a cassetetes, a pauladas dos intolerantes de farda. O despreparo para lidar com a população é gigantesco. Os exageros presenciados são repugnantes, repudiáveis.
A onda de violência, a violência repressora é o dia a dia. O dia a dia que esvazia a fantasia. A fantasia da paz proposta pela campanha. Me perturba a forma como quem tem o poder está para reprimir. Taxa e tacha quem tem poder. É taxado e tachado quem não tem. A distribuição e os tratamentos são completamente diferentes de acordo com as classes envolvidas. Opressores e oprimidos. Dois (ou mais) pesos. Duas (ou mais) medidas.
O Brasil vive um momento conturbado, fique registrado. Greves ocorrendo e boatos de greves por ocorrer. A distribuição de recursos sofre faltas com paralisações no transporte. Mas a distribuição da violência marcou o episódio comentado e mais tantos episódios. A paz nacional, por conta de taxas e tachas, está longe para a nossa maioria de taxados e oprimidos. Está longe até do futebol, mesmo após anos de campanhas por ela. Está longe, infelizmente, eu diria, como um tiro de meta está distante do gol.
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Filme: O Menino do Pijama Listrado
"Hoje, o guri judeu estaria à direita. Um palestino à esquerda. Muda a crença, e não acaba a opressão" COIMBRA, Vinicius |