26 de agosto de 2019

parasita não hesita

fiz uma enquete
sobre o que ninguém conhece
(ou não quer conhecer)
tudo bem, faz parte
(que nada, vai te fuder)
sigo palavras procurando a minha arte
bandeira na mão nem que seja a meio mastro
eles querem castração, vocabulário eu não castro
nessa junção, fomentação correspondo
compondo o meu balastro
da ferrovia da minha vida ali a cada dia
segue o lastro
os pastores e os rebanhos dando conta do pasto
dessa eu vez eu passo
te prometo que da próxima vez
se eu der sorte nunca mais vejo vocês
outros alguéns estou louco pra ver
quando será que eu posso?
tenho que escalar muito desse poço
pra sair do fundo
é íngreme... a rima para íngreme
mas o que vem de baixo não me atinge
até porque mais pra baixo eles não distingue
esfinge, finge, miragem para existir
pra seguir o ir e vir, impulsionar o que há de ser
será... será? será!
entre a interrogação procurando a razão
e a exclamação do mundo espetacular
sobre o palco holofotes nas marionetes
atrás das cortinas é que a mágica acontece
na ocultação das luzes ninguém quer que tu veja
por isso toma aqui mais uma porção de certezas

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

e a escassez do que deveria ser a abundância
e a importância fora do top dez
mira aqui esse novo viés
olha rápido, não dá bobeira
sair do hábito deles é coisa de gente ligeira
que vence a lebre, a tartaruga e causa rusga
com a ordem dominante, as fabriquetas
seguindo as ordens e os ensinamentos do capeta
produzindo em escala gente que se cala
cada um com a sua etiqueta
conservando falas conservadoras
levando nas malas políticas opressoras
são todos moros pelos poros desse país
gente marionete nem dá pra chamar de atriz
e perdemos por muito, nem foi por um triz
vamos lá de baixo recomeçar pela raiz

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

e a sobremesa que ainda há por vir
respira fundo tamo longe de sair daqui
caminho longo, longa é essa milonga
longa, esticada, retorcida feito anaconda
ação pra todo tipo feito filme do henry ou do peter fonda
surfa essa onda que é a rima
pega ela do alto pela crina, pela crista
só não tira alguém pra cristo, fica o registro
tem tanta coisa errada e tanta gente omissa
sem compromisso
enquanto isso os parasitas não hesitam
em meter as patas nas fatias fartas
são feito baratas, onde viu um o clã fez o seu covil
amanhã esse cio nocivo novamente ataca
incisivo na hora de pegar na chibata contra nosso povo
e bata e bata e bata
e nós sem inseticida mas com os mc
mc do amor, da paz e da vida
na batida do lado da guerrilha e da bastilha na tomada
ligada e amplificada, acreditando no poder da palavra

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

25 de agosto de 2019

xique-xique

vou ter que reescrever os scripts
parece que anteciparam o apocalipse
vou ter que reescrever o que eu fiz
parece que anteciparam o xique-xique

o xeque mate que eles querem dar
tava na mão, eu sabia, resolveram antecipar
o gosto amargo e engendrado desse mate
querendo tirar tantos e tantos do combate

não adianta o pranto se não me levanto
o abacate vai continuar nos acometendo
tantas e tantas, tantos e tantos, tantos tansos
poucos descansando e tantos com nenhum descanso

o trocadilho muda a letra de reforma pra deforma
não ignora; se tá ruim assim e depois piora
dessa forma, não segue a norma
aldous huxley aqui não nos deu gramas de soma

no máximo alguém ali vendendo bala de goma
dois por um real, três por um real
abaixo até do preço que era o ideal
no fim do dia moedas no bolso é todo o capital
cena que se repete em quantas capitais
o que dizem sobre isso as vozes oficiais
esperando no cais desembarcar inimigos irreais
no meio do caos, se disser que andamos mal é elogio
onde já se viu, país Brasil
tantas vidas por um fio
remédios, atendimentos, universidades
cortes, queimadas, árvores, oportunidades
nuvens poluentes transportadas para as cidades
parasitas prepotentes perfilados pá virados nos seus preconceitos
e o que eu mais lamento
diferentes de outros, tantos outros pesos mortos
esses foram eleitos...

24 de agosto de 2019

palpites

ando em caminhadas longas demais para não pensar em morte. mas não é este o tema, não desista ainda do texto. passo seguidamente pela escola para deficientes visuais. uma colega de canguçu me diz que o termo deficiente, contrário de eficiente, não é bem o correto para usar. mas nessa escala de portadores de necessidades especiais, o termo deficiente para designar as pessoas com problema, a não eficiência, o não funcionamento visual, me parece adequado até. convenções a serem seguidas ou não.

o próprio time de futebol de cegos se denomina assim na categoria que disputam. futebol de cegos. um abraço ao incansável presidente e atleta diego lemos, que muito me procura para enviar as informações e estar na busca por apoio ao time da asdefipel. novamente a palavra ali se intromete: associação dos deficientes físicos de pelotas. disputaram recentemente torneio em são paulo capital. diego me envia longos áudios explicativos e os transcrevo com as infos das melhores maneiras possíveis, procurando ser atencioso com o paradesporte local ao nosso jornal. certa vez, por descuido, quase digitei grandes mensagens, que poderiam ser lidas a ele por quem o auxilia, mas preferi segurar o botão e enviar também em áudios o prosseguimento de nosso diálogo.

toda essa volta, até fraternal ao trabalho de diego e do time, para recordar o que me inspirou neste presente caso. passar pelo endereço da escola verde e branca que homenageia em nome louis braille. fico pensando a agressividade das ruas em não respeitá-los ou dificultarem-lhes o acolhimento. novamente a menina de canguçu impondo barreiras para a palavra incluir, por exemplo, em que teria algum sentido do que já prevê haver exclusão. enfim, enfim, é perceptível como as ruas e as pessoas são agressivas, muitas vezes sem perceber, com pessoas que apresentam deficiências visuais, no exemplo trazido aqui.

outras deficiências, como as de mobilidade são cruéis nas calçadas. em pelotas, as calçadas são muito estreitas em determinados pontos, em ruas do centro histórico, antigo e pouco inclusivo, em situações jamais previstas século retrasado. a situação das calçadas é precária em aspectos higiênicos também, na quantidade de lixo e dejetos que dificultam atos de simples caminhadas. muitas vezes sinto-me impedido do melhor desempenho e fico a pensar sobre as pessoas de idade ou o perigo até higiênico representado na inocência das crianças e finalmente nos seres que me proponho a abordar aqui, os deficientes físicos ou visuais.

aposto que as pessoas que não recolhem dejetos de cachorro não pensam neles. aposto que quem deixa lixo pela calçada, em quantidades tropeçáveis e nada higiênicas não pensa neles. aposto que muitas vezes falta a sensibilidade de pedestres e inclusive de quem projeta o que está sendo feito ou as manutenções do espaço já existente e urbanizado. aposto que os motoqueiros exibidos com o barulho das motos não pensam o impacto nos ouvidos sensibilizados e essenciais para eles conviverem nas ruas. ou quem usa som alto demais nos carros. ou qualquer outro tipo de poluição física ou sonora nos grandes centros urbanos brasileiros.

as ruas assaz agressivas contra tantos. se sentiu identificado contra alguma dessas acusações, bora mudar suas experiências. para os mais ousados ou menos tímidos, bora encarar mais de quem faça esses atentados contra os próximos. com essas palavras enquanto não encontro outras melhores, me despeço com o perdão a duda ou a quem mais contestar essas palavras-chave de buscar INCLUSÃO para com as pessoas com deficiência.

11 de agosto de 2019

"Mas dias melhores virão"

"Mas dias melhores virão, se Deus quiser", completa minha mãe ao telefone com minha dinda, para alguns estados brasileiros 'madrinha'. Soube por intermédio da ligação que a segunda levou um tombo e está lidando com as sequelas. É uma senhora com idade que avança, ela nunca nos diz exatamente a quantas anda a cada aniversário, e além do mais já passou por processos quimioterápicos. Sim, é possível que dias melhores venham, seja qual for a perspectiva, por exemplo o tempo melhorar na direção do verão. Hoje é 11 de agosto.

Minha irmã está completando mais um aniversário, mudando a dezena de sua idade dos vinte aos trinta, enquanto meu pai comemora de alguma forma o dia dos pais. Tanto minha irmã quanto eu não somos tão apegados a essas datas, o que me faz perguntar se um dia sentirei que poderia tê-las aproveitado melhor. É uma questão de estilo e luto sempre para meu eu posterior reconhecer as deficiências e limitações do eu anterior. Minha paciência para socializar caminha com bateria fraca, quase no alerta ou na reserva do tanque de combustível, por assim dizer.

O domingo passou até de forma agradável, seja pelo tempo com sol ou pelo humor dos presentes, ou o tempo do sol minando positivamente o humor dos presentes. Ainda durante a refeição de almoço, para qual dou boas vindas aos que anteriormente chegam, houve uma brincadeira de humor mórbido sobre minha vó, que comemorou aniversário dia 9 e é a única viva entre a geração de seus irmãos. Todos faleceram entre 83 e 88 anos. Ela completou 86 e propuseram o desafio se chega a ultrapassar a idade da falecida irmã. Como elas se teimavam muito, riram que não há escolha: ou minha vó vai tomar um tapa por tê-la ultrapassado ou a falecida irmã carregará a glória de ter durado mais.

É o tipo de besteira que até penso, mas não esperava a conivência dos demais, porém aconteceu e nem fui eu quem projetou tal assunto e pensamentos. Agosto se torna um mês para avaliar e reavaliar os membros familiares pelos aniversários de minhas irmã e avó, além da passagem do dia dos pais, também comemorado neste domingo.

Meu pai jogou água abaixo no seu discurso de cautela com bebidas alcoólicas ao passar à exibição após sua segunda lata. Ponto para mim contra ele nas próximas, brinco. Entre diversos temas que poderiam ser explorados, é estranho cumprimentar e se despedir de minhas avó e tia após terem se mudado da vizinhança de nossa casa e agora estão na ponta oposta da cidade. Se despedir ganha novas proporções, pois não estarão "de chinelo", como se diz, tão logo no próximo dia. É preciso crer, dentre outras coisas, que dias melhores virão.

10 de agosto de 2019

UFPel - 50 anos

Universidade de tantas mocidades
Federal de Pelotas, minha UFPel
Dos laboratórios, das práticas
E do que vai nesse papel

50 anos contados e contando
Por profissões e títulos doutos
Mas sobretudo nos sorrisos formandos
Por esses bairros que não são poucos

Oportunidades, tão simples rimá-las
Com o final da palavra universidades
Portanto o findar das universidades
É acabar com as oportunidades
Em que oportuna idade, seja qual for
Jovens de conservada jovialidade
Aprendem seus ofícios com louvor

Professores e professoras
Fazem parte desses favores
Prestados nessa trajetória
Naqueles que não desistiram
Ao saírem dos bancos das escolas

Do início agrônomo engenheiro
Ao destino de outras engenharias
Com o ingresso do feminino
Nessas profissões do dia a dia

Das saúdes e ciências humanas
Das pesquisas a quem programa
E soluciona nossas mazelas
Em artigos, dicas e reportagens
Dessa semana ou daquela

Projetos e pesquisas
Orientandos à deriva
Mas futuramente encontrados
Conhecimento que se arquiva
Mas não fica só arquivado
Colocados em prática na rotina
Aplicando seus resultados

UFPel que recebe paulistas,
Cariocas, catarinenses, interioranos
Maranhão, Paraíba, Recife
Mineiros, Manaus, goianos
Pelas mãos desses imigrantes
Mudando o que era antes
Pelo presente desses anos

UFPel de diferentes sotaques
E dos ataques do atual governo
Eles com a moral abaixo da baixa
Tiram a renda, a verba do nosso caixa
E provocam nas ruas os cartazes
Perdem suas pazes com as faixas
Se são capazes dos cortes
Do contra-golpe somos capazes
Tentando evitar teu fim
Nesse Brasil kamikaze

Eles tentam ser os algozes
Gozes tu da juventude
Desse povo que luta
Pelo direito que se estude
Se não lutar, nada muda
De nada serve a boca muda
Enquanto cavam nossa tumba
Com o sumiço das verbas
Sejamos duros na queda
Contra essa era absurda

Protejamos nossos campus
Em memória ao passado
Em combate no presente
Pelo futuro de outros tantos

Henrique König - Jornalista. Letras UFPel.
Campus Anglo. Foto: Henrique König