27 de outubro de 2021

Kafka e Kieslowski

O tcheco Franz Kafka teria muito a debater de forma interessada com o diretor polonês Krzysztof Kieslowski.

A Polônia do Século XX era o pesadelo descrito por Franz Kafka desde outrora.

A Polônia nos filmes de Kieslowski é burocrática, cinza, crua, aprisionante, dura, silenciosa, mas por vezes rompida por alguma sinfonia esquecida nos dias de hoje. Ou por alguma cor que nos encha os olhos de vida em um mundo tão automático e fechado. A Polônia de Kieslowski. 🇵🇱🇵🇱🇵🇱

25 de outubro de 2021

Sonhos

Às vezes quero ser como todo mundo, às vezes quero ser diferente de todos. A segunda opção sempre é mais fácil, porque de fato sou. No íntimo, no âmago. Me desperta interesse ir descobrindo pontos em comum com as pessoas. Não ser totalmente distinto, embora seja. Enquanto escrevo, penso na máquina de escrever em que não poderia retroceder ao que confesso, nem escapar dos erros ortográficos. Vou adiante.

Penso que meus sonhos sempre são mais belos do que a realidade. Dificilmente a vida os supera, embora já tenha feito. Talvez eu esteja no mundo para sonhar, para a partir dos sonhos criar, não necessariamente para realizá-los. Talvez a realização ofusque parte dos sonhos.

É que depende o sonho. Uma realização por terceiros talvez seja sim a coisa mais bela. Um lar para crianças. Para animais de estimação. Idosos bem alimentados e com os medicamentos que precisem. Vaquinhas virtuais para a realização de cirurgias, transporte de qualidade para quem quer e para quem precisa ir. Isto tudo me parece absoluta e incontestavelmente bonito.

Mas alguns sonhos mais individuais, mais subjetivos podem se perder por esses campos imaginativos. Aí que talvez eu os crie e não os realize. Se existem na minha imaginação existem. Mas serão possíveis? Serão realizáveis? Serão um dia palpáveis? E valem a pena ser ou ficarão suspensos para sempre no incrível e indescritível varal de minha imaginação?

Há sonhos que não serão concretizados. Para além das mortes naturais, do fechamento dos ataúdes, todos os dias, todas as horas sonhos estão sendo ceifados. Caem dos pregadores dos varais dos sonhos. Descem ao chão, sujam-se com o solo das verdades, onde pisamos e onde, sobretudo, a vida nos pisa. Não os realizaremos, embora ainda me seja, por ora, possível lembrá-los, com os filtros amarelados do tempo, com os photoshops que a mente nos fornece, mais belos do que me seria possível.

Novamente termino pensando o quanto sou semelhante aos demais, agora indagado por tudo isso que confesso e escrevo. E também me pergunto onde me distinguo, onde isso tem uma relevância ainda não vista, por minhas ondas, nuances e linhas criativas. Vivemos por esse equilíbrio de associações e distanciamento, concordâncias e discordâncias, procurando nosso melhor lugar ao mundo possível. Onde conseguiremos fechar algumas contas, alargar um pouco a sombra do descanso na aba da sobrevivência e tentando por entre esses estreitos amar. O amor que inaugure e sustente na seiva os jardins. O amor que interrompa o calor sol do meio-dia mas que traga alguma luz nas trevas da meia-noite. O amor que como uma baldada lave as manchas da calçada ou como um rio desinfecciona uma ferida ou arranque histórias de uma roupa.

Onde me aproximo e onde me distancio? Onde me é possível realizar e onde estou restrito ao campo dos sonhos? Arrisco de algumas formas como se escolhesse a próxima pedra onde pôr a mão ou o pé em uma escalada vertical. Experimento e tento entender que errar o movimento não é necessariamente definitivo. Todos vamos, um dia, novamente, recomeçar. Dentro dessa vida há provas de ocorrer isso toda hora. Assim como sonhos são ceifados, outros estão sendo todas as horas abertos. Alguns realizáveis, outros não. Alguns concretizados, outros não. Vivo enquanto crio. Sonhos que não necessariamente realizarei, mas muitas vezes os observo faceiro, como a fotografias em um estúdio de revelação.

Alguns sonhos eu revelo a vocês, outros não. E enquanto conto e não conto, vivo. Marginalizado à vida alheia, central aos temas que, na verdade, só nós sabemos quais são, quanto eles pesam e como os carregamos. Desejo do fundo do coração que saibas lidar com os seus caso tenha chegado até aqui. A caminhada é árida e a água escassa, no solo rachado, abaixo de onde os sonhos ainda se dependuram acima de nossas cabeças, às vezes alcançáveis, às vezes inalcançáveis, mas sempre visíveis. Que assim seja.

13 de outubro de 2021

Notas redigidas em regime/noite de urgência

Passado o feriado de 12 de outubro, o qual descobri que os demais países latino-americanos dedicam a uma data de homenagens e reflexões sobre a pluralidade cultural do continente, em especial aos povos originários desta terra - os indígenas. Enfim, passado o dia 12 do 10, me encontro encaminhado à reta final dessa cilada chamada fim da Rua Quinze de Novembro. Neste prédio onde fisgados fomos por um aluguel mais barato mas que muito nos sai caro conviver com barulhentos e notívagos usuários de drogas. Riem, batem portas, derrubam objetos, conversam alto - quando não gritam de forma aterrorizante por cerca deste horário que vos escrevo, pelas 3 horas da madrugada. Assim convivemos dia após dia deste longo e fatídico ano que já vitimou meu avô, então membro mais antigo de nossa família, e que, por vezes, devido à gama de acontecimentos negativos, quase me vitima por suicídio. Mas aqui sigo com uma nova orientação em riste, buscando gerir meu barco a melhores rumos. Se não permanecer na mesma antiquada e deficitária Pelotas, com seus mesmos problemas e pessoas-problema, traço em direção a novas oportunidades e viradas de página em Santa Catarina. Mas, graças a ela, agora tenho bem pensado, talvez graças a ela me encaminho a uma turbulenta permanência, até que nos acomodemos no pequeno furacão de nossas vidas. Tomara consigamos e nos acertemos, mas, sabem como é, nunca nos há terminante garantia.
Entretanto, novamente é importante salientar que os pirraças seguem a chacoalhar a tranquilidade da madrugada com suas peripécias e má educação, elementos que transbordam. Pela primeira vez, de tantos e acumulados problemas com outras vizinhanças, temos a problemática homossexual em pauta. Mas afirmo e reafirmo apenas como curiosidade, porque já tivemos problema em bairro com bares sem alvará de funcionamento e música noturna, vizinhos pobres entre brancos e negros, vizinhos de classe social-econômica mais abastada, família encrenqueira de ex-policial civil corrupto, que nos perturbaram também com drogas e barulho noturno, com conversas durante a semana e festas regadas aos fins, sem horário para encerramento. Já tivemos esses problemas, de modo que a homossexualidade apresentada por este último grupo serve apenas como pequena vírgula, complemento ao perfil, apenas como forma descritiva dos sujeitos. Eles falam alto e gritam pela madrugada, batem portas, riem ou brigam, derrubam objetos de forma barulhenta no chão composto de parquês. Nisso tudo tento me imaginar em outras convivências, tomara mais calmas, seja na companhia dela ainda na cidade ou com minha família em um lugar mais propício e sossegado. Quero muito ajudá-la, mas quero muito me ajudar. Creio que ela consegue-me este referido préstimo e creio que eu consigo também auxiliá-la e isto tudo é de imenso significado, ainda mais quando relato a urgência de nos livrarmos das pestes que ora tumultuam novamente nosso apartamento. Reitero que este é o pior perfil entre qualquer moradia que já ocupei. O problema das noites só não se apresenta de maneira mais drástica porque temos em perspectiva o horizonte que se expande em Santa Catarina. Com urgência, na alvorada da papelada necessária, aguardada pela verificação em cartório catarinense, nós devemos sair daqui o quanto antes. Com urgência redijo essas linhas, ainda sombrias e misteriosas para quem na íntegra não me acompanha. Mas espero sanar dúvidas adiante. E espero no grosso modo de minha memória, não esquecer a importância e a decisiva tomada deste período em minha vida.
Convivo por ora entre meus supremos piores tempos e a dúvida do que virá logo adiante a eles. Mas se desenha um movimento que culmina como uma luz de fim de túnel. Alguma esperança está havendo, ela esperança que algumas pessoas tanto rezaram que me aparecesse. Por enquanto são trevas, adiante a promessa, ao menos, por descuido de tão pesadas nuvens, de obter raios de sol. Eles são importantes para ti, para teu humor e para mim também. Assim como és também para mim, grata surpresa iluminadora de meu 2021 amargo e melancólico. Independente do que seremos, te agradeço desde já.

5 de outubro de 2021

percepções

se quiserem posso ser pioneiro de diversas causas. pensamentos inéditos me acompanham, puxam cadeira, bebem café. mas se quiserem posso ser o mais antiquado romântico. nunca me deu trabalho. sempre me deu prazer.

percebi há alguns anos que jamais uma noite seria igual à outra. tentei imitá-las e nunca consegui. sempre porque dependia de outros atores, fosse isso na tentativa de um deja vu em estádio, festa, enfim, qualquer evento.

jamais uma noite é igual à outra. ao menos essas especiais, porque nossas percepções, tendo já vivenciado anteriormente, são alteradas. muito embora o simples (ou complexo) desencadear dos fatos também não se repita. não há como reproduzi-los (os fatos) na íntegra. é necessário aceitar.

se uma noite não se repete em relação à outra, o que dirá de uma vida. agora percebo que minha vida é minha vida. com sua completude através de meus acertos e meus erros, de minhas escolhas, de minhas virtudes e meus defeitos. preciso muitas vezes aceitá-la. aceitar que é melhor assim por mais que doa. minha vida não é nem será igual ao passo a passo, ao ritmo de meus ídolos. situações diferentes, encontros distintos, reflexões diferentes. tudo se alterna nessa dança que foge aos contornos desenhados em algum mapa.

minha vida é minha vida, para melhor ou para pior.

agora, especificamente agridoce com os acontecimentos da vida. mas foi um ano em que convivi semanalmente com a amargura, então por que não experimentar um outro sabor?

2 de outubro de 2021

sobre minha irmã

percebi que gostava de viver com minha irmã. nem que fosse para dividir com ela, ou ter uma segunda opinião sobre, as burradas que eu inevitavelmente faço.