28 de abril de 2019

olho mágico

olhei no olho mágico
trágico não ser você
olhei no olho mágico
trágico não ser você

por onde você anda?
onde você acampa?
o que você canta
(no chuveiro?)
o que te espanta?
o que te encanta?
o que pensa sua mente
quando o corpo levanta
todos os dias
o dia inteiro?

por onde você anda?
onde você acampa?
qualé a estampa?
(da sua camiseta)
qualé a sua meta?
qualé o seu plano alfa?
qualé o seu plano beta?

olhei no olho trágico
lógico não ser você
olhei no olho trágico
lógico não ser você

27 de abril de 2019

cem porcento

fim de tarde é o momento
que imanta o sentimento
onde você está?
longe de onde me sento
onde você está?
no meu pensar
é cem porcento

viver e se poupar

viver é se poupar
do risco de uma vida sem vivência
viver é se importar-em
adquirir mais experiência
viver e estar ciente
da vida pra mais
e não pra menos
do que a ciência

verde musgo

acendeu!
mas passou como o fogo de um isqueiro
iludiu, prometeu
de janeiro a janeiro

não cumpriu, claro que não
tão claro como um clarão
um raio no céu, bem no meio
serei-o
apagado
logo depois
de iluminado

faísca que fustigou o olhar
manja o verbo fustigar?
vai ter que dicionar
pra depois adicionar
o significado

conhecimento somado
não linear
conhecimento agregado
não limitar
não militar
ao menos não verde musgo
e todos esses absurdos
que estão a espreitar

e isso aí
podes crer
ainda vai durar...

oxalá que esteja errado
oxalá...



e se poupa

minha língua
no céu
da sua boca
no véu
da sua roupa
no velcro
sem roupa
vergonha?
nem pouca
sonha
com outra

¡vive!
e se poupa

sabendo

sabendo que era impossível
foi lá
escreveu sobre
e não viveu

"todo dia um novo homem"

caralho, já é quase o meio do ano
e nós o que mudamos?
hoje foi minha caneta que me deixou
falhou até isso ser tudo
seu estado natural
e absoluto
imutável ao meu luto
"todo dia um novo homem"
trazia em sua lateral
para vergonha ou orgulhar
o usuário
depende qual

23 de abril de 2019

outros 500

e as mortes em muzema?
a mídia entra em cena
ou é silenciada?
quanto vale a vida
se não televisionada

o brasil se repete
repele estrangeiros
só entram pra explorar
pedro álvares cabral
ao espaço da amazônia florestal

o que mudou?
onde mudamos?
escravizados, explorados, mudos
mineiros, potiguares, paulistanos
laranjas, lobistas e tucanos
após 500 serão mil anos?

aos funerais

cai o sinal virtual 
sinto o sinal da morte 
me agarra forte pelo braço 
sinto deveras uma dor no pulso
qual será o meu impulso 
para não sair hoje com a morte? 
para uns tanto azar
para outros boa sorte 
tem que estar ali disposto 
diariamente a cada imposto 
esperando uma saída 
um cochilo do porteiro 
para buscar a sobrevida 
qual será ao fim de tudo 
o derradeiro veredito
cortando a noite como um grito 
abafado no veludo 
tão esperado mas não acredito 
e não sei a quem credito
essa hora de infortúnio 
a muitos causa espanto 
para outros esse tanto é tão finito 
se pensa e esquece num só banho 
velório é tão inglório 
todos juntos num rebanho 
vagarosos nos passos e a voz em um sussurro
desafia até Saussure
entender esse conjunto
depois traz a cartilha
que tudo se esqueça
a regra é a cabeça
deixar seguir a vida
como faz pra que me desça
se a pessoa sob a terra desaparece
e ali permaneça
era aquela a prometida?
fica sob sete palmos
e a cabeça não esquece
a lembrança se entrelaça
se lança e se repete
como um filme mudo
conteúdo me remete
me identifico com tudo 
até com o que nunca acontece
absorvo a dor do mundo 
até a que não merece

22 de abril de 2019

bússola

tu já morreste
mas as palavras que leio
são as mesmas que escreveste
as mesmas que leste
oeste, norte e sul
leste
foste, morte e soul

pequenos sintomas

me apassiono por esses poetas
lambo o canto de suas línguas
colo suas palavras
na boca que é minha
___________________________________________________________

me apaixono por seus olhos vidrados
que queriam dizer algo
era vontade de aprender
talvez com um 'e' a mais
aprender, não sei porquê
apreender, sei bem porquê

19 de abril de 2019

com licença, você conhece a palavra de

não é que somente triste
eu produza
mas quando me fiz feliz (que rima absurda!)
talvez o escrito
não se introduza
onde eu queria chegar

as mentes mais molestadas
as almas mais desandadas
corpos a procrastinar
tudo isso é meu alvo
aí que preciso ir
onde eu queria chegar

não sei se vai ser salvo
mas preciso tentar

daí eu tento algo
e alguma coisa será

camatim sobre a flor

e o tempo passa
acho que nisso ninguém mentiu
mas digo mais uma vez
com tempo a dizer
vadio

o tempo que forma
ao lado de seus olhos
os chamados pés de galinha
você sem perceber
a percepção é minha

e já não sinto aquele medo
do camatim sobre a flor
do camarim sem pudor
do óleo da fritadeira
dos olhos dela
em plena segunda-feira

sinto medo
de não me ferroar o dedo
de não queimar o indicador
de sumir assim meu desejo
e não viver outro amor

trevas e trevos

bebo um chá de ervas
para espantar as trevas
do quanto me enerva o sentimento
rezo ao trevo da benevolência
a resistência como solicitação
que seja de menor pesar
e mais leveza
a passagem dessa existência

quantas eras
para descobrir uma erva?
salvadora, manjedoura
de beira de estrada

quanto tempo
era um nada e agora é tudo
e o sentimento que me enerva
se entrega e se desfaz
sinto uma pontada de paz
que claramente não é regra

não me iludo
logo logo
soturno
outro sentimento perverso
vem a mim
e o alugo

ironic de alanis morissette

e quando penso:
agora minha mão não pode suar
e ela faz jorrar cachoeiras
e quando penso:
agora não posso enrubescer
e vira-se o próprio pimentão de feira

e penso:
agora não posso desistir
e pesam-me âncoras em cada perna
e ainda penso:
para quê seguir?
e abrem-se horizontes inacabáveis
nessa selva

eletrodos eternos deles todos

me admira ler os poetas e escritores exilados em suas juventudes de liceu questionadores muitas vezes ateus inúteis nas matérias e atividades terrenas lhes resta apenas a missão serena de (d)escrever a eternidade aos netos dos filhos seus

eletrodos eternos deles todos
por suas passagens e incômodos
suas viagens ao antigo e moderno
cada qual a seu modo
o agradecimento do meu
jeito sem jeito sujeito
a alter-ações do alter-ego

amante mais duradoura

minha amante mais duradoura foi a morte
do início ela me ligava
eu achava ser trote
me liguei a ela
foi mais forte do que eu
é bela
saio com ela várias sextas
travessa, espessa e densa
imensa agência de nosso contrato
com tato em jogo de paciência
me afogo em sua residência
ao todo é tudo reticências

boitempo

boitempo de carlos drummond de andrade
do tempo que essa cidade
andava era de boi
um tempo bastante antes
e hoje é bem depois
não tinha bad nem good trip
não tinha good e nem bad boy
o sofrimento do boitempo
era todo em português
em brasileiro tão brasileiro
mais do que eu e que vocês

17 de abril de 2019

camadas de cinza

fui o mais otimista que pude
no mais pessimista que mostrei
impossível hoje que eu mude
e amanhã sigo o que ser ousei

perdemos outra e tantas outras perderemos
isso eu aceitei e espero que aceitemos
o fracasso que nos molda
nos solda essas condições
nessa figura torta
que divide opiniões

uns fingem que não e sorriem tortos
o amarelo mais amarelo dos amarelos
um amarelo que eu até queria ter
mas não consigo
acinzentei por cima de meu ser

retrato da derrota

de que vale a persistência
entre tantas penitências
de que vale a insistência
contra toda lógica e ciência

nessa imensa cilada
ao final que vale nada
nessa imensa enrascada
que nada vale cada cada

não entendi o propósito
desse sistema ilógico
mas segui insólito
a contar os reveses cronológicos

um, dois, três, quatro, mil
do primeiro passo ao senil
do que antes era mato
ao que se aduba ao meu corpo frio

16 de abril de 2019

café

tomei um mísero gole de café
minha língua ficou áspera
a esperar um líquido mais frio
ó, aquecimento para o inverno
e estamos recém no mês de abril

15 de abril de 2019

alien de andrade

ouvindo black alien lendo carlos drummond deste a poesia e do outro aquele som palavra que me contempla templo pra oração frase que se sustenta e fixa nesse chão ideia que sobrevoa percorre uma imensidão aterrissa outra cabeça vou antes da terça no voo que é essa missão

caminhada do dia na cidade

Quando anotei o tópico para escrever textos com os assuntos que fui lembrando e descobrindo e refletindo durante esta segunda de sobrenome feira, não pude deixar de mencionar a caminhada do dia na cidade. Como raramente ocorre, depositei o título do texto como as moedas de um parquímetro antes de voltar-me a produzir o conteúdo dessas linhas. Pois bem, sanada a dívida com a necessidade de preencher a chamada master, vamos aos acontecimentos e alguns desdobramentos.

Neste semestre, as segundas-feiras de compromissos têm sido encerradas antes dos demais dias. Assisto os primeiros dois períodos da tarde e estou liberado a voltar para casa. O campus fica a dois trajetos de ônibus de distância. Aproveito o recurso do tempo disponível para percorrer o primeiro desses trajetos no transporte público de apoio da Universidade e depois regresso para o meu bairro caminhando pelo Centro da cidade.

Geralmente não tenho companhia previamente conhecida para essa pequena viagem. Deixo os fones de ouvido no bolso e conecto-os ao celular no momento oportuno. Os óculos escuros também servem, mesmo a dias nublados como este, para reterem-me numa espécie de bolha de isolamento temporário. Minha próxima comunicação da fila do transporte é quando subo os degraus do ônibus e com um rápido gesto, demonstro minha carteira estudantil em que apareço com uma barba esquisita e a camisa do Liverpool na imagem, o motorista assente que está tudo ok e estou apto a embarcar, em busca de um lugar à janela para mirar as paisagens enquanto tocam as primeiras músicas no modo aleatório.

Observo o bairro Porto, suas praças mal cuidadas, seus estudante distribuídos, aglomerados ao redor dos demais campi ou caminhando nos trechos de ida ou volta da universidade. Mochilas, bolsas, ecobags, tatuagens, piercings, cabelos crespos, lisos, pintados, bonés, tênis, chinelos, vestidos, calças, bermudas, camisas de banda, camisas políticas, camisas de personagens de desenho, celulares, salgadinhos, garrafas de água. Conversas sobre as aulas passadas ou sobre as que virão. Uma ou outra recordação quando algum bebeu demais, lembranças da terra natal daqueles oriundos de outros estados ou outras cidades gaúchas, impressões que a cidade os causa, surpreendidos pela violência, comentando alguma pichação, aprendendo uma nova gíria ou algum hábito que lhes era desconhecido antes de vir a explorar essa nova região para seus sistemas nervosos centrais.

Desço em frente à igreja na rua mantida em calçamento de paralelepípedo com pedras grandes e algumas afundadas acentuando buracos motivacionais a reclamações de motoristas. Aquele panorama plural em que os estudantes acima descritos deparam-se a esperar o transporte público defronte a uma instituição cristã.

Sigo meus passos, passo pela praça, que por ora liberou alguns dos bancos antes cercados por arames enquanto a vegetação é trocada como se fosse um carpete. Outros bancos seguem interditados, impossibilitando estudantes, trabalhadores de intervalo, desempregados, aposentados, moradores, homens, mulheres ou cães de rua de os utilizarem. Em volta desses bancos, os bancos ativos de sistema monetário com fluxo diário de caixa em entradas e saídas seguem intactos, a superar crises nacionais, internacionais e continuam seu processo de lucro cada vez mais viabilizado.

Ainda caminho pela 15 de Novembro pelo meio da rua, nos trechos em que poucos carros vêm em minha direção. Acredito que um dos sebos/livrarias mudou um pouco de visual e muito de nome, assim possivelmente tendo cambiado de administrador. Outro sebo que me interesso atualmente me existe, por enquanto, somente pela rede social instagram. Lá são ofertados volumes o tanto quanto interessantes, de Clube da Luta a Hermann Hesse, de Nietzsche ao polonês Bauman.

O parque que se gruda à via lateral de uma das principais avenidas da cidade está tomado por pessoas que se distribuem nos gramados como única atividade para aquele horário. Sinto a ausência de higiene de um mesmo passos distante dele. Cuido-o se não vai avançar em busca do aparelho em que conecto meus fones ou meus óculos escuros. Ele segue imóvel. Estava em absoluto repouso. Olho ao redor e, mais para o fundo, para o centro do parque, é fácil visualizar que ele não é o único nessa condição.

Numa noite dessas, observei um que eu identificava dessa forma como receptor de um colete alaranjado e fluorescente para ajudar a guiar estacionamento e cuidado com os carros, ou a popular profissão de flanelinha. Vê-lo assim surpreendeu-me.

Meu excesso de sinceridade contida e agora aplicada me faz confessar que o fato que me fez descobrir haver conteúdo o suficiente para esta explanação foi cruzar por uma ciclista que cobriu melhor seus seios durante sua manobra para dentro da ciclofaixa da rua em que caminhei. Sendo esta irrelevância um marco da travessia rumo à zona leste da cidade. O tempo essencialmente nublado fez minha caminhada seguir pelo rumo mais próximo ao de casa, não inventando rotas alternativas para melhor aproveitar a experimentação do andar a esmo e de ouvir as músicas conhecidas, mas de desconhecida ordem seletora do dispositivo móvel.

Como de costume, cheguei com a garganta seca implorando um refresco e preparando-me para o trocar de calçados por chinelos e do jeans por calça de moletom. Após o dinamismo e a aventura de previsibilidades e imprevisibilidades das ruas, momentos de descanso em frente ao desktop.

Pelotas, 15 de abril de 2019

num churrasco qualquer

Na infância, eu não tinha ideia. O assunto era muito mais complexo do que eu poderia supor nas oportunidades. Acontecia seguidamente em aniversários, mas também em alguns churrascos programados e datas comemorativas do tipo Páscoa e Natal. Os encontros familiares e suas características próprias, reproduções de uma sociedade limitada e preconceituosa. Acontecia um processo que orgulharia a atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Mulheres para um lado e homens para o outro, a debater em conversas de temas especificados.

Como ocorre em várias ocasiões de minha existência, eu percebia um certo grau de deslocamento ao me juntar com os homens, sobretudo os mais velhos, da geração de meus primos ou os ainda mais antigos, da geração de meu pai e meu tio. Não raramente ainda uma geração contemporânea a meu avô, que, divorciado de minha avó, não frequentava os encontros, mas aqui serve como referência de idade. Pois então, os homens ficavam em volta do fogo para assar as carnes e dar palpites sobre. Debruçados sobre jornais ultrapassados, que ali serviam apenas para forrar móveis e ajudar a formar as labaredas.

Os tópicos giram ao redor de futebol (deliberadamente o que mais me sinto à vontade), carros e fofocas - apesar de convencionarem, e de forma explícita muitas vezes, que fofocas seriam especialidade e prioridade da outra roda de conversa, a feminina. Falácia pura. O que se torna mais contraditório é o fato de mencionarem abertamente isso enquanto eles próprios deliberam e transcorrem sobre vidas alheias.

O machismo não tarda por vir nos papos. Ele ataca várias figuras, inclusive aos próprios homens que menos sabem de futebol ou carros, ou que não compactuam com a aritmética para tratar mulheres. O machismo minimiza a importância do que ouvem ou supõem da outra conversa. O machismo canta de galo que na outra formação de diálogos a limitação de conteúdo é sobre consideradas 'irrelevâncias', como se o juízo de valor estivesse destinado aos homens decidir.

Nas minhas experienciadas situações, acontece que quando cruzo a fronteira para o outro lado, o que a ministra condicionaria como o 'cor de rosa' da questão, os assuntos infelizmente não fugiam de uma previsibilidade que vocês possam imaginar. Comida, roupas, sapatos e também camadas de vida alheia depositadas de uma para outra em palavras. Importante ressaltar que a fofoca era um elemento comum a ambos os gêneros.

Quem ousasse trocar de país para o outro lado da aduana poderia sofrer com alguma anedota de mau gosto. Sobretudo acontecia quando um homem ia ao papo feminino. O contrário, porém, trazia uma outra consequência. O de homens não saberem lidar ou nem ao menos respeitar uma mulher nessa 'intromissão' em suas conversas. Adicione aí efeitos de alguns alcoolismos. Adicione aí alguns defensores do tradicionalismo gaúcho em ação. Tenha aí a certeza de que o machismo e a homofobia seriam tão naturalizados quanto o tempero da carne que ia ao fogo.

Importante combater essa diferenciação, essa estratificação, essa segregação quase que institucionalizada. Coloco aqui a abertura de parênteses sobre a questão e minha dúvida se o passar de geração, digamos que da geração de meus primos para a minha, na condição de mais novo, se houve realmente uma melhora, uma maior noção, um combate a esses machismos e homofobias. Antes eram ainda mais corriqueiros e menos refletidos? Houve uma melhora ou foram somente meus ambientes de convívio que mudaram? Vez por outra ainda nos deparamos com as situações por mim descritas acima? A abordagem midiática maior ajudou efetivamente nesse combate, ou muitas pessoas persistem em considerar isso como um papo irrelevante, enquanto consideram relevantes a disseminação e exposição de fofocas? Pensarei nisso na próxima tábua de churrasco, salada de maionese ou pão de alho num domingo qualquer.

querem

tanta coisa pede prosa
e eu aqui querendo inverso
querem mulher de rosa
e deturpar ordem-progresso
querem passar a tosa
nas ideias em processo
querem arquivar aquele
caso que me interesso
querem eleger aquele
idiota todo possesso
querem que eu faça prosa
mando mais alguns versos
querem 3ª do plural
e na 1ª eu arremesso

ame versários

vacilo que cometi
não lembrar seu aniversário
nesta rede social
que foi ponto de partida
e talvez seja o final

agora parado aqui
pensando se mando algo
pra me redimir, afinal
com o saldo atrasado
mas a intenção enorme igual

vacilo que percebi
somente passada a meia-noite
no relógio digital
açoite como um azeite
que cobre meu corpo criminal

crime e castigo
ter esquecido
o seu dia do ciclo anual
para tantos nenhum encanto
para ti sem outro igual

perdoa-me o esquecimento
que eu tento processar
inflamando algum talento
nessa arte de desculpar-me
que produzo em tal lamento
implorando aceitares
como um bom ar em lançamento
por cima de meu cadáver
cadáver de esquecimento
aos vermes de minha carne

esqueci teu aniversário
neste meio de abril
nem tão quente, nem tão frio
mangas curtas e casacos
a dividir o armário
entre suor e arrepios
no corpo dos proletários
e o patrão isso não viu
sob o ar condicionado

mas que pena o olvido
essa cena tão hostil
dos barcos enfim partidos
de um porto tão férril
dos metais que estalam
na estalagem que dormiu
daquele ali sonhando
por outro alguém que partiu

9 de abril de 2019

não somos

te vi
nos braços de quem não deveria
sequer te ver
ou isso é só o que eu pensaria
pois é

perdoa
minha cabeça confusa
apanhou sol em demasia
mentira!
pensaria o mesmo na madrugada
por nada
nesse mundo cambiaria essa ideia
talvez errada
mas toda minha

desculpa
é que eu esperava
o que ninguém me prometia
sozinha
minha ideia era isolada
como uma ilha
filha de outra ideia errada
é, mas filha minha


sozinha
era como te via
sem saber que viria
viria, claro que viria o dia
que te veria
nos braços de quem não deveria
sequer te ver

ou isso é só
eu discutindo
com minha companhia
debatendo e destruindo
a própria teoria

pois é
não somos

6 de abril de 2019

a martha

escreve bonito martha medeiros cada carta um lanceiro que avança suas linhas de batalha ou mensageiro oferecendo companhia pequeninha ou exagero em poemas ordinários de ordinal sempre primeiro

forçação de barra

mas quanta forçação de barra
pra um atacante
pra uma guitarra
pra um político
duas caras

mas quanta forçação de barra
pras penas do pavão
pro canto da arara
pra um bicho típico
que me encara

mas quanta forçação de barra
pra um filme clichê
roteiro repetido
história de eu-você
a entreter
estados unidos

mas quando a formação é cara
e tu quem estipula o preço
olha bem
dentro e para
e me diga o que mereço