O time é ruim e faz jus a todas as comparações com um péssimo ônibus. Não tem volante, o banco é ruim, não apresenta velocidade e o próximo passo já sabemos: vai ser um ônibus rebaixado. Mas embora a torcida consciente do Botafogo de Futebol e Regatas estenda a faixa "só Jesus salva", eles (alguns) continuam a ir aos jogos acreditando na saída da lama com o que acontece dentro de campo.
Os antecedentes são comuns a rebaixamentos anteriores de clubes grandes. A administração colocou o alvinegro carioca nessa, assim como o outro preto e branco do Rio, o Vasco, foi rodada a rodada de 2013 traçando seu caminho para disputar a B nacional de 2014. A trilha, a ladeira para o rebaixamento é árdua, angustiante e exige muito dos motores-corações dos hinchas. Os frios matemáticos e demais analisadores racionais já percebem a queda eminente. São 75, 80, 95% de chances. Vão somando do diagnóstico domingo-quarta-domingo.
O Z4, como é chamado, é a nuvem que nubla o fim de semana. Tira o gosto da balada ou do cinema de sábado. Tira o paladar da praia ou o do parque dominical. Faz a segunda-feira começar em ressaca, um sentimento amargo na boca e um certo constrangimento em trajar o uniforme aquele que já lhe deu orgulho. A maioria dos torcedores já passou por isso e conseguiu reagir. Mas a garantia de um futuro melhor sempre beira a incerteza. Afinal, na série B, por exemplo, são outros 19 clubes sedentos e em planejamento para conseguir um dos quatro lugares ao sol.
Mas o tema central, deixe-me dizer, é a amargura da reta final que antecede o desastre inevitável. O lado racional, como um repórter de veículo pequeno que não é escutado, ousa professar que o final do ano é triste e o rebaixamento, sim, ele vem. O lado emocional e apaixonado veste a camisa no domingo, paga o ingresso, o deixa no portão de entrada, passa a catraca, escala os degraus e espera para encarar o inferno com os próprios olhos, ao lado de outros pares. Entra em desespero, engole um pouco o choro. Depois chora. Soluça e vê a situação toda como um ente querido e muito enfermo. Enquanto isso, outros próximos jantam a brindadas por uma vaga na Copa Libertadores. Não é fácil, queridos.
Promete voltar e repetir os rituais e mandingas em busca da salvação do companheiro até a última e derradeira tentativa de reanima-lo. O veredito irreversível pode vir de um conformista ao seu lado nas tribunas. De um amigo que foi ao jogo junto e presenciou a tragédia também e digeriu o estrago primeiro. Pode ser pela rádio, com o comentarista ou narrador trazendo a notícia como um médico treinado a informar finais melancólicos.
A parte mais triste talvez seja os caixões fabricados pelos rivais da rivalidade secular. Eles são confeccionados e pintados com prazer com as cores de seu clube, em trabalho realizado pelos gozadores do drama. Apesar de ter de engolir mais essa, a funerária não recebe a ligação no fim trágico. Não a do torcedor que passa por isso. Porque não é O fim.
Ele vai, mais cedo ou mais tarde, levantar a cabeça. Comprar com alguma resistência o guia da série B no ano seguinte. Vai analisar a tabela. Rir de um ou outro nome exótico. No fundo, tremer um pouco ou um muito por todos os nomes, um de cada vez. Mas torcer a cada batalha. Vai repetir os hábitos e vai para la vuelta por riba otra vez.
E que ninguém desmereça a dignidade de cair chutado, escoriado pela incompetência alheia e lamber as feridas com um retorno triunfante.