30 de novembro de 2014

Inquieto

O amor que eu não te mando
Não tá quieto, tá queimando
Quando some a luz do dia
O amor que eu não te mando
De quando em quando
Aparece em poesia

 
 

Eu sou eu e não o que os outros são

Um pé para cada lado. Quase sempre pronto para firmar um de apoio e chutar o pau da barraca com o outro. Nem recebo tudo de mãos beijadas, o tudo necessário para competir em alto e bom tom no mundo selvagem outside. Também reconheço todo o apoio que recebo e a pouca necessidade de lutar no cotidiano, dadas as circunstâncias até o momento. Um mau costume, eu caracterizaria.
 
Nem ostento e nem me coloco - completamente - contra a coisa toda. Pacifista demais para pichar qualquer religião. Pacifista até para negar um panfleto às vezes. Às vezes nego, mas sempre mais triste do que quem tá entregando, que até deve estar acostumado... Será? Droga, vou ficar triste pela tristeza dele.
 
Não me agrada aqueles bonés da moda. Nunca me senti à vontade e eles sempre me serviram (os bonés) para proteção solar. Estética seria consequência. Cresci ouvindo que barba não era legal. Depois disseram que barba era legal. Praticamente não tenho, assim como quase não tenho preocupação nesse aspecto com a opinião alheia.

Jogo do jeito que sei e do jeito que consigo. Me importo, sim, de agradar. Bah, cuidado! Me importo mais ainda de tentar não desagradar. O resultado muitas vezes é que não ajudo nem atrapalho. A corda bamba é arriscar e carpar o diem, mas segurando o pássaro na mão pra não perder dois. São só ditados e não verdades absolutas. Às vezes parece que cabe um, às vezes parece que se encaixa mais o outro. Eterna dúvida do que virá depois.
 
A tal colocação "eu sou eu e minha circunstância" ruge com potência. A circunstância me cerca. Pensamento demais antes de uma decisão. O mundo não para, cara, faz algo! Fazer o quê? Fazer o que depois para consertar? Fazer o que, agora, para não ter que consertar depois? Às vezes, o peso da prudência são folhas e mais folhas de relatórios arremessados a grosso modo para cima. - Dane-se! - Depois os catamos, possivelmente com dificuldade para reorganizar a pilha toda de consequências.
 
O texto inicial não era pra ser bem esse, mas não vou voltar atrás. Dane-se a prudência das linhas se encaixarem numa grande coerência. A vida é incoerente aí fora, não é?! Resmungos. Depois organizo melhor as ideias em outro texto, em outra hora, neste mesmo canal.

16 de novembro de 2014

Personagens frequentes em viagens de ônibus

- o inquieto que mexe em todos os mecanismos possíveis de ar condicionado, luz, poltrona, cortina e mais nas trocentas coisas da bagagem.
- o corneteiro. Fala mal da empresa de ônibus, da empresa onde trabalha, do tempo e das cidades em que passa.
- a mãe jovem que tem trabalho para conter a criança pequena diante do micro parque de diversões.
- o casal que debate os problemas com a casa e filhos para todos ouvirem durante o traje
to.
- o tiozão que chega no segundo ronco antes de tu acertar a posição da poltrona.

- a tia sedenta por companhia, que puxa papo com seus assuntos familiares e que telefona alguma vezes para os parentes em busca de mais novidades e pedindo para a esperarem na rodoviária.

12 de novembro de 2014

Não Ceda à Queda



O time é ruim e faz jus a todas as comparações com um péssimo ônibus. Não tem volante, o banco é ruim, não apresenta velocidade e o próximo passo já sabemos: vai ser um ônibus rebaixado. Mas embora a torcida consciente do Botafogo de Futebol e Regatas estenda a faixa "só Jesus salva", eles (alguns) continuam a ir aos jogos acreditando na saída da lama com o que acontece dentro de campo.
 
Os antecedentes são comuns a rebaixamentos anteriores de clubes grandes. A administração colocou o alvinegro carioca nessa, assim como o outro preto e branco do Rio, o Vasco, foi rodada a rodada de 2013 traçando seu caminho para disputar a B nacional de 2014. A trilha, a ladeira para o rebaixamento é árdua, angustiante e exige muito dos motores-corações dos hinchas. Os frios matemáticos e demais analisadores racionais já percebem a queda eminente. São 75, 80, 95% de chances. Vão somando do diagnóstico domingo-quarta-domingo.

O Z4, como é chamado, é a nuvem que nubla o fim de semana. Tira o gosto da balada ou do cinema de sábado. Tira o paladar da praia ou o do parque dominical. Faz a segunda-feira começar em ressaca, um sentimento amargo na boca e um certo constrangimento em trajar o uniforme aquele que já lhe deu orgulho. A maioria dos torcedores já passou por isso e conseguiu reagir. Mas a garantia de um futuro melhor sempre beira a incerteza. Afinal, na série B, por exemplo, são outros 19 clubes sedentos e em planejamento para conseguir um dos quatro lugares ao sol.


Mas o tema central, deixe-me dizer, é a amargura da reta final que antecede o desastre inevitável. O lado racional, como um repórter de veículo pequeno que não é escutado, ousa professar que o final do ano é triste e o rebaixamento, sim, ele vem. O lado emocional e apaixonado veste a camisa no domingo, paga o ingresso, o deixa no portão de entrada, passa a catraca, escala os degraus e espera para encarar o inferno com os próprios olhos, ao lado de outros pares. Entra em desespero, engole um pouco o choro. Depois chora. Soluça e vê a situação toda como um ente querido e muito enfermo. Enquanto isso, outros próximos jantam a brindadas por uma vaga na Copa Libertadores. Não é fácil, queridos.

Promete voltar e repetir os rituais e mandingas em busca da salvação do companheiro até a última e derradeira tentativa de reanima-lo. O veredito irreversível pode vir de um conformista ao seu lado nas tribunas. De um amigo que foi ao jogo junto e presenciou a tragédia também e digeriu o estrago primeiro. Pode ser pela rádio, com o comentarista ou narrador trazendo a notícia como um médico treinado a informar finais melancólicos.

A parte mais triste talvez seja os caixões fabricados pelos rivais da rivalidade secular. Eles são confeccionados e pintados com prazer com as cores de seu clube, em trabalho realizado pelos gozadores do drama. Apesar de ter de engolir mais essa, a funerária não recebe a ligação no fim trágico. Não a do torcedor que passa por isso. Porque não é O fim.

Ele vai, mais cedo ou mais tarde, levantar a cabeça. Comprar com alguma resistência o guia da série B no ano seguinte. Vai analisar a tabela. Rir de um ou outro nome exótico. No fundo, tremer um pouco ou um muito por todos os nomes, um de cada vez. Mas torcer a cada batalha. Vai repetir os hábitos e vai para la vuelta por riba otra vez.

E que ninguém desmereça a dignidade de cair chutado, escoriado pela incompetência alheia e lamber as feridas com um retorno triunfante.


 

4 de novembro de 2014

Hermena - Texto de Verões Passados

Começo o texto questionando quem seria o tal sujeito com o nome que batizou o balneário mais meridional do Brasil. O nome é de origem teutônica e significa “aquele que se sacrifica aos deuses”. Mas não é bem o que eu queria saber.

Bom, após os últimos veraneios, tenho me dado ao luxo de estreitar nossas relações e chamá-lo simplesmente de Hermena. Além de mais afetuosa, a redução do nome da praia de Santa Vitória do Palmar facilita as rimas: Hermena, pequena, morena, tranquilidade plena, sem problema, belas cenas, que pena... que pena ter de deixá-lo.

E digo que o velho Hermenegildo, ou Hermena, é um sujeito bastante simpático, acolhedor e simples. Seus moradores, em ampla maioria, são do próprio município de Santa Vitória, sendo conhecidos uns dos outros, esbanjando a característica simpática do interior gaúcho, somada ao cenário de praia em uma ótima combinação. Não é difícil estender papo com o entregador de água ou com a farmacêutica, como pude observar.

Eles também não demonstram tanta vaidade, assim como é notável no povo uruguaio, distante territorialmente somente por alguns quilômetros, e talvez sendo o povo que mais invade o balneário no verão, a julgar pelas placas de carro, sotaques e camisas da celeste olímpica a desfilar nos arredores.

A distância do Hermena em relação à região metropolitana e a outras grandes cidades contribui para que não haja muitos turistas. Juntam-se às características da praia: o preço acessível das refeições e estadias, as areias limpas e as áreas de banho e pesca sendo diariamente respeitadas. A lei que proíbe e recolhe cães soltos na praia funcionava melhor há 2 anos atrás, mas continua evitando uma proliferação demasiada e preocupante, como ocorre em Pelotas, por exemplo.

Não é segredo que os cuidados pelos bens coletivos no Uruguai é imensamente superior aos cuidados do povo brasileiro. Pois é, a aproximação com esses hermanos pode ser extremamente vantajosa nesses quesitos listados acima. Tirando os arredores da entrada, onde há o clube e a praça principal, as demais ruas são extremamente tranquilas e, por toda a praia, pode-se andar de madrugada sem qualquer receio da violência, tão presente em outros balneários.

A praça principal recebe eventos nos fins de semana, como por exemplo, tratando-se do último fds, as músicas do sujeito que abriu os shows do Maná no Brasil e o concurso Musa do Verão, em que a música do Felipe Dylon com o nome do concurso foi insistentemente tocada durante todos os desfiles de todas as candidatas. As programações também são constantes no clube, com partidas de futebol de areia e festas para todos os públicos, a qual me agradei bastante na que fui. Sem falar que tudo é extremamente perto, permitindo que os trajetos para almoçar ou descer para orla da praia sejam feitos a pé, inclusive para idosos.

Pois é, está feita a propaganda da praia mais ao sul do Brasil, aquela que une terras, águas e sotaques brasileiros e uruguaios, que une lazer e tranquilidade por ótimos preços. Hermena.

2 de novembro de 2014

O imbatível trem alviazul

Gilmar foi o cara na Boca do Lobo.

Jogo de ida da semifinal da Copa Ivânio Branco de Araújo, a Sul-Fronteira. A Boca do Lobo em Pelotas como casa ao mandante São Paulo, da cidade ao lado, Rio Grande. Quem viajou mais para ocupar o cargo de visitante é o Lajeadense, o trem azul do segundo semestre.

Sem o estádio Aldo Dapuzzo, a missão do Leão da linha do parque era ainda mais difícil. Sem desistir, a Mancha Rubro-Verde esteve presente com suas faixas e o repertório completo das torcidas organizadas. Instalada devidamente na arquibancada da avenida Bento Gonçalves, apoiou firmemente nos primeiros instantes.

Com a esfera de couro rolando, não demorou para o indigesto convidado aprontar, como tem sido costume. Aos 7 minutos, cruzamento da esquerda de Goiano, o goleiro Diego não achou e Gilmar completou para os barbantes. 1 a 0 para o Lajeadense. Momento triste na jogada foi a queda do goleirão do São Paulo, que acabou encaminhado ao hospital com uma lesão no ombro. Ambulância afuera do estádio e resolvemos deixar o campo também e escalar os degraus da Boca do Lobo, para fugir da possível chuva. Chuva que enganou e não quis aparecer na tarde nublada.

Com o retorno da essencial peça de segurança do espetáculo, retorno também ao jogo, com o São Paulo com seu goleiro reserva, Vagner. O gol de empate do Leão veio somente no fim da etapa inicial. Em cruzamento para área, Guilherme foi derrubado ESCANDALOSAMENTE. O juizão atendeu. Tiago Rodrigues cobrou firme e igualou a peleia: 1 a 1. E foi só antes do tio apitar pela primeira metade concluída.

Com o segundo tempo em recomeço, o São Paulo tentou investir mais, porém deixando espaços à cruel dupla de ataque. Gilmar e Paulo Josué, de entrosamento até como combinação sertaneja. E aos 12 minutos nasceu mais um apronto dos avançados de Luiz Carlos Winck. Após escanteio, Paulo Josué cabeceou para frente, correu para completar o drible no marcador e chutou rasteiro, escolhendo o canto. Bucha! 2 a 1 para o Lajeadense e comemoração em conjunto com os reservas que aqueciam próximo à pintura.

Ao São Paulo, o prejuízo era gigantesco com os gols sofridos "em casa". Vagner ainda salvava o possível e até em algumas causas que pareciam impossíveis. Na frente, partida pouco inspirada de Dudu Mandai, o homem da classificação e procurador ainda em vão do talismã Suárez, o cão que o mordeu no último jogo. Sem mordida e sem grandes mudanças na busca pelo empate parte 2.

E na administração do placar, o Lajeadense aproveitou o fim de semana dos mortos para mais um sepultamento. Um brinde ao bom futebol dos laterais de um time treinado por um brilhante ex-jogador da posição. Agora foi da direita. Thiago Machado colocou no centro, o zagueiro do São Paulo foi traído pelo quique da bola e deixou-a sobrar nos pés de quem sabe o que faz. Gilmar ajeitou e chutou entre as pernas do goleiro Vagner para selar o placar. 3 a 1 para o Lajeadense.