A vida é feita de ligações. Mais um texto
iniciado sem segredos. Ligações pi e sigma, iônicas e covalentes, simples,
duplas e triplas. Lógico que o assunto a seguir não é sobre química. Já parou
para pensar nos tipos de ligações existentes nessa passagem chamada vida?
Existem aquelas ligações rápidas, metálicas,
tipo exame médico do exército. “Como foi a viagem? Tá tudo bem? O que achou da
cidade? Legal. Outra hora falamos. Beijabraço.” Existem aquelas ligações
preocupadas, comuns mesmo dos pais aos filhos. “Está se alimentando bem? O que
está vestindo? Não vai passar frio. Tem tomado cuidado ao sair?”
Alguns números só teclam o seu no dia do seu
aniversário, quando acertam a data do ano em que viesse ao mundo. Aquele
habitual “meus parabéns”, acompanhado de variações do que o emissor considera e
deseja como tudo de bom. Existem ligações que soam naturalmente, sem
formalidades, começam sem identificação, apresentam uma troca humorística de
ofensas e geralmente geram gargalhadas entre os dois personagens do diálogo.
Ligações a cobrar, com raras exceções, são um
porre. Iniciam com aquela demora burocrática, nos dizeres de uma voz robótica.
Terminam com o alívio da conversa não ter se estendido e prejudicado mais o
bolso, ainda mais quando é interurbana. Antes dos e-mails, confirmação de
emprego podia ser pelo telefone. Ânsia e angústia no aguardo da empresa.
Apreensão também para quem aguarda notícias de acidentes e acidentados, quando
o break news da TV não manda ao ar as respostas das indomáveis perguntas.
Há dias em que esperamos grudados ao telefone e
ele não toca. A gente não se toca de que ele não vai tocar. Não vai rolar
aquele passeio, o cinema fica para outra sessão e perdesse o prato do dia no
restaurante. O telefone nos deixa mais confortáveis do que a oratória ao vivo,
e frente a frente, quando se trata de timidez ou vergonha. Os chats pela
internet e os SMS garantiram uma distância e uma segurança maior ao que é
pensado e não mais falado, mas escrito. Digo teclado, digitado.
Por essa vida de ligações, forma-se uma teia que
serpenteia para nos levar onde nos levou. Muitas ligações ainda virão enquanto
andamos na rua, aguardamos alguém em algum lugar, ou mesmo no telefone do
serviço. “Serviço de atendimento ao cliente chato, bom dia. Em que posso
ajudar?” É, a gentileza ou a falta dela no cliente vai mudar seu dia. Vai mudar
sua teia de ligações. Não ateia fogo na teia. Não ateia fogo na aldeia.