30 de dezembro de 2015

25 de dezembro de 2015

Vozes do Natal

Escrevo ao som das vozes da cozinha nessa véspera de Natal. São os parentes da mesma cidade que já costumam se reunir em outras datas. Participo da comunhão da comida, de algumas trocas de assuntos e piadas, sempre que consigo e possível.

A companhia das distantes vozes mentais que acompanham virtualmente tem aumentado nos últimos natais. Alguns se mostram ranzinzas e enxergam a data em total negatividade. Há aqueles que quebram alguns costumes morais impostos nas últimas décadas.

Há os que reciclam e se esforçam nas piadas relativas a sobremesas ou sobre o surgimento de indagações acerca dos relacionamentos amorosos. A união familiar, todavia, é analisada sobretudo nesta data. As famílias podem se juntar em outras datas, porventura em algum feriado específico ou, como é mais comum, nas datas dos aniversários dos membros. Para os internautas entrarem num consenso sobre este ajuntamento, nada melhor do que a comemoração conjunta do que antes era encarado como sinônimo de cumpleaños de Jesus Cristo.

A data capitalista também é evidente. Trocas de presentes, construções gastronômicas típicas apenas do dia ou poucas vezes vistas ao longo do ano são demonstrações do poder econômico das festas de fim de ano.

Entretanto, o significado da data parece cada vez mais ligado à análise familiar. Nesta edição, por exemplo, percebo escancarada a condição de que minha família não apresenta renovações faz tempo. Sou o mais jovem e já me encontro às vésperas de encerrar a primeira graduação na Universidade. As crianças, quando pintam em casa nos fins de ano, são os cachorros dos primos.

Outras famílias são distanciadas justamente pela internet, o individualismo e a exclusão caracterizadas dos dias atuais. Reúnem-se, quem sabe, somente em prol da refeição, da janta de 24 ou do almoço de 25 e logo já se distanciam novamente. Voltam ao ponto de origem, como se movidas por uma espécie de energia potencial elástica.

Percebo, também aproveitando a data natalina como objeto de estudo, que a duração do encontro familiar, em tempo, tem decaído a cada edição da data. O pessoal chega de visita mais tarde e põe-se a voltar para casa mais cedo. Falta, como digo, as renovações. São encontros e motivações já saturadas das festividades anteriores.

Outro ponto de discussão do fim de ano são os foguetes. São criticados por prejudicarem (E REALMENTE PREJUDICAM) a audição, e a saúde em geral, de animais de estimação. Mesmo assim, permanecem em evidência alongando-se como trilha sonora desde a tarde até os horários que ultrapassam a meia-noite. Me soaria estranho o passar de um 24 ou 31 de dezembro com o silêncio quebrado apenas pelo encontro de fofocas, assuntos televisivos e o brindar das taças. Torçamos para exclusão dos fogos entrar em normalidade daqui a temporadas? Creio que sim.

Torçamos também por mais gestos de solidariedade. Eles têm aparecido. Motivados a serem correntes por redes sociais. Campanhas de fim de ano. Lembrar sempre do jovem ao idoso, dos que não têm lar aos que precisam de melhoras nos seus. Vale-se disso o Natal e não do repartir da ceia entre os que já muito têm. Pensai nos menos favorecidos e nos modos de como podemos favorecê-los. E compartilhar, compartilhar as mensagens por mais tempo, para sermos as pessoas de dezembro em mais períodos, o máximo possível durante o ano.

Por bons momentos às nossas famílias, sejam elas quais forem. Dos laços sanguíneos aos estabelecidos nas mais diversas esferas.

Jair Filósofo

20 de dezembro de 2015

A necessidade do antagonista

O futebol-arte traz a admiração dos aficionados. É bonito o carregamento da bola de pé em pé, de um lado ao outro. Com passes precisos, dribles e, de preferência, com o elemento surpresa ou de improviso também na finalização, a vencer o arqueiro adversário. Assim é a síntese da história de um futebol bonito, encantador, a versão preferida da maioria. Porém, para caracterizar uma disputa, é necessária a versão do antagonista.

No futebol a nível mundial, a evolução da prática resultou em algumas peculiaridades comuns ao estilo de alguns países. O primeiro parágrafo descreve um jogo de gosto tipicamente brasileiro, da ginga, do malabarismo com a bola enfeitiçada. Na Alemanha, o futebol técnico e coletivo, a divisão de responsabilidades. Na Itália, é firme a marcação e alguns dos principais italianos na história da modalidade são exatamente os defensores. Recentemente, zagueiros como Nesta e Cannavaro, além do goleiro Buffon.

Na América do Sul, a força do antagonismo ao futebol-arte é grande. Pode haver argentinos e uruguaios de extrema habilidade técnica para desfazer o nó das defensivas, mas grande parte dos meninos que crescem nos bairros de Buenos Aires e Montevidéu, prima por um estilo de jogo considerado feio pelos demais. A marcação mais firme, a chegada mais forte, a catimba. Tudo isso faz parte. São os antagonistas, como não foi diferente na versão da final entre Barcelona e River Plate. Embora o Barça carregasse um ataque latino-americano, com um uruguaio e um argentino, o platenses do River possuíam a dura e árdua missão de pará-los. Não foram páreo, apesar dos mais pesarosos esforços. Missão praticamente impossível.

Ao longo das gerações que brincam de chutar a bola para lá e para cá, é necessário que exista alguém que faça o trabalho sujo. Alguém tem de fazê-lo. Na Argentina e no Uruguai, assim como em períodos do Rio Grande do Sul, o trabalhador dessa seriedade, às vezes, é o mais reverenciado. É o volante cão de guarda, o zagueiro xerifão, o goleiro orientador.

Nos selecionados nacionais, Argentina e Uruguai conservam figuras como o argentino Mascherano ou o zagueiro Diego Godín. O primeiro, argentino, inclusive também campeão na esquadra do Barcelona, como cão de guarda, como segurador das pontas em muitos lances, precisando, como dizem, abrir a caixa de ferramentas quando necessário.

O próprio delantero uruguaio Luis Suarez conserva um pouco do antagonismo aos moralistas. Suarez não perde a chance de golpear e provocar adversários. Batalha, luta incessantemente, simula, gesticula, reclama e recicla no ramo das catimbas para não ser pego pelos olhares da arbitragem. É um grande ator, um antagonista muitas vezes e protagonista, artilheiro, em outras.

Suarez é a cara do Uruguai desfigurado pelo holofote do futebol europeu. Os maiores clubes do país, Peñarol e Nacional, não conquistam a Copa Libertadores para chegar ao Mundial desde a longínqua temporada de 1988. A seleção Celeste venceu as Copas do Mundo de 1930 e 1950, e dificilmente repetirá o feito, apesar de repousar como - ainda - a maior campeã de Copas América, principalmente pela gordura construída em outrora.

Suarez pode ser visto negativamente por alguns adversários, como digo, os moralistas. Eles aplaudiram à suspensão imposta a ele e a todo o Uruguai na Copa do Mundo de 2014. O selecionado celeste não conseguiu manter-se nas disputas após a sansão imposta como consequência da mordida. Apesar de criticarem o estilo de Luisito, ele é um nome ideal para jogar ao lado. Batalhador, gladiador das frentes. Joga por ele próprio, sempre com ampla vontade de balançar as redes, de construir, de contribuir. Sempre buscando o melhor a ele e, consequentemente, aos companheiros. De Barcelona ou de todo o Uruguai.

E que digam, aos que questionam algumas artimanhas feitas dentro de campo, que mal há nelas se são pela vitória maior de seu time e de seu povo? Às vezes, como é o futebol globalizado, que mal há nos investimentos latino-americanos de buscar vencer a todo custo, contra um futebol europeu que rouba talentos e se fortalece estruturalmente e financeiramente, em retroalimentação?

Há vários latino-americanos e africanos no futebol europeu, mas quase nenhum europeu no futebol da América do Sul ou da África. Isso explica muita coisa.

Por fim, destaco que a resistência da competitividade do futebol vem através da resistência dos que jogam com personalidade, com a velha gana de vencer custe o que custar. Dos que não se entregam, dos que fogem dos padrões em que a modalidade preferida no planeta insiste em se enfiar. Precisamos da oposição. Precisamos do antagonismo.


As torcidas também se esforçam para manter o sentimento alheio à padronização. O futebol moderno não é o caminho para muitos deles
(Foto: Ediane Oliveira)

18 de dezembro de 2015

Coletes e Culatras

Às vezes o mundo aí fora é o tiro à queima-roupa.
A internet é o colete à prova de balas.
Às vezes é o contrário.
Sei lá.


17 de dezembro de 2015

O Lado Bom das Filas

Muitas vezes, a fila é encarada como o pandemônio dos brasileiros. É o símbolo do burocrático, de um sistema ultrapassado, da demora, do roubo do tempo dos envolvidos na interminável sequência de pessoas dispostas ao mesmo objetivo.

As filas formam-se como a facilidade de encontrar cães de rua na maior parte dos municípios brasileiros. O desleixo da população no controle dos animaizinhos também é rapidamente criticado pelos mais indignados. Mas e a dificuldade de controlar as próprias pessoas, o que gera? Gera, entre outros descontroles, as filas.

Apesar das represálias às bichas (nome comumente usado para as filas em Portugal), há o positivo nelas. Dedico-me a defender a opinião com um olhar otimista e observador acerca da formação de filas.

Com meu hábito de constantemente manter-me quieto e com os olhos atentos ao redor, as filas são pratos cheios para as observações e análises. Pondero não serem análises com o objetivo de julgar e fechar os parênteses abertos em relação ao que observo, apenas exercitar o íntimo da imaginação. Ponho-me a pensar, sempre, em filas: quem são essas pessoas que estão à frente ou atrás nas filas?

As filas de banco ou lotéricas. Filas para quem quer sacar dinheiro. Filas para pagar contas. Quais contas? Qual o peso no bolso, o impacto da ação a seguir em cada pessoa? Qual o sofrimento por trás do ato de envolvimento  em gênero, número e grau financeiro? Quais seriam os reais objetivos, os sonhos de aplicação daquelas cifras naquela pessoa? E naquela outra? O que as mantém em comum, senão esta fila e o que as separam? De onde vem e para onde vão?

Nas filas para os jogos de futebol, seja para adquirir o bilhete de entrada, ou para adentrar passando por catracas e revistas. Ou, de repente, a fila do lanche ou da bebida no intervalo. Que tipo de torcedores são? Com que frequência visitam os templos, do que se alimentam para matar a fome não saciada com os lances no tapete verde? Serão mais otimistas ou pessimistas? Que glórias e que derrotas já presenciaram? O que as traz de volta ao estádio, com quem e por quê? Se assemelham nas cores das vestimentas e diferem-se nos hábitos, na fé, na reza, na concordância ou discordância da escalação do maldito lateral-direito. Torcedores brincando de treinadores como se fosse fácil comandar o andamento no interior das linhas tracejadas da área técnica.

As filas para musicais e concertos. Que tipo de fãs ali se manifestam? Como conheceram a banda? Há quanto tempo conhecem o artista? O que mais gostam nele e que músicas trarão a satisfação plena naquela noite? Escolheu a música tal como favorita pela letra ou pela melodia. Vão fardados como torcedores de futebol ou são mais discretos em trajes sociais. Quantas vezes já viram o artista e quantas vezes o artista já os viu?

As filas para identidade. Qual a identidade não descrita na carteira de identidade ou de transporte coletivo? Estão renovando ou perderam? Quem quer saber tudo isso? Quem quer saber que aquela pessoa à sua frente para embarcar no ônibus tem uma longa história de vida que a colocou, situacionalmente, à sua frente na hora de retomar o rumo de casa. Ou qual será o rumo? Uma visita, surpresa ou não, uma confraternização, uma visita de médico de uma simples paciente que nada pode fazer? Como observo o destino é traiçoeiro e julgamos pessoas em questão de segundos, piscares de olhos, sabendo absolutamente nada sobre elas e seus dias.

Sobre a fila dos pensamentos que entram e saem de nossa cabeça, contribuo com este espaço. Levando em consideração que as filas também podem nos trazer raiva dos desconhecidos por conta da impaciência de estar nela esperando. Mas se a pessoa está na mesma fila em que estás, por que sentir raiva dessa semelhança?

Até o próximo.

6 de dezembro de 2015

Trilogia do Diabo

A noite mistura os aromas Da cura ao cotidiano Rompe a armadura O copo gelado Ao lábio da amargura Mentolado Da hora que dura O nosso fardo

Pobre diabo Que procura Fraterno Aos endiabrados Pelas noites escuras Um canto Ao ouvido E ao corpo vencido Largado Para chamar de inferno

Se eu sou Se vós sois Ora pois, diabos Que tenhamos ao lado Um inferno dividido De encontro a dor De encanto ao calor Apaziguado

Foto: Gustavo Costa

4 de dezembro de 2015

Escoa História

Ecoa a história da Coroa
Da monarquia e do reinado
A história de outras pessoas
Dos mesmos países e outras raízes
Morre abatida como gado