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O primeiro treino
Tal como o uruguaio Mário Benedetti, no livro A Borra do Café, fui assaltado constantemente por memórias da infância nos últimos tempos. Embora mais jovem que ele, passados mais de 15 anos de acontecimentos, resolvo expô-los aos poucos, mais pela ânsia dos registros na incerteza de estar aqui para registrá-los depois do que por receio de perdê-los na capacidade de gravação de nosso estranho HD.
Pôsto à provas factuais do império de remoto passado, algumas situações são bastante curiosas. Uma série de inusitados acontecimentos que não teria porque lembrar, nenhuma relevância maior. Ou será que são nesses casos que essas eventuais relevâncias se escondem? Na última madrugada, o round travado contra a memória foi referente a jogos no período em que eu atuava pelo rubro-negro Paulista FC. Na parede do ginásio, só recentemente descoberto por mim que pode ser chamado de Gigantinho da Zona Norte - na infância não fazia ideia disso, chamava apenas de Ginásio do Paulista - na parede branca havia a inscrição para que não houvesse dúvidas: Paulista Futebol Clube. Um clube de salão, de ginásio, com o nome de clube de futebol. Também nos atiçava a dúvida de qual era a referência aos paulistas, pois até nas cores, o vermelho, o preto e de praxe o branco acompanhavam a bandeira do estado mais populoso do Brasil.
Por dois anos, defendi o Paulista. Domando nervosismos, ansiedades e o peso da responsabilidade de representar como goleiro titular a minha categoria. Lembro de meu primeiro treino, que surgiu-me em oportunidade a convite de meu melhor amigo da época. Ele já treinava na equipe e fui carregado a reboque para buscar o meu espaço.
Eu estudava de tarde e tenho nítida lembrança da primeira vez que entrei pelo estreito portão de acesso em uma manhã razoavelmente fria, o meio do ano se aproximando, eu tendo perdido as primeiras atividades daquela equipe. Apesar de pequeno, o portão de acesso já me parecia um aperto, imagine para alguém de 100 ou mais quilos. Contornei o estacionamento de britas como solo, poucos carros, pais de alguns? estavam estacionados e entrei para o complexo esportivo. Os garotos aguardavam o nosso treino, o da nossa categoria. Tomei a dianteira naquela entrada triunfal, não lembro se meu pai me acompanhou naquela jornada, vindo depois ou sequer se assistiu minha primeira atuação.
Acontece que todos ficaram petrificados visualizando o atrasado da temporada. Muito acanhado não cumprimentei-os direito e devo ter permanecido calado na maior parte daquela derradeira manhã. Meu amigo, irmão, camarada já habituado com as demais companhias, eu tentando esboçar o que seria meu ano. Fui recebido pelo professor, me identifiquei igualmente acanhado junto a ele. Em poucas palavras, sequer me referi a jogar como goleiro, minha eterna preferência entre as posições da modalidade (diferente do handebol, onde preferia me esconder pela ala direita, posição destinada aos canhotos).
Os treinos iniciaram e pareciam muito com os da escola, que eu havia experimentado no ano anterior. Naquele 2004, entretanto, eu trataria a arranjar algum ritmo de competição, mesmo que isso custasse dores de barriga e arrepios. Dominar a bola do salão com a parte da sola do pé, ajeitar para a canhota e devolver o passe com a parte de dentro do pé. Lições básicas, jamais esquecidas. Depois, envelhecemos e relaxamos, querendo inventar de dominar com a parte de dentro e dar o passe com a de fora. Ronaldices.
O treino deve ter transcorrido nesse ritmo. Lembro de alguns ensaios propostos pelo treinador Votto, que preparava circuitos de dar o passe para um lado, correr para outra fileira ou, em uma manhã obscura, chuvosa, trevosa, correr em diagonal e todos nós nos atrapalhávamos, com exceção dos raros Q.I. mais altos. Mas estes tipos complexados e complexantes de treinamentos ficam para outra hora.
A parte que todos aguardam ansiosamente é o treino coletivo. A separação de equipes, quem joga com quem, quem enfrenta quem, qual time espera no banco, qual ficou mais forte, quem espera no banco e aguarda a troca dos pivôs, dos alas ou do seguro fixo. Não tinha dúvida que os melhores atletas de nossa equipe eram os fixos. Douglas e Matheus são dois de minha recordação na temporada 2004.
Douglas jogava de camisa branca com detalhes rubro-negros. Não lembro se era um uniforme antigo do próprio Paulista. Matheus geralmente associo a camisas vermelhas, talvez um colorado, mas informação imprecisa. Acontece que eu estava no meu primeiro dia de treinamento e pressionado a passar uma boa impressão. Mantenho essa conduta a qualquer lugar que eu vá, qualquer pessoa com quem eu converse, qualquer que seja o objetivo a ser atingido. Quero dar a boa impressão, quero demonstrar meu valor. Não quero falhar.
Eu não queria falhar e, após esperar no banco de reservas a minha oportunidade, fui chamado a compor um dos times. Atuei na linha, se bem me recordo. Aquela categoria do Paulista estava sem goleiros. Vê se pode! Tradicional clube da cidade, da região e do estado. Nenhum goleiro de mimosa idade para o horário matinal previsto. Mas eu chegava para garantir o feito. Após uns minutos apagados tocando pouco na bola, aparecendo pouco, recebendo menos ainda, fui convocado a passar uns minutos na goleira. Talvez Votto e seu auxiliar Diego tivessem pensado que aquele guri não levava muito jeito para aparecer na quadra, mas no fundo sempre encarei como uma democracia em cada atleta de linha seria resignado a uma breve tortura de levar boladas. Mas na hora pensei mesmo foi na minha grande chance, mostrar o meu potencial.
Em fogo alto de expectativa o texto, não é mesmo? Pois assim prosseguimos. Não saberei precisar como ocorreram as defesas, mas sempre tive para mim que foram quatro. Após eu sair da posição de linha, como se chama, nosso time foi até mais bombardeado (deem valor agora, hein) e me saí da prova ousada de uma maneira competente. Quatro disparos e quatro defesas, a penúltima ou a última delas arrancando espantos dos novos colegas. Já me encaravam como muralha intransponível. É isso, garotada. Não adianta reclamar. Não adianta chutar de longe, nem cheguem perto de meus domínios. A média de gols cairá drasticamente. O terror para os pivôs mais rechonchudos e para os que estavam acostumados a guardar tentos de média distância. Não mais, jovens peregrinos.
Jamais esquecerei que naquele primeiro treino, em que chamei atenção por aquelas defesas, compareci com minhas luvas de camelódromo da época. Elas eram de lã. Uma tonalidade escura, nem preta nem bem azul marinho, difícil de identificar a cor das diabólicas peças. Nelas, nas palmas, haviam inscrições em tores marca-texto, entre alaranjadas e amareladas. Havia a palavra SOCCER e uns pontilhados fingindo alguma preocupação com a ADERÊNCIA do azarado goleiro que as utilizaria. E eu era o utilitário daqueles produtos paraguaios. Quatro defesas com as esquisitas luvinhas.
Também me ponho a pensar que, como fui de luvas, por mais rudimentares e despreparadas que fossem para a prática esportiva, não teria Votto ou seu auxiliar notado que eu queria era atuar, desde o início, como goleiro? Aquela exposição aos lances fracassados das tentativas com os pés poderia ter comprometido aquela histórica manhã de 2004. Mas acabou que deu tudo certo. No treino seguinte, já fui direto para a companhia das balizas enredeadas. Treinava desde os ensaios de finalizações e seguia ali para o treino coletivo.
Minha autonomia era uma seguridade tremenda. Eu era o mais difícil de ser vazado pela trajetória da bola e também ninguém queria compartir daquela ingrata tarefa. Estava tão assegurado como um concursado funcionário público, apesar de querer, a cada dia, dar o meu melhor. Assim eu estava, até a chegada de um gigante. E isso fica para o próximo capítulo.
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