31 de dezembro de 2014

Dois Mil e Quinze

Sua mente tenha boas sementes
Suas sementes tenham boa terra
Sua terra tenha o que for preciso
Para cuidar dela
 


30 de dezembro de 2014

Desnecessário

A fim de um dez
A fim de um desafio
Mas o dez não vem
Há sempre um desvio


Me irritam as notas 10. Recentemente, em processo de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), vejo pela timeline uns quantos estudantes de meu curso a postarem, orgulhosamente, suas notas 10. Justo no labor final, em que a análise crítica deveria estar bastante presente. Mas não, pelo contrário, os professores passam a mão a dar conceito máximo ao seus pupilos.
 
Poderiam estes seres considerarem-se estudantes supremos pela avaliação assim feita? Obviamente que não. Sem deslizes, sem falhas, nem no conteúdo e nem no tempo de apresentação? Impressionante. Durante a caminhada do curso os 9  e os 8 surgiram em algum momento. Também não quero estampar um 10 ao final (desta etapa). Certamente porque não hei de merecer. "Nem queria mesmo."
 
Mesmo os que utilizam seus preciosos tempos no estudo das exatas, ao acertarem tudo em determinada ocasião, é nada mais do que conseguir o 10 para aquela respectiva avaliação, moldada a critério do curso ou do professor. A eles, resta saber que sabem nada de outras coisas. Nossa eterna condição de estar a milhas e léguas atrasados em determinadas áreas. Independente do seu Q.I., gênio.
 
Estaria aí o alívio de podermos contribuir com algo, sabendo que ninguém contribui com tudo? Ou estaria aí a inquietação, a eterna impotência diante da maioria dos fatos? Coisas que a nós nada influencia, ou, mais cedo ou mais tarde, no cruzamento do tempo-espaço, influenciarão? A existência é o somatório de tudo isso até este determinado momento. Um texto, que sendo escrito e, posteriormente lido, a altera.
 
Não sei se condiz tornar tão crítico meu olhar sobre os arredores. O 10, para mim, é a utopia inalcançável. Se aparenta ser 10 no começo, logo os defeitos estarão a ser vistos. O que duraria para sempre? Quanto tempo dura a perfeição? Faz parte. Nada faz tudo. Tudo faz algo. Saber lidar e seguir com os solavancos do caminho deve ser a prova de fogo.
 
Mesmo nas exatas mais exatas há defeitos? Talvez. Talvez elas expliquem, façam algo, cumpram o objetivo X... E param ali. Minha teoria, em desenvolvimento, logicamente também não é 10. Capaz! Longe disso.

25 de dezembro de 2014

Tio Geda é Tio Geda. O tempo é o tempo.

O tenente Gedir, muitas vezes, em sua carreira militar, deve ter respondido "pronto" aos chamados dos superiores. Prontidão e disposição não lhe faltaram na maior parte da vivência de seus 76 anos. Negro alto e de bom vigor físico ainda quando o conheci. Não sei ao certo a forma como devo trata-lo em parentesco. Bastante conviveu com minha vó após a separação do casamento dela e de meu respectivo e biológico avô. Momentos de minha infância em que compartilhei com ele, que já entrava para a terceira idade.
 
É véspera de Natal e acompanho meu pai na missão de dar carona para vó. Ela vai visitar seu grande amigo no lar de idosos no Centro. Há poucas pessoas na rua e o caminho até lá flui sem maior trânsito. O prédio é histórico, ao lado da principal igreja da cidade, e ocupa praticamente toda a quadra. A tecnologia do portão permite um chamado por interfone. Com a autorização de lá dentro, adentramos o espaço. Cumprimentos para todas as pessoas na entrada.
 
"Tio Geda", como sempre acostumei a chamar, está na sala. Sentado em uma poltrona, ele ergue os olhos e o humor ao nos localizar. Sorri com a força da alma, mas o corpo pouco lhe respeita as vontades. Ao contato visual e depois físico de sua mão, noto seus dedos quase fechados fixamente. Após a visita, vó me informa que ele fraturou um deles.
 
A sensação de liberdade não compõe o cenário, talvez, na maior parte da vida. Perder essa pouca saída deve dar a noção do antes e do depois. Do passar do tempo. Um homem em seu aprisionamento. A prisão do próprio corpo, castigado por décadas e décadas de álcool, que não o obedece e não se molda mais como era antes. O aprisionamento do espaço em volta. Um adulto em confinamento e cuidados como se voltasse a ser criança. Mas sem poder correr. Só poder teimar.
 
Ao perambular o olhar aos arredores da cena, os demais idosos parecem mais próximos da morte do que de qualquer coisa. É um cenário pouco agradável e, apesar da amplitude do espaço interno, da beleza do prédio histórico e da aparente limpeza, é um local contagiante negativamente. As luzes da árvore de Natal são as mais artificiais já vistas, pois o que há em volta pouco brilha no tempo presente.
 
São estrelas que podem ter brilhado e iluminado céus no passado, mas que atualmente representam o esquecimento de quem não as mira mais. Na parede, há enfeites natalinos de isopor, um com o nome de cada ocupante da casa. Dona Rita, seu Disney... Uma bota de isopor, se não me engano, para cada. O isopor é frio, é incolor, nada sensitivo. Mas é duradouro, não se debate aos efeitos temporais. Mais vale a nossa curta e degradável passagem, ou a insistência do inanimado mas resistente material?
 
Ó, tio Geda, eu que sempre olhei para cima para acompanhar seu semblante com minhas interpretações ainda pouco curiosas. Hoje, mais atento a alguns detalhes, o vejo com a melancolia e a nostalgia a transbordar dos úmidos olhos. Tão delicada é a situação, me pego no dilema de não saber se é melhor para ti rememorar os acontecimentos que tornaram tua vida tão vívida e tão válida. Ou se é melhor não resgatar o passado inalcançável de nossa existência.
 
Conversamos, sim, sobre o Grêmio Atlético Farroupilha, instituição que a bastante jogos ele foi, como sócio e companheiro na carreira de tantos torcedores que passaram e permanecem a passar por lá. Amigo do velho Trem, do conselheiro Alci Moraes. Amigo que muito considerei da infância, conforme me levou, no privilegiado local das cadeiras, para minha primeira partida em estádio de futebol. E, no longínquo 2002, o Farroupilha goleou o São Paulo da cidade vizinha por 3 a 0 naquela oportunidade. E, até hoje, o tricolor onde exerço estágio é o único clube em que eu nunca fui a jogo para torcer contra.
 
O sol ainda valente e alto, mas é quase hora da janta. Vamos a nos despedir. Meu pai repete a frase que tanto ouvi na juventude, seja pelo legal na sonoridade, seja por meu pai sempre repetir frases, por mais aleatórias que sejam. "Tio Geda é Tio Geda." A pronúncia me lembra do inglês "together".
 
Despedida e desejo de bom Natal ao Tio Geda. Os desejos mais fundos de que não ceda ao aprisionamento. Missão difícil, pois não é o mesmo militar que realizou operações a nível nacional. Nem mesmo as mãos, que tanto encestaram a laranja no basquete, escapam dos efeitos do medonho tic tac. Hoje, mal conseguem êxito no mais simples aperto de cumprimento ou despedida. A energia do aperto de mãos se transfere. Aperta meu coração. O tempo não aperta pause. Nenhum clique do mouse altera essa direção.

15 de dezembro de 2014

Velejando, viajando, sol quarando

Percebo, lá pelas tantas (antes tarde do que nunca?), os efeitos e consequências pelo que se faz ou se deixa de fazer. São duas possibilidades, no mínimo. No exercício de procurar a palavra certa, encontro uma mais gasta do que qualquer solado: trouxa.

Há, também, no mínimo duas possibilidades de ser trouxa. Pode ser pelo que você faz. Ou pode ser pelo que não faz. Faço poucos esforços. É uma autocrítica reconhecida de outrora.

Tenho tamanha dificuldade em acompanhar ritmos na longa highway. Tento ditar o meu, parando aqui e acolá. Difícil alcançar a parada do ônibus no momento certo de sua passagem. Sem paciência, às vezes sigo a pé. Complicado acompanhar os passos de quem vem ao lado, mesmo que venha com intenções de somar. Logo, cedo ou tarde, tô em outro ritmo. Segui em frente. Ou fiquei pra trás. Trouxa, se eu fiz demais. Trouxa, se pouco fiz.

Exatamente porque posso ter emaranhado demasiadamente uma rede em que não posso controlar, prosseguir. Em contrapartida, posso não ter armado a rede em que eu gostaria de estar e usufruir. De todo modo, parece uma regra, que não há como sair ao mar sem sentir a tempestade. Por vezes, mais densa e mais turva. Vai ser passageira, mas vai deixar marcas. No marinheiro e em seu navio. Ambas difíceis de curar.

A política da América Central deve rir por estar mais controlada que a tua highway. Vale até abrir uma tequila em nome da causa. Vou seguir minha missão trouxa a cada parada para amarrar os tênis, em cada parada para um por do sol. A cada oásis no deserto. A cada crase após o verbo, seja a quem for. A sofrer os efeitos e consequências de navegações passadas. Em um barco sem nome fixo tatuado no casco.

14 de dezembro de 2014

Vero similar

Verossimilhança é a palavra nova no vocabulário de Jair. Vero, em italiano, significa verdadeiro. Ainda no mesmo idioma, somiglianza é a similaridade. União de verdade + semelhança, a verdadeira semelhança (bah, gênio!). Mas uma certa impressão de uma certeza imprecisa.
 
Verossimilhança seria uma definição precisa para algo ainda impreciso?  E se aquilo for realmente preciso, o uso da verossimilhança fica errôneo, em desuso? E se aquilo for nada preciso, o uso da verossimilhança cai em desuso da mesma forma, mas por outro caminho? Prefiro distorcer interrogações do que cravar pontos finais. Nas artes, a ficção pode ser tratada como verossimilhança quando se aproxima da realidade que se procura mostrar. Aproximações.
 
É uma palavra tão inexata que, no português europeu, se escreve com um "S" só: verosimilhança. No português brasileiro, a aceitação de se curvar diante das curvas que as possibilidades implicam: veroSSimilhança.
 
Talvez ainda a interprete mal. Pois bem (ou mal), a verossimilhança envolveria um conjunto de coisas quase reais? Qual o limite deste conjunto? O que fica de dentro e o que fica de fora? O que é verdade? O que é quase verdade? O que não é verdade?
 
Bah, nessa eu peguei pesado, né? Me desculpem. Se acreditam na ajuda, nas farmácias ou nas igrejas, dá pra tentar a cura. Mas creio que os preços das ditas curas não se encaixem em verossimilhança =)

11 de dezembro de 2014

Poço da Poesia

Não sobra tempo
Troco a noite pelo dia
Transborda o copo
Que carrego em correria
Pelas frestas do corpo
Sua, quase seca, a poesia
 
Posso, claro que posso, quem diria?
O poço, ainda moço, se estendia
Acerca da poesia não se cerca
A fonte do poço não seca
E a água, antes parada, se mexia
 
 
 
 

5 de dezembro de 2014

Moneytalks

Nem tudo precisa ser quantificado, ordenado e numerado. Umas linhas (não numeradas) sobre isso.


Moneytalks é aquela música dos australianos do ACϟDC. Parece que foi a banda para este dia, 4 de dezembro. O texto já vai sair com o marcador do dia 5, em mais uma madrugada. Escrevo para acrescentar sentido e não ser mais uma madru-nada.

Moneytalks, então vamos falar da grana, esta criatura variável em forma e conteúdo; abominável, traiçoeira e suja. Suja por si só ou pelas mãos alheias. Termino de assistir um filme e testemunho na timeline da rede social a manchete de que "familiares de vítimas da boate Kiss vão ter que pagar pela limpeza de objetos encontrados no local". Vida vale nada, né? A vida cabe dentro de um Rolex. Cabe no tempo que o relógio de marca famosa contabiliza e cabe também no valor que as pessoas atribuem a ele - o relógio.

Poucas vezes caminhei tão leve quanto em uma saída, numa chuva após uma derrota de meu time em clássico Gre-Nal. Esfriar a cabeça era a bola da vez. Saí com a roupa caseira e nada nos bolsos. Sensação de alívio, sobretudo, por nada pesar entre um passo e outro. Nada de objeto para os mal intencionados me tirarem em seus objetivos. O domingo já havia posto em 0 a escala de felicitação, no motivo que gerou a caminhada. Bola pra frente.

Outro ponto interessante é a marca dos calçados. Não ligo muito para o símbolo que os nomeia. Confortando e agradando a rápida olhada no espelho mágico = compra feita. Prefiro pensar no valor de cada passo pelas calçadas do que no valor financeiro do calçado que os praticou. Meus pés trilham a história e os sapatos são meros acompanhantes de luxo (para meus pés não se machucarem e poderem caminhar/historiar mais). Claro, acabo reconhecendo o esforço do par de sapatos também e eles adquirem significados especiais. Com o mérito da caminhada e não de sua marca.

Naquele domingo, saí também sem documentos. Quem me conhece, vai me reconhecer e, se quiser, cumprimentar. Se não conhece e for o caso, eu me apresento. Não precisa RG. Muito do que se quer saber inicialmente sobre a pessoa não passa de números, o que não explica detalhes da trajetória dela até o momento. Apenas rápidas conclusões. Como a idade, que pode revelar o que a pessoa vivenciou ou não.

Muitas das pessoas vão te ver pela primeira vez ao te identificarem por um número. Talvez o médico, na sua primeira consulta, vai apertar a mão do número 590.191, do plano de saúde Y. Quantas vezes somos o número da ficha que retiramos? No xerox, no atendimento da operadora de celular, na padaria, no açougue, na farmácia, no banco (...) Ah, os bancos... estes dariam um texto só para eles... Somos, enfim, números, cadastros, dados, senhas e códigos. Por ordem de mérito ou de chegada.

Em piores casos: na escola. A criança cresce como um número, avaliada como um número. Saldos positivos ou negativos. Somos tratados como números, e só se agrava na vida adulta. Meros números, para cima e para baixo. Pelo que acrescentamos ou podemos movimentar economicamente. Taxa de relevância. Serve também para maiores ou menores reverências gestuais em um encontro com o dentista ou com o senador, no que ainda há de humano em cada cumprimento (exagerado, ou não).

Por fim, o que se percebe é muita gente querendo abocanhar números. Abocanhar objetos, que valem mais numericamente. Tascar um pouco dos outros (com cumprimentos exagerados, puxa-saquismo, ou não). Ostentar com carros, camisas polo ou com uma adega, para mais se exibir do que beber. Quadros estranhos na parede do salão e na vida, relógios banhados em ouro que vão marcar a hora da mesma forma que os outros... Moneytalks.
 

3 de dezembro de 2014

Procura Cura

Que sentido procuras?
A repetição em vão do que já foi sentido
Ou o sentido escondido do que está por vir?
 
Que sentidos procuras
Se não for o sentir?
Será a cura uma partitura
Que não podes tocar, nem ouvir?
Como um distante santuário
Que só imaginamos existir
 
E por que, afinal, tentas
Apagar as pegadas deixadas
Como se fossem erros propositais
Nessa longa estrada?
 
E por que, afinal, tentas
Apagar as marcas já perpetuadas
Como se apaga na boca o gosto da menta?