28 de outubro de 2015

O Eterno Outubro nas Lembranças Farroupilhas


Por: Henrique König

1935 foi um ano especial. No carnaval, a regulamentação dos desfiles no Rio de Janeiro e o primeiro título ficando com a Portela, com a Estação Primeira de Mangueira como vice. Nos Estados Unidos, nasciam o músico Elvis Presley e o cineasta Woody Allen.

O alemão Hans Spemann venceu o prêmio Nobel por suas pesquisas sobre a influência das células em tecidos e órgãos. Outro alemão, contra o nazismo, Carl von Ossietzky recebeu o Nobel da Paz.

Apesar da luta do jornalista pelo pacifismo, a Alemanha, então de regime nazista, caçava à cidadania alemã de judeus e proibia o casamento entre os perseguidos e os alemães. A Itália, fascista, invadia cruelmente o país africano Etiópia.

No campo da literatura, tínhamos as primeiras aparições da série Luluzinha. Monteiro Lobato lançava três obras e o poeta português Fernando Pessoa veio a falecer em novembro.

Antes de novembro, porém, o marco na história do futebol gaúcho, no ano de centenário da Revolução Farroupilha. O Campeonato do Rio Grande do Sul foi disputado em outubro. O combinado, inclusive pelo então governador Flores da Cunha, seria de que o vencedor seria declarado como campeão por 100 anos.

No ano de 1934, o Farroupilha, então 9º Regimento de Infantaria foi muito prejudicado pela arbitragem na final contra o Internacional, perdeu por 1 a 0 e prometeu retornar ao estadual para sair de vez com a taça inédita. Feita a promessa, o ano de 1935 prometia fortes emoções aos torcedores do clube.

Nas preliminares, o Grêmio Atlético 9º Regimento passou pela zona litoral, quando derrotou o São Paulo de Rio Grande em duas oportunidades. 2 a 0 em Pelotas, com gols de Coruja e Cardeal. Novo placar de 2 a 0 em Rio Grande, com gols de Cerrito e novamente Coruja.

Após, em 6 de outubro, passou pelo Rio Branco de Santa Vitória por 6 a 3, com gols de Bichinho (3), Cerrito, Coruja e Itararé para os pelotenses. Assim, o 9º Regimento de Infantaria venceu os adversários da zona litoral e conseguiu índice para disputar o Gauchão em Porto Alegre.

Depois de fazer um elástico 8 a 3 sobre o Guarani de Bagé, o Novo Hamburgo caiu no caminho de nossos campeões na fase semifinal da competição. A partida foi realizada em 17 de outubro de 1935 no estádio dos Eucaliptos e terminou em 3 a 2 para o 9º Regimento, com gols de Bichinho (2) e Celistro.

Na outra semifinal, o Grêmio Porto Alegrense aplicou 6 a 0 no Grêmio Santanense para ir à grande decisão. Com os mandos todos em Porto Alegre, o tricolor era o favorito e queria sacramentar a temporada especial, após já ter vencido grenais.

A primeira partida encaminhou o favoritismo, com uma vitória dos gremistas por 3 a 1, em 20 de outubro. A revanche veio na segunda partida, com um marcador de 3 a 0 para os pelotenses, em gols de Gasolina, Bichinho e Cerrito, ainda na etapa inicial da tarde de 24 de outubro.

No regulamento, constava a decisão como uma série melhor de três. Após uma vitória para cada lado, o jogo-extra foi marcado para 27 de outubro de 1935.

O 9º Regimento foi a campo com goleiro Brandão, os defensores Jorge e Chico Fuleiro, os meias Ruy (Folhinha), Itararé e Celistro e os atacantes Birilão, Bichinho (Coruja), Cerrito, Cardeal e Gasolina.


O quadro pelotense venceu o duelo derradeiro por 2 a 1, com o lendário Cardeal marcando o primeiro e o gol do título sendo anotado por Cerrito, o mito. Um público de cerca de 15 mil torcedores assistiu ao feito no estádio Timbaúva, hoje local de uma rede de supermercados na capital gaúcha, no bairro Santa Cecília.

Com uma enorme festa dentro de campo e os louros colhidos em presença de autoridades do Rio Grande do Sul, o Grêmio Atlético 9º Regimento sagrou-se campeão Farroupilha, título que rebatizou o clube após proibição da primeira nomenclatura durante o governo de Getúlio Vargas, em 1941.

A imagem é de um quadro, exposto até hoje na sede do Grêmio Atlético Farroupilha. A eufórica torcedora Vilma Machado de Brito prestou sua homenagem ao narrar o que viu na chegada do 9º Regimento, após a conquista válida por 100 anos, ao Porto de Pelotas. A pintura, conforme suas descrições, foi feita pelo artista Saulo Moraes.

Ficam os agradecimentos às fontes de pesquisa para este texto: edições do jornal Diário Popular de outubro de 1935 e o Blog do Fantasma, atualizado pelo jornalista e ex-assessor do Farroupilha, Leandro Lopes.

É com enorme orgulho que a página do Grêmio Atlético Farroupilha rememora a maior conquista da história do clube, que completa 80 anos e, dessa forma, mantém aceso o peso da história e o sentimento de nossos torcedores.

19 de outubro de 2015

Entre o Conciso e o Consigo

Eu tenho dormido mais cedo
E tido sonhos estranhos
Eu tenho me recolhido
E ficado no meu canto

Eu tenho entristecido
Desaparecido um tanto
Há os que me fazem sentir conciso
E ainda levanto

Eu sinto
Cem porcento
O sentimento
Que eu não consigo

Deixar de alimentar

18 de outubro de 2015

A primeira batalha pelo Título Gaúcho

Foi em outubro de 1935. A Itália, assombrada e assombrando pelo crescimento do fascismo, havia vencido a Copa do Mundo do ano anterior, a segunda realizada na história. Naquele ano de 35, nascia o cantor Elvis Presley em East Tupelo, Estados Unidos. Em Portugal, ocorreu o parto de Antonio Ramalho Eanes, futuro militarista e primeiro presidente democraticamente eleito após a ditadura no país. A Alemanha já começava as corridas com o malévolo Adolf Hitler, já naturalizado alemão. No Brasil, era período da Era Vargas, no regime chamado de Governo Constitucionalista. E, no estado de Vargas, as equipes preparavam-se para a disputa do 15º Campeonato Gaúcho.

O Grêmio Atlético 9º Regimento, campeão invicto da região denominada litoral, foi a Porto Alegre para disputar o estadual da temporada em que comemorava-se o centenário da Revolução Farroupilha. Pela frente, adversários respeitáveis e poderosos. Logo de cara, o campeão do noroeste, o Novo Hamburgo.

O 9º Regimento só havia participado de um Gauchão, o de 1934. Após vencer o Riograndense de Cruz Alta, foi descaradamente prejudicado pela arbitragem em Porto Alegre, na final contra o Internacional e acabou vice. Os pelotenses prometeram voltar no ano seguinte e sair com a taça.

A corrida pelo título na capital começou no dia 17 de outubro de 1935. 9º Regimento e Novo Hamburgo, pela fase semifinal, pelearam em duelo de início às 16h10, no estádio dos Eucaliptos, sede da primeira Copa do Mundo no Brasil, em 1950. O árbitro foi Valter Leal.

9º Regimento: Brandão; Jorge e Chico Fuleiro; Ruy, Itararé e Celistro; Coruja, Birilão, Cerrito, Cardeal e Bichinho.

Novo Hamburgo: Olívio; Fogareiro e Magalhães; Vanzeto, Mena e Amantino; Nonô (Armando), Luiz, Oscar, Miguel (Mario) e Banana.

O Nóia começou melhor a partida. Só aos 25 minutos, o 9º Regimento chegou com muito perigo e Cerrito acertou a trave. Em seguida, aos 27, Bichinho, finalizador exímio, fez 1 a 0 aos militares pelotenses em cobrança de falta. Um minuto depois, o empate: Miguel igualou as coisas para o Novo Hamburgo, placar do primeiro tempo.

Na segunda metade nos Eucaliptos, o Fantasma começou melhor. Aos 8 de jogo, Magalhães derrubou Bichinho na grande área e o pênalti, na época escrito com Y, foi assinalado. O próprio Bichinho cobrou e botou o 9º em vantagem: 2 a 1.

Porém, o Novo Hamburgo, em sua quinta participação em Gauchões, foi valente. Empatou novamente com gol de cabeça de Banana, aos 17 minutos da etapa final.

Porém, a promessa feita após a injustiça da temporada anterior não poderia ser quebrada e Celistro, em um tiro de longe, recolocou o Fantasma na dianteira da partida: 3 a 2 aos pelotenses.

Em peleia violenta, alguns jogadores foram substituídos por saírem lesionados, única forma de permitir trocas nas escalações da época. Nos ataques finais do Novo Hamburgo, o goleiro Brandão, com braços de elástico, segurava de todas as maneiras.

Com a noite se aproximando, o cronometrista encerrou o jogo válido pela semifinal. Os torcedores do 9º Regimento invadiram o campo a comemorar a vaga na final. 3 a 2, com dois gols de Bichinho e um de Celistro.

A primeira cruzada da final estava marcada ao próximo dia 20, ali mesmo, em Porto Alegre. O adversário era nada mais e nada menos que o Grêmio Porto Alegrense, que já ostentava cinco taças na época, como maior campeão gaúcho na oportunidade. Na semi, o tricolor da capital havia feito 6 a 0 no Grêmio Santanense.

Apesar do nome do lado rival soar forte, nada que o exército do goleiro Brandão e do craque Cardeal pudesse temer. Contaremos como foram os jogos da disputa em melhor de três nos próximos capítulos.


15 de outubro de 2015

Futebol, a fusão dos mundos

"Futebol ao sol e à sombra", traz a alaranjada capa do livro de bolso do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Símbolo de uma América Latina que foi podada durante séculos e teve o crescimento de seu povo desvinculado por valores e preços e pressões de invasores impiedosos e imperialistas. Conhecido por obras carregadas de política, ideologia e seu estilo próprio e singular de narrativa, Galeano aborda o futebol a olhares que somente um apaixonado, ao ver o aprisionamento de sua paixão, pode descrever.

Os contos são sutis e precisos, com toques de letra e lançamentos milimétricos, para, mesmo sem imagens, enxergamos o futebol em sua essência pelo globo. O uruguaio relembra tempos épicos de seu país, chamado inclusive por Pelé de "pai do futebol". As origens e folclores por Argentina, Brasil, Espanha, Alemanha e Itália ganham destaque.

Uma linha do tempo, resumida em melhores e piores momentos de uma modalidade esportiva que se tornou cada vez mais mercadológica. Um espelho das sociedades que também se apaixonaram pelo rolar da esfera de couro nos retangulares gramados de seus solos. O amor do hincha por um clube, a criação e mistificação de ídolos, as influências externas, a globalização, os atletas como mercadoria e como produtos.

Dos malabarismos de ousados praticantes à padronização na forma de jogar. O profissionalismo que sucumbiu os estilos próprios dos jogadores, reduzindo o livre-arbítrio das manobras com a bola em companhia. A exigência do espetáculo que transformou o corpo dos praticantes e aumentou gradativamente os registros de lesões ao longo dos anos.

Os grandes manobristas das cifras milionárias, das presidências de organizações que não prestam contas e não prestam mesmo, aos empresários e demais interessados no mercado da publicidade. As camisas, antes com o destaque do símbolo do clube ao lado esquerdo do peito, agora dividindo espaço com as mais diferentes marcas: locais ou internacionais.

Um panorama das forças políticas e diplomáticas que cercavam o mundo do planeta bola a cada Copa do Mundo disputada. Tudo isso narrado pelas célebres palavras de um escritor que jamais aceitou a padronização. Um escritor que, sem dúvida alguma, jogou junto com o Uruguai a cada mundial e com o Nacional de Montevidéu a cada Libertadores da América.

Um escritor que libertou na escrita, gritos entalados na garganta, com admirações ao que muitos já não mais admiram e com críticas ao que muitos jamais enxergaram.

Reforço o que eu disse em outra oportunidade: Futebol ao sol e à sombra não merece somente uma resenha. Merece um outro livro elogiando ao primeiro.

Foto: Henrique König

10 de outubro de 2015

O bem soar do violino

Na praça, o dia cinza reservou-me um banco no lugar certo. Nem muita gente por perto e nem em uma alameda completamente vazia da Coronel Pedro Osório.

Pude folhear o livro por várias páginas e vários anos nas palavras lúcidas e literais do uruguaio Eduardo Galeano, este exemplo de sul-americano que havia deixado nosso mundo há pouco tempo. Pelos caminhos em que ele descrevia a história do futebol, mergulhei-me à modalidade esportiva da leitura em local público, uma de minhas preferidas.

Conforme deixei com que os minutos seguissem seus habituais caminhos, vi-me diante da troca incessante de pessoas ao redor. Tanto atravessavam rumo a seus mais diversos objetivos, quanto sentavam-se e logo iam-se embora. Uma ex-colega minha acomodou-se próxima a meu banco com sua amiga. Não viu-me ou viu e fez questão de parecer que não, em comum acordo com minha decisão.

A amiga da conhecida dissertava sobre antigos autores brasileiros e sobre os métodos impostos das universidades em analisá-los e como trabalham as respectivas obras. Sobrou críticas a José de Alencar e a outros, os quais não fisguei os nomes.

Adiante, precisei fechar o livro de alaranjada capa e rumar também de volta, em direção à Avenida Bento Gonçalves. Pelo centro do coração da praça, duas modelos posavam em tentativa de dar holofotes ao acinzentado ambiente. Observei de relance às câmeras fotográficas e notei que uma das moças, ao chafariz, tinha em mãos um algodão doce. Como são estranhas as poses de modelo enquanto as outras centenas de pessoas em movimento posam sem querer em composições de maior realidade!

Passei, enfim, por uma das alamedas das quais menos gosto, mas que costumeiramente é agraciada pelas dedilhadas em cordas improvisadas pelo músico de rua, Serginho da Vassoura. No tempo fechado, ele não deu às caras naquela tarde.

Após a abertura da sinaleira aos pedestres, caminhei para o prosseguir dos calçamentos em paralelepípedo de um trecho de rua destinado somente aos transeuntes a pé. Calçando meus fones de ouvido, precisei parar para contemplar a cena à minha direita.

Concentrada em sua atividade, uma senhorita praticava em ordenhar música do violino em suas mãos. Envergonhado por permanecer com os fones de ouvido, fiz questão de sacá-los pelos instantes em que cruzei sua reta. A canção antes em meu aparelho, dezenas de vezes já reproduzida em rádios locais e no meu próprio celular, agora não fazia diferença.

O diferente era acompanhar as oscilações do violino de maneira inédita, conforme já poderia ter ocorrido de forma semelhante, mas jamais idêntica e em mesmo local. A reprodutibilidade das artes é tema do autor Walter Benjamin. A desvalorização do processo pelas repetições e repetições e a raridade não mais encontrada nesses encontros.

Porém, naquele dia de início de outubro, a invasão do jamais antes presenciado em meio à travessia, fez com que meus olhos e ouvidos parassem por detalhados segundos. Surdo ao entreter de antes e atento ao número desempenhado pela moça, fitei-a a aplaudir com o olhar.

Nada fiz, confesso, a mais do que isso. Desejo-lhe, se assim investe, a ter mais moedas na capa que envolve o violino quando ela não o toca. Desejo aos demais, momentos únicos, mesmo simples, como esse que vos narro. Para ela, saúde, física e espiritual, para representar mais performances afinadas durante o executar dos caos urbanos.



Alameda na Praça Coronel Pedro Osório (Foto: Henrique König)

5 de outubro de 2015

Rio

Rio de Janeiro
Do seu véu que desprende
Do janeiro que se estende
Ao ano inteiro

Rio de Janeiro
Do céu que é mais perto
Do sol que se esconde
Dos passeios que fiz
Na praia e no bonde

Rio de Janeiro
Do Cristo, tão visto
E tão comentado
No jogo misto
Do concreto e do sagrado

Rio de Janeiro
Das escadarias
Do dia e da noite
Da Lapa e do mapa
Imprevistos talhados


Rio de Janeiro
Dos táxis amarelos
Das lixeiras laranjas
Franja sobre as areias
Do berço afamado
De Copacabana

Rio de Janeiro
Das luzes do morro
Do povo guerreiro
Que pede socorro
Não perde a alegria
Do sorriso que é soro

Rio de Janeiro
Do Maracanã
Do ontem, do hoje
Do Garrincha e do Zico
E do mito de como
Ficará o amanhã

Rio de Janeiro
Do Flamengo,
Fluminense,
Botafogo e Vasco
Do jogo que nasce
Da perna que chuta
Do braço que luta
Com a bandeira no mastro

Rio de Janeiro
Da Baía de Guanabara
Que vou-me embora
Sem ter a honra
De ver-te aurora

E nos amanheceres cinzentos
De um sol preguiçoso e lento
De pingos de chuva adventos
Do tempo, este ligeiro
Que estive contigo
Como filho rebento
Deste único e estranho abrigo
Rio de Janeiro

Rio, que me recepcionou
Com meu velho conhecido frio
Das terras advindas do sul
Que me negaste, Rio, um céu azul
E mesmo assim me seduziste
Com teu ar juvenil

Rio, já não te dou
O sobrenome de Janeiro
Pois és belo o ano inteiro
Nestas curvas encantadas
Por quem te batizou

Rio, sigas lindo
Em constante desafio
E com alguma humildade
Em outra hora e outra idade
Te encontro, no cio da tua mocidade
Com meu olhar infantil



Foto: Henrique König

1 de outubro de 2015

Mundos Paralelos

Gosto dos meus mundos paralelos
Do anonimato dos meus óculos escuros
Do poder de escolha dos meus fones de ouvido

De Feitos

Herdei e multipliquei defeitos.
Menos capacidade de saber escolher do que meu pai.

Menos paciência do que minha mãe.