Por: Henrique König
1935 foi um ano especial. No carnaval, a regulamentação dos desfiles no Rio de Janeiro e o primeiro título ficando com a Portela, com a Estação Primeira de Mangueira como vice. Nos Estados Unidos, nasciam o músico Elvis Presley e o cineasta Woody Allen.
O alemão Hans Spemann venceu o prêmio Nobel por suas pesquisas sobre a influência das células em tecidos e órgãos. Outro alemão, contra o nazismo, Carl von Ossietzky recebeu o Nobel da Paz.
Apesar da luta do jornalista pelo pacifismo, a Alemanha, então de regime nazista, caçava à cidadania alemã de judeus e proibia o casamento entre os perseguidos e os alemães. A Itália, fascista, invadia cruelmente o país africano Etiópia.
No campo da literatura, tínhamos as primeiras aparições da série Luluzinha. Monteiro Lobato lançava três obras e o poeta português Fernando Pessoa veio a falecer em novembro.
Antes de novembro, porém, o marco na história do futebol gaúcho, no ano de centenário da Revolução Farroupilha. O Campeonato do Rio Grande do Sul foi disputado em outubro. O combinado, inclusive pelo então governador Flores da Cunha, seria de que o vencedor seria declarado como campeão por 100 anos.
No ano de 1934, o Farroupilha, então 9º Regimento de Infantaria foi muito prejudicado pela arbitragem na final contra o Internacional, perdeu por 1 a 0 e prometeu retornar ao estadual para sair de vez com a taça inédita. Feita a promessa, o ano de 1935 prometia fortes emoções aos torcedores do clube.
Nas preliminares, o Grêmio Atlético 9º Regimento passou pela zona litoral, quando derrotou o São Paulo de Rio Grande em duas oportunidades. 2 a 0 em Pelotas, com gols de Coruja e Cardeal. Novo placar de 2 a 0 em Rio Grande, com gols de Cerrito e novamente Coruja.
Após, em 6 de outubro, passou pelo Rio Branco de Santa Vitória por 6 a 3, com gols de Bichinho (3), Cerrito, Coruja e Itararé para os pelotenses. Assim, o 9º Regimento de Infantaria venceu os adversários da zona litoral e conseguiu índice para disputar o Gauchão em Porto Alegre.
Depois de fazer um elástico 8 a 3 sobre o Guarani de Bagé, o Novo Hamburgo caiu no caminho de nossos campeões na fase semifinal da competição. A partida foi realizada em 17 de outubro de 1935 no estádio dos Eucaliptos e terminou em 3 a 2 para o 9º Regimento, com gols de Bichinho (2) e Celistro.
Na outra semifinal, o Grêmio Porto Alegrense aplicou 6 a 0 no Grêmio Santanense para ir à grande decisão. Com os mandos todos em Porto Alegre, o tricolor era o favorito e queria sacramentar a temporada especial, após já ter vencido grenais.
A primeira partida encaminhou o favoritismo, com uma vitória dos gremistas por 3 a 1, em 20 de outubro. A revanche veio na segunda partida, com um marcador de 3 a 0 para os pelotenses, em gols de Gasolina, Bichinho e Cerrito, ainda na etapa inicial da tarde de 24 de outubro.
No regulamento, constava a decisão como uma série melhor de três. Após uma vitória para cada lado, o jogo-extra foi marcado para 27 de outubro de 1935.
O 9º Regimento foi a campo com goleiro Brandão, os defensores Jorge e Chico Fuleiro, os meias Ruy (Folhinha), Itararé e Celistro e os atacantes Birilão, Bichinho (Coruja), Cerrito, Cardeal e Gasolina.
O quadro pelotense venceu o duelo derradeiro por 2 a 1, com o lendário Cardeal marcando o primeiro e o gol do título sendo anotado por Cerrito, o mito. Um público de cerca de 15 mil torcedores assistiu ao feito no estádio Timbaúva, hoje local de uma rede de supermercados na capital gaúcha, no bairro Santa Cecília.
Com uma enorme festa dentro de campo e os louros colhidos em presença de autoridades do Rio Grande do Sul, o Grêmio Atlético 9º Regimento sagrou-se campeão Farroupilha, título que rebatizou o clube após proibição da primeira nomenclatura durante o governo de Getúlio Vargas, em 1941.
A imagem é de um quadro, exposto até hoje na sede do Grêmio Atlético Farroupilha. A eufórica torcedora Vilma Machado de Brito prestou sua homenagem ao narrar o que viu na chegada do 9º Regimento, após a conquista válida por 100 anos, ao Porto de Pelotas. A pintura, conforme suas descrições, foi feita pelo artista Saulo Moraes.
Ficam os agradecimentos às fontes de pesquisa para este texto: edições do jornal Diário Popular de outubro de 1935 e o Blog do Fantasma, atualizado pelo jornalista e ex-assessor do Farroupilha, Leandro Lopes.
É com enorme orgulho que a página do Grêmio Atlético Farroupilha rememora a maior conquista da história do clube, que completa 80 anos e, dessa forma, mantém aceso o peso da história e o sentimento de nossos torcedores.