Entendo melhor o estreitamento na existência das chamadas horas de lazer. Dias de lazer mais raros ainda. Conversava em outro momento sobre trabalhar 200 e aproveitar uns 7 em alguma viagem; tendência.
Compromissos. Tive poucos em infância e juventude de uma vida retilínea de poder estudar e até em boa escola para seguir ao mundo universitário. Cursar o que sempre quis, uma estrada tão reta quanto o sul de Porto Alegre apresenta em direção ao Uruguai. Poucos deslizes, poucas curvas, poucos desvios. Poucas atividades extras. Pouca coisa para ter afinidade ou interesse. E isso segue, também, vá lá, com as pessoas. Pouca afinidade ou interesse. Poucos mergulhos, águas mais turvas do que o Laranjal, onde por vezes são descobertos jacarés e outros animais exoticamente perigosos a banhistas, além dos conteúdos duvidosos, propriedades ao banho de laguna e etc.
Compromissos eram o tópico. Não me atenho muito a eles. São minha versão de rejeitar os verdes no prato de quando se é criança. Não tive problema com os verdes no prato. Tenho com os compromissos. Fico na minha em stand by o máximo possível. Faca de dois gumes entre mirar a paz e o sossego e sentir-se pouco prestativo e presenciando pouco, aquém da vida. Balança e gangorra entre vida e sobrevivência. Demoro mais horas para carregar em casa do que a maioria dos celulares. Reservo-me à introspecção o máximo possível; preciso dela.
Saio porta afora e logo retorno. O celular de vocês hiberna ou clama bateria para evitar esse sono profundo. Eu também preciso de uma parede para me recarregar. Sentado ao canto, preso paralelamente solitário. E é preciso entender que tudo bem, que é o que se pode fazer, é o que se pode ser feito. Mediante toda essa desistência de tempo em reclusão sobra-me menos para o fôlego das horas em sociedade. Difícil conciliá-las: quando podes e quando queres? Desgaste.
Há muitas pessoas semelhantes no dia a dia. De repente te elogiam por ter uma formação nisso ou naquilo, mas a concorrência também tem; ou tem outra formação interessante. Currículos e lattes. Você pode ser bom em malabarismo, sinuca ou tocar guitarra. E usar essas habilidades como um primata se exibindo, o que não me atrai muito. Mas é assim por aí, em busca de diferenciais e ranking e valer a pena; e valer o tempo. A internet amplia o leque de opções e pode-se resolver ou ao menos encaminhar as coisas por ela. Redes sociais e sites de relacionamento. Pessoas expostas em vitrines. Sou muito detalhista e reprovo muitos comportamentos. Reprovo mais do que aprovo, é um problema grave. Onde e como se encaixar nisso tudo e será que tenho interesse em fazer parte? Devo ter, pois estou tecendo linhas sobre isso, enquanto poderia estar assistindo ao documentário Edifício Master, que acredito estar disponível no Youtube. Se estiver, assistam, é um dos melhores nacionais da história.
Mas como se encaixar nisso tudo negando equipamentos, performances e regras gerais socialmente estabelecidas? É como se um piloto de automobilismo quisesse concorrer com seu carro ultrapassado por não se enquadrar nas novas legislações. Ele não terá condições. Enquadre-se ou seja eliminado. Eu poderia fechar o braço de tatuagens só por fechar, porque achariam bonito, mas não seria eu. Que caminhos e escolhas valem a pena se são quase irreversíveis dessa maneira? Mas a morte, a própria morte, nesse contexto, é irreversível.
Trilhas de andarilho fazem-me bem. Descobri recentemente uma música do Wander Wildner e encerrarei por aqui mesmo sabendo que eu não disse tudo, mas que disse alguma coisa. Não preencheremos nossas vidas vazias no mesmo espaço de tempo e lugar em que esvaziaremos garrafas. Eu não disse tudo, mas ele, nesse vídeo que corre aqui abaixo, disse algo. Até a próxima.