25 de outubro de 2019

correndo por correr

Demorei a aceitar a ideia de que as pessoas não são obrigadas a gostar de mim. Ou ao menos gostar de mim de uma maneira destacante, como prioridade em relação a outras. Portas estreitas em um mundo concorrido. Concorrido de apertados horários. Hoje pouco me sobra de tempo no cotidiano, além dos estudos e trabalho. Termino noites entre leituras e cinema caseiro. Algumas conversas virtuais e a preparação para o dia seguinte; cíclico.

Entendo melhor o estreitamento na existência das chamadas horas de lazer. Dias de lazer mais raros ainda. Conversava em outro momento sobre trabalhar 200 e aproveitar uns 7 em alguma viagem; tendência.

Compromissos. Tive poucos em infância e juventude de uma vida retilínea de poder estudar e até em boa escola para seguir ao mundo universitário. Cursar o que sempre quis, uma estrada tão reta quanto o sul de Porto Alegre apresenta em direção ao Uruguai. Poucos deslizes, poucas curvas, poucos desvios. Poucas atividades extras. Pouca coisa para ter afinidade ou interesse. E isso segue, também, vá lá, com as pessoas. Pouca afinidade ou interesse. Poucos mergulhos, águas mais turvas do que o Laranjal, onde por vezes são descobertos jacarés e outros animais exoticamente perigosos a banhistas, além dos conteúdos duvidosos, propriedades ao banho de laguna e etc.

Compromissos eram o tópico. Não me atenho muito a eles. São minha versão de rejeitar os verdes no prato de quando se é criança. Não tive problema com os verdes no prato. Tenho com os compromissos. Fico na minha em stand by o máximo possível. Faca de dois gumes entre mirar a paz e o sossego e sentir-se pouco prestativo e presenciando pouco, aquém da vida. Balança e gangorra entre vida e sobrevivência. Demoro mais horas para carregar em casa do que a maioria dos celulares. Reservo-me à introspecção o máximo possível; preciso dela.

Saio porta afora e logo retorno. O celular de vocês hiberna ou clama bateria para evitar esse sono profundo. Eu também preciso de uma parede para me recarregar. Sentado ao canto, preso paralelamente solitário. E é preciso entender que tudo bem, que é o que se pode fazer, é o que se pode ser feito. Mediante toda essa desistência de tempo em reclusão sobra-me menos para o fôlego das horas em sociedade. Difícil conciliá-las: quando podes e quando queres? Desgaste.

Há muitas pessoas semelhantes no dia a dia. De repente te elogiam por ter uma formação nisso ou naquilo, mas a concorrência também tem; ou tem outra formação interessante. Currículos e lattes. Você pode ser bom em malabarismo, sinuca ou tocar guitarra. E usar essas habilidades como um primata se exibindo, o que não me atrai muito. Mas é assim por aí, em busca de diferenciais e ranking e valer a pena; e valer o tempo. A internet amplia o leque de opções e pode-se resolver ou ao menos encaminhar as coisas por ela. Redes sociais e sites de relacionamento. Pessoas expostas em vitrines. Sou muito detalhista e reprovo muitos comportamentos. Reprovo mais do que aprovo, é um problema grave. Onde e como se encaixar nisso tudo e será que tenho interesse em fazer parte? Devo ter, pois estou tecendo linhas sobre isso, enquanto poderia estar assistindo ao documentário Edifício Master, que acredito estar disponível no Youtube. Se estiver, assistam, é um dos melhores nacionais da história.

Mas como se encaixar nisso tudo negando equipamentos, performances e regras gerais socialmente estabelecidas? É como se um piloto de automobilismo quisesse concorrer com seu carro ultrapassado por não se enquadrar nas novas legislações. Ele não terá condições. Enquadre-se ou seja eliminado. Eu poderia fechar o braço de tatuagens só por fechar, porque achariam bonito, mas não seria eu. Que caminhos e escolhas valem a pena se são quase irreversíveis dessa maneira? Mas a morte, a própria morte, nesse contexto, é irreversível.

Trilhas de andarilho fazem-me bem. Descobri recentemente uma música do Wander Wildner e encerrarei por aqui mesmo sabendo que eu não disse tudo, mas que disse alguma coisa. Não preencheremos nossas vidas vazias no mesmo espaço de tempo e lugar em que esvaziaremos garrafas. Eu não disse tudo, mas ele, nesse vídeo que corre aqui abaixo, disse algo. Até a próxima.





22 de outubro de 2019

a perda do ônibus (Babylon By Bus)

Surge nas postagens da corriqueira internet uma mensagem sobre o desafio de encontrar momento ou situação mais triste do que a perda do ônibus. O cidadão esforçado em correr rumo ao ponto de embarque e perder o seu único transporte possível, quitado pelo auxílio-transporte da empresa ou com seu contado dinheirinho, ou com o crédito que precisou recuperar em alguma das casas de câmbio. A pessoa encarna o atletismo dos principais nomes do esporte mundial, recorre da forma como lhe é possível, técnica abaixo dos aprendizes da modalidade que muito erguem os joelhos e movimentam sistematicamente os braços, na dinâmica ou aerodinâmica que lhes é possível.

Tanto esforço em vão dói de diversas formas, enforca o tempo passado, quando se retorna na memória para uma cochilada anterior. Poderia ter fechado as pesadas cortinas de ferro da loja mais cedo, aquele trabalhão para a coluna de cima a baixo, quando precisa encaixar precisamente a estrutura ao solo. Poderia ter feito de maneira mais breve ou nem ter feito aquela ligação que custou dois a três minutos e consequentemente custou o embarque no gigante movido a biodiesel. Poderia não ter perdido tempo com aquele affair que trabalha contigo e nem te nota, mas que arriscou uma puxada de assunto entre sonhos do que não ocorre. Poderia não ter aberto mais uma ou outra aba no computador do serviço, um vídeo a mais, uma receita de bolo, uma conversa no Facebook. Poderia.

E tudo culmina, o humor do dia entra em ápice para nivelar para cima ou para baixo naquela corrida, travessia desengonçada, no perigo dos trânsitos da avenida que afastava da parada e do destino em pé final, pois só queria um banquinho, mesmo de canto, mesmo desagradando uma prévia escolha, para sentar-se no ônibus. Mas isso é negado. O esforço, o suor que brota, o vencimento precoce do desodorante passado ao início do expediente, tudo isso posto à prova para uma missão inconclusa, uma derrota vexatória. Outros saindo de seus serviços, alguns passando em seus carros, uns transeuntes despreocupados, quem sabe já passeando com seus cachorros ou rumo a jantares em restaurantes, todos o observam, seu cair de joelhos em revés doloroso.

O motorista que viu-o ou não? Se viu, que o inferno o aguarde, mas, caso não viu, será que faltaram poucos metros para entrar em um campo de visão que mudaria toda a história, todo o roteiro, agora tão triste, tão pesado, tão massacrante, a derrota a mais, a gota que transborda o copo, que entope o boeiro do cotidiano, além daquelas contas vencidas, daquelas conversas em vão, daquela vida mais ou menos mesmo que acertasse o horário do bus e agora nem isso. Da companheira ou do companheiro de serviço quem nem o nota ou apenas o faz perder tempo. Tempo, tempo, tempo que atrasa a janta, que atrasa a limpeza do apartamento, que é desespero para o filho que nota o responsável zeloso e carinhoso ausente. Que faz o animal de estimação esperar mais um pouco. Tempo que vai esperar na parada, agora restabelecendo o penteado com gestos da mão em forma de pente, verificando as axilas e se houve manchas na camisa pelo esporte obrigatoriamente praticado em vão. A corrida sem medalha de mérito, a disfarçada logo em seguida, para verificar que os que encerravam o expediente também já se foram para outras paradas, rumo a suas casas, ou entraram em seus carros ou mesmo a pé sumiram; os passeadores já estão com seus cachorros a procurar novos postes, hidrantes ou placas; os demais já estão a folhear menus rumo a seus jantares e tantos outros nem recordarão da cena, apenas ele. Tão ele ali que tem apenas a si mesmo e não mais aquele ônibus fugitivo, mas à espera do próximo. Ainda pela mesma noite desenhada e na espera pelo acerto e pela antecipação vangloriosas do próximo dia, no prazer das pequenas vitórias e de conquistar pequenos troféus imaginários no manicômio a céu aberto.

21 de outubro de 2019

Sudoku

quando no violão dedilha
minha vida muito menos ilha
quando no violão dedilha
acordo as cordas e essas novas linhas
acordo as cordas e essas novelinhas

quando no violão dedilho
minha vida muito mais andarilho
quando no violão dedilho
mudo as cores e os brilhos
mudo o ritmo dos seus cílios

pensando nos nossos trilhos
pensando nos nossos filtros
pensando nos nossos trilhos
pensando nos nossos filtros

Sudamérica em colapso
e eu nem ao menos
um Sudoku que tomamos
nos seus braços
nós condenados
das ciências entre humanos

12 de outubro de 2019

poema enquanto cagava

celebrando cada pequena vitória sofrendo cada pequena derrota vivendo intensamente a história sentindo cada mudança de rota

10 de outubro de 2019

chapéu de hincha

não aguento + essa avenida passam caminhões muito pesados tentam os carros rebaixados arrastados que nem a minha vida não aguento + esse mundo passam caminhoneiros drogados logo vem os carros rebaixados eles batem o fundo

com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa

não aguento + esse bairro
ele era tudo que eu tinha
agora toda vez que eu saio
era a náusea que me cobria

não aguento + essa vizinha
ela tem voz de buzina
o marido é miliciano
preso no Paraguai faz uns anos
queria que fosse preso de novo
queria que fosse preso de novo
queria que fosse preso de novo

com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa

6 de outubro de 2019

separações II

"Concebendo a liberdade como o aumento das necessidades e sua pronta satisfação, alteram-lhes a natureza, porque fazem nascer neles uma multidão de desejos insensatos, de hábitos e imaginações absurdos. Não vivem senão para invejar-se mutuamente, para a sensualidade e a ostentação. Dar jantares, viajar, possuir carruagens, cargos, lacaios, passa tudo como uma necessidade à qual se sacrifica até sua vida, sua honra e o amor à humanidade, matarão-se mesmo, na impossibilidade de satisfazê-la. O mesmo ocorre entre aqueles que são ricos; quanto aos pobres, a insatisfação das necessidades e a inveja são no momento afogadas na embriaguez. Mas em breve, em lugar de vinho, embriagar-se-ão de sangue, é o fim para que os conduzem. Dizei-me se tal homem é livre. Um 'campeão da ideia' contava-me que, estando na prisão, privaram-no de fumo e que essa privação lhe foi tão penosa que quase traiu sua ideia para obtê-lo. Ora, esse indivíduo pretendia lutar pela humanidade. De que pode ser ele capaz? Quando muito dum esforço momentâneo, que não sustentará por muito tempo. Nada de admirar que os homens tenham encontrado sua servitude em lugar da liberdade, e que em lugar de servir à fraternidade e à união, tenham caído na desunião e na solidão, como mo dizia outrora meu visitante misterioso e mestre. De modo que a ideia do devotamento à humanidade, da fraternidade e da solidariedade desaparece gradualmente do mundo; na realidade, acolhem-na mesmo com derrisão, porque como desfazer-se de seus hábitos, aonde irá aquele prisioneiro das necessidades inumeráveis que ele próprio inventou? Na solidão, preocupa-se muito pouco com a coletividade. Afinal de contas, os bens materiais aumentaram e a alegria diminuiu."

Fiodor Dostoievski em Os Irmãos Karamazov.

separações

"Porque, no presente, cada qual aspira a separar sua personalidade dos outros, quer gozar ele próprio a plenitude da vida; entretanto, todos esses esforços, longe de atingir o alvo, só resultam num suicídio total, porque, em lugar de afirmar plena- mente sua personalidade, caem numa solidão completa. Com efeito, neste século, todos se fracionaram em unidades, cada qual se isola no seu buraco, separa-se dos outros, oculta-se, ele e seus bens, afasta-se de seus semelhantes e os afasta de si. Amontoa riqueza sozinho, felicita-se pelo seu poder e pela sua opulência; ignora, o insensato; que, quanto mais amontoa, mais se enterra numa impotência fatal. Porque está habituado a só contar consigo mesmo e destacou-se da coletividade, acostumou-se a não crer na entreajuda, no seu próximo, na humanidade, e treme somente à idéia de perder sua fortuna e os direitos que ela lhe confere. Por toda parte, em nossos dias, o espírito humano começa ridiculamente a perder de vista que a verdadeira garantia do indivíduo consiste não no seu esforço pessoal isolado, mas na solidariedade."

Fiodor Dostoievski em Os Irmãos Karamazov.

4 de outubro de 2019

além de 2030

Um pouco de prosa. Parece que a cada derrota que admitimos em desistência já encaminhamos a próxima, em uma esteira de produção desmoralizante. Não tenho conseguido romper o ciclo e tão certeiro como é a presença do inverno a cada ano, contornando o abril, rumo a maio, junho e julho, parece a eminência de meu futuro colapso.

Tenho dito que a situação geral do país se encaminha a isso. Hoje o panorama é de um estado do Rio Grande do Sul que não paga seus funcionários estatais, a prefeitura municipal de minha cidade começou também a parcelar salários do funcionalismo, o que desencadeou nas primeiras greves e protestos. Pesquisas apontam retrocessos na luta pelo combate à pobreza e o aumento da desigualdade salarial. Ouvem-se as mais diversas asneiras e besteiras das vozes oficiais, dominadas pelos mais dantescos personagens estrupícios. O colapso do país é eminente.

Voltando ao meu, também assim me aproximo em um mar de lama envolto a todos os lados. Sem perspectivas. Estou cercado e meu cérebro não consegue vencer os contornos. A não aceitação de compromissos e horários, a antissocialidade, a perda de paciência facilmente, o fechar-me a meus gostos e espaços restritos, o depender e sofrer a solidão de uma forma bastante peculiar. Meus pensamentos e consequentes atitudes acarretam o que tenho vivido. Cada vez que tento romper e perfurar essa bolha, não tenho obtido êxito. Me distraio em função da música, procuro conhecer novos artistas. Tenho lido meus livros, mas em ritmos mais lentos do que eu consideraria possível. Me distraio e me atormento em aulas que não sei exatamente onde usarei, enquanto custam-me turnos inteiros pelas tardes.

Tenho até recursos para voltar a ter terapia. Porém, não gostaria de sacrificar o essencial descanso de minhas manhãs, pouco utilizadas nessa década desde a conclusão do ensino médio. Recentemente um amigo de suma importância em minha caminhada, mas de opinião instável, por ser bem afortunado e variar muito suas escolhas desde que o conheci, me intercedeu que a saúde era importante nesse ponto. Apenas rapidamente concordei e não desenvolvemos muito o assunto. Imagino que ele também tenha passado por umas ruins.

Eu tenho passado por umas ruins. Mas isso tem estendido um interminável tapete pelo tempo. Uma fase ruim interminável. Para quem veja de fora, pode notar pequenas ou maiores conquistas e pensar-me bem. Mas a verdade é que não tenho conseguido ir mais. Pareço estar ligado no automático em tarefas do dia a dia. Me questiono inclusive se isto é a vida. Se tantos passam por isso na classe mais média das médias, mas nada sentem dessa minha espessa camada de náusea cotidiana.

Empregos, caminhos para se sustentar, oportunidades abertas, semi-abertas ou destruídas ou destrutivas de quem embarca. Faixas etárias que acompanho ano após ano e tornam-se pais e tornam-se mães. Dos meus tempos de ensino público, incluso a universidade, estava acostumado. Mas convivas dos tempos de ensino particular também entrando para a paternidade. Esquisito. Como dissociar aquelas figuras mongolonas das que estão nesse presente rapidamente atingido pelas rajadas da transformação?

E eu encontro mais nada. Vejo as possibilidades e elas nada me dizem e a nada me levam. Tudo bastante distante e meritocraticamente muito trabalhoso. Histórias de superação mais me entediam do que me encorajam. Assim como frases motivacionais. Não consigo desencapar meus próprios fios rumo à essa motivação, que me cruza palpavelmente distante ao passo que se esfrega aos meus olhos nas mais diferentes plataformas alheias. Me canso. Procuro onde possa descansar enquanto as garras do capitalismo me aprisionam.

Descobri recentemente que universidades dos Estados Unidos possuíam anos sabáticos para professores com 7 anos trabalhados. Descansa um. Um inteiro. Um ano recebendo e aproveitando de forma a voltar depois. Enquanto isso as jornadas de trabalho são gradativamente aumentadas. A loja de departamentos do ser mais miserável [de alma] do país regulamenta em seu contrato que funcionários possam trabalhar domingos e feriados independente de compensações justas. O sindicato, também com seus interesses próprios, tenta intervir. As pessoas, implorantes por emprego, querem aceitar os termos desumanos e rasgadores das constituições lutadas através do trabalhismo. Ultrajante.

Afetam-me todas as áreas: o suporte do que será financeiro, o suporte moral e cidadão do mundo, o suporte afetivo das pessoas que tão pouco suporto e o suporte destituído de sentido para tanta loucura em tão insalubre sistema.

Pensei recentemente que me apetecem os anos da década que está por vir, na numerologia repetida do 2 - de 2020 a 2029 - e mesmo depois, algo me faz simpatizar nesses números. Que não seja apenas a subjetividade que me permita querer vivê-los. Preocupantemente me sinto um clube à beira do rebaixamento. Talvez algum dos catarinenses da temporada, entre Avaí e Chapecoense na Série A ou Figueirense em crise financeira na Série B. Procuraremos depois se algum conseguiu escapar. Julgo que não. Quanto a eles e a mim, em comum de que necessitamos/necessitaríamos de alguma mudança mais radical, algum FATO NOVO - como na linguagem do futebol muitas vezes aparece este termo. Tento me comunicar com quem vocês imploram. E a ele quase ajoelho-me nessa condição de ao menos querer entender melhor meu papel aqui. Seja agora ou para os próximos anos de 2020... 2030.

Na adolescência me preocupava em salvar o mundo e escrevi uma canção com as preocupações climáticas e ecológicas. Chama-se "Além de 2030". E agora, antes disso para ir além disso: quem e como me salvar do mundo que já pensamos em salvar?

peso do piano

pensei em me chapar de pó
pensei que tanto faz
mas eu tenho dois pais
nas farmácias ou nos becos
onde que se vende a paz?
com receita ou sem receita
cê aceita ou cê rejeita
se meto essa na cabeça
sei que é assim que começa
alguns dizem como termina
outros terminam-se antes
tomando essas medidas
geração dos calmantes metanfetamina afeta uma abundância ambulância equipada o lab a ter em casa e pensar toda essa coisa era só bomba de asma às vezes mente tá rasa às vezes tá transbordando todos sabem da sua cruz ou o peso do piano não era bem assim mas qualé o outro plano?


3 de outubro de 2019

em marte ou mais além

fico feliz que tu goste
do que ele poste
essa bengala, esse sustento
também são o meu suporte
termos em comum nosso rapper preferido
me dá a sensação de dividir
contigo o nosso abrigo
e vira o melhor lugar
e eu me viro uma versão melhor de mim mesmo
me sinto mais aceso com esse post
me sinto mais devido - divino
o que queres que eu te mostre?
das palavras do mestre vou fazendo minha balestra
fazendo meu suporte, fazendo minha palestra
se a fala tava pior agora tá melhor que essa
logo vai ser superada por aquela
na evolução um processo de antemão
que vou tentando
e se a brisa sintoniza
minha mensagem te avisa
vamo embora pra Ibiza 
vamo embora na crista dessa onda
eu sei que tu me sonda
minha frequência te equaliza
nesse comprimento de onda

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

sigo o trem
deve ser a luz do fim do túnel
contra tantas trevas
tentando ficar imune
nesse mundo hardcore
impune com os piores
e condena os melhores
com as dores da compaixão
parece até mentira
parece até folclore
tanto neguinho que morre
quando vê também já fores
efêmera das flores
fêmea das minhas dores
paleta das minhas cores
canciones tan tricolores
pores do sol ao teu lado
melhores os resultados
dos fins daquelas tardes
que seguem acontecendo
mas eu já não sou o mesmo
me desgasto pouco mais cedo
bandeira a meio mastro
navio segue em pedaços
à deriva na retina
nenhum sinal de terra à vista
visão que me piora
visão que me despista
utopia da ideologia
pirata da fantasia
tesouro não encontrado
número que foi mudado
segue o Gabo falando de morte
nas Colômbias lá do Norte
das índias de outros Colombos
outros tempos, novos tombos
ser humano vacilão
empolguei, falei demais
vai de novo do refrão [em vão]
[e vão]

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

velocidade cinco, velocidade seis

resiliência é a questão
que evita eu me jogar da ponte
tenho que estar atento
para que eu não apronte
falo um monte de besteira
mas também escrevo um monte
conte logo seus problemas
meu ouvido é um horizonte

aquilo que vou ouvindo
as linhas já vão fluindo
liga tipo vinho tinto
as telas que eu já pinto
são elas o meu trabalho
eu não sei o quanto eu valho
nesse jogo de quantificar
quantos ficam por aqui
quantos do lado de lá?
oportunidade a definir
o que vai nos separar

penso nos que ficam aqui
e penso nos que ficam lá
vezesimporta atravessar
fazer a ponte e unir
na transparência de quem não esconde
de quem usa o tempo e mostra onde
o lobby não é meu hobby
vez em quando ouço um reggae
vez em quando ouço um bob
às vezes robert plant
também tá com a gente
nesse zeppelin cruzando o céu
sobrevoa o hell
enquanto passa rola a caça
e as ideias que vão no papel

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

firmezinho
estilo vinho
fluindo e abrindo o caminho
no que há de melhor no português
rimas, métricas adeptas
com as leis ou sem
adaptando as técnicas
na tática e na estética
nas ideias sabáticas
que deram um tempo
e foram passear
e o importante é sair do lugar
entender o outro lado
pra fundamentar
e o resultado está, está más alla
Galeano mandou
então vou caminhar

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

2 de outubro de 2019

gritava

às vezes o poeta trava
a caneta acaba a tinta
não minta pois acontece
agora só escrevo a lápis
não grito mais com caps
gritava
uma vida finita envelhece

in-edito

tudo é inédito
e assustador
essa dor eu já senti
por outro amor
como que salva
o trauma na alma
do jeito que ficou?

se for fevereiro II

será que até o inferno
e o céu são passageiros?
ou nós que somos nesse ônibus
ônus na estação final
desembarque e tchau

se for fevereiro

será que até o céu
e o inferno são passageiros?
levo o chapéu se for frio
e o deixo se for fevereiro

tudo tão efêmero

tudo é tão efêmero
tudo é tão breve
me doe esse momento [eterno]
para que não me doa o tormento
enquanto o vento da efemeridade
não me leve [ao inferno]