Pablo Neruda
Muda o jogo
Tudo muda Neruda
Leio mudo
Imagino o som da murga
No ouvido que não ouve
Ou no olvido de uma memória surda
Pablo Neruda
Poeta chileno
Lleno de semillas e mudas
10/12/2018
Compito
Compito
Com ou sem pito
Competência com ou sem petulância
Competir
Com petit versinhos
Conversar com verso
Concorrer corando
Andando ou parado
Num ponto do universo
07/2018
Com ou sem pito
Competência com ou sem petulância
Competir
Com petit versinhos
Conversar com verso
Concorrer corando
Andando ou parado
Num ponto do universo
07/2018
Parnasiano
Parnasiano
Teu par marciano
De outro planeta
De outro poeta veio o invento
Que eu tento modificar
Reinvento acento, verbo e complemento
Não aceito acabar insatisfeito
Nesse jogo sobrevivente
Aos austeros tempos
Teu par marciano
De outro planeta
De outro poeta veio o invento
Que eu tento modificar
Reinvento acento, verbo e complemento
Não aceito acabar insatisfeito
Nesse jogo sobrevivente
Aos austeros tempos
Te
Obrigado em cada verso que inspiraste
Em cada frase que indiretamente escreveste
Em cada roupa, cada soma, cada poema que vestiste
Em cada adjetivo que estiveste
Em cada vestíbulo povoaste
Em cada vestibular meu passaste
A cada "basta" meu, caçaste-me
A cada taça de vinho, caçoaste
Do caminho até aqui, não mais te
O oblíquo para usar: te
Não mais te
Não mais instigar
Não mais mastigar
Não mais te
Te não
Te são... passado
Em cada frase que indiretamente escreveste
Em cada roupa, cada soma, cada poema que vestiste
Em cada adjetivo que estiveste
Em cada vestíbulo povoaste
Em cada vestibular meu passaste
A cada "basta" meu, caçaste-me
A cada taça de vinho, caçoaste
Do caminho até aqui, não mais te
O oblíquo para usar: te
Não mais te
Não mais instigar
Não mais mastigar
Não mais te
Te não
Te são... passado
30/08/2018
inédito
inédito é o que escrevo
talvez patético
cético, manicômio magnético
mas cabe um crédito
pelo quê? por ser inédito
talvez patético
cético, manicômio magnético
mas cabe um crédito
pelo quê? por ser inédito
entrelaços
escrevi este verso
de outros versos
no lado inverso
contaminando outro universo
escrevi este disperso
de outros apreços
contaminando estes versos
em que apareço
fazendo um entrelaço
entre dois começos
de outros versos
no lado inverso
contaminando outro universo
escrevi este disperso
de outros apreços
contaminando estes versos
em que apareço
fazendo um entrelaço
entre dois começos
007
julho, mês de número sete
ouça o barulho da mente
antes do sete virar oito
antes da gente se conhecer
era outro ritmo, som e até cores
outros timbres, nuances, holofotes
refletores
batimentos, sofrimentos, resplendores
eram outros
éramos outros
erramos outros
eram outros pores e repores do sol
eram outros navios a vapores e farol
eram outros contra e outros prol
éramos outros
antes de sermos um só
ouça o barulho da mente
antes do sete virar oito
antes da gente se conhecer
era outro ritmo, som e até cores
outros timbres, nuances, holofotes
refletores
batimentos, sofrimentos, resplendores
eram outros
éramos outros
erramos outros
eram outros pores e repores do sol
eram outros navios a vapores e farol
eram outros contra e outros prol
éramos outros
antes de sermos um só
insônias
se te perguntavas
ser a insônia de alguém
não te perguntes mais
não que sejas a minha
mas quando estou com a insônia
me fazes companhia
ser a insônia de alguém
não te perguntes mais
não que sejas a minha
mas quando estou com a insônia
me fazes companhia
constelação
na constelação de tuas costelas
o mundo se desenha
as mais perfeitas tels, perfeição
missão que me venha as veias
na constelação de tuas costelas
sou astrounauta
falta oxigênio, me falta
nas verdadeiras estrelas
na constelação de tuas costelas
o verdadeiro ouro do planeta
que se esfrega ao couro da pele
nesse prazer por horas tê-las
o mundo se desenha
as mais perfeitas tels, perfeição
missão que me venha as veias
na constelação de tuas costelas
sou astrounauta
falta oxigênio, me falta
nas verdadeiras estrelas
na constelação de tuas costelas
o verdadeiro ouro do planeta
que se esfrega ao couro da pele
nesse prazer por horas tê-las
Todo mundo o tempo todo
Prometi, ao publicar o volume 1, um volume 2 sobre coisas, eventos, atividades extremamente importantes a nosotros, sejam comemorações ou rituais fúnebres, e que são ignorados pelo restante da população.
Outro pensamento formulado é sobre o distanciamento que as cidades provocam. As cidades grandes. É só tentar associar aos funerais indígenas e como as aldeias entram em estado de luto e de respeito, ou mesmo de choque para os próximos da vítima. Situação não vivenciada nas anônimas ocorrências do cotidiano dos maiores centros. Mal conhecemos nossos vizinhos, novos comerciantes de nossas zonas, pessoas de nosso bairro. Apartamentos ocultam e guardam as mais diferentes e inexploradas personalidades. Talvez apenas notamos, se é que notamos, a ausência após longos períodos, para aí sim descobrir que Fulano se mudou de endereço ou Ciclano faleceu de alguma causa desconhecida.
Percorro aqui a continuidade de episódios que ilustram o desconhecimento ou a ignorância (de não ligar, ignorar no modo mais grosseiro da palavra!) dos acontecimentos que muito significam a nós. Após a relatada conquista do Farroupilha e o exemplo do cemitério, que inclusive fica nas proximidades da sede do clube, vamos a outros exemplos: formaturas.
Na cidade interiorana que habito, é bem possível que os transeuntes ou motoristas espiem para o Theatro que recebe muitas das cerimônias. Apontar o nariz e procurar por conhecidos nas togas e capelos é quase uma obrigação. Procurar ao menos distinguir qual o curso que está recebendo novos profissionais em solene noite de completude.
Porém, ao depararmos com esse exemplo de formatura em capitais, o panorama pode ser outro. A preparação em tal dia especial começa muito cedo. Para as e os necessitadas(os) de mais tempo de preparação, escolhas de look, definição de esmaltes, maquiagens, penteados com tamanha antecedência. Dias ou até meses antes para diminuir a sempre presente margem de erro. Uma formatura tem lá seu preço e o investimento precisa colher de retorno na data da festividade. As parcelas que servem para decoração, produtora, fotografias, coquetéis e as mais diversas imagens querem uma exigente troca, uma recompensa no estimado dia que chega. Parece distante à certa altura do calendário, porém sempre se apresenta.
Quando a data entra no holofote do X da questão, não só o formando vai estar preparando-se para momento importante de sua passagem vital, mas os familiares e amigos também arrumam seus visuais, procurando aquela caixa de sapato que estava ao fundo do guarda-roupas ou conferindo se o vestido de festa de aniversário ainda está digno de novo uso. Consulta de preços para maquiagem ou a desistência do trabalho de terceiros para dedicar uma hora em casa nessa atividade.
As pessoas se dirigem rumo ao local do evento, que, como citado acima, pode ser distante em cidades maiores. E este é um dia que leva a cabeça a pensar em tantas coisas podendo gerar uma virtuosa introspecção, situação a qual eu mesmo me propus a quebrar o gelo, como se diz na linguagem popular. E assim acionei mais vozes a serem escutadas no carro enquanto nos aproximávamos da cerimônia. Um bom passatempo para esquecer minhas mãos que suam constantemente ao contato do tecido dos ternos e que me fazem utilizar quantidades (quanto mais melhor!) de lenços de papel e de algodão. 100% algodão sempre que possível.
Eis que a viagem, demorada que foi, também fala muito sobre talvez o principal aspecto que me deixa reflexivo sobre essas situações de oásis ou trevas de luto em meio ao caos alrededor. Cada nave ocupada por motoristas com ou sem tripulantes tem uma história diferente, um ponto de vista distinto e uma opinião diversificada a respeito do dia. Pode ser só mais um sábado qualquer - como o nome daquele site de tirinhas. Pode se tratar de um sábado difícil pelas dívidas, aluguel atrasado, problemas com um carro recém batido, com uma pensão não paga, com um relacionamento descarrilando, com um parente próximo enfermo. Ou pode ser o grande sábado de uma formatura aguardada faz anos. Mas entre veículos que aqui dobram ou ali seguem, não fazemos ideia de quem ocupa os bancos ao lado. Abastecido da leitura de Medo e Confiança na Cidade do polonês Zygmunt Bauman, faz mais sentido entendermos o desconhecimento e a ignorância que temos em relação aos ocupantes próximos. Não sabemos com quem pegamos ônibus, trens e trânsito em geral. Perdemos oportunidades de contatos que possam ser importantes, mas nos sentimos protegidos de potenciais agressores, maníacos, dependentes químicos e outras formas de sentir-nos ameaçados.
Assim como nada sabemos dos outros Fox, Hyundai, Gol, Peugeot, Mercedes, Fiat, nada sabem de nossa expectativa pela formatura. Beira-nos a dúvida também outra possibilidade. Caso soubessem da importância referente ao dia, dariam passagem, estimariam bom proveito, presenteariam com mensagens de incentivo? Ou apenas diriam e eu com isso, tenho nada que ver, tenho meus próprios problemas, tô com mais pressa que vocês.
Enfim, em meio a encontros e desencontros citadinos, pessoas mais ou menos gentis, em dias mais prazerosos ou penosos, concluem-se essas missões repletas de cláusulas, barreiras, infortúnios, imprevistos, desvios e diferenças no que se pensa e no que se faz.
Continuamos caminhando anonimamente, cumprindo apostas de caminhar 20 quilômetros, rodando em carros fabricados pós-2011 como motoristas de uber, recebendo e cruzando por trabalhadores e desempregados, mães, pais, filhos e filhas, eleitores de esquerda ou de direita, pugilistas de nossas próprias e desconhecidas batalhas. Como em canção interpretada por Ney Matogrosso, todo mundo o tempo todo - mas sem você ver.
Outro pensamento formulado é sobre o distanciamento que as cidades provocam. As cidades grandes. É só tentar associar aos funerais indígenas e como as aldeias entram em estado de luto e de respeito, ou mesmo de choque para os próximos da vítima. Situação não vivenciada nas anônimas ocorrências do cotidiano dos maiores centros. Mal conhecemos nossos vizinhos, novos comerciantes de nossas zonas, pessoas de nosso bairro. Apartamentos ocultam e guardam as mais diferentes e inexploradas personalidades. Talvez apenas notamos, se é que notamos, a ausência após longos períodos, para aí sim descobrir que Fulano se mudou de endereço ou Ciclano faleceu de alguma causa desconhecida.
Percorro aqui a continuidade de episódios que ilustram o desconhecimento ou a ignorância (de não ligar, ignorar no modo mais grosseiro da palavra!) dos acontecimentos que muito significam a nós. Após a relatada conquista do Farroupilha e o exemplo do cemitério, que inclusive fica nas proximidades da sede do clube, vamos a outros exemplos: formaturas.
Na cidade interiorana que habito, é bem possível que os transeuntes ou motoristas espiem para o Theatro que recebe muitas das cerimônias. Apontar o nariz e procurar por conhecidos nas togas e capelos é quase uma obrigação. Procurar ao menos distinguir qual o curso que está recebendo novos profissionais em solene noite de completude.
Porém, ao depararmos com esse exemplo de formatura em capitais, o panorama pode ser outro. A preparação em tal dia especial começa muito cedo. Para as e os necessitadas(os) de mais tempo de preparação, escolhas de look, definição de esmaltes, maquiagens, penteados com tamanha antecedência. Dias ou até meses antes para diminuir a sempre presente margem de erro. Uma formatura tem lá seu preço e o investimento precisa colher de retorno na data da festividade. As parcelas que servem para decoração, produtora, fotografias, coquetéis e as mais diversas imagens querem uma exigente troca, uma recompensa no estimado dia que chega. Parece distante à certa altura do calendário, porém sempre se apresenta.
Quando a data entra no holofote do X da questão, não só o formando vai estar preparando-se para momento importante de sua passagem vital, mas os familiares e amigos também arrumam seus visuais, procurando aquela caixa de sapato que estava ao fundo do guarda-roupas ou conferindo se o vestido de festa de aniversário ainda está digno de novo uso. Consulta de preços para maquiagem ou a desistência do trabalho de terceiros para dedicar uma hora em casa nessa atividade.
As pessoas se dirigem rumo ao local do evento, que, como citado acima, pode ser distante em cidades maiores. E este é um dia que leva a cabeça a pensar em tantas coisas podendo gerar uma virtuosa introspecção, situação a qual eu mesmo me propus a quebrar o gelo, como se diz na linguagem popular. E assim acionei mais vozes a serem escutadas no carro enquanto nos aproximávamos da cerimônia. Um bom passatempo para esquecer minhas mãos que suam constantemente ao contato do tecido dos ternos e que me fazem utilizar quantidades (quanto mais melhor!) de lenços de papel e de algodão. 100% algodão sempre que possível.
Eis que a viagem, demorada que foi, também fala muito sobre talvez o principal aspecto que me deixa reflexivo sobre essas situações de oásis ou trevas de luto em meio ao caos alrededor. Cada nave ocupada por motoristas com ou sem tripulantes tem uma história diferente, um ponto de vista distinto e uma opinião diversificada a respeito do dia. Pode ser só mais um sábado qualquer - como o nome daquele site de tirinhas. Pode se tratar de um sábado difícil pelas dívidas, aluguel atrasado, problemas com um carro recém batido, com uma pensão não paga, com um relacionamento descarrilando, com um parente próximo enfermo. Ou pode ser o grande sábado de uma formatura aguardada faz anos. Mas entre veículos que aqui dobram ou ali seguem, não fazemos ideia de quem ocupa os bancos ao lado. Abastecido da leitura de Medo e Confiança na Cidade do polonês Zygmunt Bauman, faz mais sentido entendermos o desconhecimento e a ignorância que temos em relação aos ocupantes próximos. Não sabemos com quem pegamos ônibus, trens e trânsito em geral. Perdemos oportunidades de contatos que possam ser importantes, mas nos sentimos protegidos de potenciais agressores, maníacos, dependentes químicos e outras formas de sentir-nos ameaçados.
Assim como nada sabemos dos outros Fox, Hyundai, Gol, Peugeot, Mercedes, Fiat, nada sabem de nossa expectativa pela formatura. Beira-nos a dúvida também outra possibilidade. Caso soubessem da importância referente ao dia, dariam passagem, estimariam bom proveito, presenteariam com mensagens de incentivo? Ou apenas diriam e eu com isso, tenho nada que ver, tenho meus próprios problemas, tô com mais pressa que vocês.
Enfim, em meio a encontros e desencontros citadinos, pessoas mais ou menos gentis, em dias mais prazerosos ou penosos, concluem-se essas missões repletas de cláusulas, barreiras, infortúnios, imprevistos, desvios e diferenças no que se pensa e no que se faz.
Continuamos caminhando anonimamente, cumprindo apostas de caminhar 20 quilômetros, rodando em carros fabricados pós-2011 como motoristas de uber, recebendo e cruzando por trabalhadores e desempregados, mães, pais, filhos e filhas, eleitores de esquerda ou de direita, pugilistas de nossas próprias e desconhecidas batalhas. Como em canção interpretada por Ney Matogrosso, todo mundo o tempo todo - mas sem você ver.
26/08/2018
24/08/2018
algures
Povoados, aldeias, comunidades, organizações. O interior e a falta de conectividade, de ligação com o mundo estrangeiro. Estrangeiro no sentido de ser exterior a essas comunidades, não necessariamente de outro país. Quanto mais isolados esses povoados, maiores fenômenos como a xenofobia: aversão, medo, pânico, ansiedade, dúvida, desconcerto em relação ao que é de fora.
Numa dessas viagens, num desses passeios pelo interior brasileiro, encontramos ao Sul uma cidade com essas características logo de entrada. Por mais que cocem os dedos para revelar a localização, dar nomes aos bois, como diz o ditado, manteremos em sigilo. Vistam a carapuça as cidades assim assimiladas por seus moradores ou visitadores.
As entradas desses locais são muito enfeitadas, a grama cortada e, se possível, cheirando à grama cortada - sempre. Pórticos de bem-vindo na escritura de um lado e de volte sempre nos dizeres do outro. Flores, como se as tulipas holandesas nem pudessem competir com tamanha harmonia e animosidade. Não há no mundo formação mais mimosa.
Avenidas de entrada muito convidativas, rótula de acesso com o nome da cidade em letras em pedra. Mais algum monumento, de toda a preferência, que seja marcante aos olhos para o visitador informar a seus parentes, aos colegas de trabalho ou enquanto corta o cabelo em um salão ou barbearia.
Ali estão os pequenos estabelecimentos bem cuidados, tintura em dia, organização nas vitrines e vendedores atenciosos à espera de uma calorosa entrada de potenciais clientes. Pelas rotas principais que ligam ao centro - rapidamente, em menos de dois minutos pelo tamanho da localidade -, uma carreata ajuda na recepção. É uma carreata da saúde, mas em nada surpreenderia se o personagem apelidado de Zé Gotinha fosse, na verdade, um usuário do capuz da Ku Klux Klan.
As suspeitas aumentam-se com uma marcha para Jesus, logo na sequência. Grupo de jovens, comuns nas igrejas pelo interior, vestidos prioritariamente de branco. Violão nas mãos de uns e cânticos para louvar logo pela manhã. Abordagens em alguns estabelecimentos e transeuntes, dos quais faço questão de me certificar ao outro lado da calçada. Nada contra essa devoção e diálogos sobre o tema, mas não queria atrapalhar minha ligeira rota turística. Veja bem, não tinha muito tempo para visitar a arquitetura e opções do lugar e as passeatas joviais das igrejas são comuns país a dentro, país a fora ou afora, nunca sei a grafia nessa horas.
Exemplos para se sentir estranhamente acolhido num povoado de limpeza nas ruas, jardins organizados, sombras de árvores, monumentos conservados, mesas distribuídas em frente a um café, lojas com vendedores dispostos e trânsito pacato. Ao mesmo tempo, a dificuldade comum a muitos para sentir a noção do pertencimento. Qualquer estrangeiro ali deve ser notado, questionado, indagado, mesmo que seja apenas através de olhares atravessados, inquisidores talvez.
Por trás de uma manhã ensolarada e cumprimentos de senhores aposentados, quanto preconceito e aversão a estrangeiros podem estar escondidos? Necessitaria de mais tempo no local, passar no concurso público de repente, para uma maior noção dos acontecimentos. A intolerância, palavra que me fugiu ao início do texto, mas está devidamente agora pescada e resgatada ao bote, a intolerância é um dos padrões naturalizados nessas comunidades. São muito amáveis e respeitosos com quem os ajuda, mas vá saber a ira e o ódio que os desperta gente com qualquer intuito de escorar-se ou prejudicar-lhes no fim das contas.
Muitos ali, a maioria dos componentes da cidade, são descendentes de italianos ou alemães. Se os mais velhos não são diretamente desses países, ao menos filhos e netos dos europeus estão presentes. Como esses imigrantes ou descendentes de imigrantes do passado tratam aos imigrantes do presente? Haitianos, senegaleses, angolanos e de outros países, representando outras etnias. Questionamentos.
Na saída, após fotos com relógios no centro, uma fonte que espirra água longe e mais algumas bonitas arquiteturas bem desenhas e devidamente distribuídas, me deparo com outro aviso. Outdoors do pior candidato à presidência. Estes sinalizadores na estrada estando intactos, sem sofrer represálias de pessoas mais conscientizadas. Sem sofrer ataques de quem sabe o mal que ele representa, que pode atingir a diferentes culturas, a diferentes pessoas. Mais uma vez escancara-se o problema das comunidades, das organizações muito fechadas. Desconhecedoras das origens, dos lados de outrem, dos problemas sociais e suas causas país adentro ou afora ou à fora. Identifico essas potenciais xenofobias, mas sigo desconhecendo essa grafia.
Numa dessas viagens, num desses passeios pelo interior brasileiro, encontramos ao Sul uma cidade com essas características logo de entrada. Por mais que cocem os dedos para revelar a localização, dar nomes aos bois, como diz o ditado, manteremos em sigilo. Vistam a carapuça as cidades assim assimiladas por seus moradores ou visitadores.
As entradas desses locais são muito enfeitadas, a grama cortada e, se possível, cheirando à grama cortada - sempre. Pórticos de bem-vindo na escritura de um lado e de volte sempre nos dizeres do outro. Flores, como se as tulipas holandesas nem pudessem competir com tamanha harmonia e animosidade. Não há no mundo formação mais mimosa.
Avenidas de entrada muito convidativas, rótula de acesso com o nome da cidade em letras em pedra. Mais algum monumento, de toda a preferência, que seja marcante aos olhos para o visitador informar a seus parentes, aos colegas de trabalho ou enquanto corta o cabelo em um salão ou barbearia.
Ali estão os pequenos estabelecimentos bem cuidados, tintura em dia, organização nas vitrines e vendedores atenciosos à espera de uma calorosa entrada de potenciais clientes. Pelas rotas principais que ligam ao centro - rapidamente, em menos de dois minutos pelo tamanho da localidade -, uma carreata ajuda na recepção. É uma carreata da saúde, mas em nada surpreenderia se o personagem apelidado de Zé Gotinha fosse, na verdade, um usuário do capuz da Ku Klux Klan.
As suspeitas aumentam-se com uma marcha para Jesus, logo na sequência. Grupo de jovens, comuns nas igrejas pelo interior, vestidos prioritariamente de branco. Violão nas mãos de uns e cânticos para louvar logo pela manhã. Abordagens em alguns estabelecimentos e transeuntes, dos quais faço questão de me certificar ao outro lado da calçada. Nada contra essa devoção e diálogos sobre o tema, mas não queria atrapalhar minha ligeira rota turística. Veja bem, não tinha muito tempo para visitar a arquitetura e opções do lugar e as passeatas joviais das igrejas são comuns país a dentro, país a fora ou afora, nunca sei a grafia nessa horas.
Exemplos para se sentir estranhamente acolhido num povoado de limpeza nas ruas, jardins organizados, sombras de árvores, monumentos conservados, mesas distribuídas em frente a um café, lojas com vendedores dispostos e trânsito pacato. Ao mesmo tempo, a dificuldade comum a muitos para sentir a noção do pertencimento. Qualquer estrangeiro ali deve ser notado, questionado, indagado, mesmo que seja apenas através de olhares atravessados, inquisidores talvez.
Por trás de uma manhã ensolarada e cumprimentos de senhores aposentados, quanto preconceito e aversão a estrangeiros podem estar escondidos? Necessitaria de mais tempo no local, passar no concurso público de repente, para uma maior noção dos acontecimentos. A intolerância, palavra que me fugiu ao início do texto, mas está devidamente agora pescada e resgatada ao bote, a intolerância é um dos padrões naturalizados nessas comunidades. São muito amáveis e respeitosos com quem os ajuda, mas vá saber a ira e o ódio que os desperta gente com qualquer intuito de escorar-se ou prejudicar-lhes no fim das contas.
Muitos ali, a maioria dos componentes da cidade, são descendentes de italianos ou alemães. Se os mais velhos não são diretamente desses países, ao menos filhos e netos dos europeus estão presentes. Como esses imigrantes ou descendentes de imigrantes do passado tratam aos imigrantes do presente? Haitianos, senegaleses, angolanos e de outros países, representando outras etnias. Questionamentos.
Na saída, após fotos com relógios no centro, uma fonte que espirra água longe e mais algumas bonitas arquiteturas bem desenhas e devidamente distribuídas, me deparo com outro aviso. Outdoors do pior candidato à presidência. Estes sinalizadores na estrada estando intactos, sem sofrer represálias de pessoas mais conscientizadas. Sem sofrer ataques de quem sabe o mal que ele representa, que pode atingir a diferentes culturas, a diferentes pessoas. Mais uma vez escancara-se o problema das comunidades, das organizações muito fechadas. Desconhecedoras das origens, dos lados de outrem, dos problemas sociais e suas causas país adentro ou afora ou à fora. Identifico essas potenciais xenofobias, mas sigo desconhecendo essa grafia.
22/08/2018
mais um pouco sobre shoppings
Shopping Center não aparece pela primeira vez como assunto de texto aqui. Até vou procurar, ao finalizar este texto, se o shopping está presente nas hashtags de meu histórico. Relembrando as aventuras e peripécias da última viagem realizada, mais uma vez um ponto 'seguro' para realizar refeições e compras foi um centro das compras.
Isso havia acontecido em excursões passadas durante minha graduação. Joinville, Curitiba e Rio de Janeiro nos destinos. Acredito que o de Criciúma tenha nascido a partir de uma rede de supermercados, que foi se moldando para ocupar as necessidades humanas modernas e urbanas. Academia, pet shop, fast foods nos cardápios aos sentidos.
Shopping tem a ver com padronização, conforto, comodidade e facilidade. O modus operandi sendo comum em todas essas cidades e em quase todas as cidades do mundo que contam com eles. A cultura ocidental suprimida, repetida, dividida como se estivesse em cápsulas para o consumo. Lojas semelhantes, restaurantes semelhantes, banheiros que lavam e secam suas mãos de forma automática e facilitam o acerto no lixo no arremesso final do papel higiênico.
Existe o lado duplo dos avanços tecnológicos. O incluir e facilitar e acomodar aos mais jovens pode se misturar ao excluir os mais velhos. Mas meus familiares mais antiquados e desacostumados conseguiram jantar com um pouco de compreensão dos atendentes. Aliás, consegui ser atendido de péssimo modo na noite seguinte, quando a atendente demonstrava insatisfação com seu trabalho, ou seria com os clientes? Espero que nada pessoal contra a minha pessoa.
Pois bem, eis outra contradição desses avanços tecnológicos. Atendentes podem ser mais pacientes e explicativos com públicos mais velhos, mas realmente esperam que todos os jovens, seja lá de que interior vieram, saibam manusear as tecnologias, os aplicativos, as ordens e regras. Qualquer comportamento anormal quanto a isso causa estranhamento. Se você tiver menos de 45 anos. Ou seja lá qual idade você queira delimitar para esse tópico, mas espero que tenha entendido.
O elogio que tenho ao centro das compras de Criciúma é mera coincidência, um erro, um equívoco, ou simplesmente um acerto em cheio aos meus gostos. Por ser grande demais ao público que se apresentou, preferi os atendimentos feitos nesse shopping. Estacionamento fácil, com várias vagas disponíveis, literalmente vagas. Sem congestionamento nas lojas ou na hora de pedir comida. Ou mesmo nas filas do supermercado. Ou, a mais elogiável, várias e várias e várias mesas vagas para aproveitar o lanche, o almoço, a refeição, enfim. Comer com apenas a música ambiente e quase nenhum burburinho, quase nenhum barulho de motor, de tão indecifráveis as conversas que se somam até me esgotarem a resistência. Foram refeições tranquilas.
Foi uma passagem por shopping muito menos dolorosa do que em outras oportunidades. Consegui visualizar e trocar palavras para as responsáveis pela limpeza das bandejas. Consegui trocar comunicação com uma vendedora atenciosa. Consegui ser atendido sem o sentimento de estar atrapalhando aos subsequentes da fila. E tudo isso, sobre shoppings, não é pouca coisa.
Isso havia acontecido em excursões passadas durante minha graduação. Joinville, Curitiba e Rio de Janeiro nos destinos. Acredito que o de Criciúma tenha nascido a partir de uma rede de supermercados, que foi se moldando para ocupar as necessidades humanas modernas e urbanas. Academia, pet shop, fast foods nos cardápios aos sentidos.
Shopping tem a ver com padronização, conforto, comodidade e facilidade. O modus operandi sendo comum em todas essas cidades e em quase todas as cidades do mundo que contam com eles. A cultura ocidental suprimida, repetida, dividida como se estivesse em cápsulas para o consumo. Lojas semelhantes, restaurantes semelhantes, banheiros que lavam e secam suas mãos de forma automática e facilitam o acerto no lixo no arremesso final do papel higiênico.
Existe o lado duplo dos avanços tecnológicos. O incluir e facilitar e acomodar aos mais jovens pode se misturar ao excluir os mais velhos. Mas meus familiares mais antiquados e desacostumados conseguiram jantar com um pouco de compreensão dos atendentes. Aliás, consegui ser atendido de péssimo modo na noite seguinte, quando a atendente demonstrava insatisfação com seu trabalho, ou seria com os clientes? Espero que nada pessoal contra a minha pessoa.
Pois bem, eis outra contradição desses avanços tecnológicos. Atendentes podem ser mais pacientes e explicativos com públicos mais velhos, mas realmente esperam que todos os jovens, seja lá de que interior vieram, saibam manusear as tecnologias, os aplicativos, as ordens e regras. Qualquer comportamento anormal quanto a isso causa estranhamento. Se você tiver menos de 45 anos. Ou seja lá qual idade você queira delimitar para esse tópico, mas espero que tenha entendido.
O elogio que tenho ao centro das compras de Criciúma é mera coincidência, um erro, um equívoco, ou simplesmente um acerto em cheio aos meus gostos. Por ser grande demais ao público que se apresentou, preferi os atendimentos feitos nesse shopping. Estacionamento fácil, com várias vagas disponíveis, literalmente vagas. Sem congestionamento nas lojas ou na hora de pedir comida. Ou mesmo nas filas do supermercado. Ou, a mais elogiável, várias e várias e várias mesas vagas para aproveitar o lanche, o almoço, a refeição, enfim. Comer com apenas a música ambiente e quase nenhum burburinho, quase nenhum barulho de motor, de tão indecifráveis as conversas que se somam até me esgotarem a resistência. Foram refeições tranquilas.
Foi uma passagem por shopping muito menos dolorosa do que em outras oportunidades. Consegui visualizar e trocar palavras para as responsáveis pela limpeza das bandejas. Consegui trocar comunicação com uma vendedora atenciosa. Consegui ser atendido sem o sentimento de estar atrapalhando aos subsequentes da fila. E tudo isso, sobre shoppings, não é pouca coisa.
21/08/2018
combina
essa aleatoriedade
combina contigo
porque tu não combina
com o mundo
essa insanidade
seria um abrigo
por que não seria
abrigo de tudo?
combina contigo
porque tu não combina
com o mundo
essa insanidade
seria um abrigo
por que não seria
abrigo de tudo?
15/08/2018
estava ali o tempo todo só você não viu
Entalado aquele texto que não escrevo, mas jamais enlatado. Liberto de minhas próprias jaulas, ponho-me a escrevê-lo. Duas ocasiões, mesmo mês e os ingredientes dessas linhas postos diante de mim. Missão dada é missão cumprida era um dito do Coronel Ewaldo Poeta, ex-presidente e eterno presidente do Grêmio Atlético Farroupilha, falecido aos mais de 90 anos em aproximadamente meia vida dedicada ao clube fragatense.
É do Fragata que vem a primeira exemplificação do que pretendo aqui. O Farroupilha subiu da mais baixa das divisões do futebol profissional gaúcho ao eliminar o Guarany da cidade de Bagé na fase semifinal, na soma de empates e na sorte e competência, competência e sorte de marcar o chamado gol qualificado, que é o feito fora de sua casa. Na volta, ao atingir o objetivo da heroica e histórica classificação, os guerreiros, juntamente com a comissão técnica e com quem, como num instrumento musical afinado, literalmente toca futebol naquelas bandas da cidade, tiveram o acesso em tremenda festa deles registrada sobre o empréstimo de um caminhão do Corpo de Bombeiros.
Animados e registrando o máximo possível desse sublime momento, os jogadores e membros da comissão transitaram pelas ruas da cidade, saindo da sede em estádio do clube tricolor pelas ruas mais centrais pelotenses. Tudo me parecia um pouco estranho, mas não sabia exatamente apontar o porquê. Eis que um comentário noturno em rede social, marcando a postagem sobre a comemoração me abriu aos olhos. A verdade é que a comemoração era muito mais dos atletas e dos participantes ativos da conquista do que da cidade. Embora buscamos incansavelmente a imagem de que o Farroupilha é o mais querido do município, situações das mais diversas ao cotidiano fizeram com que motoristas, pedestres e demais ocupantes das vias nem entendessem do que se tratava o evento, a carreata (que contou, sim, com alguns carros a seguí-los).
Por algumas fotos, foi possível ver ao redor um cenário inerte à importante conquista, a mais importante da maioria dos componentes do grupo dos tricolores. Carros que se sentiam presos em um trânsito já naturalmente caótico, pedestres de observações instantaneamente curiosas, por serem surpreendidos ou pela própria curiosidade ter morrido tão depressa quanto nasceu em brotáveis interrogações.
Detalhes talvez muito corriqueiros, que espero tenham passado batido pelos próprios celebradores. Mereciam e merecem grande reconhecimento e aclamação. Uma parcela limitada de torcedores apaixonados e ovacionais ao clube Farroupilha, alguns admiradores do futebol local e mais outros rapidamente inteirados ou saudosos de outros tempos mais gloriosos à instituição quase centenária da Avenida Duque de Caxias, Fragata. Estes estiveram juntos aplaudindo, incentivando e, com nada muito ensaiado, talvez cantando ao acompanhar o histórico e lendário torcedor Trem, no alto de seus mais de 70 anos apaixonados pelo Tricolor. Porém, os demais cidadãos, a esmagadora e ampla maioria nada ligavam e seguiam sua rotinas normalmente. Se nem no próprio Fragata o Farroupilha é unanimidade ou mesmo maioria, pouco sobra de prestígio às áreas mais centrais ou afastadas daquele reduto. Poderia ser uma celebração saborosa e partilhada.
Seria a logística, como um todo, uma escolha correta pelos planos de fundo pouco inerentes e predominantemente desconexos ao contexto? Será que a confusão de uma segunda-feira à tarde no trânsito complicou a programação? Ganhariam maior destaque e reconhecimento num fim de semana, atrapalhando menos vidas aceleradamente urbanas? Questões desse primeiro exemplo que espero tenham entendido.
Recapitulando a ideia central dessa descrição, considero digno de mágoas grandes conquistas pouco importadas e acolhidas pelos demais em volta. Outro ligeiro e rasteiro exemplo seria o respeito não apropriado ao luto alheio. Na mesma Avenida Duque de Caxias decorre a existência do maior cemitério local. Quantas vezes passamos ali em frente com N outros motivos e vemos pessoas debulhadas no mais profundo luto? Elas tendo que conviver com a passagem externa de pessoas tocando normalmente suas vidas. Vendedores de flores mais acostumados logo defronte aos portões de entrada, ok. Mas pessoas pegando o ônibus como fazem diariamente. Vendedores de lotéricas, carros, armazéns, farmácias e os demais comércios em volta no mais normal funcionamento. Até uma sorveteria - vejam só - abriu quase ao lado do cemitério. Toda oportunidade é capturada em busca da sobrevivência e dos lucros. Dos lucros para a sobrevivência, vejam bem.
Me estendendo sobre essa nem tão breve explicação sobre as ignorâncias - no ato de ignorar! - do dia a dia, sejam as mais brilhantes conquistas ou os mais pesarosos lutos, me despeço por ora nessa introdução. Vou reservar o outro exemplo ao outro texto, de acordo? Bom, apesar de tudo que foi listado, entendo que não há como estarmos a par de todos esses acontecimentos. Constantemente navegam críticas nos mares das redes sociais e do boca a boca no dia a dia sobre como ignoramos a ciência, as conquistas da física, da matemática, da química ou grandes literários. Tudo isso é verdade, ignoramos mesmo, ignorantes que somos por não conhecer, não nos interessar ou mesmo simplesmente não saber e não buscarmos saber. Erramos nós e erramos a mídia.
Curioso fato se desenrolou a partir de uma postagem falsa com atores do cinema pornográfico interpretando na manchete e no breve texto a estudantes brasileiros vencedores de prêmios internacionalmente aceitos. Muitos compartilharam sem saber que se tratava de uma notícia mais falsa do que nota de três pila. Acontece. Paladinos e justiceiros, como os defensores audaciosos do futebol no âmbito feminino em período de grandes disputas masculinas, como finais nacionais, europeias ou de copas mundiais. Eles também são pegos de surpresa compartilhando informações falsas a respeito de salários, de conquistas da seleção brasileira feminina ou outras tratativas mal averiguadas, mal apuradas ou de caráter negativo pela disseminação de informações falsas.
Ponto. Nova folha.
É do Fragata que vem a primeira exemplificação do que pretendo aqui. O Farroupilha subiu da mais baixa das divisões do futebol profissional gaúcho ao eliminar o Guarany da cidade de Bagé na fase semifinal, na soma de empates e na sorte e competência, competência e sorte de marcar o chamado gol qualificado, que é o feito fora de sua casa. Na volta, ao atingir o objetivo da heroica e histórica classificação, os guerreiros, juntamente com a comissão técnica e com quem, como num instrumento musical afinado, literalmente toca futebol naquelas bandas da cidade, tiveram o acesso em tremenda festa deles registrada sobre o empréstimo de um caminhão do Corpo de Bombeiros.
Animados e registrando o máximo possível desse sublime momento, os jogadores e membros da comissão transitaram pelas ruas da cidade, saindo da sede em estádio do clube tricolor pelas ruas mais centrais pelotenses. Tudo me parecia um pouco estranho, mas não sabia exatamente apontar o porquê. Eis que um comentário noturno em rede social, marcando a postagem sobre a comemoração me abriu aos olhos. A verdade é que a comemoração era muito mais dos atletas e dos participantes ativos da conquista do que da cidade. Embora buscamos incansavelmente a imagem de que o Farroupilha é o mais querido do município, situações das mais diversas ao cotidiano fizeram com que motoristas, pedestres e demais ocupantes das vias nem entendessem do que se tratava o evento, a carreata (que contou, sim, com alguns carros a seguí-los).
Por algumas fotos, foi possível ver ao redor um cenário inerte à importante conquista, a mais importante da maioria dos componentes do grupo dos tricolores. Carros que se sentiam presos em um trânsito já naturalmente caótico, pedestres de observações instantaneamente curiosas, por serem surpreendidos ou pela própria curiosidade ter morrido tão depressa quanto nasceu em brotáveis interrogações.
Detalhes talvez muito corriqueiros, que espero tenham passado batido pelos próprios celebradores. Mereciam e merecem grande reconhecimento e aclamação. Uma parcela limitada de torcedores apaixonados e ovacionais ao clube Farroupilha, alguns admiradores do futebol local e mais outros rapidamente inteirados ou saudosos de outros tempos mais gloriosos à instituição quase centenária da Avenida Duque de Caxias, Fragata. Estes estiveram juntos aplaudindo, incentivando e, com nada muito ensaiado, talvez cantando ao acompanhar o histórico e lendário torcedor Trem, no alto de seus mais de 70 anos apaixonados pelo Tricolor. Porém, os demais cidadãos, a esmagadora e ampla maioria nada ligavam e seguiam sua rotinas normalmente. Se nem no próprio Fragata o Farroupilha é unanimidade ou mesmo maioria, pouco sobra de prestígio às áreas mais centrais ou afastadas daquele reduto. Poderia ser uma celebração saborosa e partilhada.
Seria a logística, como um todo, uma escolha correta pelos planos de fundo pouco inerentes e predominantemente desconexos ao contexto? Será que a confusão de uma segunda-feira à tarde no trânsito complicou a programação? Ganhariam maior destaque e reconhecimento num fim de semana, atrapalhando menos vidas aceleradamente urbanas? Questões desse primeiro exemplo que espero tenham entendido.
Recapitulando a ideia central dessa descrição, considero digno de mágoas grandes conquistas pouco importadas e acolhidas pelos demais em volta. Outro ligeiro e rasteiro exemplo seria o respeito não apropriado ao luto alheio. Na mesma Avenida Duque de Caxias decorre a existência do maior cemitério local. Quantas vezes passamos ali em frente com N outros motivos e vemos pessoas debulhadas no mais profundo luto? Elas tendo que conviver com a passagem externa de pessoas tocando normalmente suas vidas. Vendedores de flores mais acostumados logo defronte aos portões de entrada, ok. Mas pessoas pegando o ônibus como fazem diariamente. Vendedores de lotéricas, carros, armazéns, farmácias e os demais comércios em volta no mais normal funcionamento. Até uma sorveteria - vejam só - abriu quase ao lado do cemitério. Toda oportunidade é capturada em busca da sobrevivência e dos lucros. Dos lucros para a sobrevivência, vejam bem.
Me estendendo sobre essa nem tão breve explicação sobre as ignorâncias - no ato de ignorar! - do dia a dia, sejam as mais brilhantes conquistas ou os mais pesarosos lutos, me despeço por ora nessa introdução. Vou reservar o outro exemplo ao outro texto, de acordo? Bom, apesar de tudo que foi listado, entendo que não há como estarmos a par de todos esses acontecimentos. Constantemente navegam críticas nos mares das redes sociais e do boca a boca no dia a dia sobre como ignoramos a ciência, as conquistas da física, da matemática, da química ou grandes literários. Tudo isso é verdade, ignoramos mesmo, ignorantes que somos por não conhecer, não nos interessar ou mesmo simplesmente não saber e não buscarmos saber. Erramos nós e erramos a mídia.
Curioso fato se desenrolou a partir de uma postagem falsa com atores do cinema pornográfico interpretando na manchete e no breve texto a estudantes brasileiros vencedores de prêmios internacionalmente aceitos. Muitos compartilharam sem saber que se tratava de uma notícia mais falsa do que nota de três pila. Acontece. Paladinos e justiceiros, como os defensores audaciosos do futebol no âmbito feminino em período de grandes disputas masculinas, como finais nacionais, europeias ou de copas mundiais. Eles também são pegos de surpresa compartilhando informações falsas a respeito de salários, de conquistas da seleção brasileira feminina ou outras tratativas mal averiguadas, mal apuradas ou de caráter negativo pela disseminação de informações falsas.
Ponto. Nova folha.
encolhas e escolhas
encolho-me de frio, de vergonha, de surdez para ouvir os mais baixos do que eu, falando-me ao pé do ouvido. encolho-me de pura e insensata má postura. e má postura gerada por frio, vergonha, timidez ou surdez.
encolho-me em pensamentos de imaginar-me velho, idoso, mais encolhido do que nunca. e lembrando e rememorando o que eram duras tarefas que aos poucos ganham status de apenas conselhos amorosos e repletos de ternura, numa verdadeira transformação metamorfose.
- escova os dentes
- pratica exercício
- sai um pouco desse computador, vai te fazer mal pra vista
- ajeita essa postura
e a vida naquele jogo de encararmos óticas diferentes para cada momento. o que parecia um grande esforço, um grande desafio e uma provocação brutal e árdua contra a alojada preguiça, agora se transforma em lamentos, em orações carregadas de início da subordinação "se". se fosse daquele jeito que sabíamos ser correto, hoje seria de outra forma.
invernos que passam e novamente encolho-me, mais do que nunca. de frio, de vergonha, de timidez, de reflexão, de surdez para ouvir minha própria voz. sentindo a falta daqueles mais torturantes conselhos de ocasião, os quais não tenho mais, não posso mais ouvi-los fora de minha mente, por mais que eu me encolha para ouvir os mais baixos ou me estique para ouvir os mais altos.
encolho-me em pensamentos de imaginar-me velho, idoso, mais encolhido do que nunca. e lembrando e rememorando o que eram duras tarefas que aos poucos ganham status de apenas conselhos amorosos e repletos de ternura, numa verdadeira transformação metamorfose.
- escova os dentes
- pratica exercício
- sai um pouco desse computador, vai te fazer mal pra vista
- ajeita essa postura
e a vida naquele jogo de encararmos óticas diferentes para cada momento. o que parecia um grande esforço, um grande desafio e uma provocação brutal e árdua contra a alojada preguiça, agora se transforma em lamentos, em orações carregadas de início da subordinação "se". se fosse daquele jeito que sabíamos ser correto, hoje seria de outra forma.
invernos que passam e novamente encolho-me, mais do que nunca. de frio, de vergonha, de timidez, de reflexão, de surdez para ouvir minha própria voz. sentindo a falta daqueles mais torturantes conselhos de ocasião, os quais não tenho mais, não posso mais ouvi-los fora de minha mente, por mais que eu me encolha para ouvir os mais baixos ou me estique para ouvir os mais altos.
13/08/2018
escritório
no escritório
se esquivavam ideias cheias de vontade
de terem asas e serem sonhos
no escritório
haviam números, gráficos e polinômios
no escritório tudo se traía
principalmente sonhos
como somos
e também hormônios
no escritório tudo se submetia
a números, gráficos e polinômios
se eu já disse
saiba que se repetia
todo dia
todo dia
tudo se subtraía
no escritório
contrário à poesia
a poesia se contraía
não se elegia
sem ter quórum
nesse forum
dos que não foram
do que seria
se esquivavam ideias cheias de vontade
de terem asas e serem sonhos
no escritório
haviam números, gráficos e polinômios
no escritório tudo se traía
principalmente sonhos
como somos
e também hormônios
no escritório tudo se submetia
a números, gráficos e polinômios
se eu já disse
saiba que se repetia
todo dia
todo dia
tudo se subtraía
no escritório
contrário à poesia
a poesia se contraía
não se elegia
sem ter quórum
nesse forum
dos que não foram
do que seria
vaga leme
vaga
vaga leme
gira gira gira
geme geme geme
fecha a escotilha
e volta nossa fênix
vaga
vaga lume
noite noite noite
surge surge surge
vaga mente
urge urge urge
vaga leme
gira gira gira
geme geme geme
fecha a escotilha
e volta nossa fênix
vaga
vaga lume
noite noite noite
surge surge surge
vaga mente
urge urge urge
08/08/2018
saltemos
sumir
sou mar
estou aqui
e também lá
venci
vem cá
águas prontas
para te curar
vem a
doçar
vem a
dançar
mesmo que o sal
nunca vá se acabar
sou mar
estou aqui
e também lá
venci
vem cá
águas prontas
para te curar
vem a
doçar
vem a
dançar
mesmo que o sal
nunca vá se acabar
06/08/2018
Malgi Mágica
Começo esse registro ainda no domingo referente ao evento. Mas o concluo na segunda-feira seguinte. De forma especial, a equipe local de futsal, a Malgi se tornou campeã gaúcha pela primeira vez. Uma conquista inédita para a cidade no futebol de salão feminino. Um projeto de dez anos com vários parceiros, com começos e fins, mas a persistência falando mais alto. Ecoando pelos quatro ou mais cantos do estado. Adversárias da região metropolitana, extremo norte, centro gaúcho, Rodeio Bonito, Cruz Alta, Uruguaiana. Enfim, dessa vez ninguém foi páreo para o futsal pelotense. Uma conquista que muito orgulha em saber que a região ainda revela talentos e capta e acolhe bem aos talentos de fora. Assim desejamos.
De ano para cá, entendo cada vez mais a importância e subsistência dependente dos patrocinadores. Com cada nome lembrado e agradecido, a Malgi Futsal chegou lá. Após uma primeira fase invicta, vencendo pela primeira vez na sua (nem tão, hein) recente história o bom e tradicional time de Uruguaiana na fronteira oeste, a Malgi passou pelas adversárias do Figueira na semifinal com duas goleadas. Prontas para voos maiores, a decisão colocou de novo frente a frente as pelotenses e as uruguaianenses.
O jogo de ida saiu do habitual e terminou em placar final de 7 a 1. Simbólico e desagradável. Irreversível na primeira olhada. Mas o jogo da volta resolveria essa situação. A Malgi buscava seu primeiro título, enquanto a Celemaster de Uruguaiana tinha estrelas bordadas na camisa. Mas o belo uniforme predominantemente verde das pelotenses queria ostentar o estrelado no lábaro.
De pênaltis, nasceram os três primeiros gols na tarde de domingo (05/8) no ginásio do Paulista, tradicional clube rubro-negro do que se convencionou chamar zona norte da cidade de Pelotas, embora esteja situado num cruzamento que para alguns seria Centro, outros Cohabpel e outros Três Vendas, nas proximidades da chamada Curva da Morte.
Voltando da localização geográfica, os pênaltis. Cota foi a batedora oficial. A experiente jogadora cobrou os dois para a Malgi. O segundo para recolocar a vantagem no placar em 2 a 1. Duda, a que mais correu em quadra, se esforçou, batalhou, perdeu muitas no ataque, mas ganhou quase tudo na defesa, aproveitou um escanteio e fez 3 a 1. Detalhe que o escanteio foi cedido pela goleira adversária, que espalmou um chute forte, mas que iria para fora. Falei com meus botões que poderia ser bem aproveitada essa rara oportunidade. E assim foi.
O panorama da partida era de muita pressão das uruguaianenses. Imprimiam mais velocidade, mais jogadas combinadas. A goleira Dani desde o primeiro tempo segurava-se para sagrar-se a melhor em quadra na decisão. Defesas de todas as formas. A competência, o treino, o reflexo, a sorte nas quatro letras de Dani.
Uma dividida não ganha, uma bola que sobrou melhor na área e a Celemaster voltou ao jogo reduzindo o placar para 3 a 2. Assim zerou o cronômetro do primeiro tempo. A etapa final seria de uma demora tremenda. O relógio não caminhava. A pressão era enorme. A Malgi precisava da vitória no tempo normal para levar para prorrogação. Com unhas e dentes e bicos e todo tipo de doação na marcação, as alviverdes se fechavam na defesa. Dani seguia sua tônica no jogo. Maurício arrumou a Malgi em um esquema de 3-1 (só uma jogadora na frente) para defender o 3-2 no placar.
Evelyn era um raio de sol na quadra, cortando como um saibro de luz a marcação das adversárias. Raras saídas em velocidade e desafogo para a defesa. A pressão maior foi no último minuto. No placar imóvel da etapa final, goleira-linha na Celemaster. Alguns trabalhos explorando a amplitude da quadra com jogadora a mais na armação, mas aproveitamento ruim e marcador congelado no 3 a 2 que serviu para Malgi.
No arranque da prorrogação, o placar zerado. Caso de persistência de empate, pênaltis. Mas Cota, sempre ela, estourando qualquer sistema de cotas de participação dela sendo decisiva, girou em cima da marcação e chutou sem chances para goleira. O golaço da partida, o golaço da final, sem dúvida alguma. Vibração no ginásio de novo e Malgi na frente agora pelo desempate.
O panorama do fim dos fins foi semelhante ao final do segundo tempo. Pressão e pressão e desejo da passagem do tempo. O estouro do cronômetro finalmente veio e o ginásio enfim comemorou. Malgi campeã pela primeira vez. Cota, a artilheira da experiência no jogo, Dani, a segurança, Duda, a guerreira corredora, a esforçada Bruna, a praticamente assistente técnica Dani mais alta, a habilidosa Evelyn, a multifuncional Paola e demais combatentes. Título mais do que merecido em um clube que faz trabalhos físicos, técnicos, táticos, nutricionais e, importante item, psicológicos. Malgi cada vez mais referência no Futsal Feminino.
De ano para cá, entendo cada vez mais a importância e subsistência dependente dos patrocinadores. Com cada nome lembrado e agradecido, a Malgi Futsal chegou lá. Após uma primeira fase invicta, vencendo pela primeira vez na sua (nem tão, hein) recente história o bom e tradicional time de Uruguaiana na fronteira oeste, a Malgi passou pelas adversárias do Figueira na semifinal com duas goleadas. Prontas para voos maiores, a decisão colocou de novo frente a frente as pelotenses e as uruguaianenses.
O jogo de ida saiu do habitual e terminou em placar final de 7 a 1. Simbólico e desagradável. Irreversível na primeira olhada. Mas o jogo da volta resolveria essa situação. A Malgi buscava seu primeiro título, enquanto a Celemaster de Uruguaiana tinha estrelas bordadas na camisa. Mas o belo uniforme predominantemente verde das pelotenses queria ostentar o estrelado no lábaro.
De pênaltis, nasceram os três primeiros gols na tarde de domingo (05/8) no ginásio do Paulista, tradicional clube rubro-negro do que se convencionou chamar zona norte da cidade de Pelotas, embora esteja situado num cruzamento que para alguns seria Centro, outros Cohabpel e outros Três Vendas, nas proximidades da chamada Curva da Morte.
Voltando da localização geográfica, os pênaltis. Cota foi a batedora oficial. A experiente jogadora cobrou os dois para a Malgi. O segundo para recolocar a vantagem no placar em 2 a 1. Duda, a que mais correu em quadra, se esforçou, batalhou, perdeu muitas no ataque, mas ganhou quase tudo na defesa, aproveitou um escanteio e fez 3 a 1. Detalhe que o escanteio foi cedido pela goleira adversária, que espalmou um chute forte, mas que iria para fora. Falei com meus botões que poderia ser bem aproveitada essa rara oportunidade. E assim foi.
O panorama da partida era de muita pressão das uruguaianenses. Imprimiam mais velocidade, mais jogadas combinadas. A goleira Dani desde o primeiro tempo segurava-se para sagrar-se a melhor em quadra na decisão. Defesas de todas as formas. A competência, o treino, o reflexo, a sorte nas quatro letras de Dani.
Uma dividida não ganha, uma bola que sobrou melhor na área e a Celemaster voltou ao jogo reduzindo o placar para 3 a 2. Assim zerou o cronômetro do primeiro tempo. A etapa final seria de uma demora tremenda. O relógio não caminhava. A pressão era enorme. A Malgi precisava da vitória no tempo normal para levar para prorrogação. Com unhas e dentes e bicos e todo tipo de doação na marcação, as alviverdes se fechavam na defesa. Dani seguia sua tônica no jogo. Maurício arrumou a Malgi em um esquema de 3-1 (só uma jogadora na frente) para defender o 3-2 no placar.
Evelyn era um raio de sol na quadra, cortando como um saibro de luz a marcação das adversárias. Raras saídas em velocidade e desafogo para a defesa. A pressão maior foi no último minuto. No placar imóvel da etapa final, goleira-linha na Celemaster. Alguns trabalhos explorando a amplitude da quadra com jogadora a mais na armação, mas aproveitamento ruim e marcador congelado no 3 a 2 que serviu para Malgi.
No arranque da prorrogação, o placar zerado. Caso de persistência de empate, pênaltis. Mas Cota, sempre ela, estourando qualquer sistema de cotas de participação dela sendo decisiva, girou em cima da marcação e chutou sem chances para goleira. O golaço da partida, o golaço da final, sem dúvida alguma. Vibração no ginásio de novo e Malgi na frente agora pelo desempate.
O panorama do fim dos fins foi semelhante ao final do segundo tempo. Pressão e pressão e desejo da passagem do tempo. O estouro do cronômetro finalmente veio e o ginásio enfim comemorou. Malgi campeã pela primeira vez. Cota, a artilheira da experiência no jogo, Dani, a segurança, Duda, a guerreira corredora, a esforçada Bruna, a praticamente assistente técnica Dani mais alta, a habilidosa Evelyn, a multifuncional Paola e demais combatentes. Título mais do que merecido em um clube que faz trabalhos físicos, técnicos, táticos, nutricionais e, importante item, psicológicos. Malgi cada vez mais referência no Futsal Feminino.
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Malgi Campeã Foto: Gabriel Huch - Diário Popular |
Texto do site da Malgi sobre a conquista
Por: Victor Thompsen
Por: Victor Thompsen
A Taça RS 2018 é da Malgi/CAVG. Jogando em Pelotas, as meninas reverteram o resultado adverso do primeiro jogo da decisão e após uma vitória por 3 a 2 no tempo normal, derrotaram a Celemaster por 1 a 0 na prorrogação e ficaram com o título do primeiro turno do Estadual 2018.
Reforço importante
Para a partida deste domingo, a Malgi contou com um reforço de peso. Melhor fixa do Estadual 2017, Keka voltou as quadras após sete meses se recuperando de uma cirurgia para corrigir uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.
Para a partida deste domingo, a Malgi contou com um reforço de peso. Melhor fixa do Estadual 2017, Keka voltou as quadras após sete meses se recuperando de uma cirurgia para corrigir uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.
Primeiro tempo movimentado
Reforçada por Keka e pela torcida que lotou o ginásio do Paulista, a Malgi buscou o gol no inicio da partida, Na primeira chegada Cota recebeu de Dudinha e finalizou para fora. No lance seguinte, após bate rebate na área a bola bateu na mão de uma das jogadoras da Celemaster, o arbitro da partida assinalou pênalti, Cota foi precisa na cobrança e abriu o placar. Dois minutos mais tarde em lance semelhante na área da Malgi o arbitro da partida marcou pênalti para a Celemaster, Gabriela foi para a bola e deixou tudo igual 1 a 1.
Reforçada por Keka e pela torcida que lotou o ginásio do Paulista, a Malgi buscou o gol no inicio da partida, Na primeira chegada Cota recebeu de Dudinha e finalizou para fora. No lance seguinte, após bate rebate na área a bola bateu na mão de uma das jogadoras da Celemaster, o arbitro da partida assinalou pênalti, Cota foi precisa na cobrança e abriu o placar. Dois minutos mais tarde em lance semelhante na área da Malgi o arbitro da partida marcou pênalti para a Celemaster, Gabriela foi para a bola e deixou tudo igual 1 a 1.
A ala da Celemater era a principal jogadora das visitantes e aos 12 minuto, ela só não virou por que Karina de carrinho tirou a bola em cima da linha. Pouco depois, após ataque rápido da Malgi, Evelyn tentou a finalização e mais uma vez a bola bateu na mão da jogadora da Celemaster, Cota foi para a bola mais uma vez e mandou no ângulo, Malgi 2a1
.
Após o segundo gol, a goleira Dani começou a se destacar pelo lado da Malgi, foram ao menos três intervenções cirúrgicas da goleira evitando o empate da Celemaster. A resposta da Malgi, por sua vez foi certeira, quando faltavam pouco mais de três minutos para o final do primeiro tempo, Cota em cobrança de lateral achou Dudinha na área, a ala finalizou de primeira para marcou o terceiro. Um minuto mais tarde Becha aproveitou sobra dentro da área e mandou para as redes, 3 a 2. No fim, Dani voltou a aparecer e com duas grande defesas evitou o empate.
.
Após o segundo gol, a goleira Dani começou a se destacar pelo lado da Malgi, foram ao menos três intervenções cirúrgicas da goleira evitando o empate da Celemaster. A resposta da Malgi, por sua vez foi certeira, quando faltavam pouco mais de três minutos para o final do primeiro tempo, Cota em cobrança de lateral achou Dudinha na área, a ala finalizou de primeira para marcou o terceiro. Um minuto mais tarde Becha aproveitou sobra dentro da área e mandou para as redes, 3 a 2. No fim, Dani voltou a aparecer e com duas grande defesas evitou o empate.
Segundo tempo nervoso
Se as emoções já eram grandes no primeiro tempo, elas ficaram ainda maiores na segunda etapa. Com o resultado que levava o duelo para a prorrogação, Malgi e Celemaster fizeram um segundo tempo eletrizante, onde quem chamou a atenção foram as goleiras. Logo no primeiro minuto, após jogada ensaiada de lateral, Larissa chutou de bico, raspando a trave. Pouco depois foi a vez de Dani aparecer, Becha fez jogada individual e chutou forte, a goleira da Malgi mandou para escanteio. No lance seguinte Tiphane acertou a trave e no rebote Dani operou um milagre para evitar o empate da Celemaster.
Se as emoções já eram grandes no primeiro tempo, elas ficaram ainda maiores na segunda etapa. Com o resultado que levava o duelo para a prorrogação, Malgi e Celemaster fizeram um segundo tempo eletrizante, onde quem chamou a atenção foram as goleiras. Logo no primeiro minuto, após jogada ensaiada de lateral, Larissa chutou de bico, raspando a trave. Pouco depois foi a vez de Dani aparecer, Becha fez jogada individual e chutou forte, a goleira da Malgi mandou para escanteio. No lance seguinte Tiphane acertou a trave e no rebote Dani operou um milagre para evitar o empate da Celemaster.
Atrás no placar e precisando de um empate para garantir o título, a Celemaster se lançou ao ataque e Dani brilhou mais um vez ao fazer grande defesa em chute de Gabriela. Quando Dani não defendeu, Dudinha e Tuigui se jogaram de carrinho e evitaram o empate.
Inspirada, Dani voltou a aparecer mais uma vez para evitar o gol de Becha. Na sequencia Dani fez outra grande defesa para evitar o gol de Duda. A resposta da Malgi veio com Cota que completou lançamento de Keka para defesa de Laís.
Muito disputada a partida contava com forte marcação de ambas as equipes e aos 15 minutos do segundo tempo, a Celemaster estourou o limite de faltas. Na cobrança do tito livre, Karina chutou forte a direita de Laís. No minuto seguinte Evelyn fez grande jogada individual e finalizou de bico na trave.
Numa das últimas oportunidades de conquistar o empate, Gabriela avançou pela direita e chutou rasteiro, Dani apareceu mais um vez e garantiu a vitória. Com o resultado a partida foi para a prorrogação.
Gol relâmpago
Sem nenhuma vantagem na prorrogação, as equipes precisavam ir para cima para buscar o título e a Malgi foi cirúrgica em seu primeiro ataque. Em bela jogada ensaiada de lateral Dudinha achou Cota na área, a pivô girou sobre a marcação e chutou no canto, para marcar aquele que seria o gol do título, o 12º dela no Estadual em oito jogos. O gol animou a Malgi e Dudinha em duas oportunidades, quase ampliou. Lais apareceu bem e evitou o segundo gol da Malgi. Pouco depois foi a vez de Larissa para na goleira adversária que espalmou para escanteio, Definindo o placar do primeiro tempo.
Sem nenhuma vantagem na prorrogação, as equipes precisavam ir para cima para buscar o título e a Malgi foi cirúrgica em seu primeiro ataque. Em bela jogada ensaiada de lateral Dudinha achou Cota na área, a pivô girou sobre a marcação e chutou no canto, para marcar aquele que seria o gol do título, o 12º dela no Estadual em oito jogos. O gol animou a Malgi e Dudinha em duas oportunidades, quase ampliou. Lais apareceu bem e evitou o segundo gol da Malgi. Pouco depois foi a vez de Larissa para na goleira adversária que espalmou para escanteio, Definindo o placar do primeiro tempo.
Força defensiva garante Taça
No segundo tempo da prorrogação, a dedicação defensiva da Malgi fez a diferença. Incansáveis, as meninas brecavam todas as investidas ofensivas da Celemaster. Quando ninguém interceptava as ações, Dani mostrava segurança lá atras. Ela apareceu mais uma vez nos minutos finais para defender chute de Dani Fleitas.
No segundo tempo da prorrogação, a dedicação defensiva da Malgi fez a diferença. Incansáveis, as meninas brecavam todas as investidas ofensivas da Celemaster. Quando ninguém interceptava as ações, Dani mostrava segurança lá atras. Ela apareceu mais uma vez nos minutos finais para defender chute de Dani Fleitas.
Na última oportunidade do jogo, Keka por pouco não coroou o título com um golaço. Evelyn pegou a bola na quadra de defesa e foi enfileirando as adversárias, foram três jogadoras da Celemaster que ficaram para trás, com direito a caneta. A ala ajeitou na entrada da área e rolou para Keka que dominou e chutou no canto, Lais espalmou. No fim a Celemaster até colocou a goleira linha, mas não evitou a vitória das Pelotense.
Com o resultado a Malgi se sagrou Campeã da Taça RS, primeiro turno do Estadual. Garantiu uma vaga na decisão geral do Estadual e de quebra garantiu vaga em uma competição nacional para 2019, Taça Brasil (caso seja campeã Estadual) ou Copa do Brasil (em caso de vice-campeonato Estadual).
Agora as meninas voltam o seu foco para mais uma decisão, na quinta-feira dia 9, as meninas entram m quadra para tentar o tetracampeonato do Jogos Abertos de Pelotas.
Campanha
8 Jogos
7 Vitórias
0 Empates
1 Derrota
35 Gols Marcados
16 Gols Sofridos
19 Saldo
87,5% de Aproveitamento
8 Jogos
7 Vitórias
0 Empates
1 Derrota
35 Gols Marcados
16 Gols Sofridos
19 Saldo
87,5% de Aproveitamento
05/08/2018
cronocrimenes
Cada vez que me deparo com os espaços em branco que predestinam e se amostram no aguardo de minha escrita, é o embarque de uma nova viagem. Sei ou pelo menos creio saber, ter alguma ideia do que vou em seguida escrever, mas a construção final é sempre distante de qualquer molde.
Assim também é a vida real aí fora. E bom que seja. Posso conhecer para onde estou viajando, mas o destino final, as ações e interpretações sempre terão um quê, um teor, um sublime de novidade. Posso saber onde vou jogar bola, mas não sei como virão os chutes, os passes, a sucessão das jogadas. Posso saber as falas de um filme, mas alguns detalhes das cenas, antes despercebidos, me serão novidade. Posso conhecer, ou achar que conheça certas pessoas, mas as pessoas também se modificam entre elas. Sequência de experiências e acontecimentos que não ficamos sabendo, ou ficamos sabendo de forma incompleta, ou ficamos sabendo pelo ponto de vista de terceiros.
Cada embarque num texto é diferente. É como um embarque em uma linha de ônibus. Conhecemos a pontuação, as palavras e o tamanho dos parágrafos em média. Conhecemos quanto tempo demora o ônibus ou o trem ou o veículo que for para fazer determinado percurso. Mas com quem estaremos? E quem vai cruzar nosso caminho? Entre demais passageiros, pedestres e motoristas nos trajetos. Gente que cruza pela gente.
Fazendo os mesmos percursos de quantas e tantas vezes, me nascem, me ensaiam, me florescem novos textos. Novas perspectivas. Estão o tempo todo em rotação. Dançam com novos autores que possa estar lendo, com novas pessoas e pontos de vista que eu possa estar convivendo. Brindam com imagens, notícias, manchetes e reportagens. Brincam com músicas ou com outros barcos em nossos ancoradouros.
Metamorfoses ambulantes na linguagem conhecida do que possa ser música popular brasileira. Metamorfoses ambulantes, mas quem tem as bulas que mudam a todo instante? Em outras citações de sabedoria popular, aprendemos que a graça, o objetivo dos portos e suas embarcações é a coragem de novamente partir.
Assim também é a vida real aí fora. E bom que seja. Posso conhecer para onde estou viajando, mas o destino final, as ações e interpretações sempre terão um quê, um teor, um sublime de novidade. Posso saber onde vou jogar bola, mas não sei como virão os chutes, os passes, a sucessão das jogadas. Posso saber as falas de um filme, mas alguns detalhes das cenas, antes despercebidos, me serão novidade. Posso conhecer, ou achar que conheça certas pessoas, mas as pessoas também se modificam entre elas. Sequência de experiências e acontecimentos que não ficamos sabendo, ou ficamos sabendo de forma incompleta, ou ficamos sabendo pelo ponto de vista de terceiros.
Cada embarque num texto é diferente. É como um embarque em uma linha de ônibus. Conhecemos a pontuação, as palavras e o tamanho dos parágrafos em média. Conhecemos quanto tempo demora o ônibus ou o trem ou o veículo que for para fazer determinado percurso. Mas com quem estaremos? E quem vai cruzar nosso caminho? Entre demais passageiros, pedestres e motoristas nos trajetos. Gente que cruza pela gente.
Fazendo os mesmos percursos de quantas e tantas vezes, me nascem, me ensaiam, me florescem novos textos. Novas perspectivas. Estão o tempo todo em rotação. Dançam com novos autores que possa estar lendo, com novas pessoas e pontos de vista que eu possa estar convivendo. Brindam com imagens, notícias, manchetes e reportagens. Brincam com músicas ou com outros barcos em nossos ancoradouros.
Metamorfoses ambulantes na linguagem conhecida do que possa ser música popular brasileira. Metamorfoses ambulantes, mas quem tem as bulas que mudam a todo instante? Em outras citações de sabedoria popular, aprendemos que a graça, o objetivo dos portos e suas embarcações é a coragem de novamente partir.
15/07/2018
refaz
queria eu me desculpar
pelo poema passado
que deixei suspenso no ar
completamente incompleto
totalmente inacabado
deixei o poema no varal
corretamente esticado
a secar no sol
mas veio a chuva
fazendo o que a chuva faz
que azar o meu, mas que paz
aquele poema todo molhado
abandonado, encharcado
mas novamente enxugado
pelo sol que refaz
pelo poema passado
que deixei suspenso no ar
completamente incompleto
totalmente inacabado
deixei o poema no varal
corretamente esticado
a secar no sol
mas veio a chuva
fazendo o que a chuva faz
que azar o meu, mas que paz
aquele poema todo molhado
abandonado, encharcado
mas novamente enxugado
pelo sol que refaz
13/07/2018
sinto muito
sinto tristeza quando não consigo
sinto tristeza quando não conseguem
sinto muito
sinto quando o prédio ergue
tão imponentemente cheio nesse mundo
sinto o vazio de um vagabundo
deitado
sem saber onde se insere
sinto muito
sinto quando a febre vem, vem feito lebre
vem pesar a cabeça antes leve
vem cabecear de tourada minha pele
nessa toada adentra como um germe
sinto muito
sinto tristeza quando não conseguem
sinto muito
sinto quando o prédio ergue
tão imponentemente cheio nesse mundo
sinto o vazio de um vagabundo
deitado
sem saber onde se insere
sinto muito
sinto quando a febre vem, vem feito lebre
vem pesar a cabeça antes leve
vem cabecear de tourada minha pele
nessa toada adentra como um germe
sinto muito
08/07/2018
Dois Trintas
Era mais um aniversário. O trigésimo da parente que conheço desde a infância. Todos nós envelhecemos. Ela sempre foi mais popular, jogava voleibol, se bronzeava e teve namorado na adolescência. Teve poucos até os 30 que somou de idade, mas tinha e tem.
Faltou luz antes de meus pais e eu sairmos. Era também aniversário da cidade que nos acolheu. Mesmo dia. A fiação elétrica em tamanha localidade pampeana e úmida jamais foi consertada. Estávamos em dúvida se o salão alugado em um condomínio mais novo estava com luz. Felizmente às festividades, os bairros atingidos pelo apagão não incluíram o do evento.
Antes de sair, obviamente quase refuguei o convite. Contato social é um grande cansaço e me pergunto se ainda o sei fazer sem a companhia do álcool. A verdade é que, independente da minha tentativa de demora, partimos na hora pré-programada, porém erramos a rua em que deveríamos entrar, ligamos para celulares e finalmente encontramos a entrada correta, com meu pai demorando minutos para decidir o estacionamento que mais lhe agradava. Então descemos pela cortina de frio da noite com uma leve garoa, a tônica do final de semana e talvez de todo o inverno na cidade.
Os familiares que chegaram antes escolheram uma mesa no canto do salão, com minha avó, minha tia e sua acompanhante de anos, quase década se bem me lembro. Mas logo as mesas foram juntadas, justapostas com outras pessoas. Foram menos convidados do que eu pensava, mas acho que a vida é assim quando se chega aos 30 anos. Não sou de planejar e muito menos executar esses tipos de festas, por não querer e nem poder, cá pra mim. Não teria saco para a mesma responsabilidade. Esse lance de receber convidados e dividir atenções nos intermináveis contatos sociais. Ser o primeiro a chegar e o último a sair. Não me agrada e precisaria talvez de uma semana para recuperar-me em repouso na companhia dos mais significantes silêncios e introspecções.
Uma senhora que até agora não sei exatamente a ligação com a família da parente apareceu e veio se chegando à nossa mesa. Sequer tivemos a oportunidade de nos entreolharmos e questionar sua presença assim tão próxima e, para alguns, invasiva. Mas o julgamento rápido do ingresso dela na bolha logo dá lugar a uma espécie de pena por perceber-lhe a solidão. A solidão que hoje carrega seja pela idade ou pela ineficiência de seus mais recentes contatos, a falta de com quem conversar e nosso papel de interlocutores enquanto rola a música e começa a festa.
Ela logo se mostrou mais fã do quentão do que deveria e a pena se estenderia para reavaliar seu estado de saúde debilitado, causado pela quantidade de álcool ingerido. Eu, tão jovem, não sinto o impacto das cervejas bebidas em teor não recomendado pelos demais familiares, mas que não me causam estranheza mesmo diante da mistura do pouco de quentão do início da festividade.
A senhora essa puxa assuntos de quando em quando ao se aproximar da gente. Ela pergunta por meu trabalho na rádio e nada me motiva a falar muito sobre, mas esclareço que meu turno é da noite e ela afirma gostar do horário para o serviço. Sobre não gostar de acordar cedo, outro de nossos pontos em comum, ela brinca que eu seria seu filho roubado da maternidade. Até me divirto e simpatizo com a conversa.
Ela cuida de uma menina pequena que tem apenas um menino pilchado e agauchado como companhia para as brincadeiras. Tentam se esconder pelo salão, mas o local não é tão grande, nem dotado de opções para esse jogo estratégico e embaixo das mesas é um esconderijo incômodo aos pares de perna cruzados em volta. Até arriscam a brincar um pouco na volta do salão, onde há uma espécie de pracinha. A menina tem problemas de fala, um pouco gaga, problema que talvez se acentue pelo nervosismo e alguns julgamentos que ora recebe das demais crianças. O menino, por sua vez, me parece hiperativo, corre, pula e às vezes grita. Gostou mesmo é de jogar o famoso voleibol com balões, bons treinos para os reflexos e coordenação desses pequenos atletas.
Lá fora eles fizeram amizade foi com um cão de rua (ou de condomínio, um laço comunitário dos novos moradores do local?). Só os descubro assim após a terceira ida ao banheiro, ocasionada pelo efeito diurético do que ingeri por meio das latas. Ao estar na rua em determinado desses momentos, meu padrinho chega acompanhado da sua e me perguntam se estou na rua fumando. Logo abro os braços em questionamento dessa anedota e me vem à mente que meus pais jamais me viram em posse de um cigarro. E procuro manter minha lógica de jamais comprá-los, mas, às vezes, casos esporádicos, sofro a baixa moralizante que me faz tragá-los mediante convites.
O horário avança comigo com pena de diversos personagens presentes. O taxista que perdeu uma das pernas e usa prótese desde 1998; minha tia, viúva há quase 10 anos e sem acompanhantes posteriores, seus filhos às vezes tão desunidos e às vezes unidos somente superficialmente ou perante testemunhas, como ocorre na internet; meus pais que pouco dialogaram na noite em questão como se o relacionamento deles próprios fosse um quentão ou um café frio. Minha vó divorciada faz uns 30 anos e que perdeu o companheiro para a velhice tratada em lar de idosos na capital do estado. Converso sobre isso sob o efeito do álcool e noto seu olhar distante, talvez memorando o passado ao seu lado. Se bem que agora me recordo que ela o trouxe à conversa quando determinado negro de chapéu adentrou ao salão, um dos músicos da banda que animou a noite com os clássicos do samba, entoados pela maioria, acompanhados em instrumentos por alguns e dançado por ainda alguns outros, e estes se revezando enquanto bati meus pés no maior tempo sentado, nas proximidades do ex-taxista Ricardo e sua prótese que não mais se reclina, não articula como sugeriria um joelho, além de outras pessoas mais contidas, seja pela idade ou pelo rubor de tampouco não saberem dançar.
Semeando essas diversas mágoas, a noite se termina na costumeira desculpa que minha mãe insiste há mais de década, apesar dos últimos longos anos de ineficácia. Colocar a culpa nos filhos para ela, a interessada, se render ao sono ou ao descanso que sua mente também pouco disposta às assembleias lhe exige. Embalado pelo álcool, distribuo franqueza de que ela, na verdade, nos invita a sair e não sou eu o culpado, como ela sugere. Ademais me despedindo dos organizadores e das demais pessoas, as sendo mais ou menos conhecidas, a senhora lá do início da festa se retira conosco, passando um pouco mal. Ela segue tagarela atiçada pelo álcool anterior e, mais tarde, minha mãe afirma que a ajudou a vomitar um pouco no pequeno pátio ao lado do salão. Coitada. Fragilidade que assim nos comove.
Na companhia desses jovens idosos, me retiro da festa antes da uma hora da manhã. A senhora essa mora na avenida mais movimentada da cidade, onde atravessamos um trânsito de motos barulhentas sem escapamento, alguns carros com som e bonés e capuzes que escondem fisionomias suspeitas sob eles. Ela desce sacando a chave de casa e felizmente consegue terminar essa parte da missão não sem antes agradecer-nos. Em uma noite de tantas reflexões e espaços na filosofia, espaço que circulava e circundava na extensa pista de dança desocupada do salão, com exceção de uns dois casais por vez, percebo a tão óbvia constatação de que logo chegam os 30 e destes para o dobro, os 60, são passos mais curtos do que podem parecer. Castiga-nos o tempo que tão rápido nos assola, enquanto o vento lá fora, en una nueva noche fría, assobia e cantarola alguma cantiga que nos empurra novas percepções, descobertas e significados.
Faltou luz antes de meus pais e eu sairmos. Era também aniversário da cidade que nos acolheu. Mesmo dia. A fiação elétrica em tamanha localidade pampeana e úmida jamais foi consertada. Estávamos em dúvida se o salão alugado em um condomínio mais novo estava com luz. Felizmente às festividades, os bairros atingidos pelo apagão não incluíram o do evento.
Antes de sair, obviamente quase refuguei o convite. Contato social é um grande cansaço e me pergunto se ainda o sei fazer sem a companhia do álcool. A verdade é que, independente da minha tentativa de demora, partimos na hora pré-programada, porém erramos a rua em que deveríamos entrar, ligamos para celulares e finalmente encontramos a entrada correta, com meu pai demorando minutos para decidir o estacionamento que mais lhe agradava. Então descemos pela cortina de frio da noite com uma leve garoa, a tônica do final de semana e talvez de todo o inverno na cidade.
Os familiares que chegaram antes escolheram uma mesa no canto do salão, com minha avó, minha tia e sua acompanhante de anos, quase década se bem me lembro. Mas logo as mesas foram juntadas, justapostas com outras pessoas. Foram menos convidados do que eu pensava, mas acho que a vida é assim quando se chega aos 30 anos. Não sou de planejar e muito menos executar esses tipos de festas, por não querer e nem poder, cá pra mim. Não teria saco para a mesma responsabilidade. Esse lance de receber convidados e dividir atenções nos intermináveis contatos sociais. Ser o primeiro a chegar e o último a sair. Não me agrada e precisaria talvez de uma semana para recuperar-me em repouso na companhia dos mais significantes silêncios e introspecções.
Uma senhora que até agora não sei exatamente a ligação com a família da parente apareceu e veio se chegando à nossa mesa. Sequer tivemos a oportunidade de nos entreolharmos e questionar sua presença assim tão próxima e, para alguns, invasiva. Mas o julgamento rápido do ingresso dela na bolha logo dá lugar a uma espécie de pena por perceber-lhe a solidão. A solidão que hoje carrega seja pela idade ou pela ineficiência de seus mais recentes contatos, a falta de com quem conversar e nosso papel de interlocutores enquanto rola a música e começa a festa.
Ela logo se mostrou mais fã do quentão do que deveria e a pena se estenderia para reavaliar seu estado de saúde debilitado, causado pela quantidade de álcool ingerido. Eu, tão jovem, não sinto o impacto das cervejas bebidas em teor não recomendado pelos demais familiares, mas que não me causam estranheza mesmo diante da mistura do pouco de quentão do início da festividade.
A senhora essa puxa assuntos de quando em quando ao se aproximar da gente. Ela pergunta por meu trabalho na rádio e nada me motiva a falar muito sobre, mas esclareço que meu turno é da noite e ela afirma gostar do horário para o serviço. Sobre não gostar de acordar cedo, outro de nossos pontos em comum, ela brinca que eu seria seu filho roubado da maternidade. Até me divirto e simpatizo com a conversa.
Ela cuida de uma menina pequena que tem apenas um menino pilchado e agauchado como companhia para as brincadeiras. Tentam se esconder pelo salão, mas o local não é tão grande, nem dotado de opções para esse jogo estratégico e embaixo das mesas é um esconderijo incômodo aos pares de perna cruzados em volta. Até arriscam a brincar um pouco na volta do salão, onde há uma espécie de pracinha. A menina tem problemas de fala, um pouco gaga, problema que talvez se acentue pelo nervosismo e alguns julgamentos que ora recebe das demais crianças. O menino, por sua vez, me parece hiperativo, corre, pula e às vezes grita. Gostou mesmo é de jogar o famoso voleibol com balões, bons treinos para os reflexos e coordenação desses pequenos atletas.
Lá fora eles fizeram amizade foi com um cão de rua (ou de condomínio, um laço comunitário dos novos moradores do local?). Só os descubro assim após a terceira ida ao banheiro, ocasionada pelo efeito diurético do que ingeri por meio das latas. Ao estar na rua em determinado desses momentos, meu padrinho chega acompanhado da sua e me perguntam se estou na rua fumando. Logo abro os braços em questionamento dessa anedota e me vem à mente que meus pais jamais me viram em posse de um cigarro. E procuro manter minha lógica de jamais comprá-los, mas, às vezes, casos esporádicos, sofro a baixa moralizante que me faz tragá-los mediante convites.
O horário avança comigo com pena de diversos personagens presentes. O taxista que perdeu uma das pernas e usa prótese desde 1998; minha tia, viúva há quase 10 anos e sem acompanhantes posteriores, seus filhos às vezes tão desunidos e às vezes unidos somente superficialmente ou perante testemunhas, como ocorre na internet; meus pais que pouco dialogaram na noite em questão como se o relacionamento deles próprios fosse um quentão ou um café frio. Minha vó divorciada faz uns 30 anos e que perdeu o companheiro para a velhice tratada em lar de idosos na capital do estado. Converso sobre isso sob o efeito do álcool e noto seu olhar distante, talvez memorando o passado ao seu lado. Se bem que agora me recordo que ela o trouxe à conversa quando determinado negro de chapéu adentrou ao salão, um dos músicos da banda que animou a noite com os clássicos do samba, entoados pela maioria, acompanhados em instrumentos por alguns e dançado por ainda alguns outros, e estes se revezando enquanto bati meus pés no maior tempo sentado, nas proximidades do ex-taxista Ricardo e sua prótese que não mais se reclina, não articula como sugeriria um joelho, além de outras pessoas mais contidas, seja pela idade ou pelo rubor de tampouco não saberem dançar.
Semeando essas diversas mágoas, a noite se termina na costumeira desculpa que minha mãe insiste há mais de década, apesar dos últimos longos anos de ineficácia. Colocar a culpa nos filhos para ela, a interessada, se render ao sono ou ao descanso que sua mente também pouco disposta às assembleias lhe exige. Embalado pelo álcool, distribuo franqueza de que ela, na verdade, nos invita a sair e não sou eu o culpado, como ela sugere. Ademais me despedindo dos organizadores e das demais pessoas, as sendo mais ou menos conhecidas, a senhora lá do início da festa se retira conosco, passando um pouco mal. Ela segue tagarela atiçada pelo álcool anterior e, mais tarde, minha mãe afirma que a ajudou a vomitar um pouco no pequeno pátio ao lado do salão. Coitada. Fragilidade que assim nos comove.
Na companhia desses jovens idosos, me retiro da festa antes da uma hora da manhã. A senhora essa mora na avenida mais movimentada da cidade, onde atravessamos um trânsito de motos barulhentas sem escapamento, alguns carros com som e bonés e capuzes que escondem fisionomias suspeitas sob eles. Ela desce sacando a chave de casa e felizmente consegue terminar essa parte da missão não sem antes agradecer-nos. Em uma noite de tantas reflexões e espaços na filosofia, espaço que circulava e circundava na extensa pista de dança desocupada do salão, com exceção de uns dois casais por vez, percebo a tão óbvia constatação de que logo chegam os 30 e destes para o dobro, os 60, são passos mais curtos do que podem parecer. Castiga-nos o tempo que tão rápido nos assola, enquanto o vento lá fora, en una nueva noche fría, assobia e cantarola alguma cantiga que nos empurra novas percepções, descobertas e significados.
07/07/2018
03/07/2018
ou não é?
a vida nos depara páginas
em que lamentamos a não perfeição
e logo em seguida
nos deparamos com os fins
a tortura
a fome
a pobreza
a riqueza irregular
as leis da natureza
gatos comendo cabeças de pássaros
rabos de lagartixas
depois miam fino e pedem mais
mais comida
bocas que beijam avós e mães
saboreiam pães
lambem paus e vaginas
nas diferentes páginas
repaginadas da vida
em que lamentamos a não perfeição
e logo em seguida
nos deparamos com os fins
a tortura
a fome
a pobreza
a riqueza irregular
as leis da natureza
gatos comendo cabeças de pássaros
rabos de lagartixas
depois miam fino e pedem mais
mais comida
bocas que beijam avós e mães
saboreiam pães
lambem paus e vaginas
nas diferentes páginas
repaginadas da vida
02/07/2018
festa junina
estávamos juntos na zona de rebaixamento
com pensamentos cruzados
enfeitados ou enfeiados naquele momento?
eu que amodeio rotina
e não curto compromisso
comemorava ou só lamento?
eu estava ao seu lado
mas você não estava
ao menos
do meu
com pensamentos cruzados
enfeitados ou enfeiados naquele momento?
eu que amodeio rotina
e não curto compromisso
comemorava ou só lamento?
eu estava ao seu lado
mas você não estava
ao menos
do meu
29/06/2018
o que seria?
fico feliz quando escrevo
um poema e o acho
o melhor de minha vida
pode ser, pode ser mentira
ou pode ser até que seja
mas o que seria de mim
sem a boa crítica
e uma boa cerveja?
um poema e o acho
o melhor de minha vida
pode ser, pode ser mentira
ou pode ser até que seja
mas o que seria de mim
sem a boa crítica
e uma boa cerveja?
reflita aflita
um beija-flor sempre pousa
sobre margaridas, tulipas e rosas
e ninguém liga
um mosquito sempre pousa
sobre quadros, paredes, camas e lousas
e ninguém liga
mas o avião quando pousa
nos obriga
a pensar
no amor de nossas vidas
sobre margaridas, tulipas e rosas
e ninguém liga
um mosquito sempre pousa
sobre quadros, paredes, camas e lousas
e ninguém liga
mas o avião quando pousa
nos obriga
a pensar
no amor de nossas vidas
um mês inteiro
demorei um mês inteiro
para trazer aqui
esse humilde poema
parto anormal
tal qual seus irmãos
em suas dezenas
aguardou na incubadora
apesar da demora
hoje chora e chora
esse peso pena
na soma da calculadora
e da balança
não sei quanto vale
não sei quanto pesa
essa criança
demorei um mês inteiro
a parir
e parei
parei aqui
pai solteiro
seria este um poema verdadeiro?
não tem problema
se só eu no mundo inteiro
o leio agora, leitor primeiro
para trazer aqui
esse humilde poema
parto anormal
tal qual seus irmãos
em suas dezenas
aguardou na incubadora
apesar da demora
hoje chora e chora
esse peso pena
na soma da calculadora
e da balança
não sei quanto vale
não sei quanto pesa
essa criança
demorei um mês inteiro
a parir
e parei
parei aqui
pai solteiro
seria este um poema verdadeiro?
não tem problema
se só eu no mundo inteiro
o leio agora, leitor primeiro
não havia
não havia navios
não havia cios
não havia frio
não havia
não havia avião
nem passarin
não havia sim
não havia não
não havia
não havia bússola
nem mapa
não havia guia
nem placa
não havia
não havia sol
não havia lua
nem farol da noite
nem nascer do dia
simplesmente não havia
não havia estrada
nem havia chão
não havia nada
na escuridão
não havia
enquanto
não a via
não havia cios
não havia frio
não havia
não havia avião
nem passarin
não havia sim
não havia não
não havia
não havia bússola
nem mapa
não havia guia
nem placa
não havia
não havia sol
não havia lua
nem farol da noite
nem nascer do dia
simplesmente não havia
não havia estrada
nem havia chão
não havia nada
na escuridão
não havia
enquanto
não a via
27/06/2018
As Amazonas
Não tinha jeito ruim a batalha, hoje, dia de São João. Dos bergantins, os homens de Francisco de Orellana estavam esvaziando de inimigos, com rajadas de arcabuz e de balestra, as brancas canoas
vindas da costa.
Mas aí, a bruxa deu as caras. Apareceram as mulheres guerreiras, tão belas e ferozes que eram um escândalo, e então as canoas cobriram o rio e os navios saíram correndo, rio acima, como porco-espinhos assustados, eriçados de flechas de proa à popa e até no mastro-mor.
As capitãs lutaram rindo. Se puseram à frente dos homens, fêmeas garbosas, e já não houve medo na aldeia de Conlapayara. Lutaram rindo e dançando e cantando,as tetas vibrantes ao ar,até que os espanhóis se perderam para lá da boca do rio Tapajós, exaustos de tanto esforço e assombro.
Tinham ouvido falar destas mulheres, e agora acreditam. Elas vivem ao sul,em senhorios sem homens, onde afogam os filhos que nascem varões. Quando o corpo pede, dão guerra às tribos da costa e conseguem prisioneiros. Os devolvem na manhã seguinte. Ao cabo de uma noite de amor, o que chegou rapaz regressa velho.
Orellana e seus soldados continuarão percorrendo o rio mais caudaloso do mundo e sairão ao mar sem piloto, nem bússola, nem carta de navegação.
Viajam nos bergantins que eles construíram ou inventaram a golpes de machado,em plena selva,fazendo pregos e bisagras com as ferraduras dos
cavalos mortos e soprando o carvão com botinas convertidas em foles. Deixam-se ir sem rumo pelo rio das Amazonas,costeando a selva,sem energias para o remo, e vão murmurando orações: rogam a Deus que sejam machos, por mais machos que possam ser, os próximos inimigos.
Eduardo Galeano
Os Nascimentos.
vindas da costa.
Mas aí, a bruxa deu as caras. Apareceram as mulheres guerreiras, tão belas e ferozes que eram um escândalo, e então as canoas cobriram o rio e os navios saíram correndo, rio acima, como porco-espinhos assustados, eriçados de flechas de proa à popa e até no mastro-mor.
As capitãs lutaram rindo. Se puseram à frente dos homens, fêmeas garbosas, e já não houve medo na aldeia de Conlapayara. Lutaram rindo e dançando e cantando,as tetas vibrantes ao ar,até que os espanhóis se perderam para lá da boca do rio Tapajós, exaustos de tanto esforço e assombro.
Tinham ouvido falar destas mulheres, e agora acreditam. Elas vivem ao sul,em senhorios sem homens, onde afogam os filhos que nascem varões. Quando o corpo pede, dão guerra às tribos da costa e conseguem prisioneiros. Os devolvem na manhã seguinte. Ao cabo de uma noite de amor, o que chegou rapaz regressa velho.
Orellana e seus soldados continuarão percorrendo o rio mais caudaloso do mundo e sairão ao mar sem piloto, nem bússola, nem carta de navegação.
Viajam nos bergantins que eles construíram ou inventaram a golpes de machado,em plena selva,fazendo pregos e bisagras com as ferraduras dos
cavalos mortos e soprando o carvão com botinas convertidas em foles. Deixam-se ir sem rumo pelo rio das Amazonas,costeando a selva,sem energias para o remo, e vão murmurando orações: rogam a Deus que sejam machos, por mais machos que possam ser, os próximos inimigos.
Eduardo Galeano
Os Nascimentos.
19/06/2018
Lutas e Gratidões
Minha irmã acorda tarde, toma o café da manhã tarde e reclama do almoço, que é servido em um intervalo de tempo curto entre as duas refeições. Minha mãe acumula cabelos brancos que ela não mais esconde e estresse que não mais segura, entrando em erupção de quando em quando. Hoje foi um desses quando.
Mais tarde, entre o almoço e um jogo da Copa do Mundo na televisão, minha vó aparece de jaqueta rosa e óculos escuros bastante chamativos. Em um horário que muito bem poderia ser de algum pedinte, geralmente uma senhora negra com uma filha com necessidades especiais e que pede leite ou algum ser adulto não disposto ao trabalho para o ganha pão. Confiro para confirmar pelo olho mágico e abro a porta para minha vó na certeza que o jogo entra em segundo plano, porque ela insistentemente e incessantemente puxa assunto ou narra com detalhes episódios cotidianos de pouca relevância. O encontro com as mesmas vizinhas, uma ou outra palavra trocada na frente de casa ou no caminho para ônibus ou em armazém. Pequenos causos de pessoas as quais não conheço e que para minha mãe pouca diferença faz também são uma constante.
Porém, ela conta de uma conhecida, alguma família que adotou uma menina. E minha vó a caracteriza que dizem ser muito alegre, muito obediente. E sobre algo que a ofereceram, se manifestou com "tudo isso é para mim?", com as mãos cruzadas sobre o peito, em claro e universal gesto de agradecimento. Tem três anos, completa os dizeres minha vó. E tudo isso me leva a uma reflexão sobre gratidão, uma reflexão que na minha mente ocupa e ocupa o primeiro plano. O jogo passava ao segundo posto, mas logo voltaria à tona por outros encaixes.
Às 14 horas na pontualidade terminava a partida da Copa do Mundo com a surpreendente (para alguns nem tanto) vitória de Senegal sobre a Polônia em plena capital russa de Moscou, local de muitos acontecimentos de injúrias raciais. Racismo não escondido. Jogadores negros na atualidade, mais e mais pessoas em antigamente. Ou talvez menos antes sem o advento da globalização dos dias atuais. A globalização que coloca jogadores negros em praticamente todos os times titulares das seleções da Copa, com exceção do extremo oriente, Argentina e a própria Polônia. Outras, se não tem na titularidade, tem reservas imediatos que costumam adentrar nos jogos.
No mesmo horário de término do jogo com triunfo senegalês, uma senhora que aqui é pedinte há bastante tempo retorna em busca de mínimo sustento. Seus filhos já não são pequenos e agora buscam driblar as condições desfavoráveis em busca de emprego ou desviando do mundo mais ilícito de drogas e assaltos. Nada fácil. Frutas e leite e um papo cordial são o que minha mãe oferece à senhora. Um de seus filhos é Romário e, não recordando o nome dela, apenas a lembro como Romária.
Com outros endereços, certamente não são poucas as pessoas nessas condições no município e região. Políticas públicas insuficientes, políticas privadas desinteressadas, procurando apenas por consumidores e não por fazer caridade ou procurando apenas a solidariedade como troca por promoção de carisma e serviços aos olhares dos aí sim consumidores, potenciais clientes. Trocas de favores e espelhos. Reflexos e vitrines.
Em outras cidades gaúchas, incluindo Pelotas, como estão os imigrantes senegaleses? Um momento de cessar o trabalho ambulante, as vendas nos centros e focar um pouco no jogo, na ginga. Um resultado favorável, uma vitória consistente. A alegria nos olhos e nos corpos. Vencer o preconceito é uma batalha muito mais árdua, mas que tal esse tapa no frio, tapa aos que oprimem, deixam mal vistos os imigrantes de hoje, esquecendo suas raízes italianas, alemãs e de outras etnias que um dia foram imigrantes, estrangeirismos nessas mesmas terras.
Numa primeira rodada em que a Alemanha perdeu e numa Copa em que a Itália nem está, a vitória imigrante do Rio Grande do Sul na estreia da competição foi senegalesa. E são tantos os homens e tantas as mulheres, tantos os descendentes, mais diretos ou de povos passados do continente africano, tantas as histórias de linhas torcidas a procurar seus triunfos no dia a dia nesses lados do mundo.
Mais tarde, entre o almoço e um jogo da Copa do Mundo na televisão, minha vó aparece de jaqueta rosa e óculos escuros bastante chamativos. Em um horário que muito bem poderia ser de algum pedinte, geralmente uma senhora negra com uma filha com necessidades especiais e que pede leite ou algum ser adulto não disposto ao trabalho para o ganha pão. Confiro para confirmar pelo olho mágico e abro a porta para minha vó na certeza que o jogo entra em segundo plano, porque ela insistentemente e incessantemente puxa assunto ou narra com detalhes episódios cotidianos de pouca relevância. O encontro com as mesmas vizinhas, uma ou outra palavra trocada na frente de casa ou no caminho para ônibus ou em armazém. Pequenos causos de pessoas as quais não conheço e que para minha mãe pouca diferença faz também são uma constante.
Porém, ela conta de uma conhecida, alguma família que adotou uma menina. E minha vó a caracteriza que dizem ser muito alegre, muito obediente. E sobre algo que a ofereceram, se manifestou com "tudo isso é para mim?", com as mãos cruzadas sobre o peito, em claro e universal gesto de agradecimento. Tem três anos, completa os dizeres minha vó. E tudo isso me leva a uma reflexão sobre gratidão, uma reflexão que na minha mente ocupa e ocupa o primeiro plano. O jogo passava ao segundo posto, mas logo voltaria à tona por outros encaixes.
Às 14 horas na pontualidade terminava a partida da Copa do Mundo com a surpreendente (para alguns nem tanto) vitória de Senegal sobre a Polônia em plena capital russa de Moscou, local de muitos acontecimentos de injúrias raciais. Racismo não escondido. Jogadores negros na atualidade, mais e mais pessoas em antigamente. Ou talvez menos antes sem o advento da globalização dos dias atuais. A globalização que coloca jogadores negros em praticamente todos os times titulares das seleções da Copa, com exceção do extremo oriente, Argentina e a própria Polônia. Outras, se não tem na titularidade, tem reservas imediatos que costumam adentrar nos jogos.
No mesmo horário de término do jogo com triunfo senegalês, uma senhora que aqui é pedinte há bastante tempo retorna em busca de mínimo sustento. Seus filhos já não são pequenos e agora buscam driblar as condições desfavoráveis em busca de emprego ou desviando do mundo mais ilícito de drogas e assaltos. Nada fácil. Frutas e leite e um papo cordial são o que minha mãe oferece à senhora. Um de seus filhos é Romário e, não recordando o nome dela, apenas a lembro como Romária.
Com outros endereços, certamente não são poucas as pessoas nessas condições no município e região. Políticas públicas insuficientes, políticas privadas desinteressadas, procurando apenas por consumidores e não por fazer caridade ou procurando apenas a solidariedade como troca por promoção de carisma e serviços aos olhares dos aí sim consumidores, potenciais clientes. Trocas de favores e espelhos. Reflexos e vitrines.
Em outras cidades gaúchas, incluindo Pelotas, como estão os imigrantes senegaleses? Um momento de cessar o trabalho ambulante, as vendas nos centros e focar um pouco no jogo, na ginga. Um resultado favorável, uma vitória consistente. A alegria nos olhos e nos corpos. Vencer o preconceito é uma batalha muito mais árdua, mas que tal esse tapa no frio, tapa aos que oprimem, deixam mal vistos os imigrantes de hoje, esquecendo suas raízes italianas, alemãs e de outras etnias que um dia foram imigrantes, estrangeirismos nessas mesmas terras.
Numa primeira rodada em que a Alemanha perdeu e numa Copa em que a Itália nem está, a vitória imigrante do Rio Grande do Sul na estreia da competição foi senegalesa. E são tantos os homens e tantas as mulheres, tantos os descendentes, mais diretos ou de povos passados do continente africano, tantas as histórias de linhas torcidas a procurar seus triunfos no dia a dia nesses lados do mundo.
12/06/2018
é é é
sai, sai da toca
olha a música que toca
sai, sai da toca
olha a música ecoa
sai, sai da oca
outra vez é hora boa
é a copa
sai, sai da toca
vem ver
é carnaval na rua
é barulho de motoca
tanta gente na rua
tanto bloco que embloca
a música que entoa
é tema e ninguém troca
o canal emissora
é o que tem e ninguém troca
outra vez é hora boa
é a copa
é a copa
olha a música que toca
sai, sai da toca
olha a música ecoa
sai, sai da oca
outra vez é hora boa
é a copa
sai, sai da toca
vem ver
é carnaval na rua
é barulho de motoca
tanta gente na rua
tanto bloco que embloca
a música que entoa
é tema e ninguém troca
o canal emissora
é o que tem e ninguém troca
outra vez é hora boa
é a copa
é a copa
meios
quando não sei por onde começar
começo pela poesia
ela é o início
o fim, o meio
no meio de tanta agonia
começo pela poesia
ela é o início
o fim, o meio
no meio de tanta agonia
preocupações
são tantas tantas antas
tantas tantas preocupações
que não sei por onde começar
a me preocupar...
tantas tantas preocupações
que não sei por onde começar
a me preocupar...
28/05/2018
Todos infelizes
Respeito e estimo melhoras a nós sintomáticos da depressão, que ora brota de trás de um quadro ou debaixo do tapete. E realmente desconfio dos que nada sentem perante os problemas que nós comunitariamente atravessamos enquanto sociedade doente.
No dia de hoje, houve sol, calor que interrompeu uma sequência invariável de dias frios. Nem sinal de chuva. Nem sinal de pedra no peito. Nas caminhadas, nos trajetos que faço, sempre me pedem moedas. Uns se justificam que não são ladrões. Geralmente desses desconfio que em algum momento com algumas pessoas, são ladrões. Geralmente eu não os julgo, porque a formação deficitária e a falta de oportunidade são o que leva muitos a serem assim. Ou, ao menos, a me pedirem trocados, os quais não tenho saído com para evitar maiores volumes nos meus bolsos que circundam minhas pernas magras.
Preocupantemente já saio com o celular criando volume ao bolso da minha perna direita, os fones de ouvido brancos conectados em músicas de tempos passados e raramente sucessos da atualidade. Passo por catadores de lixo seguidamente, em malabarismos e desafios de equilíbrios em carrinhos ou sacolas ou até na cabeça se conseguissem tais quais aquelas pessoas que recolhem galões de água no deserto. Procuram plásticos e demais recicláveis em meio às sobras. Infelizmente se acostumam dessa maneira. Felizmente que ao menos devem se acostumar a esse programa que nos enjoa somente de ver. Infelizmente se acostumam por não acharem outra saída imediata para combater a fome ou as mais diversas necessidades que passam.
Semana passada a prefeitura lançou a campanha do agasalho. Mas falta tanta coisa a essa gente. A mim, falta a saúde mental, como a tantos outros. Não nos espanta isso diante dos cenários que nos cercam. Mesmo o pessoal que ascenderia da pobreza para uma classe média estaria sujeito às mais diversas presas pecaminosas, coabitando com pressões e com os mais diversos problemas. Arrumar um emprego é estar se adequando a regras que não queremos seguir e convivência com gente com a qual não queremos conviver ou, algumas vezes, sequer desejamos que a pessoa exista, tamanho o desgosto de sua presença. Invejas, cobiças, ostentações, intolerâncias, ignorâncias, estupidez em seus mais raros e possíveis estados físicos ou mentais.
Pilhas de e-mails não respondidos. Já nem esperamos que os respondam. O mesmo asco que sinto ao lê-los não respondidos, os que recebem do outro lado devem pensar pela lotação de bobagens em suas caixas de entrada. Todos infelizes.
Os dilemas entre pressionar por respostas, procurar alternativas e se gastar, gastar energia com isso ou apenas deixar passar e partir para outra. Se perde pela insistência e o cansaço. Ou se perde pela falta de insistência. Todos infelizes.
A lua que me acompanha na volta para casa a pé é muito bela. Um cenário perfeito para roubarem o celular que eu já temia perder à luz do dia. Felizmente sobrevivo mais esta jornada. O asfalto e a iluminação estão bem posicionados nessa rua, as paradas de ônibus novas levam vidro em suas confecções, mas o clima de insegurança permanece em alto teor. Quase tudo certo, mas alguns erros são grotescos.
A saúde mental sabe que o básico dos básicos está em condições quando chega-se em casa. Na internet, lê-se os mais diversos absurdos das mais diversas pessoas. Anarquistas que debocham, gente que acha que político é tudo igual, estes debocham, pessoas pedem intervenção militar em um país castigado antigamente pelos militares no governo. Inflações altas, corrupção deslavada, vozes silenciadas, torturas, exílios e mortes. Tudo ignorado por esses infelizes desconhecedores da história brasileira. Ou simplesmente pessoas de mau caráter. Não duvidem, anda por aí gente sem escrúpulos, canalhas e calhordas das piores espécies que existem.
Interrompem ao parágrafo os gritos dos coletores de lixo oficiais do governo. A coleta dos reciclados está suspensa pela crise no setor dos combustíveis, paralisações de caminhoneiros e de petroleiros na semana. Pautas diversas sendo jogadas, arremessadas espalhafatosamente ao ventilador. Um país em pleno caos. Todos infelizes.
A cadela pertencente aos vizinhos segue latindo desde que o caminhão passou. Ela deixa meus pais infelizes enquanto eles assistem à televisão da sala. A cadela parece seguir incomodada e outros cães da vizinhança se manifestam. Pedem intervenções ou querem intervir. Todos infelizes.
No dia de hoje, houve sol, calor que interrompeu uma sequência invariável de dias frios. Nem sinal de chuva. Nem sinal de pedra no peito. Nas caminhadas, nos trajetos que faço, sempre me pedem moedas. Uns se justificam que não são ladrões. Geralmente desses desconfio que em algum momento com algumas pessoas, são ladrões. Geralmente eu não os julgo, porque a formação deficitária e a falta de oportunidade são o que leva muitos a serem assim. Ou, ao menos, a me pedirem trocados, os quais não tenho saído com para evitar maiores volumes nos meus bolsos que circundam minhas pernas magras.
Preocupantemente já saio com o celular criando volume ao bolso da minha perna direita, os fones de ouvido brancos conectados em músicas de tempos passados e raramente sucessos da atualidade. Passo por catadores de lixo seguidamente, em malabarismos e desafios de equilíbrios em carrinhos ou sacolas ou até na cabeça se conseguissem tais quais aquelas pessoas que recolhem galões de água no deserto. Procuram plásticos e demais recicláveis em meio às sobras. Infelizmente se acostumam dessa maneira. Felizmente que ao menos devem se acostumar a esse programa que nos enjoa somente de ver. Infelizmente se acostumam por não acharem outra saída imediata para combater a fome ou as mais diversas necessidades que passam.
Semana passada a prefeitura lançou a campanha do agasalho. Mas falta tanta coisa a essa gente. A mim, falta a saúde mental, como a tantos outros. Não nos espanta isso diante dos cenários que nos cercam. Mesmo o pessoal que ascenderia da pobreza para uma classe média estaria sujeito às mais diversas presas pecaminosas, coabitando com pressões e com os mais diversos problemas. Arrumar um emprego é estar se adequando a regras que não queremos seguir e convivência com gente com a qual não queremos conviver ou, algumas vezes, sequer desejamos que a pessoa exista, tamanho o desgosto de sua presença. Invejas, cobiças, ostentações, intolerâncias, ignorâncias, estupidez em seus mais raros e possíveis estados físicos ou mentais.
Pilhas de e-mails não respondidos. Já nem esperamos que os respondam. O mesmo asco que sinto ao lê-los não respondidos, os que recebem do outro lado devem pensar pela lotação de bobagens em suas caixas de entrada. Todos infelizes.
Os dilemas entre pressionar por respostas, procurar alternativas e se gastar, gastar energia com isso ou apenas deixar passar e partir para outra. Se perde pela insistência e o cansaço. Ou se perde pela falta de insistência. Todos infelizes.
A lua que me acompanha na volta para casa a pé é muito bela. Um cenário perfeito para roubarem o celular que eu já temia perder à luz do dia. Felizmente sobrevivo mais esta jornada. O asfalto e a iluminação estão bem posicionados nessa rua, as paradas de ônibus novas levam vidro em suas confecções, mas o clima de insegurança permanece em alto teor. Quase tudo certo, mas alguns erros são grotescos.
A saúde mental sabe que o básico dos básicos está em condições quando chega-se em casa. Na internet, lê-se os mais diversos absurdos das mais diversas pessoas. Anarquistas que debocham, gente que acha que político é tudo igual, estes debocham, pessoas pedem intervenção militar em um país castigado antigamente pelos militares no governo. Inflações altas, corrupção deslavada, vozes silenciadas, torturas, exílios e mortes. Tudo ignorado por esses infelizes desconhecedores da história brasileira. Ou simplesmente pessoas de mau caráter. Não duvidem, anda por aí gente sem escrúpulos, canalhas e calhordas das piores espécies que existem.
Interrompem ao parágrafo os gritos dos coletores de lixo oficiais do governo. A coleta dos reciclados está suspensa pela crise no setor dos combustíveis, paralisações de caminhoneiros e de petroleiros na semana. Pautas diversas sendo jogadas, arremessadas espalhafatosamente ao ventilador. Um país em pleno caos. Todos infelizes.
A cadela pertencente aos vizinhos segue latindo desde que o caminhão passou. Ela deixa meus pais infelizes enquanto eles assistem à televisão da sala. A cadela parece seguir incomodada e outros cães da vizinhança se manifestam. Pedem intervenções ou querem intervir. Todos infelizes.
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