07/04/2025

Jeanne Dielman (1975)

Para muitos, a grande obra da cineasta belga e judaica Chantal Akerman. Confesso que Notícias de Casa e "Retrato de uma Garota do Fim dos Anos 60 em Bruxelas" me interessaram mais diretamente. Porém, ao completar a terceira parte de Jeanne Dielman, pois assisti em três pedaços, visto que é um filme de 3h21min, ao terminar de vê-lo me surgiu o insight de achar ter entendido o filme.

Jeanne Dielman tem a vida monótona e parada propositalmente no filme que nos encerra a ver. Sua rotina de dona de casa. Viúva, mãe solteira, apesar de não muita idade. O filho às vésperas de deixar o apartamento deles em zona central da Bruxelas que não conheço. O filho adolescente e pouco reagente à rotina da esforçada mãe. Ela que procura cozinhar, lava louça, cuida das roupas, da limpeza do apartamento, entre outras tarefas.

O pai do garoto morreu há poucos anos. Seria um anseio e uma naturalidade que Jeanne queira reconstrução e novas ocorrências. O filme se desenrola com ela obstinada a resolver o dia a dia. Assim adiando soluções maiores para sua trancafiada vida. Alguns diálogos entre ela e o filho revelam as barreiras da mulher criar o menino. Assuntos de puberdade e até de filosofia entre as gerações os escapam.

É interessante como filmes europeus muitas vezes ganham pela falta de diálogo e os muitos silêncios permitem a interpretação possivelmente correta. Assim foi na leitura anterior da Harmonia de Werckmeister, filme húngaro de Béla Tarr e sua esposa Ágnes Hranitzky. Em Chantal Akerman, os silêncios também são constância na maioria de suas obras. No "Retrato de uma Garota em Bruxelas", os jovens conversam mais efusivamente, em um raro encontro àqueles estranhos personagens deslocados de outras realidades. Enfim, em Jeanne Dielman, de 1975, o silêncio está vibrante, enlatado. 

Jeanne representa as mulheres que perderam seus maridos em guerras, que perderam seus maridos ao silêncio, à rotina, ao desmanche das relações que igrejas queriam eternas. Jeanne é a mulher fechada entre quatro paredes com mais funções do que lhe caberiam, do que caberiam às pessoas em suas individualidades e direitos.

Jeanne é uma luta contra outros silêncios. No encontro frustrado ao final do filme, passadas mais de três horas de película, o homem que está sobre ela e não ouve seus apelos, ou não quer ouvir. Assim, ela reage finalmente.

Antes, temos Jeanne relutando em suas tarefas diárias. A bebê que ela cuidava para alguma vizinha por algumas horas e Jeanne não conseguia fazê-la parar de chorar, em frustrantes cenas. Jeanne que precisava da cafeína para sua força cotidiana, mas passou a repunar café. Seu café, café de restaurantes. Jeanne que não conseguia achar um botão de casaco para seu filho, igual ao que sua irmã havia trazido da América do Norte, quando os visitara com sobrinho e tudo. O marido de Jeanne ainda era vivo, havia muitos anos esse episódio citado no apelo às impassíveis vendedoras belgas. Os botões se perderam. Os anos se vão. Quando essa mulher iria reagir, iria se frustrar, iria se reconstruir?

Após a parte final, compreendi mais o proposital tédio e o porquê muitos críticos consideram a obra marcante da cineasta belga Chantal Akerman, a qual eu quase confundo o nome com Jeanne Dielman, tamanhas citações ao filme.




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