03/07/2023

Touki Bouki (1973)

A Viagem da Hiena. Filme senegalês do diretor Djibril Diop Mambéty. Exibido no Festival de Cinema de Cannes de 1973 e no 8º Festival Internacional de Cinema de Moscou. O filme foi restaurado em 2008 na Cineteca di Bologna, para registros de fichamento.

A história é de dois jovens revoltados com o descaso e a situação de seu país natal (Senegal) e que sonham uma vida de luxo em Paris. Eles desconhecem outras realidades, mas têm o sonho. O Senegal agrário e de paisagens desérticas é evidenciado. É impossível não capturar a força das imagens iniciais e finais da trama. A figura dos bois em última luta nos abatedouros. Sangria. Morte com o animal ainda em vida. Se debater. Morrer. Uma esteira de mortes, um chão de sangue. A crueldade humana, que em seguida é praticamente absolvida ao vermos como é o modo de vida do cidadão senegalês nas favelas, em meio ao lixo. As crianças correm atrás da moto do personagem principal Mori, interpretado pelo ator Magaye Niang. O veículo chama a atenção por possuir um crânio de boi depositado na frente. Sua companheira se chama Anta, interpretada pela atriz Miriam Niang.

Em rápida pesquisa, observamos que o filme é referência no cinema experimental africano. É uma produção bastante marcante, também se pensarmos que considerável dos países em África recém viviam o processo de independência. Senegal, em relação à sonhada França, não era diferente. As cenas urbanas e rurais povoam a obra clássica, que mostra a escassez de qualidade de vida na grande Dakar e suas imediações.

A dupla de protagonistas parte em uma jornada arriscada, roubando dinheiro ora de um golpista de rua, ora de uma arena que recebe combates corpo a corpo. O filme a todo instante mostra um país em dificuldade de progredir, de romper com seus traços mais violentos. O casal precisa driblar os moradores que também os roubariam, driblar a polícia, driblar um curioso taxista, driblar um rico idiota e conseguir embarcar em um navio que os levaria de Senegal a partir de Dakar. A conexão das cenas às vezes deixa a desejar sobre o plano lógico dos acontecimentos. É difícil entender como Mori e Anta não foram capturados no início de tão ousada fuga.

É mais fácil entender que os fugitivos tinham lá suas razões. Rebeldia, descontentamento, falta de perspectiva, ambições. O final é surpreendente, embora também nos deixe reflexivos do porquê tenha ocorrido assim.

A Viagem da Hiena é um retrato importante para registro histórico das cenas de um Senegal setentista. A independência do país em questão recém havia ocorrido em 1969. As marcas de século de colonização francesa estão grifadas durante toda a obra de Diop Mambéty. As citações, a irrupção casando ou colidindo com a ancestralidade africana, o sonho dos jovens. Um Senegal que ainda tenta(va) se encontrar e uma França mais pintada surrealista do que existente.

O ser humano em sua viagem de sonhos que muitas vezes morrem como um boi em um abatedouro.

⭐⭐⭐⭐



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