A vida, quando acaba, é imensa e minúscula. É de qualquer tamanho, a depender do ponto de vista. É minúscula pois não existe mais na realidade. O corpo não se move mais. Aquela cabeça já não pensa. Foi-se a vida. É imensa pelo legado, pelas lembranças que deixou. Grandes obras, grandes escritos, grandes amigos, relações pessoais. Boas ou ruins. Críticas ou puros elogios ao morto. Mesmo quando é desconhecido, depende o ponto de vista. ONGs se importam. Estatísticos se importam. Familiares desconhecidos pela mídia se importam. Pessoas que nunca aparecem nos jornais, mas existem. Periferias, comunidades afastadas. Indígenas sem nomes decifráveis para quem só estudou o Português. Ou mesmo Inglês ou Espanhol. Funerárias. Médicos legistas. Alguém viu e alguém lembrou. Lembranças que cabem em um dia ou em uma vida. O estado de putrefação. O enterro. O coveiro em ação.
Vidas são imensas e minúsculas. Em curta distância, já não se enxerga o corpo de uma pessoa. Do alto do avião as formigas são iguais. Nem gordas nem magras. Nem brancas nem negras. Nem santos nem bandidos. Nem Santos nem Palmeiras, nem Corinthians. Em curta distância, o amor sobrevive na cabeça. No afeto transformado e transformador das lembranças. As memórias que sabem-se poder repetir ou até superar as expectativas. O reencontro. Quando a morte ou as decisões (definitivas?) da vida se atravessam, as recordações também são imensas. Imensamente dolorosas. O sentimento de não ter mais como.
A vida quando acaba pode ser vista como imensa que foi ou que ainda é. Pode ser vista como minúscula. É o ciclo natural. Desde a escola se aprende, com mais ou com menos consciência, para pequenos órfãos ou desconhecedores do futuro dos pais, que se nasce e se morre. Não há o que fazer. Diante do inevitável, a vida soa passageira, minúscula diante da natureza e do cosmos. Barragens, maremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, climas extremos como desertos, ondas de frio ou de calor, tudo pondo a vida do ser humano à prova. O ser humano necessitado de esquemas, de tecnologias para sobrevivência. Ou seria apenas a expectativa de vida mínima diante da feroz natureza. Como estavam sujeitos à morte constantemente seus antepassados. A expectativa de vida aumentou mas ainda é baixa para quem sonha viver dois séculos. Assim como a estatura humana aumentou mas está longe (acho que ainda está) dos três metros. Os três metros me parecem mais próximos do que os dois séculos. Me corrijam se eu estiver enganado. Observamos árvores ou tartarugas ou microrganismos, invisíveis a nós sem a tecnologia, nos superarem em faixa etária.
A vida também é imensa. É tudo que nos cabe no peito. É o que as lembranças nos evocam. É o que almejamos para o futuro. Minha vó aos quase 90 querendo só mais um tempo de vida. Alimentação, banho confortável, cama para dormir. Dormir e acordar. Pois é a vida. A vida é o que ela tem. É o que ela quer. Continuar tendo consigo. Consigo e com os seus. Já viu muitos morrerem e sabe da importância deles caso seja perguntada sobre. E sabe a importância dos vivos, com ela a cada dificultar dos passos. É a vida.
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