25/10/2019

correndo por correr

Demorei a aceitar a ideia de que as pessoas não são obrigadas a gostar de mim. Ou ao menos gostar de mim de uma maneira destacante, como prioridade em relação a outras. Portas estreitas em um mundo concorrido. Concorrido de apertados horários. Hoje pouco me sobra de tempo no cotidiano, além dos estudos e trabalho. Termino noites entre leituras e cinema caseiro. Algumas conversas virtuais e a preparação para o dia seguinte; cíclico.

Entendo melhor o estreitamento na existência das chamadas horas de lazer. Dias de lazer mais raros ainda. Conversava em outro momento sobre trabalhar 200 e aproveitar uns 7 em alguma viagem; tendência.

Compromissos. Tive poucos em infância e juventude de uma vida retilínea de poder estudar e até em boa escola para seguir ao mundo universitário. Cursar o que sempre quis, uma estrada tão reta quanto o sul de Porto Alegre apresenta em direção ao Uruguai. Poucos deslizes, poucas curvas, poucos desvios. Poucas atividades extras. Pouca coisa para ter afinidade ou interesse. E isso segue, também, vá lá, com as pessoas. Pouca afinidade ou interesse. Poucos mergulhos, águas mais turvas do que o Laranjal, onde por vezes são descobertos jacarés e outros animais exoticamente perigosos a banhistas, além dos conteúdos duvidosos, propriedades ao banho de laguna e etc.

Compromissos eram o tópico. Não me atenho muito a eles. São minha versão de rejeitar os verdes no prato de quando se é criança. Não tive problema com os verdes no prato. Tenho com os compromissos. Fico na minha em stand by o máximo possível. Faca de dois gumes entre mirar a paz e o sossego e sentir-se pouco prestativo e presenciando pouco, aquém da vida. Balança e gangorra entre vida e sobrevivência. Demoro mais horas para carregar em casa do que a maioria dos celulares. Reservo-me à introspecção o máximo possível; preciso dela.

Saio porta afora e logo retorno. O celular de vocês hiberna ou clama bateria para evitar esse sono profundo. Eu também preciso de uma parede para me recarregar. Sentado ao canto, preso paralelamente solitário. E é preciso entender que tudo bem, que é o que se pode fazer, é o que se pode ser feito. Mediante toda essa desistência de tempo em reclusão sobra-me menos para o fôlego das horas em sociedade. Difícil conciliá-las: quando podes e quando queres? Desgaste.

Há muitas pessoas semelhantes no dia a dia. De repente te elogiam por ter uma formação nisso ou naquilo, mas a concorrência também tem; ou tem outra formação interessante. Currículos e lattes. Você pode ser bom em malabarismo, sinuca ou tocar guitarra. E usar essas habilidades como um primata se exibindo, o que não me atrai muito. Mas é assim por aí, em busca de diferenciais e ranking e valer a pena; e valer o tempo. A internet amplia o leque de opções e pode-se resolver ou ao menos encaminhar as coisas por ela. Redes sociais e sites de relacionamento. Pessoas expostas em vitrines. Sou muito detalhista e reprovo muitos comportamentos. Reprovo mais do que aprovo, é um problema grave. Onde e como se encaixar nisso tudo e será que tenho interesse em fazer parte? Devo ter, pois estou tecendo linhas sobre isso, enquanto poderia estar assistindo ao documentário Edifício Master, que acredito estar disponível no Youtube. Se estiver, assistam, é um dos melhores nacionais da história.

Mas como se encaixar nisso tudo negando equipamentos, performances e regras gerais socialmente estabelecidas? É como se um piloto de automobilismo quisesse concorrer com seu carro ultrapassado por não se enquadrar nas novas legislações. Ele não terá condições. Enquadre-se ou seja eliminado. Eu poderia fechar o braço de tatuagens só por fechar, porque achariam bonito, mas não seria eu. Que caminhos e escolhas valem a pena se são quase irreversíveis dessa maneira? Mas a morte, a própria morte, nesse contexto, é irreversível.

Trilhas de andarilho fazem-me bem. Descobri recentemente uma música do Wander Wildner e encerrarei por aqui mesmo sabendo que eu não disse tudo, mas que disse alguma coisa. Não preencheremos nossas vidas vazias no mesmo espaço de tempo e lugar em que esvaziaremos garrafas. Eu não disse tudo, mas ele, nesse vídeo que corre aqui abaixo, disse algo. Até a próxima.





22/10/2019

a perda do ônibus (Babylon By Bus)

Surge nas postagens da corriqueira internet uma mensagem sobre o desafio de encontrar momento ou situação mais triste do que a perda do ônibus. O cidadão esforçado em correr rumo ao ponto de embarque e perder o seu único transporte possível, quitado pelo auxílio-transporte da empresa ou com seu contado dinheirinho, ou com o crédito que precisou recuperar em alguma das casas de câmbio. A pessoa encarna o atletismo dos principais nomes do esporte mundial, recorre da forma como lhe é possível, técnica abaixo dos aprendizes da modalidade que muito erguem os joelhos e movimentam sistematicamente os braços, na dinâmica ou aerodinâmica que lhes é possível.

Tanto esforço em vão dói de diversas formas, enforca o tempo passado, quando se retorna na memória para uma cochilada anterior. Poderia ter fechado as pesadas cortinas de ferro da loja mais cedo, aquele trabalhão para a coluna de cima a baixo, quando precisa encaixar precisamente a estrutura ao solo. Poderia ter feito de maneira mais breve ou nem ter feito aquela ligação que custou dois a três minutos e consequentemente custou o embarque no gigante movido a biodiesel. Poderia não ter perdido tempo com aquele affair que trabalha contigo e nem te nota, mas que arriscou uma puxada de assunto entre sonhos do que não ocorre. Poderia não ter aberto mais uma ou outra aba no computador do serviço, um vídeo a mais, uma receita de bolo, uma conversa no Facebook. Poderia.

E tudo culmina, o humor do dia entra em ápice para nivelar para cima ou para baixo naquela corrida, travessia desengonçada, no perigo dos trânsitos da avenida que afastava da parada e do destino em pé final, pois só queria um banquinho, mesmo de canto, mesmo desagradando uma prévia escolha, para sentar-se no ônibus. Mas isso é negado. O esforço, o suor que brota, o vencimento precoce do desodorante passado ao início do expediente, tudo isso posto à prova para uma missão inconclusa, uma derrota vexatória. Outros saindo de seus serviços, alguns passando em seus carros, uns transeuntes despreocupados, quem sabe já passeando com seus cachorros ou rumo a jantares em restaurantes, todos o observam, seu cair de joelhos em revés doloroso.

O motorista que viu-o ou não? Se viu, que o inferno o aguarde, mas, caso não viu, será que faltaram poucos metros para entrar em um campo de visão que mudaria toda a história, todo o roteiro, agora tão triste, tão pesado, tão massacrante, a derrota a mais, a gota que transborda o copo, que entope o boeiro do cotidiano, além daquelas contas vencidas, daquelas conversas em vão, daquela vida mais ou menos mesmo que acertasse o horário do bus e agora nem isso. Da companheira ou do companheiro de serviço quem nem o nota ou apenas o faz perder tempo. Tempo, tempo, tempo que atrasa a janta, que atrasa a limpeza do apartamento, que é desespero para o filho que nota o responsável zeloso e carinhoso ausente. Que faz o animal de estimação esperar mais um pouco. Tempo que vai esperar na parada, agora restabelecendo o penteado com gestos da mão em forma de pente, verificando as axilas e se houve manchas na camisa pelo esporte obrigatoriamente praticado em vão. A corrida sem medalha de mérito, a disfarçada logo em seguida, para verificar que os que encerravam o expediente também já se foram para outras paradas, rumo a suas casas, ou entraram em seus carros ou mesmo a pé sumiram; os passeadores já estão com seus cachorros a procurar novos postes, hidrantes ou placas; os demais já estão a folhear menus rumo a seus jantares e tantos outros nem recordarão da cena, apenas ele. Tão ele ali que tem apenas a si mesmo e não mais aquele ônibus fugitivo, mas à espera do próximo. Ainda pela mesma noite desenhada e na espera pelo acerto e pela antecipação vangloriosas do próximo dia, no prazer das pequenas vitórias e de conquistar pequenos troféus imaginários no manicômio a céu aberto.

21/10/2019

Sudoku

quando no violão dedilha
minha vida muito menos ilha
quando no violão dedilha
acordo as cordas e essas novas linhas
acordo as cordas e essas novelinhas

quando no violão dedilho
minha vida muito mais andarilho
quando no violão dedilho
mudo as cores e os brilhos
mudo o ritmo dos seus cílios

pensando nos nossos trilhos
pensando nos nossos filtros
pensando nos nossos trilhos
pensando nos nossos filtros

Sudamérica em colapso
e eu nem ao menos
um Sudoku que tomamos
nos seus braços
nós condenados
das ciências entre humanos

12/10/2019

poema enquanto cagava

celebrando cada pequena vitória sofrendo cada pequena derrota vivendo intensamente a história sentindo cada mudança de rota

10/10/2019

chapéu de hincha

não aguento + essa avenida passam caminhões muito pesados tentam os carros rebaixados arrastados que nem a minha vida não aguento + esse mundo passam caminhoneiros drogados logo vem os carros rebaixados eles batem o fundo

com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa

não aguento + esse bairro
ele era tudo que eu tinha
agora toda vez que eu saio
era a náusea que me cobria

não aguento + essa vizinha
ela tem voz de buzina
o marido é miliciano
preso no Paraguai faz uns anos
queria que fosse preso de novo
queria que fosse preso de novo
queria que fosse preso de novo

com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa com meu chapéu de hinchaaaaaaaaaaaaaaa você é minha última fichaaaaa

06/10/2019

separações II

"Concebendo a liberdade como o aumento das necessidades e sua pronta satisfação, alteram-lhes a natureza, porque fazem nascer neles uma multidão de desejos insensatos, de hábitos e imaginações absurdos. Não vivem senão para invejar-se mutuamente, para a sensualidade e a ostentação. Dar jantares, viajar, possuir carruagens, cargos, lacaios, passa tudo como uma necessidade à qual se sacrifica até sua vida, sua honra e o amor à humanidade, matarão-se mesmo, na impossibilidade de satisfazê-la. O mesmo ocorre entre aqueles que são ricos; quanto aos pobres, a insatisfação das necessidades e a inveja são no momento afogadas na embriaguez. Mas em breve, em lugar de vinho, embriagar-se-ão de sangue, é o fim para que os conduzem. Dizei-me se tal homem é livre. Um 'campeão da ideia' contava-me que, estando na prisão, privaram-no de fumo e que essa privação lhe foi tão penosa que quase traiu sua ideia para obtê-lo. Ora, esse indivíduo pretendia lutar pela humanidade. De que pode ser ele capaz? Quando muito dum esforço momentâneo, que não sustentará por muito tempo. Nada de admirar que os homens tenham encontrado sua servitude em lugar da liberdade, e que em lugar de servir à fraternidade e à união, tenham caído na desunião e na solidão, como mo dizia outrora meu visitante misterioso e mestre. De modo que a ideia do devotamento à humanidade, da fraternidade e da solidariedade desaparece gradualmente do mundo; na realidade, acolhem-na mesmo com derrisão, porque como desfazer-se de seus hábitos, aonde irá aquele prisioneiro das necessidades inumeráveis que ele próprio inventou? Na solidão, preocupa-se muito pouco com a coletividade. Afinal de contas, os bens materiais aumentaram e a alegria diminuiu."

Fiodor Dostoievski em Os Irmãos Karamazov.

separações

"Porque, no presente, cada qual aspira a separar sua personalidade dos outros, quer gozar ele próprio a plenitude da vida; entretanto, todos esses esforços, longe de atingir o alvo, só resultam num suicídio total, porque, em lugar de afirmar plena- mente sua personalidade, caem numa solidão completa. Com efeito, neste século, todos se fracionaram em unidades, cada qual se isola no seu buraco, separa-se dos outros, oculta-se, ele e seus bens, afasta-se de seus semelhantes e os afasta de si. Amontoa riqueza sozinho, felicita-se pelo seu poder e pela sua opulência; ignora, o insensato; que, quanto mais amontoa, mais se enterra numa impotência fatal. Porque está habituado a só contar consigo mesmo e destacou-se da coletividade, acostumou-se a não crer na entreajuda, no seu próximo, na humanidade, e treme somente à idéia de perder sua fortuna e os direitos que ela lhe confere. Por toda parte, em nossos dias, o espírito humano começa ridiculamente a perder de vista que a verdadeira garantia do indivíduo consiste não no seu esforço pessoal isolado, mas na solidariedade."

Fiodor Dostoievski em Os Irmãos Karamazov.

04/10/2019

além de 2030

Um pouco de prosa. Parece que a cada derrota que admitimos em desistência já encaminhamos a próxima, em uma esteira de produção desmoralizante. Não tenho conseguido romper o ciclo e tão certeiro como é a presença do inverno a cada ano, contornando o abril, rumo a maio, junho e julho, parece a eminência de meu futuro colapso.

Tenho dito que a situação geral do país se encaminha a isso. Hoje o panorama é de um estado do Rio Grande do Sul que não paga seus funcionários estatais, a prefeitura municipal de minha cidade começou também a parcelar salários do funcionalismo, o que desencadeou nas primeiras greves e protestos. Pesquisas apontam retrocessos na luta pelo combate à pobreza e o aumento da desigualdade salarial. Ouvem-se as mais diversas asneiras e besteiras das vozes oficiais, dominadas pelos mais dantescos personagens estrupícios. O colapso do país é eminente.

Voltando ao meu, também assim me aproximo em um mar de lama envolto a todos os lados. Sem perspectivas. Estou cercado e meu cérebro não consegue vencer os contornos. A não aceitação de compromissos e horários, a antissocialidade, a perda de paciência facilmente, o fechar-me a meus gostos e espaços restritos, o depender e sofrer a solidão de uma forma bastante peculiar. Meus pensamentos e consequentes atitudes acarretam o que tenho vivido. Cada vez que tento romper e perfurar essa bolha, não tenho obtido êxito. Me distraio em função da música, procuro conhecer novos artistas. Tenho lido meus livros, mas em ritmos mais lentos do que eu consideraria possível. Me distraio e me atormento em aulas que não sei exatamente onde usarei, enquanto custam-me turnos inteiros pelas tardes.

Tenho até recursos para voltar a ter terapia. Porém, não gostaria de sacrificar o essencial descanso de minhas manhãs, pouco utilizadas nessa década desde a conclusão do ensino médio. Recentemente um amigo de suma importância em minha caminhada, mas de opinião instável, por ser bem afortunado e variar muito suas escolhas desde que o conheci, me intercedeu que a saúde era importante nesse ponto. Apenas rapidamente concordei e não desenvolvemos muito o assunto. Imagino que ele também tenha passado por umas ruins.

Eu tenho passado por umas ruins. Mas isso tem estendido um interminável tapete pelo tempo. Uma fase ruim interminável. Para quem veja de fora, pode notar pequenas ou maiores conquistas e pensar-me bem. Mas a verdade é que não tenho conseguido ir mais. Pareço estar ligado no automático em tarefas do dia a dia. Me questiono inclusive se isto é a vida. Se tantos passam por isso na classe mais média das médias, mas nada sentem dessa minha espessa camada de náusea cotidiana.

Empregos, caminhos para se sustentar, oportunidades abertas, semi-abertas ou destruídas ou destrutivas de quem embarca. Faixas etárias que acompanho ano após ano e tornam-se pais e tornam-se mães. Dos meus tempos de ensino público, incluso a universidade, estava acostumado. Mas convivas dos tempos de ensino particular também entrando para a paternidade. Esquisito. Como dissociar aquelas figuras mongolonas das que estão nesse presente rapidamente atingido pelas rajadas da transformação?

E eu encontro mais nada. Vejo as possibilidades e elas nada me dizem e a nada me levam. Tudo bastante distante e meritocraticamente muito trabalhoso. Histórias de superação mais me entediam do que me encorajam. Assim como frases motivacionais. Não consigo desencapar meus próprios fios rumo à essa motivação, que me cruza palpavelmente distante ao passo que se esfrega aos meus olhos nas mais diferentes plataformas alheias. Me canso. Procuro onde possa descansar enquanto as garras do capitalismo me aprisionam.

Descobri recentemente que universidades dos Estados Unidos possuíam anos sabáticos para professores com 7 anos trabalhados. Descansa um. Um inteiro. Um ano recebendo e aproveitando de forma a voltar depois. Enquanto isso as jornadas de trabalho são gradativamente aumentadas. A loja de departamentos do ser mais miserável [de alma] do país regulamenta em seu contrato que funcionários possam trabalhar domingos e feriados independente de compensações justas. O sindicato, também com seus interesses próprios, tenta intervir. As pessoas, implorantes por emprego, querem aceitar os termos desumanos e rasgadores das constituições lutadas através do trabalhismo. Ultrajante.

Afetam-me todas as áreas: o suporte do que será financeiro, o suporte moral e cidadão do mundo, o suporte afetivo das pessoas que tão pouco suporto e o suporte destituído de sentido para tanta loucura em tão insalubre sistema.

Pensei recentemente que me apetecem os anos da década que está por vir, na numerologia repetida do 2 - de 2020 a 2029 - e mesmo depois, algo me faz simpatizar nesses números. Que não seja apenas a subjetividade que me permita querer vivê-los. Preocupantemente me sinto um clube à beira do rebaixamento. Talvez algum dos catarinenses da temporada, entre Avaí e Chapecoense na Série A ou Figueirense em crise financeira na Série B. Procuraremos depois se algum conseguiu escapar. Julgo que não. Quanto a eles e a mim, em comum de que necessitamos/necessitaríamos de alguma mudança mais radical, algum FATO NOVO - como na linguagem do futebol muitas vezes aparece este termo. Tento me comunicar com quem vocês imploram. E a ele quase ajoelho-me nessa condição de ao menos querer entender melhor meu papel aqui. Seja agora ou para os próximos anos de 2020... 2030.

Na adolescência me preocupava em salvar o mundo e escrevi uma canção com as preocupações climáticas e ecológicas. Chama-se "Além de 2030". E agora, antes disso para ir além disso: quem e como me salvar do mundo que já pensamos em salvar?

peso do piano

pensei em me chapar de pó
pensei que tanto faz
mas eu tenho dois pais
nas farmácias ou nos becos
onde que se vende a paz?
com receita ou sem receita
cê aceita ou cê rejeita
se meto essa na cabeça
sei que é assim que começa
alguns dizem como termina
outros terminam-se antes
tomando essas medidas
geração dos calmantes metanfetamina afeta uma abundância ambulância equipada o lab a ter em casa e pensar toda essa coisa era só bomba de asma às vezes mente tá rasa às vezes tá transbordando todos sabem da sua cruz ou o peso do piano não era bem assim mas qualé o outro plano?


03/10/2019

em marte ou mais além

fico feliz que tu goste
do que ele poste
essa bengala, esse sustento
também são o meu suporte
termos em comum nosso rapper preferido
me dá a sensação de dividir
contigo o nosso abrigo
e vira o melhor lugar
e eu me viro uma versão melhor de mim mesmo
me sinto mais aceso com esse post
me sinto mais devido - divino
o que queres que eu te mostre?
das palavras do mestre vou fazendo minha balestra
fazendo meu suporte, fazendo minha palestra
se a fala tava pior agora tá melhor que essa
logo vai ser superada por aquela
na evolução um processo de antemão
que vou tentando
e se a brisa sintoniza
minha mensagem te avisa
vamo embora pra Ibiza 
vamo embora na crista dessa onda
eu sei que tu me sonda
minha frequência te equaliza
nesse comprimento de onda

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

sigo o trem
deve ser a luz do fim do túnel
contra tantas trevas
tentando ficar imune
nesse mundo hardcore
impune com os piores
e condena os melhores
com as dores da compaixão
parece até mentira
parece até folclore
tanto neguinho que morre
quando vê também já fores
efêmera das flores
fêmea das minhas dores
paleta das minhas cores
canciones tan tricolores
pores do sol ao teu lado
melhores os resultados
dos fins daquelas tardes
que seguem acontecendo
mas eu já não sou o mesmo
me desgasto pouco mais cedo
bandeira a meio mastro
navio segue em pedaços
à deriva na retina
nenhum sinal de terra à vista
visão que me piora
visão que me despista
utopia da ideologia
pirata da fantasia
tesouro não encontrado
número que foi mudado
segue o Gabo falando de morte
nas Colômbias lá do Norte
das índias de outros Colombos
outros tempos, novos tombos
ser humano vacilão
empolguei, falei demais
vai de novo do refrão [em vão]
[e vão]

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

faz as tuas rimas
me deixam pra cima
espero que sirvam
para deixá-la bem
faz a tua parte
faz a tua arte
me deixam em marte
ou black alien mais além

velocidade cinco, velocidade seis

resiliência é a questão
que evita eu me jogar da ponte
tenho que estar atento
para que eu não apronte
falo um monte de besteira
mas também escrevo um monte
conte logo seus problemas
meu ouvido é um horizonte

aquilo que vou ouvindo
as linhas já vão fluindo
liga tipo vinho tinto
as telas que eu já pinto
são elas o meu trabalho
eu não sei o quanto eu valho
nesse jogo de quantificar
quantos ficam por aqui
quantos do lado de lá?
oportunidade a definir
o que vai nos separar

penso nos que ficam aqui
e penso nos que ficam lá
vezesimporta atravessar
fazer a ponte e unir
na transparência de quem não esconde
de quem usa o tempo e mostra onde
o lobby não é meu hobby
vez em quando ouço um reggae
vez em quando ouço um bob
às vezes robert plant
também tá com a gente
nesse zeppelin cruzando o céu
sobrevoa o hell
enquanto passa rola a caça
e as ideias que vão no papel

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

firmezinho
estilo vinho
fluindo e abrindo o caminho
no que há de melhor no português
rimas, métricas adeptas
com as leis ou sem
adaptando as técnicas
na tática e na estética
nas ideias sabáticas
que deram um tempo
e foram passear
e o importante é sair do lugar
entender o outro lado
pra fundamentar
e o resultado está, está más alla
Galeano mandou
então vou caminhar

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

velocidade cinco, velocidade seis
troca a marcha
não se entrega de graça
antes de fim do mês
velocidade cinco, velocidade seis
segura as ponta, parça
me diz o que tu acha
não vou bolar sozinho
preciso de vocês

02/10/2019

gritava

às vezes o poeta trava
a caneta acaba a tinta
não minta pois acontece
agora só escrevo a lápis
não grito mais com caps
gritava
uma vida finita envelhece

in-edito

tudo é inédito
e assustador
essa dor eu já senti
por outro amor
como que salva
o trauma na alma
do jeito que ficou?

se for fevereiro II

será que até o inferno
e o céu são passageiros?
ou nós que somos nesse ônibus
ônus na estação final
desembarque e tchau

se for fevereiro

será que até o céu
e o inferno são passageiros?
levo o chapéu se for frio
e o deixo se for fevereiro

tudo tão efêmero

tudo é tão efêmero
tudo é tão breve
me doe esse momento [eterno]
para que não me doa o tormento
enquanto o vento da efemeridade
não me leve [ao inferno]

30/09/2019

24/09/2019

seu relevo é o que me vale

professora, bem comecei a fazer os exercícios mas redentora tanta coisa apareceu para ouvir os meus suplícios depositada mais uma moeda na minha caixa de vícios devassos amordaçados escondidos bem debaixo de tantos artifícios

tanta coisa melhorrrr do que fonéticaaaa poder ver e admirar toda a sua estéticaaaa tanta coisa melhorrrr do que estudar fonologiaaaa seus relevos, curvas e toda a geografiaaaaa seus relevos planaltos são o que me valeeeee deixa eu te estudar e te acompanhar-teeeee

23/09/2019

gol de bico

fazer aqui minhas rimas pobres como fazer o gol de bico pode ser algo até mais nobre que beijar o distintivo

20/09/2019

14/09/2019

larvas da salvação

por que não respondes logo?
por que tanto demoras?
serão assuntos ufólogos
ou meros caprichos de vossa senhora?

por que não respondes logo?
qual sua distância para as palavras?
como larvas a se desenvolver
para depois sorvê-las sãs e salvas

ao desenrolar da lã
descobertas das camadas alvas
que venham no máximo até amanhã
ou antes de fugir minh'alma

orações subordinadas

pessoas
orações subordinadas
muito desejosas
pouco desejadas
pedem cada uma
em suma
ao menos uma para cada
ao fim da fila
que se forma, que se una
com destino ao nada

atrevimento

como se atreve
a escrever poemas como seus relacionamentos
tão breves
em que mal se passam os primeiros beijos
e hereges
caem no esquecimento

07/09/2019

también tú eres

tô fazendo umas e outras
poesias
vamos lá, me desafia
qual a palavra que queres
ver se eu acerto a ortografia
um soletrando a teu mando
eu depois comando
e a caneta copia
qual tu queres, que tal mulheres
sublimes seres
que también tú eres
várias mentes intermitentes
ou dormentes
escondidas debaixo
de lustrosas peles

inhos nos ninhos

desculpa meu olhar
par de olhos que possam achar
superior
aqui do mezanino
mas é que não consigo mais ler
poemas que venham a ser
só rimas no infinitivo
ou quem sabe no diminutivo 
prato tão pouco nutritivo
de inhos e inhos
a nuestros niños

ilustre dúvida

será que ilustro o poema
com uma foto
ou ponho nada?
só o tempero
raro
e o desespero
e o despreparo
das palavras

depois termino

planejando nossa fuga
antes das últimas energias
que essa vida suga
antes que o tempo te desbote
e nos ponha rugas
antes que o suporte
não suporte
e o porte se derruba

logo de uma vez
e que seja a última
em jogar as malas
sem tanto tempo de arrumá-las
mas precisão súbita
se não saber onde ir
saber seres única

saber quais queres baixar
e quais aumentar a música
sincronia de nossa empatia
produzida tal qual siderúrgica

saber que não concordas total
com o filho da metalúrgica
mas saber que essa metalurgia
uma luz que irradia
o país essa balbúrdia

e seria tão melhor nele a faixa
e tão melhor escutar nossos sons
quando a música baixa
e tão melhor contigo nessa estrada
essa faixa
esse chão que se vai ao trocar as marchas
ao tocar no rádio as marchas de nosso destino
ao tocar de sua mão
os dedos finos
ao passá-los pelos pelos
progredimos
perdi a concentração
depois termino

05/09/2019

aqui-ali

nossa cela é maior mas também tem limite o pobre não chega a aeroporto o tempo escorre aquiali, pertence a elite o tempo ao vivo se vai sempre programa piloto ratos saíram aquiali ainda pertencem ao esgoto o limite da aberração deles só palpite não conheço limite mais torto

trânsito vai carronibus cortando a frente do sentido audição a postos eficiente transe vai metódicos aplicativos, comprimidos, titanics antitetânicos nanicos mecânicos da própria vida nervosos

vou entregar até minha última palavra no desarme da posse operação policial pra ver quem mais tosse entregar meu distintivo sobre a mesa espremer até o último suco no meu último súbito do coração à mente nenhum bendito ao fruto que digam em reza faço em troca de: nada

outra cerveja

sua enquete tá quente
igual você: 200 graus
que tal, eu e você e charlie brown
ideias da minha empresa júnior
que existe dentro da minha mente
que tal, eu e você e não repete o esquema
troco de lado a troco de nada
a gente não repete a cena
eu leblon, você ipanema
eu LeBron, você Dwyane Wade na bandeja
eu na bandeja para o seu café
atrapalhado mas com fé
nesses confetes e enfeites
para outros fetiches
me deixe
fazer parte e viajar
minha mente flutua é barco
pra lá e pra cá
mas sabe sempre o lado e pra quem
tem que flutuar
e na base o mic
a renda per capita na capa da gaita
mas que baita
sacada se você é a vista
a visita a meu coração aqui produtor
pode entrar e abrir a geladeira
também não se importar o pé em cima da cadeira
se tiver frio jogo uma lenha ou outra pra dentro da lareira
ou pra esquentar atenta
a chama encosta toda exposta
toda tocha e o revezamento é seu
passe a si mesma, passe por cima
passe por baixo, com certeza
sinta toda, vinde a toda, vibra toda natureza
por mais uma, por mais outra e com certeza
depois disso um brinde ao finde
traz mais outra cerveja

01/09/2019

os apetrechos

os apetrechos
o rap são trechos da minha vida
os trechos do meu rap
pra eles são a ferida

cê fala um monte de viagem
pergunta se eu tô ligado
é claro que eu não tô
vou fingir que tô
é claro que eu não concordo
que obina era melhor que eto'o
conectou?
o wifi da internet do campus
que fica lá naquele canto
comunidade ao lado quer trampo
com dificuldade ainda me levanto
os elemento por fora nem tão ruim
os meus problema de verdade tão dentro de mim
eu sei que é assim
cada um espadachim da sua luta
olha pro lado e vê quantos
e quantos tu escuta
interrogação nem vou marcar
que já vem outa pergunta
o assunto engolido a seco
e nem besunta
e depois vê no que isso tudo resulta

os apetrechos
o rap são trechos da minha vida
os trechos do meu rap
pra eles são a ferida

esse é o eixo
que traça a estrada da vida
estragando o trecho
daqueles que pra nada convida

o juiz que apita

meu chapa
eles não te querem aqui
eu vou te resumir
## rap trecho ## apetrecho ## rap trecho ##

eles querem que tu vá sumir
vá por aí, vá assumir outra posição
ou nenhuma aptidão, tanto faz
pra eles
mas pra nós, liberta tua voz
é mais do que as causas essenciais
vá lá e faz
e depois vá lá e faz mais
um-dois, um-dois-três
não deixa tua mente morrer assim 'aqui jaz'
aqui jaz eles, aqui já era
tá feito meu trabalho tua mente na labuta
não para, não dá trégua
não perca eles de distância nem por uma régua
muito menos légua
baixar cabeça pra nenhum filho da nova era
que é mais antiga e mais conserva do que aquela
mais atrita do que comunica
mais desconvida do que participa
eles impõe e o que tu contrapõe
não adianta nem que grita
a bola tá com eles e o juiz apita
vou chegar forte, desarmar, meter uma bica
o desafio é romper a bolha até as palafita
aí eu quero ver como que esse mito mita

casa vazia

sonhei uma casa vazia
com tempo pra brincar com os gato
felinos meus inquilinos
que eu cobro barato

sonhei uma casa vazia
sem sequer seu porta-retrato
companhia o canal de esporte
passando compacto

sonhei uma casa vazia
ninguém vê quantos fósforo eu gasto
sonhei uma casa vazia
fazer arroz do jeito que eu gosto
deixar um pouco acumular
a louça na pia

sonhei uma casa vazia
pra sentir saudade dela cheia
enquanto isso vou ali limpar
a caixa de areia

talvez eu moraria
com vovó e com minha tia
só que talvez ela não aguentaria
a minha embriaguez
e ainda por cima gostaria
que eu acordasse antes das dez
tia, deixa eu virar pro lado
e fica relax

mas eu sonhei foi uma casa vazia
pra escrever minhas bobagem, poesia
coisas que eu não publicaria
sem pensar muito bem

sonhei uma casa vazia
pra planejar minhas viagens
mas se eu viajar
a casa fica vazia

26/08/2019

parasita não hesita

fiz uma enquete
sobre o que ninguém conhece
(ou não quer conhecer)
tudo bem, faz parte
(que nada, vai te fuder)
sigo palavras procurando a minha arte
bandeira na mão nem que seja a meio mastro
eles querem castração, vocabulário eu não castro
nessa junção, fomentação correspondo
compondo o meu balastro
da ferrovia da minha vida ali a cada dia
segue o lastro
os pastores e os rebanhos dando conta do pasto
dessa eu vez eu passo
te prometo que da próxima vez
se eu der sorte nunca mais vejo vocês
outros alguéns estou louco pra ver
quando será que eu posso?
tenho que escalar muito desse poço
pra sair do fundo
é íngreme... a rima para íngreme
mas o que vem de baixo não me atinge
até porque mais pra baixo eles não distingue
esfinge, finge, miragem para existir
pra seguir o ir e vir, impulsionar o que há de ser
será... será? será!
entre a interrogação procurando a razão
e a exclamação do mundo espetacular
sobre o palco holofotes nas marionetes
atrás das cortinas é que a mágica acontece
na ocultação das luzes ninguém quer que tu veja
por isso toma aqui mais uma porção de certezas

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

e a escassez do que deveria ser a abundância
e a importância fora do top dez
mira aqui esse novo viés
olha rápido, não dá bobeira
sair do hábito deles é coisa de gente ligeira
que vence a lebre, a tartaruga e causa rusga
com a ordem dominante, as fabriquetas
seguindo as ordens e os ensinamentos do capeta
produzindo em escala gente que se cala
cada um com a sua etiqueta
conservando falas conservadoras
levando nas malas políticas opressoras
são todos moros pelos poros desse país
gente marionete nem dá pra chamar de atriz
e perdemos por muito, nem foi por um triz
vamos lá de baixo recomeçar pela raiz

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

e a sobremesa que ainda há por vir
respira fundo tamo longe de sair daqui
caminho longo, longa é essa milonga
longa, esticada, retorcida feito anaconda
ação pra todo tipo feito filme do henry ou do peter fonda
surfa essa onda que é a rima
pega ela do alto pela crina, pela crista
só não tira alguém pra cristo, fica o registro
tem tanta coisa errada e tanta gente omissa
sem compromisso
enquanto isso os parasitas não hesitam
em meter as patas nas fatias fartas
são feito baratas, onde viu um o clã fez o seu covil
amanhã esse cio nocivo novamente ataca
incisivo na hora de pegar na chibata contra nosso povo
e bata e bata e bata
e nós sem inseticida mas com os mc
mc do amor, da paz e da vida
na batida do lado da guerrilha e da bastilha na tomada
ligada e amplificada, acreditando no poder da palavra

virada de mesa
a mesa ainda é deles
ligado nas teles
para que tu vejas

virada de mesa
olha bem, tu tem certeza?
não te causa estranheza
servirem isso de bandeja

25/08/2019

xique-xique

vou ter que reescrever os scripts
parece que anteciparam o apocalipse
vou ter que reescrever o que eu fiz
parece que anteciparam o xique-xique

o xeque mate que eles querem dar
tava na mão, eu sabia, resolveram antecipar
o gosto amargo e engendrado desse mate
querendo tirar tantos e tantos do combate

não adianta o pranto se não me levanto
o abacate vai continuar nos acometendo
tantas e tantas, tantos e tantos, tantos tansos
poucos descansando e tantos com nenhum descanso

o trocadilho muda a letra de reforma pra deforma
não ignora; se tá ruim assim e depois piora
dessa forma, não segue a norma
aldous huxley aqui não nos deu gramas de soma

no máximo alguém ali vendendo bala de goma
dois por um real, três por um real
abaixo até do preço que era o ideal
no fim do dia moedas no bolso é todo o capital
cena que se repete em quantas capitais
o que dizem sobre isso as vozes oficiais
esperando no cais desembarcar inimigos irreais
no meio do caos, se disser que andamos mal é elogio
onde já se viu, país Brasil
tantas vidas por um fio
remédios, atendimentos, universidades
cortes, queimadas, árvores, oportunidades
nuvens poluentes transportadas para as cidades
parasitas prepotentes perfilados pá virados nos seus preconceitos
e o que eu mais lamento
diferentes de outros, tantos outros pesos mortos
esses foram eleitos...

24/08/2019

palpites

ando em caminhadas longas demais para não pensar em morte. mas não é este o tema, não desista ainda do texto. passo seguidamente pela escola para deficientes visuais. uma colega de canguçu me diz que o termo deficiente, contrário de eficiente, não é bem o correto para usar. mas nessa escala de portadores de necessidades especiais, o termo deficiente para designar as pessoas com problema, a não eficiência, o não funcionamento visual, me parece adequado até. convenções a serem seguidas ou não.

o próprio time de futebol de cegos se denomina assim na categoria que disputam. futebol de cegos. um abraço ao incansável presidente e atleta diego lemos, que muito me procura para enviar as informações e estar na busca por apoio ao time da asdefipel. novamente a palavra ali se intromete: associação dos deficientes físicos de pelotas. disputaram recentemente torneio em são paulo capital. diego me envia longos áudios explicativos e os transcrevo com as infos das melhores maneiras possíveis, procurando ser atencioso com o paradesporte local ao nosso jornal. certa vez, por descuido, quase digitei grandes mensagens, que poderiam ser lidas a ele por quem o auxilia, mas preferi segurar o botão e enviar também em áudios o prosseguimento de nosso diálogo.

toda essa volta, até fraternal ao trabalho de diego e do time, para recordar o que me inspirou neste presente caso. passar pelo endereço da escola verde e branca que homenageia em nome louis braille. fico pensando a agressividade das ruas em não respeitá-los ou dificultarem-lhes o acolhimento. novamente a menina de canguçu impondo barreiras para a palavra incluir, por exemplo, em que teria algum sentido do que já prevê haver exclusão. enfim, enfim, é perceptível como as ruas e as pessoas são agressivas, muitas vezes sem perceber, com pessoas que apresentam deficiências visuais, no exemplo trazido aqui.

outras deficiências, como as de mobilidade são cruéis nas calçadas. em pelotas, as calçadas são muito estreitas em determinados pontos, em ruas do centro histórico, antigo e pouco inclusivo, em situações jamais previstas século retrasado. a situação das calçadas é precária em aspectos higiênicos também, na quantidade de lixo e dejetos que dificultam atos de simples caminhadas. muitas vezes sinto-me impedido do melhor desempenho e fico a pensar sobre as pessoas de idade ou o perigo até higiênico representado na inocência das crianças e finalmente nos seres que me proponho a abordar aqui, os deficientes físicos ou visuais.

aposto que as pessoas que não recolhem dejetos de cachorro não pensam neles. aposto que quem deixa lixo pela calçada, em quantidades tropeçáveis e nada higiênicas não pensa neles. aposto que muitas vezes falta a sensibilidade de pedestres e inclusive de quem projeta o que está sendo feito ou as manutenções do espaço já existente e urbanizado. aposto que os motoqueiros exibidos com o barulho das motos não pensam o impacto nos ouvidos sensibilizados e essenciais para eles conviverem nas ruas. ou quem usa som alto demais nos carros. ou qualquer outro tipo de poluição física ou sonora nos grandes centros urbanos brasileiros.

as ruas assaz agressivas contra tantos. se sentiu identificado contra alguma dessas acusações, bora mudar suas experiências. para os mais ousados ou menos tímidos, bora encarar mais de quem faça esses atentados contra os próximos. com essas palavras enquanto não encontro outras melhores, me despeço com o perdão a duda ou a quem mais contestar essas palavras-chave de buscar INCLUSÃO para com as pessoas com deficiência.

11/08/2019

"Mas dias melhores virão"

"Mas dias melhores virão, se Deus quiser", completa minha mãe ao telefone com minha dinda, para alguns estados brasileiros 'madrinha'. Soube por intermédio da ligação que a segunda levou um tombo e está lidando com as sequelas. É uma senhora com idade que avança, ela nunca nos diz exatamente a quantas anda a cada aniversário, e além do mais já passou por processos quimioterápicos. Sim, é possível que dias melhores venham, seja qual for a perspectiva, por exemplo o tempo melhorar na direção do verão. Hoje é 11 de agosto.

Minha irmã está completando mais um aniversário, mudando a dezena de sua idade dos vinte aos trinta, enquanto meu pai comemora de alguma forma o dia dos pais. Tanto minha irmã quanto eu não somos tão apegados a essas datas, o que me faz perguntar se um dia sentirei que poderia tê-las aproveitado melhor. É uma questão de estilo e luto sempre para meu eu posterior reconhecer as deficiências e limitações do eu anterior. Minha paciência para socializar caminha com bateria fraca, quase no alerta ou na reserva do tanque de combustível, por assim dizer.

O domingo passou até de forma agradável, seja pelo tempo com sol ou pelo humor dos presentes, ou o tempo do sol minando positivamente o humor dos presentes. Ainda durante a refeição de almoço, para qual dou boas vindas aos que anteriormente chegam, houve uma brincadeira de humor mórbido sobre minha vó, que comemorou aniversário dia 9 e é a única viva entre a geração de seus irmãos. Todos faleceram entre 83 e 88 anos. Ela completou 86 e propuseram o desafio se chega a ultrapassar a idade da falecida irmã. Como elas se teimavam muito, riram que não há escolha: ou minha vó vai tomar um tapa por tê-la ultrapassado ou a falecida irmã carregará a glória de ter durado mais.

É o tipo de besteira que até penso, mas não esperava a conivência dos demais, porém aconteceu e nem fui eu quem projetou tal assunto e pensamentos. Agosto se torna um mês para avaliar e reavaliar os membros familiares pelos aniversários de minhas irmã e avó, além da passagem do dia dos pais, também comemorado neste domingo.

Meu pai jogou água abaixo no seu discurso de cautela com bebidas alcoólicas ao passar à exibição após sua segunda lata. Ponto para mim contra ele nas próximas, brinco. Entre diversos temas que poderiam ser explorados, é estranho cumprimentar e se despedir de minhas avó e tia após terem se mudado da vizinhança de nossa casa e agora estão na ponta oposta da cidade. Se despedir ganha novas proporções, pois não estarão "de chinelo", como se diz, tão logo no próximo dia. É preciso crer, dentre outras coisas, que dias melhores virão.

10/08/2019

UFPel - 50 anos

Universidade de tantas mocidades
Federal de Pelotas, minha UFPel
Dos laboratórios, das práticas
E do que vai nesse papel

50 anos contados e contando
Por profissões e títulos doutos
Mas sobretudo nos sorrisos formandos
Por esses bairros que não são poucos

Oportunidades, tão simples rimá-las
Com o final da palavra universidades
Portanto o findar das universidades
É acabar com as oportunidades
Em que oportuna idade, seja qual for
Jovens de conservada jovialidade
Aprendem seus ofícios com louvor

Professores e professoras
Fazem parte desses favores
Prestados nessa trajetória
Naqueles que não desistiram
Ao saírem dos bancos das escolas

Do início agrônomo engenheiro
Ao destino de outras engenharias
Com o ingresso do feminino
Nessas profissões do dia a dia

Das saúdes e ciências humanas
Das pesquisas a quem programa
E soluciona nossas mazelas
Em artigos, dicas e reportagens
Dessa semana ou daquela

Projetos e pesquisas
Orientandos à deriva
Mas futuramente encontrados
Conhecimento que se arquiva
Mas não fica só arquivado
Colocados em prática na rotina
Aplicando seus resultados

UFPel que recebe paulistas,
Cariocas, catarinenses, interioranos
Maranhão, Paraíba, Recife
Mineiros, Manaus, goianos
Pelas mãos desses imigrantes
Mudando o que era antes
Pelo presente desses anos

UFPel de diferentes sotaques
E dos ataques do atual governo
Eles com a moral abaixo da baixa
Tiram a renda, a verba do nosso caixa
E provocam nas ruas os cartazes
Perdem suas pazes com as faixas
Se são capazes dos cortes
Do contra-golpe somos capazes
Tentando evitar teu fim
Nesse Brasil kamikaze

Eles tentam ser os algozes
Gozes tu da juventude
Desse povo que luta
Pelo direito que se estude
Se não lutar, nada muda
De nada serve a boca muda
Enquanto cavam nossa tumba
Com o sumiço das verbas
Sejamos duros na queda
Contra essa era absurda

Protejamos nossos campus
Em memória ao passado
Em combate no presente
Pelo futuro de outros tantos

Henrique König - Jornalista. Letras UFPel.
Campus Anglo. Foto: Henrique König