28/12/2024

sen ti men tal men te 

minha vida é mais tocante 

que o tampo 

que o tanto

de qualquer estante

Sou quem sou 

E me basto!

- Disse obviamente sem dar o braço 

A torcer 

Fiasco

Piada

Caramba, não aguento mais acordar cedo! - disse da primeira vez que acordou cedo 


de um sonho que sonhava acordado

Comecei olhando para ti. E continuei querendo olharmos juntos. Quero que nossos sentidos tenham o mesmo sentido. Findo, como é tudo, mas indo. Como é lindo.


O pôr do sol sempre é gerúndio 

Com as cores que os índios pintam 

Filtros de instagram imitam 

Enquanto alguém pita


Cacete, onde vão parar as fitas?

Em brasas

Bebidas doce-amargas em taça, meia-luz que geralmente me conecta, mas que dessa vez me cega. Música clássica que não sei identificar. Me sinto totalmente desconfortável, mas ainda me atraio como um inseto às lâmpadas. Labaredas, roupas, chamas, sedas. Cedas. Brasas.

26/12/2024

Humor

Para mim, não rir de si mesmo é o escárnio, a involução, a falta de humor do ser humano. Rir de si mesmo é uma virtude humana sobre as obras da natureza. É a concepção da graça, a divisão mor perante a sociedade. É não levar a vida tão a sério. É oportunizar o banquete do riso alheio em divisória.

Não rir de si mesmo é se colocar em um local de privilégio inexistente. É psicopatia. É achar que a fanfarronice sempre virá de outro. É ao mesmo tempo se colocar em um pedestal e se diminuir na obtenção de graça. Somos produtores de nosso próprio humor e o dividimos. Acolhemos. 

O bom senso é o senso de humor, é ver-se no espelho e aceitar o que deve ser aceito - que não se aceite tantos outros aspectos se não os queira. Liberdade.

Mas rir de si mesmo é importância absoluta. É antecipar o chiste, a piada. É ataque e defesa. É proteção e são boas energias. São vibrações necessárias ao equilíbrio universal. E se não o são é porque estou inventando para deliberar mais vantagens. Delírios líricos.

Às vezes se pode perder a pessoa e não a piada. Espero muito da piada. Das pessoas espero muito pouco, que perdoem minha descrença. A piada virá em sua direção inevitavelmente, muitas vezes é possível antecipá-la. Escudo e molde. Projetar a forma. Riso controlado. Ou descontrolado.

Não sei se o humor é o melhor remédio como projeta o dito popular. Mas me falta opção melhor para contrariar a hipótese e finalizar esse texto. O humor ao menos é vitamina, é a D que o sol oferece, é sangue pelas veias, é uma fonte inesgotável que deve ser bem utilizada. Refrescar-se. 

25/12/2024

O banal é épico. Atemporal.

Quase todo épico na verdade é ridículo. Mesmo assim o suscitamos e invocamos talvez em busca de sentido.

23/12/2024

Nós

Nós desgraçados da arte que escrevemos, descrevemos, relatamos tudo e todos os defeitos e virtudes como se não fôssemos nós mesmos compostos pelas mais graves sequelas. Relatamos da forma como queremos como se fôssemos perfeitos, nós mesmos os mais preenchidos de chagas, caolhos, vesgos, corcundas, deprimidos, ansiosos, deficitários, endividados, desprovidos da matemática, incapazes da baliza, míopes, línguas presas, cafonas, cornos, roedores de unhas, alcoólatras, tabaqueiros, controlados por remédios. Sedentos.

21/12/2024

Obturador, luz e ISO

Queria congelar o seu sorriso 

(Obturador, luz e ISO)

Tanto melhor se não fosse preciso

Vê-lo abrir-se sempre ao meu redor


Sorriso, luz, estrela, sol

Nada faz ficar melhor

Queria contar contigo só 

Só contigo e já está tudo pró


Queria chaves ao paraíso 

Aves gorjeiam sem prejuízo 

Naves amarelas, submarinos 

And the band begins to play


Queria congelar o teu sorriso 

Na minha mente é como um delírio 

Olhos, direção, colírio 

Mejor producción de contenido


Aves gorjeiam num aviso

Queria congelar o teu sorriso

Um prazer indescritível

Perdi as chaves

É o abismo


(Ao som de Thank You do The Calling)

20/12/2024

Já sabia perder contigo 

Só sabia perder contigo 

Faltava a face de ganhar 

Para firmarmos casamento 


Amar a tua história 

E a de cada um dos que carregam 

A tua estrela

A brilhar



19/12/2024

Minuano sopra

Será possível clonar espírito?

Precisaria de um amigo

Evitaria muitos ritos

Minha confiança é meu cupido 


Não existe justiça

Meu castiçal 

Não não não - disse pra nau 

O inferno também é tropical


A brisa judicial

Uma premissa antes do final

A baliza da justiça 

Derrubaram os pau

A justiça nos estaciona muito mal

Vamos continuar 

Em movimento afinal


Afinação, a fina ação 

De viver 

Minuano sopra 

Só pra mais um ano

O bem querer


Minuano sopra 

Só pra contrariar 

A franja, os planos 

Os frangalhos

De ano pra juntar 

Pedras Altas

Pedras Altas

Pontas soltas

Tantas voltas

Vida louca 

E a falta em qualquer lugar


Pampa, Pampa

Tempo ao tempo

Ampulheta 

Alguém me prometa

Tampa ao vazamento


Castelos, elos 

Feitos de cartas

Casta, casta

Frágeis vidraças 

Tudo passa

Quando você for passar


Pedras Altas

Duas horas

Nossa senhora

Dos segundos

Vasto mundo

E a falta em qualquer lugar


Castelos, elos

Miríades, threads

Do que é belo

Trela sela 

O selo do manifesto 

A vontade de recomeçar


Pedras Altas

Espera! hace falta

Quando alce asas 

Casa pode ser

Onde você está

Espera! hace falta 

Seu olhar para onde eu olhar

Espera! hace falta 

Pauta pode ser

O que quiser

Quiçá...

Colmeia das ideias

O que é delírio 

E o que sou eu?

O que me sobrou

No brio do breu?

Só existe o que aconteceu


O que é equívoco 

O que é meu?

Qual o vínculo

Nos acometeu?

Só existe o que aconteceu


O que é dito, ou silenciado

Silêncio meu

Misérias, férias, feriados ateus 

Suspendido o tribunal do eu


Melancolia é resistência

Em tempos reduzidos pela ciência 

Fantasias, trapezistas

Travessia da existência 

Na colmeia das ideias

Sobrevive o mel


Bel-prazer 

Ao seu dispor

Ao redor 

Do ser

Na colmeia das ideias

Sobrevive o mel

18/12/2024

O voo do biguá

Se eu precisasse de outro ciclone biguá

Para te encontrar 

Teria que me desculpar 

Com quem por onde ele passar 


Ah 

Queira me desculpar

Não há clone

Para o ciclone de você chegar 


1001 versos são tão pouco 

Para o que eu posso demonstrar

E todo meu repouso ouso dizer 

Que envelhece como um maracujá


Onde eu posso

Fugir desse poço?

Onde eu posso 

Te encontrar?


Outro sorriso, outro esboço 

Outro par de outros olhos

Não removo, não renovo

O que escolho

E o consolo é tolo

Como a espera do voo do biguá



04/12/2024

Talvez tenham percebido que seguidamente escrevo meus textos em tom de pedido de desculpas. E não é por acaso ou falsa intenção: roubar tempo das pessoas é das piores coisas; coisa essa que pode ser o que fazemos ao escrevermos para alguém se dedicar à leitura. Roubar tempo.

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Pretendo roubar tempo de ninguém. Sempre gostaria de somar na vida das pessoas, nem que seja com esses textos pequenos ou com conversas de cinco minutos na rua. Se errei anteriormente, roubando tempo de quem se sinta lesada, gostaria que se aceitasse a permanente intenção de que procuro melhorar para os próximos tempos.

Melhorar com o tempo, e não roubá-lo.

18/11/2024

A Mala

Eu só queria a mala

Que eu perdi no ônibus

Eu só queria a mala

E a vitória da Kamala Harris 

Eu só queria a mala

E um hat trick de Mohamed Salah

Eu só queria a mala

Portela em primeiro, abre-alas 

Eu só queria a mala

E alguma banda melhor que o Defalla 

Eu só queria a mala

O Falamansa entra nessa escala

Eu só queria a mala

Que eu esqueci no ônibus 


Eu só queria a mala

Fala, fala sobre ela

Eu só queria a mala

Com a cor que o coração sente falta

Eu só queria a mala

Na esteira interceptada

Retida no aeroporto

Se pode fazer mais nada

É conviver com esse desgosto

Eu só queria a mala


Eu só queria a mala

Nada de outras parafernálias

Podem ser roubadas pela máfia

Eu só queria a mala

Entre as almofadas da sua sala

Eu só queria a mala

No sofá bem deitada

Eu só queria a mala

Funcionário nenhum me cala

Curativo nenhum é tala

Para esse coração que 

Só queria a mala

Perdida, minha perdição 

Nem me fala

15/11/2024

Loucarícias

Queria um pouco de loucura

E um pouco de carinho

Um pouco de aventura

Mas nem sempre sozinho


Queria um pouco de loucura

E um pouco de carinho

Loucura se atura

Carinho é como vinho


Queria um pouco para não reclamar

Tempos ele queria congelar

Lamentou os tempos que só passou

O sol prometia voltar


Queria um pouco de cura

A doença sabia que ia voltar

Queria o pouco que lhe cabe 

Nem era muito antes de matar


Queria um pouco que chamavam verão 

E um inverno para se fechar

Queria um pouco de saúde

E mais de uma forma de se estragar



10/11/2024

Às vezes nem queremos grandes feitos. Apenas que coisas engraçadas aconteçam e lembremos com prazer.

05/11/2024

Solo

Solo saber que algo sientes 

Solo poner canciones absorbentes 

Así ya me siento gente 

Y la gente me puede existir


Los caminos de la vida 

Que ya no me dejan elegir 

Así que es así 

Así que es así 

Las canciones absorvidas 

Son lo que viví 

Así que es así 

Así que es así 


Solo saber que algo sientes

Solo poner canciones absorbentes 

Así ya me siento gente 

Y la gente me puede existir


Los caminos herbicidas 

Y yo solo con mis flores 

Son las piedras, son la vida 

Y yo con mis dolores 


Solo saber que algo sientes

Solo poner canciones absorbentes 

Así ya me siento gente 

Y la gente me puede existir


28/10/2024

25/10/2024

Toda toda

Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada. O tempo deixa todos na mão. Galho passageiro que sustenta o corpo e o impede de afundar nas correntezas do rio. Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada.

17/10/2024

Buquê de rosas

Viaje por minhas imperfeições 

São tantas, mas não faça menções 

Nem honrosas, nem rosas 

Pelos colchões


Viajo pelas lições de sua vida

Comprimidos muito melhores

Que aspirinas

Viajo, nado nada sincronizado

Espasmos 

Viajo 

Por trás das lentes, das cortinas


Viaje por minhas imperfeições 

Estou quase acabado

Minha versão final

Corpo quase abandonado

Viaje por quem bate o ponto

Todo dia sem desconto

E já nem sabe nem porquê


Um buquê de flores se esfarela 

Se ninguém compra elas

Para onde vai?

A comida do mercado

Com o prazo encerrado

Encerrada pelas grades

E as cortinas das cidades

Melodias do metal


Viaje pelas minhas imperfeições

Sou assunto, sou ações 

Sou um mundo de questões

Nada superficiais

Ai ai ai 

Why?

15/10/2024

Vezes divididas

O tempo passa mais rápido. Estamos ocupados. Há mais repetição e menos euforia que a novidade causaria.


Um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E não saberá.

Mas também um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E saberá. E doerá tanto quanto.

Mas um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E será um alívio, pois não queria mais.

Diferentes perspectivas.


14/10/2024

Padre dos Balão

Eu tentei ser jovem

Tentei ser normal

Tentei ser igual

Tentei ser refém 

Da indústria cultural 


Eu tentei tomar

O mesmo trem 

Tentei tomar

O mesmo tempo

Tentei tomar

O meu lugar

Eu tentei 


Tentei

Sei que tentei

Poderia ter tentado mais

Agora já não sei

Será que tanto faz


Eu tentei ser jovem

Tentei ser do bem

Tentei tantos tambéns 

Tentei seguir umas leis

Tentei outros lay 

out... out of season 

Tentei igual Sísifo 

Tentei, eu sei

Sei que tentei


Eu tentei 

Você tentou 

O padre dos balão tentou


13/10/2024

Conversinha

Versinho não tem tradução

No máximo uma outra versão



Deixei um versinho verdinho

Na minha plantação

Se ele madura

Não dura 



Um versinho verdinho 

Na minha plantação 

Ou não 

Era nada

Nem limão

Nem limonada 

Nem limousine

Nem coisa que se assine

De repente repete

Memórias são frágeis fragmentos flagrados 

E quando deflagrados já se perdem 

Memórias são frágeis flashs 

Flesh for fantasy

Memórias são fósforo 

Mas também outros elementos

Periodicamente aparecem

Memórias são

O que era

Memórias sãotificam 

Memórias tipificam as coisas

Memórias larvas, moscas

Memórias lavam a alma

Das moças 

Com lágrimas 

E coisas toscas

Memórias, filtro 

E coisas foscas 

Memórias filhas

De cosa nostra 

Memórias nosferata 

Memória errata, vampira 

Memórias artifícios 

Artificiais 

Memórias: arte ou ofício?

Extra-oficiais

Memórias orifício 

Memórias sem fisco 

Nem aduana 

Memórias muquiranas 

Risco

De repetir o disco 

Não há mais tempo

Não há mais tempo

Mas nunca houve 

Só o agora

Ouve 

Só o que o vento 

Dita lá fora 


Não há mais tempo

Não há passado, não há futuro 

A perspectiva é um muro

Que ninguém te ajuda a escalar 


Não há mais tempo

Isso eu já disse

Em outro tempo

E só lamento 

O que se perdeu 

Não sou mais eu

Talvez tenha sido

Em outro tempo

Que já não há 

Não há mais tempo


Não há mais tempo

Nem menos tempo

Do que há 

Haverá de ser 

Um outro tempo

Quando chegar

E chegará 

Enquanto não chegar

Não há tempo

Só haverá

09/10/2024

Ególatra

Ególatra 

É pior do que alcoólatra 

Porque não se sana 

Não se manca 

Não espanta

Não se contenta

Até que a corda arrebenta

E a maquiagem mancha

Não importa quantas canchas 

Uma hora vem a dança 

Uma hora acaba a dança 

Uma hora anda na prancha 

Uma hora chega a hora

Uma hora corta a corda 

E toda aquela cortesia 

Vira um cortejo fúnebre

Uma hora chega a conta

Acaba o sonho e acorda


Uma hora chega o dia

Esvazia a fantasia

Uma hora se imacula

Se autointula 

Uma hora se macula 

Uma hora vira fuleira 

Ególatra 

Muito pior do que alcoólatra

Síndrome de Cleópatra 

Necessidade sem cessar


Uma hora vira abóbora 

Uma hora se denuncia

Uma hora o fingimento 

Vem à tona todavia 

Vem ao topo corroendo 

Corroendo a utopia 


O alcólatra 

Pelo menos se sacia

Por mais que se vicia 

O ególatra 

E sua figura imaculada 

Boa demais pra ser mostrada

E o fastio da modéstia

E o nojo que me resta

E o chute na pilastra 

E a cara que se racha 

E toda sua hipocrisia

O ególatra 

E sua rede de mentiras

O ególatra 

Muito pior do que alcoólatra 

07/10/2024

Pitacos da eleição 2024

Porque obviamente há nenhum compromisso em agradar.

Nunes enfrenta Boulos no segundo turno em São Paulo. Mais uma óbvia derrota de Boulos, que toda vez arranca em primeiro na eleição paulista, mas não tem a mínima condição.

Vitória esmagadora de Sebastião Melo em Porto Alegre. Será reeleito mesmo após o caos instaurado no maio das chuvas. Maria do Rosário jamais apresentou a mínima chance de vencer. Juliana Brizola atrairia maior votação para um segundo turno. Aprendem nada desde 2018. Ou desde 1989, quando foi barrado o avô de Juliana, Leonel Brizola. 

Em Florianópolis, Marquito saiu do jovem tímido deputado para um nome combativo com quase 1/4 dos votos, pelo PSOL. Mas Topázio aglutinou os votos da direita e venceu no primeiro turno. Os demais definharam. A direita, para vencer, não é boba.

Santa Catarina, boa parte do Rio Grande do Sul e de muitos lugares brasileiros preencheram mais do mesmo. Algumas lideranças solitárias por SC são a vereadora Giovana Mondardo do PC do B, pessoa mais votada no legislativo de Criciúma, e Afrânio, um dos mais votados em Florianópolis. Décio Lima, liderança do PT e ex-prefeito de Brusque conseguiu comparecer a segundo turno pela excluída legenda em 2022. Há muito trabalho de base a ser feito em um estado que já foi reconhecido por trabalhadores da extração, de estivadores portuários e pela malha ferroviária. Liberalismo e bolsonarismo circulam livremente em SC, de mãos dadas.

Em Pelotas, termômetro de tantas eleições brasileiras, chegou finalmente o novo clássico brasileiro. PT x PL. Em Sant'Ana do Livramento , por exemplo, foi uma lavada para o PL. Em Pelotas a promessa é de uma eleição disputada entre o ex-prefeito Fernando Marroni (mandato 2000-2004) e a novidade composta por Marciano Perondi, alien acompanhado pela bolsonarista Adriane Rodrigues, filha do tradicional Governaço, que por sinal passou longe do cargo de vereador.

A esquerda pelotense posicionou peças importantes na Câmara, mas obviamente insuficientes para números totais. Parabenizar a Fernanda Miranda pela segunda liderança em número de votos no Legislativo, professora na história do município. Repetiu o feito de 2020. Ela é acompanhada pelo jovem mas tradicional Jurandir Silva e pela sequência de petistas com Ivan Duarte e Miriam Marroni, psicóloga esposa do candidato a prefeito da legenda.

Marcus Cunha, que trocou o PDT pelo PSOL por divergências com o antigo número, teve menos visibilidade do que já apresentou, mas é suplente direto. Ronaldo Quadrado, conselheiro tutelar do Monte Bonito, novidade pelo PT, apoiado por muitos nomes do partido, inclusive pelo ex-presidente local Luciano Lima, também é suplente imediato. Outros nomes pontuaram bem, mas de maneira insuficiente para uma governabilidade mirada e desejada. Pelotas, mais uma vez, revela os trechos tortuosos pelos quais o país perpassa na nebulosidade política.

03/10/2024

Ah, a memória

Ah, a memória. Ela dita ritmos.

Para quem tem muita memória, mas que elas se unem em aproximação, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se conjuntam como se a vida fosse curta. Não vos parece?

Para quem tem curta memória, elas se escondem, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se afastam e o que sobra é a lembrança de uma vida curta. Não vos parece?

Desse modo, tanto os reunidores, revisores vorazes, cirandeiros das memórias, quanto os que as jogam de uma montanha penas ao vento, os dissimuladores, os ocultados, os labirínticos bloqueadores de memórias, ambos acabam com as mesmas desgraçadas impressões: que curta é a vida!

Para os reunidores que em saguão, em auditório lotam suas memórias, acotoveladas umas às outras, tudo parece próximo, tudo se fundiu, passou tão rápido: que curta é a vida!

Para os que mantém as lembranças soltas como se um dia fossem voltar, livres como cachorros de portões abertos, gatos que viram cartaz de procura-se, crianças que correm quadras adiante dos pais e tomara voltem, essas memórias espaçadas, escorregadias, corrediças, essas memórias afastadas como os mais gasosos átomos deixarão o salmo de repetição do texto: que curta é a vida! Me sobraram tão poucas memórias que todas as demais voaram. Que faço com elas se não reuni-las escassas, livro de páginas faltantes, de falas e passagens repetidas de memórias desorganizadas, de ordem alfabética que começa em C, pula para L e termina antes de qualquer W, livro incompleto, borrado de café ou erva, inelegível por tantas partes. Que conclusão chego a não ser que é curta a vida que nos toca sobrar aos dedos inabilitados para agarrar muito?

E mesmo os consumidores a esmo de tantas memórias, que adianta ao final reuni-las tantas se elas são, no auditório que nos sobra de vida, apenas espectadoras, passivas, passageiras, esfinges, fumaça, fantasmas? Que curta é a vida, na qual não posso voltar a tocá-las... memórias.

30/09/2024

Tacitamente

Taticamente 

Tacitamente 

Se você enxerga tudo

Fica louco 

Porque o pouco que se faz

Não satisfaz


Dentro do campo de jogo

Dentro dos campos políticos

Água no fundo do poço 

O mundo feito um troço 

Um tricô destituído 

Do destino do próximo


Taticamente 

Tacitamente 

Se você enxerga tudo

Fica louco 

Porque o pouco que se faz

Não satisfaz


Taticamente

Tacitamente 

A mente se excita 

Evita o tempo do ócio 

Prepara na medida

Complemento, episódio 

Se você enxerga tudo 

Fica louco 

Porque o louco que se faz 

Não é mais louco 

É sagaz

Olhos Grandes

Os olhos dela eram tão grandes 

Pensando se estava drogada

No deserto de pessoas

Ela como uma granada 


Sua maquiagem expressiva

Seu jeito de fim da linha

Nossa destruição massiva

Doses, fantasias minhas

Doces fantasias minhas 


O trem entregava jornada

O que quer mais o viajante?

O viajante quer mais nada

Olhos tão desconfortantes 

Olhos tão reconfortantes 

24/09/2024

"Levava debaixo da armadura a sua roupa de louco."


Roberto Bolaño em descrição sobre o poeta Wolfram von Eschenbach

23/09/2024

21/09/2024

Forró da Morte

A morte bateu na porta

Mulher de porte

Já não importa

A morte em seu trottoir 

Não veio à trote

Nem absorta

Veio em sua missão

Tirar palavras da sua boca

Morte em liquidação

Morte lenta

Morte em vão 

Morte na cidade

Apartamento, pensão 

Morte na avenida

Atropelada, morte ferida

Celebridade, desconhecida

Morte encomendada

Morte suada, abençoada

Morte assistida

Morte casada, morte de sorte

Morte de azar, morte em boicote

Morte no shot 

Headshot, bon soir 

Morte noir, morte tranquila

Morte shot de tequila

Morte em banco, morte na vila

Morte televisiva 

No walk talk, na bohemia 

Morte na delegacia 

No doi codi, no final de um disco

De Pink Floyd, morte de risco

Morte por vidro, por inalado

Morte do viciado

Morte por idade

Morte sem identidade

Morte beldade

Bate na porta

Mulher de porte

Já não importa

Morte com os olho aberto

A boca torta

Morte chamou 

Tu já se troca

Vestido longo

Gravata bota

Morte da velha 

Da meninota 

Morte veloz

Morte jabota 

Morte bandida

Do suicida 

Morte homicida

Morte por cota 

Investigada 

Ou esquecida

Ou arquivada 

Morte vingada 

Ou esquisita

Morte sem saída

Cara virada 

Para baixo ou para cima

Morte, morte, morte

De rotina 

Aves de rapina

Que sobrevoam 

Que saboreia

Morte na ceia

Ou no seio do forró

Morte, morte, morte

Só sobra o pó 

Sobra o pó

14/09/2024

Paul McCartney

Paul McCartney 

É mais do que sei

É mais que pensei

É mais que esperava

Baby 


Paul McCartney 

Compõe um salmo 

Sob essa selva

Sobre essa relva

Não me salvei

Se eu me salvasse 

Seria com

Paul McCartney


Beatle Paul 

Diga hey

Hey ho 

O rock n roll

It must be you say 

Let it roll 

Paul McCartney


Beetlejuice 

Beatle Paul 

That's true 

It's only rock n' roll


Paul McCartney 

Art in your name

If exists rock n roll

It must be you play


Play McCartney 

I understand 

Its only love but 

Its the only way



12/09/2024

Dálias

As mentiras que você contou

Deveria engoli-las 

Sepultá-la em dálias negras 

Ou até lilás


As migalhas de um ano ruim

Pelas últimas ruínas

Me sentir muito melhor assim

Sem o que nos azucrina 


Pensar ter medo de perder

O que eu já não tinha

E se tinha, ter para quê?

Há vida melhor sozinha


Tenho amigos, música, tv 

Livros, filmes e rotina

Muito mais do que preciso

Longe de umas tiranias

O realista hoje é um alarmista.

O alarmista hoje é um realista.

10/09/2024

Escrevo coisas horríveis sobre ela

E não publico 

Porque isso aqui não é depósito de conflito 

Nem penico 

Anfíbio

Poemas de um poeta mendigo 

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?

Com os signos que estão ao meu alcance

Será só um relance?

Será todo um romance?


Poemas de um poeta mendigo

Digo de forma reta

E digo com rodízios 

Digo... palavras obstretas 

E digo sem abrigo:

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta antigo

Digo... de forma abjeta 

Recito fora da cerca

Retiro o que me espeta 

Recibo de só uma promessa

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta anfíbio 

Sapo... sapo de valeta

Girino... girino de início 

Girando por encantos movediços

E vários vícios 

Será que ainda estou vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta sinistro

Canhoto, canhestro, capiroto

A fome do ego é fortíssima e se manifesta de diferentes formas: possessão, domínio, interdependência forçada

03/09/2024

O Nome da Rosa + Diary of a country Priest

Por ontem assisti ao filme O Nome da Rosa de 1986. Inspirado no livro famoso de Umberto Eco. Um mosteiro no norte da Itália. Um jovem aprendiz e seu mestre. Crimes que se sucedem sem solução imediata. Investigação. Profanações as mais diversas. Cruzamento entre a vida de monge e a vida pagã. Pecados, culpa e remissão. 

O jovem experimenta as tentações. Os livros se tornam o foco da jogada. Foi a primeira experiência cinematográfica em que visualizei o que diziam sobre os mosteiros guardarem as bibliotecas da época. Os primeiros registros. Cópias bíblicas e de outros livros que deveriam ser mantidos inalcançáveis, em sigilo, adormecidos em segredo. As bibliotecas eram labirintos guardados a sete chaves. Ler conteúdos seria profanar. A Idade Média corria assim antes da luz renascentista e o avanço das ciências. 

Os ratos permeiam a narrativa. A doença era uma chaga constante. As mortes passam a ocorrer. Suicídio ou vilania? Alguém empurrou o irmão de uma altura para morte ou se matou? E o outro que amanhece descoberto de cabeça para baixo? Questões que interrompem a tranquilidade da vida no monastério.

Por fora do treinamento dos padres, ocorria a vida pagã, que, para os compromissados na pureza cristã, eram profanadores, pecadores dos mais sérios. Renegar a Jesus nessas condições renderia penas máximas. A Inquisição atuava forte, perseguição a ser destacada com i maiúsculo. A destruição das barreiras é evidenciada ao final na cena que com certeza usou maiores recursos financeiros.

Diary of a Country Priest

Este filme de 1951 se tornou um de meus favoritos. A vida do jovem padre transferido para o interior da França. Os desafios em que ele passa para ser aceito, para dominar seu vício em álcool, para deter ou não seus desejos pela mulher que se apresenta.

O jovem ganhou a desconfiança dos demais em um primeiro momento. Tenta fazer amizade com um contraditório caçador, profissão mais comum ainda para época. 

A sequência da vida do jovem D'Ambricourt (papel de estreia do ator Claude Laydu) é permeada de enigmas, contradições, debates de valores sociais. Até hoje é notável a diferença do tratamento, da confiança em cidades grandes ou vilarejos de interior. Os valores católicos foram testados e metamorfeados constantemente. As possibilidade de mudanças sociais para indivíduos do campo se apresentavam muito limitadas. Entre o ser e o parecer a diferença pode ser gritante.

Quais os requisitos para alguém liderar uma vila? Para ser um líder respeitado? Para ser um padre confiável? A religião seguida à risca seria o antídoto aos vícios ou pode se tornar o próprio vício?

Os desvios da vida Santa devem ser sempre contornados ou nos fazem humanos? Perguntas que saltam e que podem permanecer após acompanhar as trajetórias cristãs de ambos os casos transcorridos nos filmes em questão. Perguntas que se modificam conforme as épocas ou que até em nosso período contemporâneo permanecem torneadas.