04/08/2025

Botafogo 2025

Sim, as coisas mudam muito rápido. Isso era bom nas temporadas antigas do futebol em que se apontavam pelo menos meia dúzia de favoritos e postulantes. Hoje não mais. A diferença financeira e um pouco mais de sapiência e planejamento definem os favoritos. No Brasil hão de ser sempre Palmeiras, Flamengo e algum que rompa a bolha. Botafogo de 2024 justificou rapidamente os investimentos certeiros.

O de 2025 é um desastre. Diferente de outras possibilidades aos clubes, como se acentuam polêmicas sobre Grêmio, sobre Internacional, -  vende ou não vende, dibo ou não dibo - o Botafogo não tinha mais administração possível de suas contas; a venda era a única alternativa. A diminuição de suas dívidas, das maiores do Brasil para sair do top 10 destes amaldiçoados justifica também a escolha como provisoriamente acertada. Ademais, o clube mexe com dinheiro e erros e acertos são passíveis a todos os departamentos de futebol. Será que é assim?

O Botafogo passou a vender atletas de forma desordenada e retroativa para o projeto dentro de campo. Vende e não repõe. Repõe mal ou repõe esperando resultados imediatos. Trocas de treinador pelos árabes levarem os escolhidos da vez por terem, adivinhem: mais dinheiro. Ou trocas porque os resultados e o rendimento de campo não agradam. Com tantas trocas, a temporada se tornou um desastre. São inúmeras derrotas e virão mais, certamente. As reposições são bisonhas e o dinheiro escorre pelas sarjetas,  exemplo do que o Grêmio pós 2018 começou a fazer. Barrios por André Balada. Everton Cebolinha para trazer Everton Cardoso. Geromel e Kannemann embalsamados como múmias na defesa a ruir. Maicon inoperante e com cada vez menos companhia. Luan esfacelou. Devo citar as contratações erradas para ficares até amanhã nesta leitura: Braz, Paulo Miranda, Rodrigo Ely, Rodrigo Caio, Thiago Neves, Robinho, Arezo, Hernane, Diego Tardelli, Paulo Victor, goleiro Júlio César, Rafael Cabral, Tiago Volpi, Cuellar, Camilo, Lucas Esteves, Nathan Pescador, Thiago Santos, Diogo Barbosa, Benítez. As contratações mais caras foram Campaz e Cristian Olivera, que serão totalmente esquecíveis pela bola em campo. E sofríveis aos cofres.

O Botafogo passou a errar rudemente. Lucas Halter, Patric de Paula, Rwan Cruz, Mastriani, Joaquín Correa, Elias Manoel, pesado Ariel Cabral do fraco futebol português, goleiros reservas insuficientes. Mas o principal erro é se desfazer do projeto que estava dando certo. Tinha as esperadas vendas de Almada e Luiz Henrique. Aí começou o desmanche. Desmanche, não há mais como encobrir ou reduzir os efeitos. Desmanche de vender Eduardo, Gatito Fernández, Júnior Santos e as mais recentes saídas: promissor zagueiro Jair que vinha evoluindo, principalmente Igor Jesus, nome de referência no ataque, e Gregore, o pitbull na marcação. Danilo Barbosa, que podia ser volante ou zagueiro, tambem foi liberado. Goleiro John deve sair nos próximos dias. O último apague a luz.

Se jogadores vinham desempenhando e fortalecendo o projeto dentro de campo, não se deveria abrir mão da utilização tão facilmente. É difícil repor rapidamente. Enquanto isso o futebol do meia Savarino some e o jovem Montoro fica impossibilitado de render o que sabe em mares de ausência e pressão. A saída de bola se torna defeituosa desde a defesa e a marcação acompanha à distância. Marlon Freitas só joga com a bola; sem ela, assiste aos ataques adversários. O capitão está totalmente exposto ao ridículo de seu navio ruir em volta. Haverá motim? Há um jovem e inexperiente italiano no comando e um norte-americano que começa a perder os rumos dos projetos da Águia.

As coisas mudam muito rápido. Palmeiras e Flamengo é que seguem sólidos. Quem ousou romper seu império, o Atlético Mineiro de 2021 na pandemia, conquistas sem público ou de baixo/médio público, o assertivo Fluminense de 2023 e o mágico Botafogo de 2024, já despenteado por sequenciais erros. O Atlético está com dívidas galo-pantes e não sabe os dias de amanhã. O Fluminense segue bravo e guerreiro apesar de menores reservas financeiras. O Botafogo, mesmo abastado, descobre-se abestado de frustrantes erros.

As coisas mudam muito rápido. Rádio AM que trabalhei não existe mais. Jornal impresso que trabalhei não existe mais. O link do YouTube que usei de objeto observador para meu TCC de Jornalismo não existe mais. Amores que existiram não existem mais. O estádio do Farroupilha, onde muito trabalhei, joguei bola e assisti a meu primeiro jogo em estádio em 2002, não existe mais. O Botafogo quando vence é porque foi comprado e é SAF, não é o velho Botafogo; quando perde, dizem que é o velho Botafogo. Deveríamos boicotar a corneta, porque se para eles quando ganha não é, quando perde também não há de ser.

A Arena não era do Grêmio. Então os títulos e as muitas vitórias em Gre-Nal eram em campo misto, neutro: pior para os derrotados, que então nem visitantes eram. Quando ganha, não tinha casa. Quando perde, tem: perdeu em casa. Hipocrisias.

Hipocrisias. As coisas mudam muito rápido. O Grêmio Esportivo Brasil, para qual narrei jogos entre 2018 e 2021/2022, vira SAF nos proxmos dias. Será o Brasil ou fingirão que não é? As coisas mudam muito rápido. O dinheiro que condeno é o que compra títulos e gestões. Gestões de futebol e de manutenção de estádios. Compra os benefícios mais diversos. Dinheiro amaldiçoa, estressa, se vê jogado fora, pelos ralos, se vê entupir; dinheiro resolve e amaldiçoa, resolve dívidas e gestões de estádio, nos acostuma ao mal, muda perspetivas, amaldiçoa e enriquece descomprometidos, vagabundos e desqualificados. É uma roleta.

É cansativo. Penso faz anos que preciso dar um tempo. Foi quando começaram os fiascos, as vendas de jogadores sem reposição, a falta de escuta e de respaldo para as torcidas; quem aguenta? Tudo cada vez mais caro, da camisa às biometrias faciais e smartphones para qr code de ingressos que não guardamos mais como lembranças e queridas recordações únicas. As casas de aposta nas camisas, nas placas de publicidade, na internet, nas transmissões ao vivo, nas propagandas, nos bonés, no financiamento de crimes, nos tribunais, nas famílias dos jogadores, no STJD, nas maiores competições, na terceira divisão gaúcha, na terceira divisão do Ceará, nos amigos que apostam; o VAR que dá pênaltis ridículos ao Palmeiras, ao Flamengo, sempre, sempre eles. Penso que preciso dar um tempo. Não se pode conviver com tantos erros sabendo que poderia ser diferente. Quem aguenta?


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