Um filme japonês repleto de reviravoltas. Direção de Shinji Aoyama. Kenjy é um adulto que trabalha como motorista ocasionalmente. Sua vida é misteriosa. No início da história, enquanto prestava serviços junto à máfia, ele resolve adotar um órfão chinês que seria vendido, levado adiante. Mesmo praticamente jurado de morte pela iniciativa, Kenji mantém a guarda do menino, apesar da máfia japonesa Yakuza dar-lhe tempo e prometer voltar num futuro. E essa organização secreta e cruel na história do Japão nunca esquece dos pontos deixados abertos nas feridas. Não há ponto sem nó.
O filme é sobre não esquecer e como agir a partir das memórias e da complicada teia da vida. Kenji vivia com a mulher Iuri (aqui a destacar ser um nome feminino). Ambos passam a criar o jovem chinês.
Muitos anos depois, no seu trabalho de motorista, Kenji carrega um homem recém idoso e descobre, ao levá-lo para casa/empresa, a figura da mãe, que o teria abandonado quando ainda era criança. O filme joga com essas situações. Provavelmente Kenji aceita a criança chinesa, se compadece dela e evita que a máfia a leve adiante somente por relembrar sua infância cruel sem a presença dos pais. A mãe abandonou Kenji e o pai era um atrapalhado alcoólatra - que aparentemente não é mostrado fisicamente na trama, apenas citado.
Ao descobrir a mãe nessa nova vida, Kenji arma planos de aparição e vingança. Ele descobre ter um meio-irmão, filhos da mesma mãe, mas tendo o senhor idoso como pai. O adolescente irmão de Kenji é bastante rebelde, tendo essa característica em comum com o soturno Kenji. O jovem também arma planos de rebeldia, inclusive emboscadas como assalto a um supermercado, apesar da boa condição de vida que o velho pai e a mãe de Kenji lhe proporcionam.
A mãe de Kenji tenta explicar a emoção do reencontro com o filho e planeja uma vida conjunta para todos na espaçosa casa/empresa, que deixa os funcionários agregados irem se acomodando no grande espaço, com quartos e improviso. Kenji, no entanto, nunca superou o abandono e está mais interessado na vingança, inclusive aconselhando (ou desaconselhando, plantando semente do mal mesmo em) seu meio-irmão rebelde.
Nesse meio tempo das confusões familiares, a máfia retorna após anos em busca do garoto chinês que havia ficado sob a tutela de Kenji. Ideias de libertação e prisão à história circundam pela mente dos personagens. A trama é levemente confusa, mas passível de entendimento com suas nuances e reviravoltas. Até quanto uma mente pode suportar as ideias de abandono e reescrever a vida em reencontro? Qual o limite de uma tutela a quem não lhe pertence?
Como dito em altura do filme, será que os japoneses não são bons pais e mães? E por isso o garoto chinês teria que seguir seu rumo de volta ao país de origem? E o exercício do perdão é possível ou será que fragmentos de sua história pessoal foram ocultados do conhecimento do confuso Kenji? Como ele vai lidar com essa verdadeira salada, uma das mais temperadas e organizadas já apresentada em roteiro dramático? Antes do estouro de muitas séries à la carte ao público, a impressão é de uma verdadeira novela japonesa, em que temas como a perigosa máfia do Japão, responsável por centenas de mortes ao longo de décadas e até séculos, temas familiares de natureza delicada, a possível ou impossível reconciliação, as buscas e novas parcerias surgidas são todas abaladas e colocadas à prova quando os últimos atos são desferidos.
Um filme em que o cativar pelos personagens parece não emocionar, mas os desfechos prometem. Uma trama bem audaciosa, problemática e de final estarrecedor, estremecedor das estruturas da vida como se fosse um legítimo terremoto.