A indústria farmacêutica manjava de arrumar soluções - primeiro para eles, depois para os potenciais clientes. Ou ao menos vendia a imagem de que arrumava soluções. Claro, os efeitos colaterais surgiam, mas o que poderiam ser quando comparados aos benefícios das medicações? Eram tratamentos para praticamente tudo. E, não tão futuramente, acreditavam ter os tratamentos para exatamente tudo.
Uma das maiores novidades apresentadas foram as pílulas para contrair otimismo. Os relações públicas e os palestrantes viviam falando que faltava otimismo, faltava determinação, faltava força de vontade para o trabalho fluir. Aquele papo de trabalho em equipe, de confiança no próximo, de acreditar no produto final e na união do time. Pois bem, a indústria farmacêutica, que de surdez não morreria, ouviu atenta para formular algo a respeito.
Lá estava a resposta: as pílulas de otimismo. Sucesso logo quando anunciadas no Ministério da Saúde, as pílulas entraram em circulação e estavam entre os produtos mais vendidos. Dizem os especialistas do ramo que muitas das farmácias criadas no período - e era fácil observar uma farmácia a cada duas quadras, pelo menos - foram graças ao invento. Os detentores da ideia não tinham mais onde depositar dinheiro, viviam anonimamente. Conforme está nas primeiras linhas do texto, eles primeiro resolveram a deles e os clientes agora buscavam resolver suas condições trabalhistas, com mais otimismo, com mais esperança.
Tudo parecia funcionar de forma fantástica. Melhoras econômicas, melhores rendimentos, funcionários e funcionárias, motoristas, pais e mães de famílias mais confortáveis e apreciadores do tempo futuro. Porém, o tempo futuro vinha e nem sempre a dose de otimismo adiantava. Uns entraram em ciclo vicioso, aumentaram a quantidade do que consumiam. As tabelas mostravam índices alarmantes de usuários. 7 a cada 10 adultos.
As crianças também não escaparam dessa epidemia. Os pais achavam que elas precisavam acreditar mais na escola, ter foco para um melhor futuro, boas notas, para um bom vestibular futuro, uma boa carreira... As pílulas infantis foram criadas. 4 a cada 10 crianças tomavam. Houve pais que extrapolaram e fizeram seus filhos consumir as de uso adulto, para antecipar suas expectativas, fortalecer os pequenos rumo à puberdade e a formação para o mercado.
Mas o que se falava sobre efeitos colaterais? Daí que as pessoas pensavam não estar otimistas o bastante. O efeito contrário deixava algumas pessimistas. A confusão mental era gigantesca. As farmácias seguiam vendendo, muito bem, obrigado. O ramo da psicologia também agradeceu. Dobravam o número de clientes. Os divãs estavam lotados. Faltava horário, multiplicaram as vagas para psicólogos nas universidades. Não davam conta. Da demanda e dos problemas neurológicos. É coisa para psiquiatra.
E os psiquiatras também não resolviam. As pessoas não conseguiam passar 24 horas sem a pílula. Ok, normal. Mas não conseguiam mais passar um turno sem a pílula. Uma refeição sem a pílula. Questionados sobre esse agravante, a assessoria da indústria farmacológica responsável não quis gravar entrevista. O telefone dos donos não atendeu nem ao centésimo terceiro toque. Testemunhas afirmam que os viram em alguma praia da Grécia...
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