10/09/2015

Não gosto de shoppings


A ideia claramente evidenciada no título mostra como serão tecidas as linhas a seguir. Após viajar para terras mais distantes, no caso, o Rio de Janeiro, o mundo fantasioso dos shoppings passa a ser objeto de desconstrução proposto por minha pessoa.

A segregação existente não passa por barreiras para entrar, até porque há as convidativas portas que abrem automaticamente. Apesar disso, só ultrapassam as barreiras das mesmas aqueles com poder aquisitivo: os clientes do shopping center - o centro das compras.

O capitalismo é descarado lá dentro. A briga dos anúncios luminosos com os chamativos tons em cores fluorescentes e chamativas são o mantra pelas paredes e vitrines.

Atraem olhares antes vislumbrados como quem encara o trajeto pela primeira vez. Mas, após algumas idas e vindas, a tela do smartphone ou do iphone para andar cabisbaixo parece mais interessante a alguns.

De tudo que há no interior dos prédios unificados com as marcas globais mais badaladas, as praças de alimentação me causam o maior alvoroço, a maior inquietação. Nos espaços tomados pelos anunciantes de redes famosas de fast food, pessoas se aglomeram para dividir as selvagens refeições com várias vozes de diferentes direções.

Nos horários de almoço e de maior movimento na noite, lutam bravamente por espaços nas mesas. Jogam mochilas, bolsas e arrastam cadeiras o quanto antes para marcar território, mesmo que a superfície do móvel ainda esteja preenchida com os restos da refeição do desconhecido ocupante anterior.

Outra questão é o emprego de senhoras que estão paradas ali, apenas esperando o cliente terminar sua degustação e alcançar-lhes a bandeja. Nessa função, mais uma inventada, pela rede de shoppings, a humilde funcionária depara-se com os restos de refeição das pessoas, o lixo orgânico delas. É algo tão ou até pior do que as limpezas de banheiro.

Quanto a isso, a solidariedade de pensar como é estar no lugar dessas pessoas. No lugar dos atarefados e sobrecarregados funcionários atendentes. Lutam para servir os minimizados lanches que pouco ou nada lembram as ilustrações das propagandas. Eles, exaustos, correm contra o tempo para satisfazer os insatisfeitos clientes. Ou, para simplesmente manterem-se empregados na selva da competição.

Os desumanos shoppings vão assim mantendo hábitos cada vez mais naturais nas pessoas. Louco é quem discorda desse processo que vem acontecendo e tomando conta de cidades com uma lógica unitária, neoliberal, capitalista. Pelotas, Porto Alegre, Rio de Janeiro e tantas cidades por Brasil e mundo com os mesmos males.

Dessa maneira, manifesta-se a busca da satisfação por meio das compras, do bem material, do bem de consumo. Dessa maneira, segrega-se a população entre quem tem e quem não tem condições. Quem merece e quem não merece tais privilégios, muitas vezes supérfluos. Quem é cliente e quem é o passageiro atendente, que o atendido quer nem saber o nome.

Assim caminha a humanidade ► Fabricando sorrisos às custas de mão de obra barata em países em desenvolvimento. Mas nada disso é mostrado. O que é mostrado, é a vitrine iluminada com a grife estampada em letras garrafais.

Como diz Black Alien, "a justiça dos homens perdeu um ônibus". Segue essa disfarçada babilônia (entre tantas babilônias) do século XXI.
Na pesquisa Google para a palavra "shopping", só há pessoas brancas nas imagens, conforme a escolhida. (Foto: Reprodução / Internet)

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