Um filme contemporâneo de Chile 🇨🇱. Direção de Bernardo Quesney. Uma atriz de televisão tenta voltar à ativa com uma peça ousada sobre a colonização do país andino. A história de sua peça teatral seria de como os povos originários derrotaram o saqueador e governador espanhol Pedro de Valdivia, um dos fundadores da capital Santiago.
Conhecida pelo papel de Huachita, uma personagem cômica de um humor grosseiro que passava na televisão do Chile, com desafios aos bons costumes, mas mais extravagâncias ao papel feminino do que críticas bem elaboradas. Assim, conhecida pela comicidade, Gioconda Martínez (Amparo Noguera) jamais era levada a sério. Qualquer projeto que ousasse fazer seria sempre castigado pela difamação de seu passado perseguidor. Com o intuito de movimentar sua vida financeiramente com essa peça, ela pede ajuda ao prefeito que buscaria a reeleição na próxima oportunidade. Pressionado por um possível afair passado, o prefeito destina a verba ao projeto, mas é apenas o começo dos problemas.
Treinar um grupo de atores teatrais, mesmo ou justamente porque possuíam experiência, selecionar o roteiro e os atores a cada papel são missões que estão fora do alcance da atrapalhada heroína, sempre perseguida pelas horrendas sombras do pretérito. Inimizades, conflitos sociais, raciais, envolvimento de imigrantes haitianos - tema comum para Rio Grande do Sul e outros estados brasileiros - aparecem na trama, que vai mais do constrangimento do humor do que um drama que se pudesse desenhar. Apesar do objetivo humorístico, a vergonha construída é imperial, causando o desconforto do que seria proposital ou não. Talvez aí esteja a mágica proposta por Bernardo.
A ideia de filme dentro de filme já foi abordada por este escriba recentemente ao relatar o longa Em Busca da Fome, de produção da Índia. Pois desta vez trata-se do velho tema da produção teatral dentro do espaço fílmico. Os ensaios, os dramas pessoais, os preconceitos apresentados por parte dos atores, os temperamentos explosivos são abordagens do filme de 2023. A vida dupla, a intromissão do pessoal no profissional, e do profissional no pessoal estão presentes.
Com diversos conflitos, do familiar às relações trabalhistas, os financiamentos obscuros, o valor da arte como temas marginais, o longa chileno perpassa a vida confusa da personagem principal, Gioconda Martínez. Habilitada diretora, Catalina Saavedra também aparece entre as atrizes do filme. Com polêmicas entre relações e algumas cenas de nudez, o longa encaminha seu final explosivo em mais uma bomba de constrangimento, o que lembra até a cena de palco do final de Substância- embora o norte-americano tenha sido lançado depois, diga-se.
É essencial não perder de vista a temática sobre a colonização, o abuso das autoridades espanholas para cima dos povos originários, situação comum com tantos países da América Latina, e sobre o Brasil com maior influência do desmatamento proposta pelas forças de Portugal sobre os indígenas. O termo indígena mais constantemente usado no Brasil, na abordagem correta chilena trata-se por povos originários. Embora no Brasil também ouça-se mencionar dessa forma, mas com predominância do uso "indígena" para designar os nativos.
É também essencial centrar a análise nos malefícios da fama, da baixaria apresentada em programas televisivos, na impossibilidade de passar uma borracha sobre passados vexatórios, tudo isso envolvendo a desarrumada carreira da constrangedora Gioconda Martínez, uma atriz decadente com delírios de grandeza, quando sempre que se apresenta lembrada é por situações estapafúrdias.
Nota final para História e Geografia (2023)
⭐⭐⭐½
Nenhum comentário:
Postar um comentário