30/06/2025

Huo Zhe (1994)

Filme chinês dirigido por Zhang Yimou. O título em inglês ficaria To Live. Em português, Tempo de Viver. É uma obra complexa em suas 2 horas e 12 minutos.

O personagem principal é Fughi (You Ge) e inicia com a trajetória nos anos 1940, tempo da Segunda Guerra, com o exército a recrutar combatentes contra os japoneses. Fughi é um jovem pai de família, pouco dedicado à esposa Jiazhen (Gong Li) e à sua pequena filha e, nas dificuldades de obter renda e sustento, é viciado em jogos de azar: jogo de dados. Ele aposta em demasia mesmo que a esposa o alertasse. Acaba por perder a casa onde vivem, propriedade que era de seu pai, então ainda vivo. Abatido, adoentado com a desgraça da perda, o pai ainda o condena pelas palavras, sofre um ataque e cai morto. É apenas o início do drama. Em seguida, Fughi precisa ir para frente de guerra, em meio à neve do inverno e com outros combatentes. Aprende os extremos da vida, vê batalhões inteiros serem dizimados. 

Capturado pelos japoneses, sua arte em lidar com fantoches chineses entretém os guerrilheiros adversários, que poupam sua vida. Ele finalmente conseguirá voltar para casa. No tempo em que esteve fora, enquanto sua esposa se desdobrava para manter a família, sua filha teve uma doença grave, com a qual infectou a garganta e perdeu a voz. Seu filho pequeno, com o qual a mulher ameaçava abandonar Fughi, já está caminhando. Uma reviravolta é quando o apostador de dados que herdara a casa de Fughi é acusado por conter a propriedade privada diante do novo regime, da revolução chinesa que colocou Mao no poder. Se não tivesse perdido a casa nas apostas, Fughi igualmente perderia a propriedade para a requisição do Estado. Sem entregar a casa, o apostador foi condenado a ser baleado.

O filme transpassa as décadas e traz temáticas comuns à vida chinesa. O desenvolvimento comunitário, as restrições e regulamentos do regime comunista, a expansão econômica através da demasiada produção de aço; o trabalho infantil denotado disso. O drama familiar de encarar a adversidade aos filhos, o machismo que delegava às mulheres uma posição submissa e de casamentos arranjados; uma sociedade que migrava do predomínio agrário ao industrial; o vício nos jogos de azar, prática comum também ao mundo ocidental. A dificuldade para manter um relacionamento diante desse vício; a travessia de gerações, desde a morte do pai de Fughi até o desenvolvimento de seus descendentes.

O drama é bastante forte em algumas partes do filme. O humor é escasso. A base do filme é o desenvolvimento de situações adversas para serem superadas, agoniadas, vividas e talvez vencidas por Fughi e sua esposa. Drama familiar que acompanha o desenvolvimento, as controvérsias do regime chinês. Não é uma crítica grosseira, escrachada, traz sutilezas, suscita dúvidas, amplia debates, se inscreve nas diretrizes do que o povo chinês passou e pode passar, com bons e mau momentos, alternados como a vida. Da alimentação básica à necessidade de regulamentações no trabalho, de que a expansão não pode ser a qualquer custo, ao custo de vidas humanas, da necessidade de que a saúde seja enxergada com mais prioridade, mais carinho e dedicação pelo governo.

Apesar de lançado em 1994, passados 30 anos, o filme chinês ainda abre e reabre debates sobre ideologias políticas, erros e acertos, repercussões que podem ser feitas abertamente onde não haja restrição da possibilidade de críticas: e no Brasil há possibilidades, tanto que aqui são publicadas essas análises. Analisar que o Brasil não possui liberdade de expressão, ou que ela esteja ameaçada e controlada nas redes, é um equívoco interpretado por quem defende, provavelmente, quem se beneficia pela propagação de mentiras e difamações criminosas. A regulação é contra crimes contra outrem, não para restringir o uso da opinião; é para criminalizar crimes de ódio e leso a minorias sociais e indivíduos, não para encerrar debates e possibilidade de oposição. Para quem tenha dúvida sobre a impossibilidade de oposição, que assista aos momentos deste filme em que Mao não pode ser criticado, que o regime não possa ser duvidado ou rebatido, com a pena prevista até a morte ou a prisão definitiva. Isso sim caracteriza restrições máximas dignas ao caráter de ditadura. Esta semana também foi tempo de conferir um novo filme brasileiro sobre a ditadura militar (1964-1985), chamado A Batalha da Rua Maria Antônia, em que a polícia militar certa prédio e combate estudantes universitários e secundaristas durante o ano de 1968, na capital São Paulo. São exemplos de episódios ditatoriais, diferente do que alegam sobre a história recente em regulação de redes sociais no Brasil. 

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