10/07/2025

Beautiful City (2004)

Beautiful City é um filme do diretor iraniano Asghar Farhadi. Mais uma obra-prima do cinema do Irã, pejorativamente conhecido por ritmos lentos, mas apreciadamente elogiado por temas humanitários, levados na presente película ao extremo. Considero este, ao ponto de terminar de assistir, como o filme com questões humanas, de escolha, de concessões, como o mais difícil nesse aspecto. Qual o limite do sacrifício para salvar outra pessoa? Quais são os limites da memória e o quão saudável pode ser - entre aspas - o esquecimento?

A'la é amigo de Akbar. Ambos foram presos no centro de detenção juvenil. Akbar está condenado à morte, por ter assassinado a filha de um homem, com a qual namorava e pretendiam casar. Akbar cometeria o suicídio e mataria a menina junto, para que ela nunca mais pudesse conviver com outro. Interceptado, Akbar matou somente a companheira, não tendo conseguido efetuar sua própria morte. Ao longo de dois anos no centro de detenção, até completar 18, tentou o suicídio algumas vezes, monitorado, impedido e sem sucesso. Então, ao chegar à maioridade, é levado embora, onde, pelo julgamento das leis, seria executado na forca. Aplicações ainda existentes do milenar Código de Hamurabi, que ouvimos na escola.

A'la se torna o personagem principal do filme. Condenado para o centro de detenção por roubos, ele está prestes a sair. Faltavam 28 dias. Ele combina com o diretor do Centro que sairá por uns dias para convencer o pai da jovem assassinada por Akbar, a desistir da pena de morte para o assassino. O perdão do velho pai de família serviria na Justiça para descondenar Akbar, que aguarda trancafiado e sem esperanças.

A'la, para obter todas as informações que precisa em busca do perdão para Akbar, acaba se envolvendo com a irmã do amigo. Se envolver leia-se da forma romântica que poderia ocorrer entre dois jovens com objetivo único: a libertação de Akbar. Alerta-se que o filme não é romântico, é sobre os extremos que as decisões podem custar. Será que A'la pode abrir mão de escolhas, como a mão da jovem em casamento, para salvar a vida do amigo? Será que a irmã de Akbar concordaria em casar A'la com outro e continuar seu martírio com um homem que ela não ama?

Quanto ao perdão, qual o limite de sanidade, do religioso, do vingativo e da concessão que um pai pode fazer pela filha morta? É possível perdoar o assassino? Este senhor que já havia perdido a esposa do primeiro casamento, vivia com a segunda e, com esta, possuía uma segunda filha, com deficiências físicas. Uma vida tão sofrida justificaria o sentimento de Justiça pela morte do assassínio?

A segunda esposa do pai sofrido também estava infeliz. Ele sendo tão infeliz impedia a continuidade da vida familiar, amargava ainda mais um ambiente já naturalmente afetado pelas deficiências da segunda filha. Para adiantar a condenação de Akbar para forca, um dote financeiro poderia ser depositado para acelerar a tarefa da Justiça. O homem iria preferir reunir a grande quantia para arriscar uma cirurgia de salvação para sua segunda filha ou para condenar de vez o assassino da primeira? Como apontado logo ao início desta resenha, é uma trama muito bem costurada e que testa a empatia e os cenários de atuação que porventura poderiam ocorrer na vida real.

Ao longo destes anos, observando histórias reais e fictícias, desenvolve-se a apreciação das questões sem a faca erguida para o julgamento rasteiro e precipitado. Ao longo do filme de Asghar Farhadi, em nenhum momento me senti confortável para bater martelo sobre as decisões que estavam ou não sendo tomadas. Não há santos. Todos possuíam suas razões. Mesmo a bondade de A'la ao arriscar tudo pelo amigo era contraditória ao ser um ladrão condenado por roubos e também deixar-se envolver romanticamente com a irmã do amigo. O sentimento dele também era o de tentar salvá-la de um casamento arranjado, problemático e triste. E o sentimento de tentar ajudar a família do pobre homem condenado, com a lembrança da esposa e da filha falecidas e tendo que cuidar de uma terceira com limitações. As limitações eram como a rua que cortava a frente da casa da irmã de Akbar: com um trilho. Um trilho que pode levar aonde? Quantas e quais fugas são possíveis? Quantos cadafalsos devem ser encarados de frente e sem escolhas? Quais os limites da religião, da Justiça e das palavras do Corão?

Discussões políticas, jurídicas, religiosas, financeiras e familiares postas em 1h40min de filme, agonizantes pelo drama e suspense suscitados. O desfecho em aberto segue a torturar o espectador sobre como teria agido e como será que termina o destino dos personagens?

Nota final ficaria em 4,5, mas a permanência do que envolve e nos afeta sugere 5.

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