02/10/2017

A Razão da Ração

Em maio, recebemos a ilustre visita em nossas vidas da gata mais tarde chamada de Mel. Melissa, Melanye, Mercury. Mel. Ela com seus tons tigrados, cinzentos, manchados, por vezes, conforme suas mudanças, arruivado ou alaranjado. Mel - que é o seu som emitido de forma espaçada em diferentes intervalos de tempo e significados que nem sempre nos cabem entendimento. Geralmente por comida ou companhia. Extremamente dócil. Deixa o chamado adjetivo arisco - adjetivo exclusivo aos felinos - para outros. Nem por descuido pode ser utilizado com ela.

Bastante sociável ao que se acostumou a todos os membros da família, sobretudo após sua cirurgia de castração. O momento mais difícil e delicado destes meses todos, pois, além do que consideram um procedimento simples de pequeno corte, Mel estava grávida de filhotes, que tiveram o processo abortivo.

A ideia inicial não era tecer linhas especificamente sobre Mel e seus comportamentos e principais características. Ao que o navegar do ritmo que tomou o texto me obriga a citar suas peculiaridades e surpreendentes artimanhas, quando, em menos de um minuto de descuido, adentrou ao quarto de minha mãe e passou a afiar as unhas no sofá. Em outro momento, aproveitou o estreito espaço de uma fresta na janela de acesso à lavanderia e saltou para dentro do local onde estão guardadas suas rações. Para completar a sequência, toda ocorrida após sua castração, Mel conseguiu subir em uma de nossas árvores com o objetivo de caçar pombas. Pensava eu que só teria chance quando as pequenas aves estivessem no chão, mas nos surpreendeu com tamanha destreza e agilidade, como os gatos costumam superar qualquer subestimação de suas capacidades.

Enfim, a ração. É verdade, a ração. Foi minha ideia inicial destrinchar um pouco do debate acerca da comida que está entre suas favoritas e, nos últimos tempos, como a mais constante presença nas refeições. Como o produto industrial agradou Mel desde seu primeiro contato com ele, minha mãe acreditou que Melissa tinha donos anteriores, os quais a alimentavam com ração. Porém, entretanto, todavia, um pouco possessivo de minha parte em pensar que adotamos essa menina de rua e agora a confortamos com lares estendidos e comida de qualidade. Defendo que o produto industrial da ração imite tão bem os aromas, gostos e densidades das comidas naturais que o animal sente-se sem alternativas, a não ser a escolhida por Mel: comer de bom grado, contente que um único alimento una tantas características que ela considera cruciais para definir seu apreço.

Mel come a ração na quantidade que lhe for apresentada e possível. Limpa a travessa de isopor com mais agilidade do que quando se trata de outros alimentos, os naturais. Não gosta muito de linguiça, aceita galinha e mantém a fama dos gatos de adonarem-se de frutos do mar quando servidos.

Enfim, Mel é das grandes alegrias que 2017 me trouxe. E, no fim das contas, mais agradável falar de seus hábitos e sua importância em nos entretermos, eu a ela, ela comigo, do que comentar do poder da indústria, não é mesmo?


Nenhum comentário:

Postar um comentário