28/10/2024

25/10/2024

Toda toda

Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada. O tempo deixa todos na mão. Galho passageiro que sustenta o corpo e o impede de afundar nas correntezas do rio. Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada.

17/10/2024

Buquê de rosas

Viaje por minhas imperfeições 

São tantas, mas não faça menções 

Nem honrosas, nem rosas 

Pelos colchões


Viajo pelas lições de sua vida

Comprimidos muito melhores

Que aspirinas

Viajo, nado nada sincronizado

Espasmos 

Viajo 

Por trás das lentes, das cortinas


Viaje por minhas imperfeições 

Estou quase acabado

Minha versão final

Corpo quase abandonado

Viaje por quem bate o ponto

Todo dia sem desconto

E já nem sabe nem porquê


Um buquê de flores se esfarela 

Se ninguém compra elas

Para onde vai?

A comida do mercado

Com o prazo encerrado

Encerrada pelas grades

E as cortinas das cidades

Melodias do metal


Viaje pelas minhas imperfeições

Sou assunto, sou ações 

Sou um mundo de questões

Nada superficiais

Ai ai ai 

Why?

15/10/2024

Vezes divididas

O tempo passa mais rápido. Estamos ocupados. Há mais repetição e menos euforia que a novidade causaria.


Um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E não saberá.

Mas também um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E saberá. E doerá tanto quanto.

Mas um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E será um alívio, pois não queria mais.

Diferentes perspectivas.


14/10/2024

Padre dos Balão

Eu tentei ser jovem

Tentei ser normal

Tentei ser igual

Tentei ser refém 

Da indústria cultural 


Eu tentei tomar

O mesmo trem 

Tentei tomar

O mesmo tempo

Tentei tomar

O meu lugar

Eu tentei 


Tentei

Sei que tentei

Poderia ter tentado mais

Agora já não sei

Será que tanto faz


Eu tentei ser jovem

Tentei ser do bem

Tentei tantos tambéns 

Tentei seguir umas leis

Tentei outros lay 

out... out of season 

Tentei igual Sísifo 

Tentei, eu sei

Sei que tentei


Eu tentei 

Você tentou 

O padre dos balão tentou


13/10/2024

Conversinha

Versinho não tem tradução

No máximo uma outra versão



Deixei um versinho verdinho

Na minha plantação

Se ele madura

Não dura 



Um versinho verdinho 

Na minha plantação 

Ou não 

Era nada

Nem limão

Nem limonada 

Nem limousine

Nem coisa que se assine

De repente repete

Memórias são frágeis fragmentos flagrados 

E quando deflagrados já se perdem 

Memórias são frágeis flashs 

Flesh for fantasy

Memórias são fósforo 

Mas também outros elementos

Periodicamente aparecem

Memórias são

O que era

Memórias sãotificam 

Memórias tipificam as coisas

Memórias larvas, moscas

Memórias lavam a alma

Das moças 

Com lágrimas 

E coisas toscas

Memórias, filtro 

E coisas foscas 

Memórias filhas

De cosa nostra 

Memórias nosferata 

Memória errata, vampira 

Memórias artifícios 

Artificiais 

Memórias: arte ou ofício?

Extra-oficiais

Memórias orifício 

Memórias sem fisco 

Nem aduana 

Memórias muquiranas 

Risco

De repetir o disco 

Não há mais tempo

Não há mais tempo

Mas nunca houve 

Só o agora

Ouve 

Só o que o vento 

Dita lá fora 


Não há mais tempo

Não há passado, não há futuro 

A perspectiva é um muro

Que ninguém te ajuda a escalar 


Não há mais tempo

Isso eu já disse

Em outro tempo

E só lamento 

O que se perdeu 

Não sou mais eu

Talvez tenha sido

Em outro tempo

Que já não há 

Não há mais tempo


Não há mais tempo

Nem menos tempo

Do que há 

Haverá de ser 

Um outro tempo

Quando chegar

E chegará 

Enquanto não chegar

Não há tempo

Só haverá

09/10/2024

Ególatra

Ególatra 

É pior do que alcoólatra 

Porque não se sana 

Não se manca 

Não espanta

Não se contenta

Até que a corda arrebenta

E a maquiagem mancha

Não importa quantas canchas 

Uma hora vem a dança 

Uma hora acaba a dança 

Uma hora anda na prancha 

Uma hora chega a hora

Uma hora corta a corda 

E toda aquela cortesia 

Vira um cortejo fúnebre

Uma hora chega a conta

Acaba o sonho e acorda


Uma hora chega o dia

Esvazia a fantasia

Uma hora se imacula

Se autointula 

Uma hora se macula 

Uma hora vira fuleira 

Ególatra 

Muito pior do que alcoólatra

Síndrome de Cleópatra 

Necessidade sem cessar


Uma hora vira abóbora 

Uma hora se denuncia

Uma hora o fingimento 

Vem à tona todavia 

Vem ao topo corroendo 

Corroendo a utopia 


O alcólatra 

Pelo menos se sacia

Por mais que se vicia 

O ególatra 

E sua figura imaculada 

Boa demais pra ser mostrada

E o fastio da modéstia

E o nojo que me resta

E o chute na pilastra 

E a cara que se racha 

E toda sua hipocrisia

O ególatra 

E sua rede de mentiras

O ególatra 

Muito pior do que alcoólatra 

07/10/2024

Pitacos da eleição 2024

Porque obviamente há nenhum compromisso em agradar.

Nunes enfrenta Boulos no segundo turno em São Paulo. Mais uma óbvia derrota de Boulos, que toda vez arranca em primeiro na eleição paulista, mas não tem a mínima condição.

Vitória esmagadora de Sebastião Melo em Porto Alegre. Será reeleito mesmo após o caos instaurado no maio das chuvas. Maria do Rosário jamais apresentou a mínima chance de vencer. Juliana Brizola atrairia maior votação para um segundo turno. Aprendem nada desde 2018. Ou desde 1989, quando foi barrado o avô de Juliana, Leonel Brizola. 

Em Florianópolis, Marquito saiu do jovem tímido deputado para um nome combativo com quase 1/4 dos votos, pelo PSOL. Mas Topázio aglutinou os votos da direita e venceu no primeiro turno. Os demais definharam. A direita, para vencer, não é boba.

Santa Catarina, boa parte do Rio Grande do Sul e de muitos lugares brasileiros preencheram mais do mesmo. Algumas lideranças solitárias por SC são a vereadora Giovana Mondardo do PC do B, pessoa mais votada no legislativo de Criciúma, e Afrânio, um dos mais votados em Florianópolis. Décio Lima, liderança do PT e ex-prefeito de Brusque conseguiu comparecer a segundo turno pela excluída legenda em 2022. Há muito trabalho de base a ser feito em um estado que já foi reconhecido por trabalhadores da extração, de estivadores portuários e pela malha ferroviária. Liberalismo e bolsonarismo circulam livremente em SC, de mãos dadas.

Em Pelotas, termômetro de tantas eleições brasileiras, chegou finalmente o novo clássico brasileiro. PT x PL. Em Sant'Ana do Livramento , por exemplo, foi uma lavada para o PL. Em Pelotas a promessa é de uma eleição disputada entre o ex-prefeito Fernando Marroni (mandato 2000-2004) e a novidade composta por Marciano Perondi, alien acompanhado pela bolsonarista Adriane Rodrigues, filha do tradicional Governaço, que por sinal passou longe do cargo de vereador.

A esquerda pelotense posicionou peças importantes na Câmara, mas obviamente insuficientes para números totais. Parabenizar a Fernanda Miranda pela segunda liderança em número de votos no Legislativo, professora na história do município. Repetiu o feito de 2020. Ela é acompanhada pelo jovem mas tradicional Jurandir Silva e pela sequência de petistas com Ivan Duarte e Miriam Marroni, psicóloga esposa do candidato a prefeito da legenda.

Marcus Cunha, que trocou o PDT pelo PSOL por divergências com o antigo número, teve menos visibilidade do que já apresentou, mas é suplente direto. Ronaldo Quadrado, conselheiro tutelar do Monte Bonito, novidade pelo PT, apoiado por muitos nomes do partido, inclusive pelo ex-presidente local Luciano Lima, também é suplente imediato. Outros nomes pontuaram bem, mas de maneira insuficiente para uma governabilidade mirada e desejada. Pelotas, mais uma vez, revela os trechos tortuosos pelos quais o país perpassa na nebulosidade política.

03/10/2024

Ah, a memória

Ah, a memória. Ela dita ritmos.

Para quem tem muita memória, mas que elas se unem em aproximação, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se conjuntam como se a vida fosse curta. Não vos parece?

Para quem tem curta memória, elas se escondem, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se afastam e o que sobra é a lembrança de uma vida curta. Não vos parece?

Desse modo, tanto os reunidores, revisores vorazes, cirandeiros das memórias, quanto os que as jogam de uma montanha penas ao vento, os dissimuladores, os ocultados, os labirínticos bloqueadores de memórias, ambos acabam com as mesmas desgraçadas impressões: que curta é a vida!

Para os reunidores que em saguão, em auditório lotam suas memórias, acotoveladas umas às outras, tudo parece próximo, tudo se fundiu, passou tão rápido: que curta é a vida!

Para os que mantém as lembranças soltas como se um dia fossem voltar, livres como cachorros de portões abertos, gatos que viram cartaz de procura-se, crianças que correm quadras adiante dos pais e tomara voltem, essas memórias espaçadas, escorregadias, corrediças, essas memórias afastadas como os mais gasosos átomos deixarão o salmo de repetição do texto: que curta é a vida! Me sobraram tão poucas memórias que todas as demais voaram. Que faço com elas se não reuni-las escassas, livro de páginas faltantes, de falas e passagens repetidas de memórias desorganizadas, de ordem alfabética que começa em C, pula para L e termina antes de qualquer W, livro incompleto, borrado de café ou erva, inelegível por tantas partes. Que conclusão chego a não ser que é curta a vida que nos toca sobrar aos dedos inabilitados para agarrar muito?

E mesmo os consumidores a esmo de tantas memórias, que adianta ao final reuni-las tantas se elas são, no auditório que nos sobra de vida, apenas espectadoras, passivas, passageiras, esfinges, fumaça, fantasmas? Que curta é a vida, na qual não posso voltar a tocá-las... memórias.