Sinto falta de um alguém, mas não é de ti.
E isso é quase gratificante.
Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada. O tempo deixa todos na mão. Galho passageiro que sustenta o corpo e o impede de afundar nas correntezas do rio. Toda a arrogância dos hoje protegidos pelo tempo será castigada.
Viaje por minhas imperfeições
São tantas, mas não faça menções
Nem honrosas, nem rosas
Pelos colchões
Viajo pelas lições de sua vida
Comprimidos muito melhores
Que aspirinas
Viajo, nado nada sincronizado
Espasmos
Viajo
Por trás das lentes, das cortinas
Viaje por minhas imperfeições
Estou quase acabado
Minha versão final
Corpo quase abandonado
Viaje por quem bate o ponto
Todo dia sem desconto
E já nem sabe nem porquê
Um buquê de flores se esfarela
Se ninguém compra elas
Para onde vai?
A comida do mercado
Com o prazo encerrado
Encerrada pelas grades
E as cortinas das cidades
Melodias do metal
Viaje pelas minhas imperfeições
Sou assunto, sou ações
Sou um mundo de questões
Nada superficiais
Ai ai ai
Why?
O tempo passa mais rápido. Estamos ocupados. Há mais repetição e menos euforia que a novidade causaria.
Um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E não saberá.
Mas também um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E saberá. E doerá tanto quanto.
Mas um dia você vai fazer uma coisa pela última vez em sua vida. E será um alívio, pois não queria mais.
Diferentes perspectivas.
Eu tentei ser jovem
Tentei ser normal
Tentei ser igual
Tentei ser refém
Da indústria cultural
Eu tentei tomar
O mesmo trem
Tentei tomar
O mesmo tempo
Tentei tomar
O meu lugar
Eu tentei
Tentei
Sei que tentei
Poderia ter tentado mais
Agora já não sei
Será que tanto faz
Eu tentei ser jovem
Tentei ser do bem
Tentei tantos tambéns
Tentei seguir umas leis
Tentei outros lay
out... out of season
Tentei igual Sísifo
Tentei, eu sei
Sei que tentei
Eu tentei
Você tentou
O padre dos balão tentou
Versinho não tem tradução
No máximo uma outra versão
Deixei um versinho verdinho
Na minha plantação
Se ele madura
Não dura
Um versinho verdinho
Na minha plantação
Ou não
Era nada
Nem limão
Nem limonada
Nem limousine
Nem coisa que se assine
Memórias são frágeis fragmentos flagrados
E quando deflagrados já se perdem
Memórias são frágeis flashs
Flesh for fantasy
Memórias são fósforo
Mas também outros elementos
Periodicamente aparecem
Memórias são
O que era
Memórias sãotificam
Memórias tipificam as coisas
Memórias larvas, moscas
Memórias lavam a alma
Das moças
Com lágrimas
E coisas toscas
Memórias, filtro
E coisas foscas
Memórias filhas
De cosa nostra
Memórias nosferata
Memória errata, vampira
Memórias artifícios
Artificiais
Memórias: arte ou ofício?
Extra-oficiais
Memórias orifício
Memórias sem fisco
Nem aduana
Memórias muquiranas
Risco
De repetir o disco
Não há mais tempo
Mas nunca houve
Só o agora
Ouve
Só o que o vento
Dita lá fora
Não há mais tempo
Não há passado, não há futuro
A perspectiva é um muro
Que ninguém te ajuda a escalar
Não há mais tempo
Isso eu já disse
Em outro tempo
E só lamento
O que se perdeu
Não sou mais eu
Talvez tenha sido
Em outro tempo
Que já não há
Não há mais tempo
Não há mais tempo
Nem menos tempo
Do que há
Haverá de ser
Um outro tempo
Quando chegar
E chegará
Enquanto não chegar
Não há tempo
Só haverá
Ególatra
É pior do que alcoólatra
Porque não se sana
Não se manca
Não espanta
Não se contenta
Até que a corda arrebenta
E a maquiagem mancha
Não importa quantas canchas
Uma hora vem a dança
Uma hora acaba a dança
Uma hora anda na prancha
Uma hora chega a hora
Uma hora corta a corda
E toda aquela cortesia
Vira um cortejo fúnebre
Uma hora chega a conta
Acaba o sonho e acorda
Uma hora chega o dia
Esvazia a fantasia
Uma hora se imacula
Se autointula
Uma hora se macula
Uma hora vira fuleira
Ególatra
Muito pior do que alcoólatra
Síndrome de Cleópatra
Necessidade sem cessar
Uma hora vira abóbora
Uma hora se denuncia
Uma hora o fingimento
Vem à tona todavia
Vem ao topo corroendo
Corroendo a utopia
O alcólatra
Pelo menos se sacia
Por mais que se vicia
O ególatra
E sua figura imaculada
Boa demais pra ser mostrada
E o fastio da modéstia
E o nojo que me resta
E o chute na pilastra
E a cara que se racha
E toda sua hipocrisia
O ególatra
E sua rede de mentiras
O ególatra
Muito pior do que alcoólatra
Porque obviamente há nenhum compromisso em agradar.
Nunes enfrenta Boulos no segundo turno em São Paulo. Mais uma óbvia derrota de Boulos, que toda vez arranca em primeiro na eleição paulista, mas não tem a mínima condição.
Vitória esmagadora de Sebastião Melo em Porto Alegre. Será reeleito mesmo após o caos instaurado no maio das chuvas. Maria do Rosário jamais apresentou a mínima chance de vencer. Juliana Brizola atrairia maior votação para um segundo turno. Aprendem nada desde 2018. Ou desde 1989, quando foi barrado o avô de Juliana, Leonel Brizola.
Em Florianópolis, Marquito saiu do jovem tímido deputado para um nome combativo com quase 1/4 dos votos, pelo PSOL. Mas Topázio aglutinou os votos da direita e venceu no primeiro turno. Os demais definharam. A direita, para vencer, não é boba.
Santa Catarina, boa parte do Rio Grande do Sul e de muitos lugares brasileiros preencheram mais do mesmo. Algumas lideranças solitárias por SC são a vereadora Giovana Mondardo do PC do B, pessoa mais votada no legislativo de Criciúma, e Afrânio, um dos mais votados em Florianópolis. Décio Lima, liderança do PT e ex-prefeito de Brusque conseguiu comparecer a segundo turno pela excluída legenda em 2022. Há muito trabalho de base a ser feito em um estado que já foi reconhecido por trabalhadores da extração, de estivadores portuários e pela malha ferroviária. Liberalismo e bolsonarismo circulam livremente em SC, de mãos dadas.
Em Pelotas, termômetro de tantas eleições brasileiras, chegou finalmente o novo clássico brasileiro. PT x PL. Em Sant'Ana do Livramento , por exemplo, foi uma lavada para o PL. Em Pelotas a promessa é de uma eleição disputada entre o ex-prefeito Fernando Marroni (mandato 2000-2004) e a novidade composta por Marciano Perondi, alien acompanhado pela bolsonarista Adriane Rodrigues, filha do tradicional Governaço, que por sinal passou longe do cargo de vereador.
A esquerda pelotense posicionou peças importantes na Câmara, mas obviamente insuficientes para números totais. Parabenizar a Fernanda Miranda pela segunda liderança em número de votos no Legislativo, professora na história do município. Repetiu o feito de 2020. Ela é acompanhada pelo jovem mas tradicional Jurandir Silva e pela sequência de petistas com Ivan Duarte e Miriam Marroni, psicóloga esposa do candidato a prefeito da legenda.
Marcus Cunha, que trocou o PDT pelo PSOL por divergências com o antigo número, teve menos visibilidade do que já apresentou, mas é suplente direto. Ronaldo Quadrado, conselheiro tutelar do Monte Bonito, novidade pelo PT, apoiado por muitos nomes do partido, inclusive pelo ex-presidente local Luciano Lima, também é suplente imediato. Outros nomes pontuaram bem, mas de maneira insuficiente para uma governabilidade mirada e desejada. Pelotas, mais uma vez, revela os trechos tortuosos pelos quais o país perpassa na nebulosidade política.
Ah, a memória. Ela dita ritmos.
Para quem tem muita memória, mas que elas se unem em aproximação, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se conjuntam como se a vida fosse curta. Não vos parece?
Para quem tem curta memória, elas se escondem, pois, apesar da vida ser larga, as memórias se afastam e o que sobra é a lembrança de uma vida curta. Não vos parece?
Desse modo, tanto os reunidores, revisores vorazes, cirandeiros das memórias, quanto os que as jogam de uma montanha penas ao vento, os dissimuladores, os ocultados, os labirínticos bloqueadores de memórias, ambos acabam com as mesmas desgraçadas impressões: que curta é a vida!
Para os reunidores que em saguão, em auditório lotam suas memórias, acotoveladas umas às outras, tudo parece próximo, tudo se fundiu, passou tão rápido: que curta é a vida!
Para os que mantém as lembranças soltas como se um dia fossem voltar, livres como cachorros de portões abertos, gatos que viram cartaz de procura-se, crianças que correm quadras adiante dos pais e tomara voltem, essas memórias espaçadas, escorregadias, corrediças, essas memórias afastadas como os mais gasosos átomos deixarão o salmo de repetição do texto: que curta é a vida! Me sobraram tão poucas memórias que todas as demais voaram. Que faço com elas se não reuni-las escassas, livro de páginas faltantes, de falas e passagens repetidas de memórias desorganizadas, de ordem alfabética que começa em C, pula para L e termina antes de qualquer W, livro incompleto, borrado de café ou erva, inelegível por tantas partes. Que conclusão chego a não ser que é curta a vida que nos toca sobrar aos dedos inabilitados para agarrar muito?
E mesmo os consumidores a esmo de tantas memórias, que adianta ao final reuni-las tantas se elas são, no auditório que nos sobra de vida, apenas espectadoras, passivas, passageiras, esfinges, fumaça, fantasmas? Que curta é a vida, na qual não posso voltar a tocá-las... memórias.