As pessoas são as mercadorias alugadas pelos ônibus.
28/05/2024
27/05/2024
Verdade é
A verdade é que as pessoas são ruins. Sob condições de algum conforto, algum poder, são ruins, julgam as outras, se sentem superiores, isso sob qualquer condição, basta ver o que ocorria na favela do Canindé sobre as denúncias de Carolina Maria de Jesus ou quem mais nessas condições ousasse ou pudesse escrever.
As pessoas só parecem melhores quando acuadas, afetadas, contra-paredadas, frágeis, destrutíveis, manipuláveis. Aí parecem boas, dignas de pena. Sob outras condições mais favoráveis seriam as opressoras. Raros são os que não. Será?
25/05/2024
Mais Fragmentos
E o velho lobo do mar disse:
Não sei mais conduzir-me por madrugadas - se é que um dia soube.
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Lavo capas de livro com o suor de minhas mãos.
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A luta dos cangaceiros é um império oco diante do poder do capitalismo estrangeiro.
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Só acha que é especial quem não conhece o resto.
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Conhecer a história da literatura e do cinema faz perceber que todas nossas lutas atuais já foram abordadas e a maioria das lutas silenciadas ao máximo.
20/05/2024
Fragmentos
Sou hipócrita porque tento me posicionar sempre. Quem não se posiciona é mais fácil que não seja hipócrita.
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Meus nervos enviam diferentes sensações para o meu cérebro. Geralmente ruins.
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Há memórias que somente você vai esquecer. Somente você estava lá. Então só você vai esquecer. Os demais nem estavam, nem sabem. Então só você vai esquecer.
19/05/2024
O Sacrifício - de Andrey Tarkovsky
"Com amor e fé, Andrei Tarkovsky" - é a dedicatória ao final do filme de 1986. O diretor russo também em uma passagem da película lisonjeia, exalta o que seja "inocente e profundo". Este é um dos melhores filmes da história do cinema, não tenho dúvida.
Para começar, quem é o Alexander, papel principal de O Sacrifício? Um ex-ator de teatro sueco que conquistou sua esposa assim, mas cansou de representar. E pelo que é visto, no filme também representava o papel de marido, pois eles pouco tinham a ver. Alexander passou a ser professor de estética em universidade, historiador e escritor. Seu amigo carteiro Otto inicia o filme lhe entregando uma parabenização pelo correio, vinda de antigos amigos do teatro. Relembram quando Alexander representou o marcante príncipe Michkin, de O Idiota, de Fiodor Dostoievsky. Também havia representado Ricardo, de peça de William Shakespeare. Tempos passados que Alexander havia superado para viver sua vida refugiado em outras profissões e naquela distante casa de campo. Aliás, as paisagens e o ritmo lento filosófico são marcas fundamentais dos filmes de Tarkovsky. Para os menos pacientes para as mais de duas horas de película, pode-se acelerar o tempo em 1,25x sem medo. Mas as paisagens são de tirar o fôlego. Uma sintonia com a natureza morta viva, viva morta digna das melhores pinturas do naturalismo e realismo russos. Variadas cenas permanecem paralisadas evocando como que aos melhores quadros a que tenhamos conhecimento.
A grande paixão atual do protagonista era o filho pequeno, noviço para idade do ancião Alexander. Na tarde de seu aniversário, o sueco é surpreendido com a notícia de que a terceira guerra mundial estava para acontecer, que as ogivas nucleares devastariam toda a Europa e não haveria lugar seguro. O que fazer? Diante do desespero, Alexander despe-se de todo e qualquer preconceito e, a partir do pedestal mais rasteiro possível, anseia por conversar com o Deus máximo, isso após em início arrastado - como são os belos filmes de Tarkovsky - haver mencionado que nos tempos modernos até rezar as pessoas haviam desaprendido.
As citações filosóficas sempre constroem os polidos personagens em ação de Tarkovsky. Enquanto estava com o pequeno filho no mato ao plantaram uma simbólica e solitária árvore japonesa - pois o menino era fã do Japão - Alexander debatia sobre os rumos tomados pela humanidade em um monólogo que até a ele entristecera e incomodara. A humanidade avançou tecnologicamente apenas para seu proveito e conforto, mas segue com a brutalidade dos tempos mais remotos. Quem são os verdadeiros selvagens? Quem destrói o outro e o mundo? O sentimento catastrófico trazido por Tarkovsky permeará diversas obras escritas e cinematografia a partir desse tempo. O que se pode fazer em um dia que é transformado de passeio em bosque entre pai e filho, em pleno seu aniversário, para o fim eminente do mundo? E quantos fins do mundo nos deparamos até hoje, diante e entre guerras que ainda não são nomeadas de terceira mundial, enchentes, catástrofes e demais eventos apocalípticos no coração de cada um? Quem está seguro de encontrar as coisas como estavam antes de sairmos de casa? Como agir quando o mundo, quando o jogo, quando a vida muda todas as perguntas e nos exige de prontidão novas respostas rápidas?
Alexander promete o maior dos sacrifícios. Vai mudar radicalmente de vida caso a sua e de seus familiares, amigos, humanidade sejam poupadas. Para isso, o carteiro Otto, diante da prece desesperada do professor, envia a missão destinada a Alexander. O plano de trocar de vida a iniciar pelo sacrifício de seu trágico casamento: a mulher confessava no iminente fim do mundo que era apaixonada por outro. Caso a missão secreta enviada pelo carteiro seja cumprida e a humanidade seja salva, Alexander promete abrir mão da casa, de seu conforto de aposentado em seus aposentos e de qualquer contato com outros humanos. Promete um eterno voto de silêncio, capaz de ultrapassar os limites de qualquer indiano Ghandi. Alexander, um ex-ator em seu papel fundamental para raça humana. E quem de nós nunca se sentiu assim diante das maiores tragédias gregas, no conversar no teti-a-teti com os deuses do olimpo?
A angústia sentida perante o fim dos tempos, a missão calcada em um jogo labiríntico de caça, em que Alexander não pode ser notado pelos demais familiares, em sua fuga, em seu desamparo, em seu desespero. Não vá de carro, Alexander, eles podem ouvi-lo e acabarem com a missão ultrassecreta. Vá de bicicleta. Com a danificada bicicleta do carteiro, entre lodos e barros tal qual um soldado de patente baixa em missões entre as trincheiras.
O filme ainda é cíclico. As cenas de início e final se fundem, se arrematam entre bicicletas e a tranquilidade, inocência do menino perante a natureza. Profundo e inocente como havia a pista de Alexander no início da película, admirado em seus estudos sobre as formas humanas antigas ao longo da História. A humanidade foi profunda e inocente em conhecimentos pelo permear dos séculos. Hoje nunca fomos tão destrutivos, com antigos sentimentos mortais capitalizados pelas armas mais poderosas desse nosso visto universo. Somos capazes sim de abduzir: abduzir a vida animal com a extinção e poder temos também de abduzir a vida humana. Alguns têm a humanidade ao alcance da mão, do foguete, do disparo, do botão.
Só Alexander conversou o que conversou, viu o que viu. E se a humanidade estivesse em nossas mãos, qual seria o tamanho de nosso sacrifício? E nas nossas pequenas vidas, constituintes desse todo, quais os sacrifícios que podemos fazer por um mundo melhor, nem que seja por nós e nossos próximos?
O SACRIFÍCIO (1986)
Direção: Andrey Tarkovsky
18/05/2024
Longe do Vietnam (1967)
Um grupo de diretores franceses, compositores da chamada Nouvelle Vague, fez apontamentos sobre a guerra do Vietnã em 1967.
Enquanto a guerra transcorria na Ásia, debates sobre as imagens e os sentimentos gerados também ocorriam. Segundo as próprias vozes oficiais dos Estados Unidos, era a primeira guerra com uma cobertura completa de imagens, televisão e telejornais. Correspondentes que acompanharam as movimentações do local voltaram zonzos. Uma repórter relata que não aguentava mais o som de motores, helicópteros e bombardeios.
Era a guerra do exército mais rico do mundo contra um pobre país. Uma guerra ideológica. Uma guerra para tentar servir de exemplo a todos que dessem oportunidade para a corrente do comunismo. Um pequeno país campesino se organizando para se defender de toneladas de bombas lançadas diariamente. Um país agrário em sua própria defesa, pois ali os soviéticos não quiseram esquentar a mão no que ainda hoje se chama de Guerra Fria.
Os vietnamitas se organizavam como podiam em suas pequenas cidades e vilarejos. Também tentavam encenações, peças de teatro para distração mas instruções. Foram cavados milhares de túneis e de abrigos individuais subterrâneos. Em caso de alarmes de bombardeios ou invasões, os vietnamitas se escondiam em alojamentos concretados abaixo da terra. Milhares devem ter sobrevivido a partir dessas construções rústicas e muito úteis. Os Estados Unidos eram o exército mais rico do mundo, com equipamentos tecnológicos até hoje para muitos países. Porém, os jovens mandados à guerra sabemos quem são. Não são os de famílias abastadas. São negros, latinos e pobres de estudos atrasados. Esses foram a maioria dos chamados voluntários. Muitas vezes coagidos e esperançosos por um emprego ou algum orgulho para suas chorosas famílias.
Protestos ocorreram longe do Vietnã. Na França o vice-presidente dos Estados Unidos foi recebido a protestos, cartazes, correria e confrontos policiais. Ignorava os constantes "Go home". Ao mesmo tempo discursava seu discurso pronto de falso bom acolhimento, receptação amistosa e bem sucedida. Ao mesmo tempo os franceses viviam naquela década os confrontos com a Argélia, por exemplo, tema de filmes da época, como O Pequeno Soldado, de 1963, de Jean-Luc Godard.
Recentemente falecido, Godard é um dos que mais aparece em minhas citações. Ele encabeça essa lista de diretores responsáveis pelo drama documentário em questão. Godard afirmou que pensava fazer um filme específico sobre o Vietnã. Pensava colocar sua visão sobre a guerra, uma visão francesa e distante sobre a guerra. Percebeu que não adiantaria e isso é colonizar culturalmente, como os próprios Estados Unidos costumam fazer. Em seu relato, o diretor compara as lutas. O Vietnã em uma luta desesperada para sobreviver e ser seu próprio país, com seu próprio costume e seu povo humilde e simples de sempre. O cinema de Godard e de outros franceses e europeus travavam uma luta contra o domínio hollywoodiano do modo de fazer cinema. Comparações à parte, uns pela sobrevivência direta, outros pelos afazeres em modo de pensar e refletir cinema, para um ganho sim da comunidade intelectual europeia, ambos viviam aquela urgência para escapar das garras norte-americanas. Godard então não fez o filme direto sobre o Vietnam e comentou que era melhor que a visão vietnamita chegasse até eles, até a distância europeia para guerra. Aprender com eles ao invés de impor o ponto de vista sobre aquele distante conflito, que chegava apenas por imagens captadas e editadas para uso pelo mundo ocidental.
Um norte-americano de nome Morrison se suicidou nos Estados Unidos ateando fogo em seu próprio corpo. Foi um protesto pela forma como muitos vietnamitas morriam na Ásia, queimados pelos soldados dos EUA. A esposa concedeu entrevista que não se surpreendeu com a atitude de Morrison, pois era assim que ele reagia ao ver as imagens da guerra. Impotente, mas jamais desinteressado. Suicidou-se em gesto lembrado até hoje. Uma família vietnamita em França deu entrevista sobre o ocorrido, agradecendo ao norte-americano que se sacrificou por eles, pelo seu povo.
Em tempos de refletir quem conhecemos, quem tem fama, sabemos então que o suicida chama-se Morrison. Mas quantos vietnamitas conhecemos? Quais figuras públicas nos chegam ao conhecimento? E os milhares que lá morremos que conhecemos apenas por "os vietnamitas"? Quantas histórias de agricultores, pescadores, motoristas e trabalhadores de construção ou de organizações comunitárias lá foram ceifadas? Em Nova York houve enorme protesto, assim como em outras cidades dos EUA, calculando que mais de 500 mil pessoas foram às ruas pedir pela paz, pelo cessar fogo, para trazerem as tropas de volta para casa. Muitos ainda eram a favor da guerra e devolviam argumentos típicos da direita. Uma luta patriótica pela libertação do Vietnã. Libertação de quem? Do comunismo? Dos sovietes que nem mais se meteram nesse conflito armado?
E todas essas mortes em nome do domínio, do imperialismo, da economia dos Estados Unidos ao longo do século 20? Por que chamamos guerra fria se tantos morreram? E essa economia dos Estados Unidos que cedo ou tarde seria ultrapassada e hoje chamamos o seu capitalismo de tardio? Valeu a pena?
Cartazes afirmavam frases prontas sobre os ricos ficarem mais ricos e os pobres na pior. É isto que ocorre. Empresas lucram de forma bélica e jovens são postos à morte, entregues a terrenos hostis e desconhecidos, em Vietnãs, Iraques ou Afeganistões. Ou Palestinas. Mais do que isso, esses confrontos em que os apertadores de botão não botam a cara, não saem de suas salinhas condicionadas, ceifam jovens, mulheres, civis, crianças do lado oposto, gerações perdidas eternamente. O Vietnã pontuou que seria resistência. Este era o pensamento nacional, pela sua própria libertação dos yankees, custe o que custasse, o tempo que custasse. A guerra declinava e para os Estados Unidos a desistência foi uma dura derrota. O sentimento nacional dos yankees debilitado, o rabo entre as pernas, a soberania afetada, o saldo sempre em mortes mais do que representado em cifras.
Os vietnamitas dos exércitos improvisados e desestruturados resistiram. Um pequeno país agrário, conhecedor de seu terreno, contra jatos, aviões, tanques e rambos. Um trecho do filme Longe do Vietnã convoca a todos formarem seu próprio Vietnã ideológico. Se você for dos Estados Unidos, lute pelos negros, pelos panteras negras, se você for da Guiné ou da Angola, lute contra os portugueses, se você for latino-americano, lute pela sua América, pela sua gente, pelos seus produtores. Não caia nas garras da dominação estrangeira que tanto tenta interferir e explorar o máximo possível o seu país. O Vietnã foi um exemplo positivo, como defendia o governo cubano, de que era possível resistir, mesmo a um preço tão caro, vidas acabadas pela guerra contra a dominação estrangeira com seu aparato tecnológico bélico.
O Vietnã ainda tão pouco estudado ainda pode ser visto por nós. Como em filmes como Longe do Vietnã, mesmo nós estando distantes. Estávamos distante territorialmente, distantes agora temporalmente passados mais de 50 anos, mas a dominação capitalista selvagem em nossas florestas, nossas cidades, nossas agências de notícias permanece. O que fazemos a respeito? Onde está o nosso Vietnã? Por que Elon Musk doa antenas ao Rio Grande do Sul? Por que o governo Biden doou 100 mil reais enquanto para as guerras em Israel ou na frente ucraniana são bilhões? Que interesse eles têm em ajudar? Ou permanecem esquentando guerras que só são frias porque não são no território deles? Perguntas que devemos nos fazer. Onde está o nosso Vietnã que poderíamos constituir no dia a dia?
Longe do Vietnã (1967)
Direção: Chris Marker, Joris Ivens, Claude Lelouch, Alain Resnais, Jean-Luc Godard, Agnès Varda e William Klein.
Sinopse pelo Filmow: Diversos cineastas da Nouvelle Vague documentam e expressam sua simpatia pelo exército norte-vietnamita, durante a guerra do Vietnã.
17/05/2024
Wim Wenders
Filmes de Win Wenders
Nem sempre vendem
Acrobatas, luz que apaga
Luz que acende
Pessoas de gravata
Pessoas que ninguém entende
Luzes que acendem
Dentro da mente
Como em um típico filme
De Wim Wenders
Alemanha repleta de anjos
No alto das torres e pelos cantos
Acrobatas que não usam cordas
Valores, ideias quase mortas
Como em um típico filme
De Wim Wenders
Ideias desalojadas mudam de sede
A vida descoordenada ao que se pede
O lamento, a angústia é o que se bebe
Como em um típico filme
De Wim Wenders
Sensibilidade pra entender
Trens e nomes de cidades
Pessoas achadas e que se perdem
Berlim, Wolfsburg, Nuremberg
Como em um típico filme
De Wim Wenders
07/05/2024
Arsèny Tarkovsky
Em O Espelho (1975)
... o destino nos persegue como um maníaco com uma navalha em mãos.
... a agulha veloz da vida me puxa pelo mundo como uma linha (poema Vida, Vida)
03/05/2024
Compasso de Espera (1973)
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O filme norueguês "Doente de mim mesma" (2022, direção de Kristoffer Borgli) é comparável ao de maior sucesso recente, A Substânci...
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Sou um poço de ironia O horizonte é um monte Um monte de geografia O horizonte que aponte Um monte de biologia Apesar daquela tátic...
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O filme japonês 🇯🇵, dirigido por Yusuke Kitaguchi, conta a história de duas garotas (ou serão três?) com dificuldades semelhantes e difere...
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Te procurei em todos nasceres do sol Você fugiu em todos nasceres do sol Talvez você nem desconfie Se não um sol ao menos meu farol Senti ...
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Como será que vivem como se a rejeição aos outros não lhes pertencesse?
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Costumo considerar que sou agraciado ou desgraçado por mais coincidências do que a maioria das pessoas. Mas também sou mais observador, é be...
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Todas as linhas estão Escrevendo saudades em vão Tô cansado de esperar Que você recarregue Cansado de esperar Você Meu car Reggae
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Preguiça de começar o texto. Quem nunca? Quem sempre? Quem de vez em quando? Sim, sim, de vez em quando. Vida dividida em blocos. Hora da re...
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Não nasci pra essa merda Também não sabemos pra quê nascemos Mas pra essa merda eu não nasci Nem patinete pra saci
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Filme de Paolo Pasolini 🇮🇹, Mamma Roma conta a história de uma mulher que trabalhou na prostituição no interior da Itália, juntou algum di...