Ano pra cá tenho me sentido muito perto da morte. Se não estamos dançando tango juntos, estamos no mínimo no mesmo salão.
Tenho a tarefa de solitariamente trazer o que não querem ouvir. Não querem ouvir porque
A) Está errado. É mentira. Ninguém quer ouvir o que está errado. E é mentira.
B) Está certo. É verdade. Ninguém quer ouvir certas coisas certas. E é verdade.
Os insetos tilintam pelas minhas apagadas lâmpadas. Se não são eles, são os espíritos. Veja só.
Penso que algumas obras escrotas são enaltecidas como geniais. Foram imortalizadas. Embora haja críticas, não retrocedem desse status fantásticos. Muitos desses gênios foram excessivamente escrotos, como ora invejo, ora abomino ser como eles. Penso em cenas em que pesam a mão sobre alguns valores ou realidades. E quando narram ou descrevem um estupro. Espero nunca em minha literatura narrar ou descrever um estupro. Fatalmente são episódios da realidade, mas não gostaria que existissem sequer na ficção. São o que representam de mais abjeto na sociedade humana. Portanto, prefiro ignorá-los e não trazê-los em minha literatura, mesmo que fosse para uma reviravolta de luta e combate a isso. Creio que uma vez cometido, o chão se abre, a dignidade esconde-se a sete chaves, o perdão torna-se o mais inativo e sedentário dos seres, porque o perdão não se exercita nesses casos. Dito isso, espero nunca confrontar-me com tal abjeta descrição. E do fundo de um coração que é fundo desejar que a maior das forças de recuperação para quem um dia passou por isso.
Para ser um gênio incompreendido varia a porcentagem do quanto se está sendo gênio e o quanto se está sendo incompreendido. Fico cauteloso sobre os entendidos por todos. Porque a capacidade de interpretação desse todo é muito limitada, então talvez estejam deixando passar pontos importantes. Ou essa minha analogia do incompreendido é apenas puramente incompreensão. Nada genial. Existe essa chance. Muito mais incompreensão do que genialidade. A capacidade de ser compreendido por todos é genial? Ou é apenas ser compreendido? A capacidade de ser incompreendido é genial? Ou é apenas ser incompreendido? Qual a balança que equilibra esses termos? Qual a receita? Qual a porcentagem? Qual a quantidade?
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