05/01/2025

Ervas Flutuantes (1959)

Segundo filme colorido de Yasujiro Ozu, datado de 1959. Ervas Flutuantes é tratado como um remake, uma atualização. O nome sugere a instabilidade da situação vivida pelos personagens, artistas de apresentação teatral itinerante. Ao desembarcarem em uma pequena cidade, logo o espectador vai saber do que se trata. Não é por acaso a escolha do chamado Master pela cidadezinha onde tentam, em vão, obter algum lucro - ou ao menos a subsistência. Inclusive "em vão" parece uma expressão propícia para vários momentos na trama. O desconcerto entre os diálogos, entre personagens enxeridos ou que aprofundam questões delicadas, também se mostra uma constante nas obras de Ozu observadas até aqui, agora cronologicamente se aproximando das últimas do reverenciado diretor.

Ervas Flutuantes segue a tônica dos filmes de Ozu. Dramas da sociedade japonesa. Dessa vez o confronto é entre os artistas itinerantes e a precariedade de manterem seus vínculos, seus laços. Temos o Mestre reencontrando sua família e os atores mais coadjuvantes de suas peças tentando vínculos, entre homens e mulheres que se apaixonam sem prognósticos. Curiosas cenas em que os atores comentam nos bastidores, esperam por cartas de fãs de cidades passadas, tentam angariar novas fãs. Entre as atrizes, a tentativa também de novos vínculos. Uma seguidora do Mestre mostra-se enciumada. Outra é praticamente contratada para uma missão de sedução relacionada a esse primeiro caso.

No filme analisado, o flutuante está presente na cidade à beira-mar, em algumas cenas de praia e pescaria. Também existe a crítica aos tempos modernos, quando o jovem, então classificado como sobrinho do Mestre, debate com o tio. O tio recomenda que ele nem olhe a peça, não é coisa que o valha, para um jovem tão inteligente e culto. O rapaz então questiona o porquê de não fazerem peças mais sofisticadas, se há capacidade para tal. O Mestre finalmente responde que não há interesse nem sofisticação para o atual público, então precisam trabalhar com o que busca ser minimamente rentável. Críticas à educação e quebras de paradigmas no Japão que sempre se transforma, da época para as telas de Ozu. Ao mesmo tempo, não sejamos inocentes, o diálogo retrata uma tentativa - em vão - do Mestre proteger seu sobrinho da adoração às atrizes.

O ritmo das tramas lentas é conhecido, mas este desagradou pela agressividade do Mestre, que não é reprimida no filme. Ok, mostra o descontrole machista de um personagem, mas a falta de combate às atitudes por parte dos demais personagens gera uma determinada angústia pela situação. Suas atrizes são muito mal tratadas em suas mãos, demonstrando ele somente bom trato com a mulher que realmente ama. Complexidade no personagem, pois também, embora ausente, regressando pouquíssimas vezes à vila, demonstra preocupação com o rapaz. Dramas familiares instaurados.

A relação entre os artistas do teatro e a dificuldade de obterem sobrevivência da arte contornam os dramas mais aguçados do filme. A irmandade entre os atores é testada em alguns casos. A recepção da vila é variável, entre aclamações, interesses e até repulsa. Quem nunca passou por isso por onde passa? Sobre as divisões de camarins, histórias de vida e horas de lazer, os diferentes atores traçam planos do que podem melhorar para o futuro, do que almejam e que outras opções possuem para tentar sobreviver no ainda castigado Japão pós-guerra, pouco mais de década depois dos intensos conflitos com os chineses. Trabalhos assalariados e novos públicos são difíceis de conquistar. Atualizações para outras realidades que tornam Ervas Flutuantes mais um clássico de Yasujiro Ozu.

Nota final em 3,5 / 5



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