As pessoas engolidas pelo metrô
Onde vão para repor esses dias?
Mastigados
Vou alternando filtros
E bebendo menos litros de água
Do que deveria
Vou sustentando mitos
Eliminando outros
Aos poucos
Tudo é desequilíbrio mesmo
Alguns fingem
Ocultando as origens
As miragens, as esfinges
Alguns fingem
Colecionando brindes na lama
Deitando a cabeça na cama
E as pernas no travesseiro
Deixando a mente vagar
Rápida ou devagar: sem paradeiro
Tenho sede de rimar
Mas isso já sabes
Hábeis versos sem sentido
Formados como o pão pelo amido
Miolo invertido, tolo e vivo
Consolo a nós constantemente subnutridos
De alma
Lance o lanche que acalma
Falsa-me o favor
Com o tempo se percebeu que não há perspectiva de melhora contra os angariados instrumentos de ganância da humanidade. Há mais possibilidades, sim. Possibilidades dos ricos ampliarem seus impérios sobre a pobreza da grande maioria. Resorts em praias, multinacionais que dominam mercado contra os pequenos produtores. Streamings que ditam o que será assistido. Propagandas de spotify e youtube que obrigam, condenam o que será escutado independente da qualidade ou do gosto pessoal do ouvinte do outro lado da tela.
Algoritmos controlam que lerás e, principalmente porque é o meio dessa geração, que vídeos verás. Perdoem se aqui não descarrego novidades ou nem o melhor poder de síntese. Apenas o abatimento que não necessita sequer assistir a uma reunião do congresso para ser completado. Aliás, em Pelotas a Câmara de Vereadores virou notícia pela escassez, pela ausência dos parlamentares. Que futuro?
Eu poderia ter escrito muitos livros
Eu poderia ter movimentado muitas cifras
Eu poderia me sentir muito mais vivo
Eu poderia não ter sido Ivan Ilitch
Amy Winehouse era um case à parte
Ela só queria ter escrito músicas
(e cantado)
A indústria deixou Amy maluca
O mundo da música como um todo
É derrotado
Eu poderia ter me esforçado
Mesmo assim
Há coisas mundiais que eu não teria alcançado
O aquecimento engloba
Leis polêmicas se aprovam
E nós permanecemos anestesiados
Ouvindo Pink Floyd, Oasis
Dançando fado
Literatura russa participa
Da meiuca da minha vida
Tolstoi me destrói
Dostoievski é mestre
Gogol voa como um belo rouxinol
Em vou em direção ao gol
Ao céu, ao sol...
Eu voo em direções que não atrapalham
O serviço da Interpol
Navios e farol
Pavios e anzol
Pais e filhos pelos trilhos
Milharais, humilhações
Eu voo no sentido oposto
Da modernidade das construções
Em direções que causam desgosto
Aos coachs e aos signos dos leões
Eu espremo os supremos limões
Os oprimidos espremidos entre as multidões
A limonada é uma charada
Que não te servem
Mas bem te serviria
Eu poderia ter sido
Eu serviria
Eu iria onde não foi ido
Eu desviei das flechas dos cupidos
Eu cuspi escarrado escorrido
Eu corri e também fui corrido
Eu
Poderia
Ter
Sido