17/07/2025

Uzak (Distante)

Instruções

Elencar as diferentes distâncias abordadas no filme:

1- distância dos personagens principais

2- distância do primo se saísse a trabalhar no mar em navios

3- distância do primo pra conseguir um emprego 

4- distância do fotógrafo pra reconquistar antigo relacionamento

5- distância do primo para se adequar ao outro estilo de vida

6- distância do fotógrafo para esquecer

7- distâncias da vida em Istambul 

8- distância de largar o vício em cigarro

9- distância final entre os dois; separação


Uzak é um filme turco de 2002. Yusuf sai do interior do país em busca de emprego na capital Istambul. Lá, de surpresa, ele procura pelo primo Mahmut, o qual vive com um espaçoso apartamento, trabalhando como fotógrafo freelancer. Yusuf planeja trabalhar no porto da cidade, mas as expectativas de emprego se mostram frustradas.

Identificados apenas como primos, sem aproximação, Yusuf e Mahmut passam o filme todo resguardando certa distância. São diálogos frios, situações de anfitrião apenas forçadas pela boa educação a que se deve e a distância entre eles se alastra pelos círculos de amizade, hobbies e diferenças culturais. Em certo momento da película, Yusuf reclama que a cidade grande havia "mudado" o jeito de Mahmut. A verdade é que o anfitrião era um homem bastante misterioso e solitário e jamais deixa o primo se aproximar demais de suas questões pessoais, inclusive ao atender telefonemas sempre com a porta fechada e até dentro do banheiro. Era 2002, quando a moda do telefone sem fio já estava lançada, embora os aparelhos celulares não fossem unanimidade para classe média.

Yusuf toma seu espaço no apartamento e passa dias a sair e procurar emprego. Mas a tentativa de empregar-se no porto é frustrada de prontidão. Não tem emprego e ponto final. Ok, afirma Yusuf, que teve de viajar até outro local em busca do escritório onde o poderiam empregar. Ele faz passeios sempre solitários, conversando com outros portuários em cafés e perseguindo mulheres à distância. Um desempregado de meia idade não era o partido preferido para tomar atitudes.

Sem credenciais e sem quem o pudesse apresentar a novas oportunidades, seja de emprego ou de relacionamento, Yusuf fica à margem da sociedade e, sem opções para enviar dinheiro para sua mãe na cidadezinha distante, acaba por ocupar mesmo o quarto no apartamento do primo, cada vez menos paciente com a inusitada e atrevida visita.

Embora Yusuf não soubesse, Mahmut vai ao encontro de sua antiga esposa. Eles passaram por um aborto e ela acredita que não possa mais ter filhos. Mahmut descobre que ela (Nazan) vai ao Canadá com seu novo marido. Ele mantém a esperança da ex-companheira ao afirmar que lá talvez um médico diagnostique diferente, que ela talvez ainda possa ser fértil. A conversa entre eles é em tom melancólico e não vai adiante. Mahmut demonstra não superá-la.

Algumas das cenas mais constrangedoras são das interações entre os amigos do fotógrafo Mahmut com o primo forasteiro. Ele fica totalmente deslocado, sem participar dos assuntos culturais em foco. Em uma das saídas, desocupado, Yusuf ajuda Mahmut a realizar sessões de foto, trabalhando com flashs e carregando equipamentos. Isso garantiu uma grana mínima para sorriso do visitante.

O filme avança e a melancolia de Mahmut não passa. É interessante ter em vista que suas atitudes grosseiras e pouco paciensiosas com o visitante são somáticas de sua frustação amorosa, com o relacionamento que resultou em divórcio e a impossibilidade de reatar. Yusuf sabe nada a respeito da vida pessoal do primo e, portanto, não pode sequer entender ou tentar apaziguá-lo. Entre eles, o clima se torna cada vez mais hostil e as grosserias e ressentimentos se multiplicam. Um rato escondido no apartamento, cujas ratoeiras ficam espalhadas pelo piso, preenche vazios no espaçoso recinto. Talvez a luta contra o frágil roedor possa unir os primos. Talvez.

Istambul é uma cidade muito grande, uma das maiores entre Europa e Ásia, unindo culturas e trazendo particularidades relevantes, de vendas, gastronomia, portos de entradas e saídas da Europa e Ásia para o mundo. Istambul é grande e também impessoal, como se espera de uma cidade grande. Ela também reúne clima variado, do qual também se orgulham ali próximos os iranianos: estações que pelo menos eram bem definidas (hoje em dia já não se sabe). Assim, o filme passa do rigoroso e cheio de neve inverno até a crepuscular primavera. Na impessoalidade de Istambul, Yusuf se perde por cafés, shoppings e ruas, persegue mulheres e amplia sua frustração, tapete estendido da falta de emprego.

Entre belas fotografias da metrópole turca, está também os momentos filosóficos dos primos e o vício em cigarro. Mahmut até que tenta parar... Mas não é fácil. Assim como não é fácil manter os cinzeiros e a casa arrumada na presença do estabanado e inconveniente primo. Ao final, a solidão que cada um sentia é um hectare cravado em seus peitos. Olhares distantes em direção ao nada, onde só as mentes sabem por onde divagam. Será que a distância entre os primos ainda pode se transformar em consolação ou saudade? Um filme frio entre familiares, solidão e metrópole. Entre o capitalismo que rejeita e as estações que mudam totalmente o jogo.

🌟🌟🌟🌟

Uzek 

Lançamento: 20 de dezembro de 2002

Direção e Roteiro: Nuri Bilge Ceylan 

Direção de Arte: Ebru Ceylan 


Belas paisagens da grande Istambul e muitos silêncios compõem o filme turco


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