13/12/2021

Lutemos - em um só parágrafo

Tenho caminhado pelas ruas e visto coisas. Tenho vergonha de carregar o isopor de meu almoço quando há pessoas procurando comida nas lixeiras. Tenho vergonha da minha proteção de protetor solar e boné quando há pessoas com mais ou com menos melanina no sol a sol no lixo a lixo. Vi uma pichação de Fora Comunistas e Fora Esquerda em frente a um bar onde só bebem idosos. Vi um descendente de japonês, achei que ele entraria na fruteira Sato, mas seguiu em frente até seu carro. Me driblou. Um rapazinho de bigode ralo e cabelos crespos em camisa verde diz que não é ladrão, já se alimentou do lixo, mas não rouba, só quer uns trocos. Algumas máscaras de proteção contra covid 19 são esquecidas pelas ruas, abandonadas sobre as calçadas. Sempre que cruzo a avenida Bento Gonçalves de madrugada enquanto passageiro de uber não sei o que vamos encontrar. De sinal aberto ou fechado. Tanto faz. É imprevisível. Algumas ruas com movimento demais. Outras vazias e olvidadas. Imóveis vazios pela alta dos preços e do aluguel. Moradores de rua improvisam colchões e escassos pertences nas fachadas de bancos. Algumas pessoas até roupa colocam em seus cachorros quando está frio mas não juntam o cocô deles. Motoristas de uber imitam taxistas com os carros encostados à espera de corridas, de passageiros que só conhecerão depois de toparem, não ao contrário. Em viagens de ônibus nunca sabemos quem sentará ao nosso lado, a não ser que o atrasado seja a gente. Nas viagens de ônibus todos compram a poltrona da janela. Às vezes compro do lado errado da melhor visão para a entrada de Porto Alegre. Às vezes o aplicativo de música acerta sem querer a que queríamos ouvir. Hora exata da encruzilhada. Achei que tinha visto um amigo no Mercado Central a beber cerveja e contar causos. Quando lhe perguntei depois se era ele, nem era, estava em Gramado. Esse mico de ter confundido eu pagaria e só por detalhe não o fui cumprimentar. Flashs de uma semana improvisando comida e vivendo sozinho. Sem saber até quando nem o que virá depois. Há uns meses, nem sabia que era possível, mas amo minha namorada fortemente enquanto aqui escrevo. Quero fazer durar todo o tempo que a nós foi reservado nessa estrada confusa da vida. Saio de nossos encontros renovado e me abate depois a desconfiança do destino, sem saber o que fazer e para onde vou. Convivo com as incertezas a cada refeição sobre a mesa. Serei acordado pela manhã por minha gata Melissa. Ela mia entre as 7 e as 9h30 da manhã. A depender da luminosidade e da fome que a atormente. Ela me atormenta assim por tabela, mas ela só sabe ser assim e é muito querida. Dentro em pouco me incomodará de novo e assim são o ciclo dos dias. Aos leitores de aqui, desejo uma sincera boa semana. Lutemos.

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