Eu, escritor impaciente que quer registrar muitas - quase todas - suas memórias. Pensando o quão narcisista precisa ser para considerar todo esse bloco de anotações confusas relevante. Mas não é somente por considerar relevante. Na verdade parece longe desse ser o ponto principal. Acontece nesse processo o medo do esquecimento. Não de outros não lembrarem mas de eu próprio esquecer. Esquecer pelo que passei e o que pensava à certa altura do campeonato. Porém, se não havia o narcisismo de considerar tudo relevante, há novamente em foco a cultura do eu, por achar que é relevante se lembrar. Lembrança aqui não em seu estado abre aspas "natural" fecha aspas, mas lembrança evocada pelo registro no papel.
Enfim, fico a me questionar se os demais escritores registram suas próprias lembranças por A) considerarem relevantes às demais pessoas ou B) necessitarem de registro para combater o esquecimento. Um esquecimento que, caso não tenha ficado claro, é mais para eu mesmo lembrar do que para terceiros. Embora terceiros podem se servir dessas linhas sempre que assim quiserem, se identificarem, forem escolhidos por elas - fazendo alusão ao lema do Botafogo que escolhia os torcedores e não os torcedores o escolhiam. Talvez essas linhas tenham escolhido a ti, leitor. Não te parece? Pois bem, então não foste escolhido por elas. Talvez nem pelos textos anteriores ou pelos posteriores que eu tenha a publicar. Uma pena. Mas posso fazer nada. Talvez então eu não estivesse pensando em ti quando escrevi. Provavelmente era questão apenas de habitual registro de escrita. Exercício que pratico costumeiramente.
Ausente de me registrar desde a infância, certamente muita coisa se perdeu. Não lamento. Talvez tenham ficado em minha mente os principais pontos e a partir deles me construo. Edifico o que aqui escrevo. É interessante como somente alguma mera passagem pode arborizar um jardim inteiro. Seria uma analogia como a expansão do universo que pode se reproduzir e desdobrar-se muitas vezes o seu próprio tamanho em frações de segundos. Assim são as memórias, assim são os textos em que muitas vezes não planejo mais do que formal introdução. Por ora, finalizo essas transgressões e prometo voltar numa próxima para mais pontualidades. Podendo acertá-lo como uma flecha ou passarem distante do alvo leitor. Assim são muitos textos.
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