26/11/2021

Alegria no esporte

Hoje recebi no aplicativo mais famoso de conversas um áudio da menina Dóris de Andrade. Ela é uma corredora, paratleta pela sua deficiência visual. Dóris já nasceu com essa limitação de visão, mas isso não a impediu de ser uma excelente atleta. Nesta semana, do final de novembro de 2021, Dóris foi a São Paulo representar o Rio Grande do Sul e, especificamente, a cidade de Pelotas, onde ela representa a Escola Louis Braille e o Colégio Municipal Pelotense.

Aos 14 anos, Dóris somou mais uma medalha de ouro a nível nacional, nas Paralimpíadas Escolares Brasileiras. Ela tinha conseguido o feito em 2019. Voltou ao pódio com o terceiro lugar em uma prova curta, de apenas 75 metros. Mas, na sua especialidade, nos 1.000 metros, ninguém segurou a menina pelotense. Ela que conduziu o guia e não o contrário. O mais tocante é a alegria com que a equipe se trata. Pensamos sempre em esporte de alto rendimento com semblantes fechados, carregados, testas franzidas, esforço sobrenatural. Mas por que não aliar a alegria a tudo isso? Dóris consegue.

Ela e o instrutor Huibner se tratam com muito carinho, com respeito, mas, sobretudo, me chamou a atenção o aspecto da alegria. Comemoram juntos, sorriem juntos, aproveitam o esforço, o suor, a cada passo rumo a mais uma conquista. Talvez às vezes a vitória não venha, mas é necessário entender isso como parte do esporte. E assim, mesmo entre os melhores, as melhores competidoras do Brasil, não perder de foco o lado lúdico do esporte. Hoje, sobretudo no futebol, o dinheiro toma o protagonismo. Não deveria ser assim. E por que será que tratamos tão mal, no futebol, quando se fala em amadorismo? Em tempos remotos dos amadores? Em falta de profissionalização - sempre - com teor negativo? Não serão mais comuns os exemplos de alegria estampada no rosto entre os que praticam o esporte pelo esporte? Provável.

Entre quem se dispõe a esse profissionalismo das cifras e das máquinas, ok, que se busque esse caminho. Mas não deveríamos direcionar um olhar tão reprovador para o que é amador. O amador que é a origem de tudo, antes da profissionalização. Dos tempos mais antigos, dos tempos mais românticos e, onde aqui e ali, em um lado ou outro, muitos tentam manter acesa essa chama. Aquilo mais regado a companheirismo, amizade, confraternização ao final das jornadas, das semanas. Diferente de outros ambientes de competição mais perversa, de tentativas de golpe, de escaladas para chegar ao topo mas por sobre quantos?

Enfim, a história de Dóris me despertou um sentimento muito positivo. Espero que ela alcance seus objetivos. Seja competitiva entre as melhores, mas sem perder de vista as origens, o sorriso no rosto, a alegria infantil de seus avanços a cada passo. Lembrar quem esteve junto consigo, lembrar que fez a alegria de muitos funcionários que a acompanharam. Lembrar que fez, inclusive, a minha alegria, eu que ainda não a conheço. Obrigado por me devolver cédulas de esperança - que valem mais do que dinheiro - nesta sexta-feira.

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